André Part 2

O sr. Manel olhou-os com aquela cara de caso.

- Pois é meninos! Ouvi na televisão que as gomas fazem muito mal. Tem coisas que fazem cancro.

Olharam para ele, incrédulos. Claro que têm, que novidade! Já se sabe que tudo aquilo que se come faz cancro. Somos uns cancros ambulantes.

- Mas mesmo assim sr. Manel, queríamos 3 euros de gomas.

- Meu rapaz, tu é que sabes. Mas ficas a saber que assim que tiver com a tua mãe lhe vou contar. Tu só comes dessas porcarias. Tenho aqui um pão com chouriço que te fazia muito melhor.

- Tá, tá. Noutra altura sr. Manel.

Que diabo! O homem queria fazer negócio ou sessão de "como gastar o seu dinheiro em produtos saudáveis? Que aliás um pão com chouriço não é propriamente um produto saudável.

O André era um miúdo tímido, mas nestas questões alimentares perdia a timidez e tratava de conseguir aquilo que queria.

Nem sempre nos entendíamos, mas havia alturas que gostávamos de conversar e a mãe, costumava dizer que o André tinha muito em conta a minha opinião. Eu procurava tirar algum partido dessa minha pseudo ascendência sobre ele. Claro que nem sempre corria muito bem, mas é próprio das relações entre irmãos. Aliás, eu até cheguei a ouvir os meus pais a comentar certas situações onde diziam que "as relações bem batidinhas" são as melhores. Como diz o ditado «quanto mais me bates mais eu gosto de ti». Enfim, coisas de adultos.

Voltemos ao André. O meu irmão é aquele tipo de rapaz de 13 anos que só gosta de brincadeira, quando não dá uma espreitadela às raparigas. É também um rapaz muito inteligente diz a mãe, aliás, coisa que ela diz de ambos, mas que não tirávamos partido desse facto. Os pais são sempre assim. Os filhos são sempre os melhores... em relação aos outros. Normalmente em relação a eles próprios, pais, os filhos são sempre piores que os outros. Passo a explicar: quando levo alguma amiga lá a casa e a mãe como sempre mete conversa "Então Rita tudo bem?" Blá, blá, até que finalmente chega onde quer "Ahhh, já arrumas o teu quarto? Ahhh e quando é preciso já vais adiantando o jantar, ahhh..." e finalmente depois de muitos ahhhhs e sozinhas lá me dá a xantrada "tás a ver? A Rita, isso é que é uma filha!" Blá, blá, blá. Já perceberam. Somos os melhores de vez em quando e os piores quase sempre. Enfim... são tão pouco coerentes. O André adora o pai. O pai adora o André. Há ali uma cumplicidade grande. Eu também adoro o pai e ele a mim, mas é outra história.

O André à uns anitos (dois ou três) atrás teve uns problemazinhos de ... Diz a mãe, "auto-estima". Então, andou numa psicóloga e, segundo a mãe «fez muito bem a todos nós pois» continua ela «os pais quando têm um filho, este, não traz manual e como tal, não sabemos tudo. Não é tão grave assim, pedir ajuda a quem sabe... » bom e a partir daí faz uma longa dissertação sobre, a relação pais e filhos. A avó (paterna, claro!) já acha isto tudo uma modernice «hoje os pais não se sabem dar ao respeito, por isso os filhos abusam e, pronto, médicos para isto, para aquilo, etc. Antigamente éramos nós que tínhamos que resolver os nossos problemas e, Deus nos livre, de gastar tanto dinheiro nessas coisas» A avó era assim mesmo, sempre que podia mandava uma piadinha sobre a mãe. «É muito moderna!» A mãe bem que queria ser aquilo que ela chamava de "pessoa civilizada" então costumava dizer "temos que ter alguma paciência com as pessoas mais velhas e a vossa avó enfim, teve uma vida muito dura". Claro que a paciência nem sempre dura, e de vez em quando, a mãe também descambava em relação à avó. Também isto é natural, relações de sogras e noras. Enfim mas o que é facto é que embora tímido, o André realmente tinha melhorado. Já andava há 2 anos no voleibol e era bastante aplicado, assim como já tinha alguns, poucos, amigos. Mas a verdadeira panca dele eram os jogos e as consolas "playstation". A mãe passava-se, dizia que aquilo já era vício. De vez em quando (bem, com alguma frequência) o André portava-se mal, e a mãe era na "playstation" que se vingava, ou seja, o André ficava a "dieta", durante uns tempos: não jogava. Era normal, a mãe... eu acho que o estado mais natural dela desde que me lembro, tem sido sempre... passada! Coitada... ela bem diz que nós a pomos velha, por isso ela tenta enganar-se, lá com os cremes e afins.

