07 - Pique-Esconde
Se alguém procurar o significado de pateta no dicionário, provavelmente dará de cara com uma foto minha.
Diante da aproximação tão repentina de Angel, eu poderia ter tido qualquer reação possível. Como beijá-lo, por exemplo.
Mas não, o que eu escolhi? Escapar como uma garotinha ingênua e imatura.
O que deu na minha cabeça?
O garoto definitivamente deve estar pensando que sou maluca.
Tranco a porta do quarto e vou direto ao banheiro.
Tomo uma ducha rápida e visto um short de malha e uma blusa folgada antes de deitar na cama.
— Por que eu sou tão idiota? -Murmuro irritada.
Tento me distrair com o celular, mas é quase impossível não pensar na cena de mais cedo.
A cada minuto a imagem de Angel tão perto de mim me deixa ansiosa.
Sentir seu perfume foi a pior coisa que poderia ter me acontecido. Agora não consigo esquecer o quão deliciosamente cheiroso ele é. É como se o seu cheiro estivesse impregnado em mim, ou talvez nesse quarto.
— Droga! -Jogo o celular de qualquer jeito na mesinha de cabeceira e fecho os olhos tentando dormir.
Uma missão praticamente impossível.
Já passa da meia noite e ainda não preguei os olhos. De repente fico com a boca seca e sei que preciso beber algo.
Me levanto e caminho até a cozinha com cuidado pra não fazer barulho e acordar o garoto sensual do outro lado do corredor.
Às escuras me guio com as mãos nas paredes até chegar na porta da geladeira.
Ligo apenas a luz de cima do fogão e alcanço um copo no armário, enchendo-o de água e bebendo tão rápido como se estivesse no meio do deserto de Saara.
Me encosto na pia e respiro fundo de olhos fechados.
— Se controla caramba, você não é nenhuma criança. -Me repreendo lembrando do que disse aos meus pais antes de sair de casa.
Já sou adulta. Posso lidar com isso.
Faz tanto tempo que não transo com alguém, que qualquer aproximação de uma pessoa do sexo masculino já me deixa de pele arrepiada.
Ou talvez isso aconteça apenas quando Angel está por perto.
A memória dos seus dedos ásperos na minha pele me provoca um alvoroço na boca do estômago.
Levo minhas mãos até a cintura e esfrego a pele em direção à minha calcinha sentindo meu corpo se eriçar ao experimentar o toque frio na minha intimidade que queima de desejo.
Enfio um dedo dentro de mim mesma, logo outro e mais outro. Em um momento estou arfando já sem medo de ser ouvida.
O fato de que posso ser descoberta a qualquer momento por Angel, só deixa tudo ainda mais excitante.
Com a mão livre agarro a beirada da pia para não desabar no chão enquanto sinto uma onda de prazer no meu interior.
Mordo os lábios tentando reprimir os gemidos que insistem em sair desenfreados pela minha garganta, em uma súplica para que meus dedos sejam substituídos por algo mais... voluptuoso.
Quando finalmente sinto a explosão encharcar meus dedos, abro os olhos e quase tenho um infarto ao ver a luz do quarto de Angel acesa por baixo da fresta da sua porta.
Será que ele me viu?
Retiro rapidamente a mão de dentro do meu short, apago a luz e corro até meu quarto outra vez, fechando a porta e me encostando na madeira fria.
Quase que imediatamente escuto passos e posso ver sua sombra pelo espaço debaixo da minha porta.
Ele fica parado por alguns segundos antes de caminhar até a sala ou cozinha.
Merda, o que deu na minha maldita cabeça? E se o garoto aparecia e me via em plena ação?
Me afasto em silêncio até o banheiro e me limpo antes de deitar na cama outra vez.
Pelo menos talvez assim eu consiga dormir um pouco.
— Minha vida não poderia estar mais revirada pelo avesso. -Sorrio amargamente.
Fecho os olhos me obrigando a me entregar a um sono cheio de cenas dignas de um filme para adultos.
Definitivamente perdi a noção e o controle de tudo.
O dia de hoje está sendo no mínimo interessante.
Mais cedo esperei que Angel saísse primeiro até a academia antes de me atrever a passar pela porta, tamanha vergonha que estou sentindo.
Dirigi até o trabalho com a feição tão desanimada que parecia estar indo para minha própria execução.
Ao chegar na Strong, fui direto para o vestiário dos funcionários guardar minha bolsa e objetos pessoais.
Durante todo o trajeto fui implorando para não encontrar Angel no caminho e graças aos céus, fui ouvida. Agora estou no andar de cima organizando algumas tralhas antes de que os clientes comecem a chegar.
