28 - Desabafo
*Mídia do capítulo:
Chasing -
NF, Mikayla Sippel
Angel fica em silêncio durante vários minutos, talvez porque não saiba o que dizer ou quem sabe ele realmente não faz ideia de como reagir diante dessa revelação.
Eu lhe contei algumas coisas sobre o meu passado e minha família, porém entendo que ver tudo se concretizar ao vivo e a cores não deve ser fácil, ainda mais para quem está acostumado com uma mãe amorosa como Catarina.
Seus braços, no entanto, não deixam de me abraçar por um segundo sequer até que minhas lágrimas parem de rolar pelas minhas bochechas vermelhas de tanto chorar.
Ele suspira pesado beijando minha cabeça por alguns segundos e fecho os olhos me sentindo a pior pessoa do mundo no momento.
— Vamos, vou te levar para casa. -Diz em voz baixa.
Somente quando essas palavras saem da sua boca, me lembro da razão de estarmos indo embora mais cedo do shopping.
— Não, anjinho, temos que ir até a academia, lembra? -Levanto o queixo e ele beija meus lábios carinhosamente.
— Certo, tinha esquecido disso. Se importa se formos até lá primeiro? -Questiona esfregando meus braços suavemente e nego com um sorriso desanimado.
— Claro que não... é melhor irmos logo, senão vai acabar levando um sermão de Marcus. -Brinco e ele sorri me abraçando uma última vez antes de abrir a porta para mim.
Entro no lado do passageiro e ele vai até o lado do motorista.
Em questão de minutos estamos chegando na academia Strong.
Estacionamos o carro no lugar de sempre e passamos pela porta de mãos dadas.
Becca nos recebe com um sorriso amigável no rosto, que infelizmente não consigo devolver por questões óbvias.
Ela franze o cenho, provavelmente percebendo que algo não está certo e movo minha cabeça negativamente de uma maneira sutil em um sinal para que ela não diga nada por enquanto.
— O Marcus está no escritório dele, Becca? -Angel pergunta e ela responde com um aceno.
— Ele está te esperando, querido. -Completa sem desviar o olhar do meu.
— Muito bem, obrigado. Te vejo daqui a pouco, amor. -Recebo um beijo rápido nos lábios e observo enquanto ele se afasta até desaparecer da nossa vista.
Suspiro abatida ponderando se devo ou não contar a Becca os detalhes sórdidos da minha vida ferrada.
— Okay, pode ir desembuchando, o que está acontecendo? -A morena exige e me controlo para não começar a chorar mais uma vez.
Me sento no banco seguida dela que segura minha mão, me encorajando a falar.
Sem perceber, acabo relatando tudo o que aconteceu no encontro com a minha mãe e ela escuta cada palavra em silêncio.
Pela sua expressão, ela não está gostando do que está ouvindo e com razão.
É incrível como Becca não me julga, não diz nada e espera pacientemente até que eu finalmente deixe de falar.
Esfrego o peito sentindo uma dor se alastrando pela minha pele e minha garganta se aperta em uma vontade de gritar tudo o que estou sofrendo.
— Sua mãe é uma bruxa, com todo o respeito é claro. -Diz com sua voz doce me fazendo sorrir genuinamente.
— Sim, ela é. E sabe o que é pior? O fato dela achar que tem algum direito sobre mim. Não sei o que fazer, estou esgotada física e mentalmente. -Confesso esfregando o rosto com as mãos.
— Querida, eu acho que você deveria contar tudo a Angel. Ele é seu namorado no final das contas e tenho certeza que deve estar preocupado com você. -Segura apertado minha mão e nego veementemente.
— Não posso fazer isso. Se Angel souber o que está acontecendo, é capaz de ir atrás de Stefan e eu sei muito bem do que aquele verme é capaz. -Explico, mas ela não parece nem um pouco convencida.
— Kenny...
— É sério, Becca. Angel está em um momento crucial da sua carreira, qualquer deslize pode prejudicá-lo permanentemente. Além do mais, ele precisa focar nos treinos e não se preocupar com os dramas familiares da namorada.
— Você sabe que em algum momento ele vai acabar descobrindo, não sabe? -Afirma e balanço a cabeça nervosa.
— Eu sei, e morro de medo só de pensar nisso. Minha mãe está conseguindo interferir na melhor coisa que aconteceu na minha vida e jamais vou perdoá-la por isso. -Murmuro apertando os olhos com força.
— Também não é assim, querida! Se realmente não quer contar nada agora, espere até a luta de Angel passar e diga tudo a ele. Garanto que ele vai te apoiar. -Recomenda e aceno sabendo que ela tem toda a razão.
