04 - Primeiro Dia de Trabalho
Dirijo pelas ruas movimentadas seguindo as indicações do GPS para chegar até a academia. Apesar de morar há anos nessa cidade, não conheço boa parte dos bairros que ficam mais afastados ou que não faziam parte da minha rota até a mansão.
Quando paro em um semáforo, observo tudo ao meu redor como se estivesse conhecendo o lugar pela primeira vez.
Vejo mães passeando com seus bebês, algumas pessoas correndo nas calçadas atrás de algum ônibus que provavelmente os levaria ao trabalho.
Carrinhos de comida rápida oferecendo uma variedade de alimentos para aqueles que têm pressa e alguma que outra pessoa sentada nos bancos das praças, talvez pensando em como alguém pode ser tão bonito que te deixa sem fôlego mesmo tendo acabado de conhecê-lo.
Okay, quiçá essa última pessoa seja eu.
Uma buzina insistente me traz de volta para a realidade e percebo que o semáforo já está em verde. Acelero cantando pneus sem querer e de brinde ganho alguns xingamentos bem criativos para o meu repertório.
Chego na academia exatamente no horário que Marcus indicou e vou direto para seu escritório depois de dar bom dia para Becca, que está tão bem vestida quanto no dia anterior.
Meu tio não explicou exatamente quais seriam minhas tarefas, então prefiro perguntar agora para não acabar fazendo algo errado.
Bato suavemente com os dedos na porta, mas não obtenho nenhuma resposta.
Volto até Becca que está conversando animada com alguém no telefone.
— Marcus ainda não chegou? -Sussurro e ela aponta em direção aos tatames que os alunos usam para treinar.
Imediatamente reconheço a figura imponente do meu tio que luta com algum aluno.
Agradeço Becca silenciosamente e caminho até ficar de frente para os dois lutadores.
Cruzo os braços e observo como Marcus ensina o garoto franzino a dar os golpes certos sem perder a estabilidade e não correr o risco de se machucar ou pior ainda, perder uma luta.
É incrível como tudo se resume ao equilíbrio.
E à força. Muita força e agilidade.
O garoto é bem menor que o treinador, mas tenho que admitir que ele dá um baile em Marcus, o que me deixa quase certa de que ele vai ser um ótimo lutador.
Eles continuam lutando sem parar e observo tudo calada por alguns minutos.
Pelo visto o treino não vai terminar tão cedo, então decido dar uma volta pelo lugar para conhecer todos os ambientes e me familiarizar com os apetrechos de musculação e tudo mais.
A academia Strong consta de dois andares, sendo o primeiro para musculação e com alguns tatames para treinamento corpo a corpo dos aspirantes a lutadores e o segundo andar é uma academia normal, onde qualquer pessoa pode fazer exercícios e também conta com três salas onde alguns professores ensinam algumas disciplinas como defesa pessoal ou até mesmo yoga.
Caminho distraída observando as pessoas levantando pesos e suando como nunca às oito horas da manhã.
Uma música que gosto começa a tocar e vou cantarolando até uma das salas onde uma garota desfere golpes em um garoto que segura uma espécie de colchonete que se encaixa na sua mão e antebraço.
Ele parece dizer algo e ela sorri sensual antes de partir para cima outra vez com um chute certeiro no braço do oponente que apesar de receber um golpe relativamente forte, não se move um centímetro sequer.
Sem perceber, me aproximo cada vez mais da sala como se uma corrente magnética me atraísse sem deixar outra opção.
— Qual é gato, vai me dizer que não sentiu nem uma dorzinha? -A garota exclama em meio a uma risada divertida e quase engasgo com minha própria saliva ao perceber quem é o seu professor.
De outro ângulo consigo ver que Angel apenas sorri e continua treinando.
Em um momento ele segura o braço fino da aluna e passa atrás do corpo ridiculamente esculpido quem sabe por algum cirurgião plástico.
Angel passa o braço livre pelo pescoço da garota e sussurra algumas palavras no seu ouvido que fazem com que ela sorria antes de franzir o cenho e tentar se livrar do ataque. O que consegue com certa rapidez e destreza.
Incrível.
— Kenny, que hora chegou? -Marcus pergunta atrás de mim, me assustando e chamando a atenção tanto de Angel e da garota que me lança um olhar curioso.
— Às oito em ponto como o combinado, mas você estava treinando então não quis atrapalhar. -Fico de costas para meu companheiro de apartamento.