É contraditório, mas ao mesmo tempo que não quero encontrar com o garoto, estranho não vê-lo em lugar nenhum.
Ele não está treinando, nem dando aulas de defesa pessoal.
— Esquece isso, Makenna e volta para o seu trabalho. -Balanço a cabeça suspirando.
Passa quase meia hora e ainda nada de Angel.
Estou cansada de tanto levantar halteres e mais um monte de aparatos, então decido beber um pouco de água.
A cozinha da academia fica nos fundos e é recheada de aparelhos mega eletrônicos. Uma cafeteira enorme ocupa quase todo o espaço ao lado da geladeira e um bebedor.
Ao lado da pia, um pequeno fogão elétrico descansa em cima do balcão de mármore, assim como uma daquelas chaleiras elétricas. Encho minha garrafinha com água fresca e volto para o salão que já começa a encher de gente.
Avisto Evan passando pela porta e faço uma careta.
Garoto idiota.
Me viro para ir até os tatames e organizar tudo por lá, mas derrapo ao ver Marcus conversando com Angel que balança a cabeça irritado. Fico parada meio escondida para ver até onde essa conversa vai chegar e percebo como a expressão do garoto vai ficando cada vez mais furiosa, no entanto, ele não diz nada, apenas concorda com o quer que Marcus esteja dizendo com os braços cruzados.
De repente, como se soubesse que está sendo observado, ele vira o rosto na minha direção e corro o mais rápido que posso até o balcão de Becca que me lança um olhar curioso.
— Está tudo bem, querida? -Pergunta com sua voz doce e confirmo que sim com a cabeça.
— Você está pálida, tem certeza? Talvez sua pressão tenha baixado, eu tenho aqui uns docinhos e...-Não espero que ela termine de falar. Saio dali de fininho dando a volta nos tatames até o outro lado onde estão os armários com equipamentos de treinamento.
Estou quase chegando no meu esconderijo improvisado sem ser notada.
— Por acaso está me evitando, Kenny? - Solto um grito assustada ao mesmo tempo que meu corpo se arrepia ao sentir seu hálito quente no meu ouvido.
— Eu? Claro que não. Estava indo... arrumar os armários. -Gaguejo e Angel me contempla com o cenho franzido.
— Makenna, eu queria falar com você sobre ontem. -Sussurra segurando meu braço e me puxando até um lugar mais reservado.
Arregalo meus olhos desesperada. Será que ele me viu de noite?
— Angel e-eu sinto muito, não deveria ter feito isso eu... -Balbucio mas acabo me calando ao notar a confusão no seu rosto. — Espera, sobre o que você quer conversar?
— Eu acho que ultrapassei uma linha que não deveria ao me aproximar de você daquele jeito na cozinha. Tudo se confirmou quando você praticamente saiu escapando de mim. -Explica e suspiro aliviada. Então ele não viu.
Aleluia.
— Oh... olha, só vamos esquecer isso, está bem? O que aconteceu na cozinha? Nem lembro... -Levanto os ombros sorrindo envergonhada e ele balança a cabeça para cima e para baixo.
— Você tem razão. Não foi nada realmente. -Confirma e engulo seco.
Não foi nada.
Espio seu corpo definido disfarçadamente e percebo que ele está com uma jaqueta de couro e calça jeans. Estranho.
— Não vai treinar hoje? -Questiono curiosa em uma tentativa de mudar de assunto.
— Marcus me deu alguns dias de folga. -Diz sério. — Segundo ele, minha ferida precisa se curar bem antes de voltar a treinar. O treinador não quer ninguém machucado. -Completa e lamento por ele. Sei que o treino é tudo para Angel e fico brava ao lembrar que tudo isso foi culpa de Evan.
— Sinto muito. -Coloco a mão no seu braço e retirando-a rapidamente ao lembrar de ontem.
— Não importa, de todas formas é até bom. Podemos começar a treinar hoje, aproveitarei o dia para armar um tatame na nossa sala. -Confessa com algo de animação na voz e não consigo evitar sorrir junto com ele.
— Muito bem, não vejo a hora de poder quebrar essa sua cara convencida. -Brinco e vejo um sorriso genuíno se formar no seu rosto, deixando à mostra duas covinhas que o deixam com um ar travesso e angelical ao mesmo tempo.
Definitivamente seu nome combina perfeitamente com sua personalidade.
Ele se aproxima do meu ouvido e engulo seco na expectativa do que virá a seguir.