— Eu farei isso, obrigada.
Ficamos em silêncio alguns minutos.
Repasso todo o dia na minha cabeça e não consigo entender até agora como minha mãe nos achou.
Será que ela está monitorando meu celular ou algo assim? Vou ter que revisar meu aparelho e se for preciso, comprarei outro.
— Venha comigo, vou te preparar um chá bem docinho. -Oferece depois de alguns segundos e caminhamos lado a lado até a cozinha.
Becca coloca a chaleira de água para ferver e esperamos escoradas no balcão de mármore até que ela apita e dou um pulinho, o barulho repentino me pegando de surpresa.
Coloco o saquinho de chá na água borbulhante e adiciono umas colheres de açúcar, removendo tudo em um movimento automático.
Devo ficar pelo menos uns cinco minutos fazendo isso, até que Becca segura minha mão com delicadeza.
— Acho que já está bom... -Sorri gentil e observo a xícara na minha mão demorando alguns segundos para entender o que ela quer dizer.
Sacudo a cabeça rapidamente, voltando para o planeta terra e bebo o líquido escuro que já está morno a essa altura.
O sabor adocicado invade minha boca e engulo tudo quase que de uma vez em uma tentativa de me acalmar.
Preciso fazer algo para parar minha mãe. Ela não pode se meter na minha vida desse jeito.
Amo tanto a Angel que só de pensar em que ela possa chegar a machucá-lo de qualquer maneira, meu corpo inteiro se arrepia com medo.
— Obrigada por me escutar, Becca. -Digo entre um gole e outro e ela me dedica um sorriso amável.
— De nada, Kenny. Sabe que pode contar comigo para o que for. -Declara e puxo seu corpo para um abraço desajeitado. — Preciso voltar para o meu posto, você vai ficar bem? -Indaga preocupada.
— Sim, pode ir tranquila.
— Okay, qualquer coisa me liga. -Pede e faço um sinal de positivo com o dedo.
Becca sai da cozinha me deixando sozinha e uma vez que termino de beber o chá, limpo tudo e saio em busca de Angel, que uma hora dessas já deve ter assinado o tal contrato.
O que mais quero no momento é ir embora, tomar um banho demorado, deitar na minha cama e não levantar até amanhã.
Caminho pela academia correndo os olhos pelo lugar à procura do meu namorado, contudo, acabo dando de cara com uma pessoa que não queria ver tão cedo.
Evan me observa atento e faço questão de fingir que não percebi sua presença, apesar de ter ficado bem claro que o vi.
Desde o dia que o enfrentei ele ficou estranho e sempre me olha de longe, como um predador prestes a atacar sua presa. Inclusive existem momentos em que sinto que estou sendo observada e tenho quase certeza de que é ele. Tento não pensar no quanto isso é assustador e continuo minha busca.
Depois de alguns minutos, avisto Angel e Rafael assistindo duas garotas lutando.
Me aproximo lentamente sem que eles percebam e paro bem atrás dos dois.
— Briana vai ser uma ótima lutadora. -Rafael diz com convicção e Angel acena a cabeça concordando.
— Marcela também não está tão mal, ela só deveria ter mais cuidado com o gancho de direita de Briana.
— Você tem razão. De todas formas elas vão arrebentar quando forem lutar de verdade. -Rafael conclui esfregando as mãos com animação.
— Tenho certeza disso. -Angel afirma cruzando os braços sem deixar de olhar para o tatame, me fazendo sentir levemente enciumada.
— Por falar nisso, eu vi quando Kenny quase arrebentou o braço daquele idiota. Ela deveria treinar para lutar também. -O garoto diz entre risadas e Angel lhe lança um olhar descontente.
— Minha vontade era de moê-lo na porrada. -Rosna e encurvo meus lábios para cima, lembrando do dia em específico.
— E eu não duvido disso. Você está caidinho pela garota tatuada. -Rafael provoca divertido.
Angel não responde de imediato e por alguns segundos fico com medo dele negar essa informação até que finalmente ele resolve falar.
— Sim, eu estou maluco por ela. -Diz simplista em um suspiro.
— Sabe, fico muito feliz por isso, cara. -Rafael dá um tapinha nas costas de Angel lhe arrancando um sorriso radiante.
— Eu também, Rafa. Eu também...
Meu coração galopa no peito e respiro profundo controlando a ansiedade que me atinge em cheio.
Por que ele tem que ser tão perfeito? Angel bem que poderia ser um babaca de vez em quando, assim ficaria mais fácil não se apaixonar perdidamente por ele.