Naquele dia o André chegou a casa estranhamente diferente. Eu notei e a mãe também, mas não dei importância. A mãe enfim, com aquela "suplesse" característica, resolveu sondar o filho. Errado! O André fechou-se "em copas" claro está, e respondeu que não era nada.

Às vezes "I wonder" porque é que as mães nunca aprendem. Bem, a minha diz que está sempre a aprender com "os erros que vai cometendo na vida", até hoje ainda não percebi muito bem o que é que efetivamente aprendem: passam o tempo todo a cometer os mesmos erros. Eu bem me esforço por perceber esta lógica, dizem eles, madura, mas é bem complicado, e eu já tenho tanta coisa para compreender. Mas isto tudo a propósito do André andar hiper estranho. Eu resolvi então falar com ele, talvez se abrisse comigo.

- Então André como vai a vida? Já há algum tempo que não conversamos. Queres falar?

- Sobre o quê Sara? Foi a mãe que te pediu?

- Sim, sim, eu agora sou a intermediária da mamã. Achas? Mas a verdade é que estou mesmo preocupada. Prefiro-te um verdadeiro chato, do que assim... que nem sei muito bem como és neste momento. Eu....

- Sara, não me apetece conversar contigo, ok? Deixa-me em paz! Sai do meu quarto... por favor.

Agora estou mesmo preocupada! Eu sei que o André, está naquela fase que a mãe chama "complicada". Já passei por isso. Mas isto é muito estranho.

A porta da rua bateu. 19h, era a mãe.

Fez aqueles gestos diários de arrumar compras, pousar carteira, tirar os sapatos calçar uns chinelos e vestir uns calções. De seguida foi ter com o André. A mãe, ainda esteve no quarto algum tempo, saiu de lá talvez 3 quartos de hora depois. Vinha com um olhar triste e foi direto para a cozinha. Eu fui ter com ela.

- Estou muito preocupada com o teu irmão. Eu sei que ele tem por vezes comportamentos menos lineares, mas desta vez está mesmo a assustar-me.

- Também não é nenhuma tragédia, mãe. Realmente, ele anda estranho, mas o André é assim mesmo. Eu vou procurar saber se os colegas sabem de alguma coisa. Entretanto não stresses.

- Ouve Sara eu sei, sinto que algo de muito mau se está a passar com o teu irmão. Tenho andado a pensar... será droga?

O meu ar estupefacto, com uma cara apalermada, fez a minha mãe esboçar um sorriso.

- Sara acredita que é uma realidade pela qual eu dispensava de novo passar. Mas pode ser bem possível. De qualquer forma prefiro que não te envolvas. Tenta saber se os colegas se aperceberam de alguma coisa que depois eu tratarei do resto.

A mãe tinha tido graves problemas à volta dessa questão, mas falarei disso noutra altura.

- Então André, vens connosco? Estamos a pensar ficar até tarde, acender uma fogueira e levarmos qualquer coisa para mastigarmos. Que dizes?

André não respondeu logo. Não lhe apetecia ir, mas também não queria ir para casa.

- Ok!

Depois via se ficaria até tão tarde. Com a marcação cerrada que lhe andavam a fazer em casa, se não fosse jantar era razão para ter 1 ou 2 horas de drama.

Ele sabia o quanto a mãe gostava dele e se preocupava, mas era tão insuficiente esse amor. Tinha tão poucas respostas paras as mil e uma dúvidas que lhe afogavam o cérebro. Apetecia-lhe tanto ir pelos caminhos mais tortuosos e difíceis, afinal os mais fáceis e comuns, tão partilhados, não tinham levado as pessoas a nenhum lugar fabuloso e, todas elas continuavam sem as respostas que ele tanto procurava. A afinidade que sentia com estes sujeitos não era quase nenhuma, mas eles percorriam o caminho menos linear, neste momento era disso que precisava.

- André, queres vir até minha casa, vamos jogar um novo jogo que comprei?