— Te espero mais tarde então. -Se despede com um beijo na minha bochecha a apenas alguns centímetros da minha boca, o que me incendeia imediatamente.
— Por que ele sempre faz isso? -Murmuro sozinha enquanto observo o garoto caminhar até a porta com uma pose confiante que atrai olhares de basicamente todas as mulheres e também de alguns homens dentro da academia.
Volto para os tatames e tento terminar meu dia de trabalho sem pensar no que me espera mais tarde.
Uma missão digna de um guerreiro medieval.
Será que existe tesão à primeira vista?
As horas passam dolorosamente lentas e ofego ao olhar no relógio pela milésima vez apenas para constatar que faltam alguns minutos para minha hora de almoço.
Vou até o restaurante que Angel me apresentou. A estrutura do prédio é muito bonita e bem organizada de forma que basicamente todas as mesas tem vista para a avenida movimentada, e a comida é uma delícia. Como não sabia da existência desse lugar?
Ah sim, deve ser porque só visitava restaurantes com mais de cinco estrelas Michelin.
Como um almoço leve e volto para o trabalho.
Curiosamente, o resto do expediente passa voando e respiro fundo depois de me despedir de todos os funcionários e pegar o caminho para casa.
Observo minha imagem no espelho retrovisor e confesso que quase não reconheço a garota que me olha de volta.
Se alguma vez fui uma garota fútil e metida a rica, essa pessoa já não existe mais.
É incrível como depois que saí de casa, ninguém me ligou para ver como estava. Nem minhas amigas, muito menos meus pais.
De todas formas, não preciso da sua esmola emocional.
Inevitavelmente aprendi que a única pessoa em quem posso confiar, sou eu mesma.
Talvez se eu não tivesse tomado essa decisão, continuaria vivendo em uma ilusão e pensando que todos gostavam de mim, quando na verdade estavam interessados apenas no que eu significava: poder, dinheiro e uma forma de chegar até o topo da elite social.
Com Angel as coisas são diferentes. Ele sabe apenas que sou sobrinha de Marcus. O garoto não faz ideia de que sou filha de um dos casais mais influentes do país e espero que continue assim.
Não quero que ele me veja como uma Blair e passe a me tratar com cuidado como a maioria das pessoas que conheço.
Apesar de ser irritante na maioria das vezes, eu até gosto de ser provocada por ele.
É interessante quando ele me trata igual a qualquer um, sem ver meu sobrenome.
Apenas eu, Makenna.
É um alívio. Posso agir e ser eu mesma, não preciso me comportar elegante diante de milionários ou aparentar estar interessada em como alguém comprou um castelo na Escócia.
Seguro o volante animada.
Talvez aprender a me defender não seja tão ruim quanto pensei.
E tenho que admitir que Angel foi muito amável em me oferecer aulas grátis.
Se ele soubesse que tenho dinheiro suficiente para pagar cem aulas...
Chego no apartamento em questão de minutos e subo as escadas com uma sensação estranha no estômago. Uma excitação pelo que está por vir misturada com medo.
Não tenho medo de que possa me machucar, porque sei que Angel é muito competente, mas sim do contato direto com meu companheiro de apartamento.
Ao chegar na porta respiro fundo antes de enfiar a chave na fechadura e girá-la lentamente.
Sinceramente não estava preparada para encontrar o lugar de pernas pro ar.
Mas foi o que vi ao entrar e dar de cara com nossa sala cheia de tralhas e com o piso totalmente coberto com uma espécie de tapete de borracha.
— Caramba garoto, você realmente não consegue ficar sem fazer nada. -Digo fechando a porta lentamente com um largo sorriso no rosto.
Angel dirige seu olhar para mim e fica em pé caminhando até parar a apenas centímetros do meu corpo.
— Que bom que chegou, Kenny, acabei de finalizar tudo. -Explica orgulhoso com os braços abertos.
— Percebi. -Sorrio ainda mais.
— Se quiser se trocar, fique à vontade. -Sugere e balanço a cabeça.
— Vou tomar um banho e já volto.
Não espero por sua resposta, vou direto até o banheiro trancando a porta e soltando a respiração que estava presa desde o momento em que entrei.
NOTA DO AUTOR
Como estão hoje gatas e gatos?
Não se esqueçam de votar e comentar 🥰
Espero que tenham gostado do capítulo, nos vemos na sexta e já vou adiantando que vcs vão precisar de ler com um copo de água na mão, pq vai estar queeeente🔥🔥
Amo vcs,
Bjinhoossssss BF ❤️
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