— Muito bem, vamos, vou te explicar o que deve fazer depois que assinarmos o contrato de trabalho.
— Contrato de... trabalho? -A surpresa na minha voz arranca um sorriso tanto de Marcus quanto de Angel que agora está a apenas alguns passos de distância.
— Sim querida, te disse que aqui na academia você seria tratada como uma funcionária e todos os meus funcionários tem contrato de trabalho com direito a benefícios, seguro de saúde entre outras coisas. -Explica e arregalo os olhos ainda mais surpreendida.
— Tudo bem então. -Não sei o que dizer pelo que acabo concordando com o que ele está dizendo.
Arrisco uma olhadela para Angel e pego-o me observando.
Assim como sua aluna que mais parece uma modelo da Victoria Secrets.
— Então além de companheiros de apartamento, seremos companheiros de trabalho pelo visto. -Angel diz animado e percebo que a garota ao seu lado não gostou nada do que acabou de ouvir.
— Pensei que morasse sozinho, Cross. -Ela ronrona e sem querer faço uma careta. Okay, então ela deve ser sua amiga, para chamá-lo pelo sobrenome.
— Até ontem, sim. -Ele responde simplista e ela só falta me lançar raios laser pelos olhos. — Bom, nossa aula acabou Mia, nos vemos amanhã. -Se despede da tal Mia e caminhamos todos juntos até o escritório de Marcus.
Não sei porquê Angel veio junto, mas confesso que estou curiosa para descobrir.
Passamos em silêncio pela porta e meu tio passa a chave na fechadura.
Me sento em uma das cadeiras e Angel ocupa a cadeira ao meu lado, de frente para Marcus do outro lado da mesa.
Só de sentir sua presença tão próxima, sinto minha pulsação ficando cada vez mais acelerada.
Suspiro ansiosa e agradeço aos céus quando o homem à nossa frente começa a falar.
— Obrigado por nos acompanhar, Cross. -Começa e Angel apenas balança a cabeça em entendimento. — Seu trabalho aqui vai ser bem simples, Makenna. Você terá que ajudar a organizar os aparelhos uma vez que terminam de usar, assim como me assessorar com os treinamentos. Se eu precisar de algo você me passa, esse tipo de coisas. -Explica e guardo toda essa informação na minha cabeça.
O que ainda não compreendo é onde Angel entra nisso tudo.
— Muito bem, posso fazer isso. -Digo confiante.
— Tenho certeza que sim, no entanto, já sabe que deve ser responsável e tratar os clientes com educação. Como está morando com Angel, ele vai te ajudar a se situar, explicar onde vai cada aparato e te ensinar como chamam os elementos de luta. Qualquer dúvida que tiver, pode perguntar a ele. -Completa e engulo seco.
Mais convivência com o garoto. Consigo lidar com isso.
— Fique tranquila que não vou pegar pesado com você. -Angel sussurra no meu ouvido e sinto um arrepio percorrer por todo o meu corpo.
Ainda bem que meu tio está distraído com a papelada.
— Dá pra parar de fazer isso? -Sibilo nervosa e ele solta uma risadinha.
— É divertido ver como você fica desconfortável.
Começo a formular uma resposta afiada, mas para sua sorte somos interrompidos pela voz grossa do meu novo chefe.
— Pode assinar aqui Kenny. -Aponta para uma linha reta com meu nome completo embaixo. Faço o que ele diz e recebo um sorriso caloroso.
— Parabéns, agora você faz parte da família Strong.
— Eu já sou uma Strong, tio. -Brinco e ele me observa divertido.
Somos dispensados e Angel pede que o acompanhe até os tatames.
Subimos no enorme quadrado que é duro e macio ao mesmo tempo.
— Você também trabalha aqui? -Exteriorizo uma dúvida que estava me corroendo. O garoto sorri enigmático antes de me responder.
— Sim. Dou aulas de defesa pessoal quando não estou treinando.
— Interessante. Deve ter várias alunas. -Antes mesmo que eu possa filtrá-las, as palavras passam pelos meus lábios e me sinto a pessoa mais idiota desse lugar. — Então, quando vai me explicar o que tenho que fazer? -Tento mudar de assunto, mas pelo visto o garoto não tem os mesmos planos.
— Se quiser posso te dar algumas aulas grátis. -Oferece com sua voz sensual e nego tangente.
— Obrigada, mas prefiro me preocupar com meu novo trabalho.
Ele percebe que sua tática de sedução não funcionou comigo e finalmente começa a me ensinar o que Marcus pediu com uma paciência digna de um prêmio.