As garotas terminam de lutar e os dois amigos começam a se virar para sair dali. Nesse momento percebo que se eu ficar onde estou, eles vão acabar percebendo que escutei sua conversa e não quero parecer uma enxerida, então giro meu corpo para sair dali rapidamente e fingir que não ouvi nada.
O plano até teria dado certo, não fosse uma enorme banqueta localizada bem atrás de mim e que me passou totalmente despercebida.
Sem querer, tropeço no objeto indo parar no chão em questão de segundos e fazendo um barulho estrondoso que acaba chamando a atenção de quase todos por perto.
Se existisse um concurso da pessoa mais desastrada, eu com certeza ganharia em primeiro, segundo e terceiro lugar.
Fecho os olhos completamente envergonhada ao escutar o burburinho que se forma depois da minha queda majestosa. Sou uma enorme pateta.
— Kenny, você está bem? O que aconteceu? -A voz de Angel se destaca entre as outras e nego com a cabeça.
— Eu não vi essa maldita banqueta. -Resmungo apertando as pálpebras ainda mais.
Escuto uma risadinha rouca e de repente estou flutuando, sendo levantada em seus braços musculosos.
— Você adora cair na minha frente, né? Acho que gosta mesmo é de ser carregada. -Brinca e ergo uma sobrancelha.
— Engraçadinho. -Resmungo envergonhada e recebo um beijo na bochecha antes de ser colocada no chão novamente. — Já assinou o contrato? Podemos ir embora? -As perguntas saem da minha boca em um tom desesperado e Angel fica sério de repente.
— Sim, já está tudo acertado. Vamos para casa. -Segura meus dedos e se despede de Rafael com um aceno de cabeça.
Faço o mesmo movimento para o garoto e ele me lança um enorme sorriso cheio de cumplicidade. No começo não entendo o motivo, mas quando ele leva um dedo até os lábios como naqueles posters de enfermeiras pedindo para fazer silêncio, compreendo que ele sabe muito bem que eu escutei tudo.
Angel conversa animado sobre o contrato com o tal advogado, alheio ao que acaba de acontecer e tenho que lembrar de agradecer a Rafael por não dizer nada.
Chegamos na portaria juntamente com Marcus e um homem engravatado.
— Obrigado Jeff, tenha uma boa viagem. -Meu tio diz em um aperto de mãos e o homem agradece sério, antes de se virar e sair sem dizer nada.
— Quem era esse? -Pergunto curiosa.
— Era Jefferson White, o advogado que está cuidando da parte jurídica da luta. -Marcus explica rapidamente e balanço a cabeça como um cachorrinho. — Está melhor, Makenna? Me disseram que estava passando mal ontem. -Questiona preocupado e outra vez aceno, ficando nervosa de repente.
— Sim, acho que foi só uma queda de pressão. Já passou de todas formas. -Dissimulo e ele suspira aliviado.
— Muito bem, se por acaso passar mal de novo, me avise por favor. -Pede e concordo sorrindo.
Pelo menos alguém na minha família se preocupa realmente comigo.
— Bom, se me derem licença, tenho que voltar ao trabalho. Rebecca, não se esqueça de me mandar os relatórios que pedi por e-mail. -Diz com a voz grossa sem nem olhar para Becca que por sua vez só falta lançar raios laser pelos olhos em sua direção.
— Pode deixar, senhor Strong, agora mesmo farei isso. -Ela responde impetuosa arrancando um resmungo do meu tio que se afasta sem dizer mais nada.
Tanto eu quanto Angel, assistimos tudo como se fosse uma partida de tênis e quando meu tio está longe o suficiente para não ouvir nada, me aproximo da minha amiga e seguro seu braço chamando sua atenção.
— O que foi isso que acabou de acontecer, Rebecca? -Indago curiosa e ela nega com a cabeça quase desabando em cima da mesa.
— Depois eu te conto, okay? Vá para casa descansar. Angel, leve sua namorada para longe daqui, por favor. -Brinca e Angel sorri sem graça.
— Eu vou embora, mas não pense que vou esquecer disso não. -Declaro antes de finalmente sair da academia e pegar o rumo de casa.
NOTA DO AUTOR
Boa noite amores da minha vida! Sim, eu sei que demorei pra postar e provavelmente só conseguirei publicar capítulo novo nesse horário a partir de agora, então por favor não me matem e mantenham a calma kkkkkkkkkkkk
O capítulo de hoje não foi tão movimentado quanto eu gostaria, mas ele foi bastante necessário para vocês entenderem algumas coisas que acontecerão mais pra frente.
E não se preocupem, que a treta está apenas começando muahahahahah
Espero que tenham gostado do capítulo e não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs, 🥰
Bjinhosssss BF❤️
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