- Desculpa lá Raul, mas já tenho outra coisa para fazer.

Raul olhou-o e disse-lhe:

- Meu, andas estranho... a tua irmã já me veio fazer perguntas... não sei... tu vê lá no que te andas a meter, meu... essa malta com quem tens andado é ... estranha.

- Ouve Raul eu vou falar com a Sara para não te chatear, ok? Quanto ao resto não precisas de te preocupar.

- Então pá, somos amigos ou não?

André parece que de repente acordou.

- Desculpa meu, somos amigos claro. Mas a sério não precisas de te preocupar.

Raul era um excelente puto, daqueles que qualquer mãe gosta que seja amigo do filho. Raul tinha mais um ano que o André, lembro-me perfeitamente que quando o conheci achei que ele e o meu irmão se iam entender, sei lá, daquelas coisas que se sentem. Tinha muitos gostos iguais aos do André mas era muito menos tímido, eu achei que podia dar resultado. Como o André volta e meia, meia volta andava comigo para aqui e para acolá conheceram-se. Credo! Parece que estou a falar de um encontro amoroso. Mas não, é que no caso do André arranjar-lhe um amigo era quase a mesma coisa. Eu sei que os mais velhos (os pais e afins) dizem que a amizade não se arranja, conquista-se, enfim é mais uma das suas teorias e eles têm tantas e para quê? No nosso caso, juventude, dava para perceber quem podia ser amigo de quem e, na verdade eu tinha razão. E desde que se conheceram têm sido bons amigos, até agora.

André lá foi até à praia. Quando chegou a primeira pessoa que viu foi o João. O João era da turma do André, já tinha repetido algumas vezes, tinha 15 anos e era completamente "marado". Já fumava uma "ganzas" e com alguma frequência apanhava umas bebedeiras. Era um sujeitinho já com bastantes problemas. O meu irmão tinha, não sei bem, se pena ou admiração por ele, no entanto alguma coisa tinha. O André possuía algo que a minha mãe chamou de "consciência social", uma apetência para se sentir atraído por situações e pessoas complicadas, com problemas de inserção social, e sentia sempre necessidade de se envolver com essas pessoas e situações. Isso, segundo a mãe, fragilizava-o, pois, continuava a mãe, ele não conseguia gerir emocionalmente a frustração de não ver soluções para resolver os problemas. E as situações de injustiça social e não só tornavam-no uma pessoa revoltada e instável. Essa instabilidade era perigosa, pois podia levá-lo a passar de "revoltado" a "vítima", esse, era o grande receio da mãe. Eu... acredito que o meu irmão é suficientemente inteligente para não se deixar levar...no entanto é muito novo, não sei...

- Então meu sempre vieste.

- Pois, mas não vou ficar muito tempo.

André olhou para o João. Já estava "pedrado". André sentiu um nó. Não conseguia esquecer a imagem que o tem massacrado nestes últimos tempos.
Estavam na aula de História o João fica na fila imediatamente a seguir à do André e numa carteira um pouco mais atrás. André sem nenhuma razão aparente resolveu virar a cabeça e olhar por cima do ombro para o João. Ficou paralisado, todo o sangue se escoou, tornou-se branco como a cal, com os olhos pregados ao pé do João: ele estava a injectar-se... no pé...na aula de história. André ficou colado àquela imagem, até ao momento que Luís lhe tocou e disse:

- Então meu, que se passa? Porra! Pareces que viste o diabo em pessoa. Tás branco meu. Tás bem?

Luís olhou na direcção que o André olhava: João estava aparentemente normal, ou seja, o normal dele. Luís não estava a perceber.

- André!

- Estou bem. Responde como se tivesse vindo de muito longe.

A aula acabou e essa imagem nunca mais o deixou.

Agora olhava de novo para o João, mais uma vez "pedrado" e pensava como é que isso podia agarrar as pessoas, aprisioná-las. No entanto João era um sujeito esperto, André sentia-lhe uma força, de alguma forma admirava aquele sujeito. Já tinha pensado várias vezes, experimentar só fumar, ele era avesso às injecções. Se a mãe sonhasse...

Começou a escurecer e já tinha chegado mais pessoal, era só cerveja e "ganza". Cristina chegou perto do André e estendeu-lhe a mão entre cujos dedos se encontrava o "charro"

- Vá lá. Fuma. Vais ver que ficas muito mais liberto e não dói.