Passamos quase duas horas entre aprender onde vai cada aparelho, seus nomes e pra que serve os objetos espalhados pelo lugar.
Está quase na hora do almoço e sinto meu estômago roncando e minha cabeça dando voltas.
Quem diria que uma academia pudesse ter tantas porcarias com nomes esquisitos como supino, halteres, aparador de chutes, luva de foco entre outras coisas que não consigo lembrar.
Talvez tenha que fazer uma lista com os nomes e uma foto de cada aparelho ou equipamento para não esquecer de nada.
Acabo de organizar alguns pesos que uns garotos irritantes deixaram por todo lado no andar de cima, quando finalmente sou liberada para o almoço.
Como a academia fica um pouco distante do apartamento, prefiro procurar um restaurante e comprar algo decente para comer.
Digo a Becca que voltarei em meia hora e ela apenas acena com a cabeça. Será que ela prestou atenção no que eu disse?
De todas formas saio mesmo assim e caminho pela quadra observando tudo ao meu redor.
O centro comercial é totalmente diferente dos bairros ricos onde morava. Aqui as pessoas caminham apressadas e parecem não ter tempo sequer para respirar.
Engravatados conversam ao telefone na maioria das vezes com o cenho franzido ou estressados.
Ah, a beleza do capitalismo.
Sem perceber acabo chegando a um restaurante badalado que costumava vir com minhas amigas e gastar dez vezes mais do que o necessário em uma garrafa de água.
Observo as pessoas do lado de dentro comendo e conversando soberbas provavelmente sobre suas novas aquisições ou sobre como suas viagens às Maldivas foram terrivelmente tediosas.
Sei de tudo isso porquê alguma vez já estive do outro lado da janela e me envergonho disso.
Não pelo fato de que sejam apenas ricos comendo, e sim em como eu já cheguei a desprezar as outras classes sociais apenas por não terem as mesmas possibilidades que eu.
Balanço a cabeça negativamente e suspiro profundamente. Essas atitudes já não fazem mais parte da meu cotidiano.
Me viro para buscar um lugar mais acessível ao meu novo salário e estilo de vida, quando acabo trombando na última pessoa que queria ver no momento.
— Mas que droga garota! Quase amarrota meu terno, está cega ou...-Stefan protesta e se cala imediatamente ao perceber a quem está dirigindo toda a sua ira. — Olha só quem temos aqui, Makenna Blair. -Posso ver um brilho sinistro no seu olhar e sinto um arrepio na espinha.
— Stefan... se perdeu da mamãe ou algo parecido? -Zombo e ele solta uma gargalhada sonora atraindo a atenção de alguns transeuntes.
— Não querida, mas que bom que te encontrei, temos assuntos pendentes.
— Que eu saiba, não tenho nada que falar com você. -Grunho sem paciência.
— Sua mãe me disse que você está passando por um momento de rebeldia e que quando entrar em razão vai perceber o quão tola está sendo.
Não acredito que ela teve coragem de dizer uma coisa dessas!
— Pois te garanto que tanto ela quanto você estão loucos se pensam que estarei de acordo com essa ideia de jerico. Já deixei bem clara minha posição, agora se me der licença, você está gastando meu horário de almoço. Passar bem. -Resmungo e me viro tentando me afastar dali o mais rápido possível.
Não dou nem dois passos quando sinto os dedos de Stefan se enroscando no meu braço.
Ele me puxa de maneira brusca para um lugar menos movimentado enquanto luto para sair do seu aperto.
— Eu não terminei de falar com você, garota. Se acha que vai estragar meus planos com a empresa, está muito enganada. -Nesse momento um medo me invade e paraliso sem saber o que fazer.
— Me solta agora ou... -Digo com a voz trêmula, mas não consigo sequer terminar de falar.
— Ou o quê? -Stefan debocha arrogante e sinto ainda mais nojo dele e do seu toque sobre mim.
— Ou vou arrebentar sua cara até você implorar para eu parar, seu idiota. -Uma voz que já reconheço muito bem penetra meus tímpanos e fecho os olhos aliviada.
NOTA DO AUTOR
Olá amoresssss mais um capítulo postado com muito carinho para vcs!
Espero que tenham gostado e não se esqueçam de votar e comentar viu?
Vou tentar postar outro na sexta pq vcs estão se comportando direitinho, mas não prometo nada! 😂😂
Amo vcs,
Bjinhosssss BF ❤️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top