Cristina tinha 16 anos era já uma mulher feita em toda a acepção da palavra. Era daquelas miúdas muito populares e muito bonita.

André olhou para o cigarro. Seguiu-se um silêncio pesado e expectante.

- Não obrigada. Aliás tenho que ir.

Que fazia ele ali, no meio daqueles frustrados todos? Ele sabia que de alguma forma fazia parte deles, mas ao mesmo tempo... algo o puxava ora numa ora noutra direcção. Sentou-se, pôs a cabeça entre as mãos e chorou.

Detestava a vida! Não entendia o significado de existirmos. A Mãe dizia que ele era muito novo para se preocupar com essas questões, tinha era que se divertir e fazer as coisas próprias da sua idade, além de que ela também não tinha respostas para todas as perguntas. Como se ele pudesse controlar o correr dos seus pensamentos. Preferia mil vezes nem pensar, não se questionar, não querer saber, só que isso não dependia dele. Tudo o que se passava na sua cabeça, André não controlava. Lutava constantemente, com aquilo que era supostamente o certo e aquilo que era supostamente o errado. Sabia que não queria fazer sofrer a mãe, não só porque gostava muito dela, mas porque a mãe já tinha sofrido muito por causa da droga: uma irmã dela da qual nenhum de nós se lembra muito bem, pois éramos muito pequenos suicidou-se. A mãe sofreu terrivelmente e André tem lembrança desse sofrimento, sem no entanto o saber explicar. No entanto, é a vida dele que terá que ser vivida e por vezes, prefere não pensar em ninguém a não ser nele próprio. A mãe diz que não pode querer trazer a si a responsabilidade das injustiças do mundo. Quando André está cara a cara com a mãe vê naqueles olhos o desespero. O desespero de uma mãe que quer agarrar o filho que vai escorregando num leito de seduções perigosas. E sente que não lhe pode retribuir, ainda, um olhar de esperança.

André chegou a casa tarde. Tinha caminhado um pouco para alinhar ideias e disfarçar as olheiras do choro. Não se sentia criança nem adulto. Sentia a sua existência sempre entre contradições.

A mãe olhou para ele:

- São horas André? Quantas vezes te tenho que pedir para vires a direito? Será que me vais obrigar a ter que te ir esperar à saída da escola? Voltamos ao tempo da criancinha?

- Não stresses mãe, amanhã vou ter teste e tive com o Raul a ver umas coisas.

- Não podias ter avisado? Já sabes que prefiro que o faças cá em casa.

- Pois, pois. Também a mãe do Raul.

E lá foi ele para o quarto. Eu fui ter com ele.

- Posso? Então tiveste com o Raul? Que engraçado, eu tive com o Raul e tu não estavas lá! – André olhou-me surpreso.

- Ah, sim? Vais a correr contar à mãe?

- Qual é a tua André? Andas a bater mal todas as horas, ninguém sabe porquê, afastas as pessoas que realmente gostam de ti e misturas-te com essa corja de alucinados que anda para aí. Vais então ouvir aquilo que tenho para te dizer.

André e eu somos completamente diferentes. Eu questionei e questiono algumas das coisas que ele questiona, mas não vou fundo a plissar nos porquês, nos quês, nos mas, nos se, etc. As coisas são como são e soluções não as vejo, por isso é andar em frente e deixar correr. Mas isto sou eu, o André é outra história.

- Julgas que vais conseguir o quê com este comportamento? Respostas às tuas perguntas? Resposta às tuas preces? Já estou farta de te ver assim André. E deixa-me dar-te uma novidade meu "querido irmão" a vida é assim, feita de coisas bonitas e feias, e para nós, a maior parte das vezes é uma porcaria. Outra novidade, faz parte do cresceres, passares por estas coisas e não te adianta nada bateres fundo porque as respostas não vêm daí, mas queres? Então vai de uma vez. Estou farta de ver a mãe pelo cantos da casa a rezar para que tudo esteja bem contigo, a andar a chatear tudo e todos por tua causa. Abre os olhos, não és o único na face da terra. Nasces, cresces e morres, ok? Nada, nada vai alterar isso. Quanto ao resto vais ter muito tempo para poderes intervir naquilo que achas que está mal. Deixa-te dessa postura de vítima e de egoísta profundo que já chateia... tenho dito!

Saí do quarto. Não sei se disse alguma coisa com sentido para todo o mundo e em particular para o André. Este manteve-se quieto.

Não sabia o que pensar. Já sabia que o discurso fazia algum sentido e daí? Que mudava? Não, não ia pensar em mais nada. Amanhã é outro dia.

Nesse dia, 2ª feira quando fui para a escola vi o André com o João. Pareciam estar a ter uma conversa bastante importante, pois estavam afastados dos "amiguinhos" do João. Estavam bastante sérios, se isso é possível, dado que o João segurava um charro entre os dedos. Eu resolvi passar perto para ver se conseguia ouvir algo que me elucidasse do teor da conversa. Foi infrutífera essa minha tentativa, uma vez que se aperceberam da minha aproximação e, se calaram. Desisti e fui à minha vida.

- Sabes meu, as pessoas são tramadas, se não fossem elas, até que viver podia não ser mau, tás a ver? Por exemplo, eu gosto da natureza, ó meu, a natureza é linda o que a estraga são os homens...

João nitidamente "paulado" estava no pior estado que alguma vez André o viu. Estava profundamente deprimido, alguma coisa acontecera, mas André não fazia ideia do que podia ter sido. Resolveu levá-lo dali para fora porque daí a uns instantes alguém apareceria e levá-lo-ia direto ao Conselho Diretivo.

Foram até a um sítio que ficava a meio caminho da praia e que João gostava muito, pois era muito sossegado e podiam estar à vontade. Aí João começou a contar-lhe dos pais da relação péssima que tinham, de como ele detestava o pai, etc. André ainda procurou dizer-lhe que a relação da maior parte dos pais era essa, mas ele não lhe deu tempo, saiu dizendo que tinha que vazar. André ficou perturbado e inquieto. Mais tarde, estava a sair de uma aula e vê ir ao seu encontro totalmente transtornada Cristina. Agarra-se a ele a chorar desesperadamente. Nesse momento André percebeu que algo de terrível se tinha passado.

Por entre soluços Cristina disse algo que nunca mais deixaria de ecoar dentro da sua cabeça:

- O João morreu!

João foi encontrado morto na praia, supostamente vítima de uma overdose. André sentiu o mundo rodopiar à sua volta agarrou-se a Cristina para não cair. Dois segundos depois saiu a correr e foi a casa do João. Não teve coragem de entrar foi para casa e enfiou-se na cama. Só saiu dela duas semanas mais tarde.

A mãe estava transtornada pela morte do João e pelo impacto que isso ia ter na vida de André. Não sabia como reagir, achou que o melhor era ficar ali ao lado do filho dando-lhe o apoio possível. Raul também se manteve por lá. Todos os dias ia lá a casa, era um bom amigo. André não falava com ninguém, nos primeiros dias fez febres altíssimas, o médico deu-lhe medicação para o acalmar e para baixar a febre mas nada mais podia fazer. Era uma situação emocional e provavelmente, só o tempo poderia atenuar toda a explosão que, a morte de João causou no André. Todos os dias, cada um de nós ia até ao quarto de André estava lá uns minutos dizíamos qualquer coisa na tentativa de o animar e saímos.

A mãe estava a ficar desesperada, até que na terceira semana André deu sinais de estar a sair dessa depressão. Como a mãe já tinha falado com a psicóloga que tinha estado com o André há uns anos atrás, tudo estava tratado para que assim que começasse a dar sinais de melhoras se iria proceder a um tratamento de forma a trazê-lo de novo à vida. E assim foi, aos pouquinhos André foi recuperando. Eu vi que o meu irmão estava sem dúvida a melhorar e estava super feliz.

- Olá miúdo como vai isso?

André estava no quarto a ler. Levantou os olhos e sorriu.

- Vai. Mas não precisas de te preocupar, vou melhorar e vou fazer algo para que a minha vida faça sentido ... tenho a certeza que o João iria ficar contente.

Cristina também ela procurou ajuda e eu soube que ela estava internada a fazer um tratamento de desintoxicação. Outros houve que não, mantiveram-se na mesma rota de colisão e rutura. O importante para mim, embora lamente os restantes é que o André vai de vento em popa... com alguns ventos desconcertantes, mas o saldo é positivo.

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