Capítulo Trinta e Dois
Eros Stackhouse:
Quando retornei à realidade, as palavras de Robin me alcançaram, quebrando minha imersão nos pensamentos.
— Eros, você está realmente bem? — Robin perguntou, sua preocupação evidente em sua voz.
— Sim, estou bem. Só desejo que Logan seja capturado logo — respondi, balançando a cabeça e forçando um sorriso em sua direção.
— Robin, você pode me ajudar com uma coisa?— Continuei.
— Se estiver dentro de minhas capacidades — Robin respondeu prontamente.
— Como se faz um funeral para um anjo e um dragão? — Questionei, revelando a pesada carga que carregava. — As almas presas no colar desejam apenas que eu realize um funeral para que possam finalmente encontrar a paz além.
— Só isso? — Robin coçou o queixo, pensativa. — Parece algo simples à primeira vista, mas realizar um funeral sem os corpos ou objetos dos falecidos torna a tarefa bastante complicada.
— Foi isso que me disseram. Suas almas estão aprisionadas no colar, e seus corpos foram despedaçados por seus inimigos — expliquei com tristeza. — Tudo o que desejam é descansar de uma vez por todas.
— Vou investigar e procurar uma solução para o seu dilema — prometeu Robin. — Pode levar algum tempo até que eu reúna as informações necessárias para esses funerais.
Assenti e me levantei, notando que Robin tinha uma pilha de livros bagunçados em uma mesa próxima. Compreendi que ela estava mergulhada em sua pesquisa e a ajudei a organizar o caos que ela havia criado. Agradeço por ela não insistir em saber mais ou pressionar sobre o que discutimos.
Enquanto arrumávamos a mesa, meus olhos caíram sobre uma bolsa luxuosa no chão empoeirado. Notavelmente, a bolsa ostentava um símbolo com as iniciais de Robin.
— Faz tanto tempo desde que usei essa bolsa — ela murmurou, parecendo perdida em suas memórias. — Era uma época em que eu era uma pessoa diferente.
Voltei meu olhar para a bolsa, imaginando que alguém importante para ela deve tê-la feito e presenteado.
— Foi difícil quando as pessoas descobriram que você era uma feiticeira?— Perguntei, curioso.
— Algumas pessoas abandonam crianças feiticeiras. As escolhas que as pessoas fazem podem ser muito diferentes quando se trata de feiticeiros que têm suas marcas demoníacas à mostra — Robin explicou, enquanto acariciava a bolsa com um olhar distante. — Feiticeiros são muitas vezes excluídos do mundo por causa das escolhas de seus pais em aceitá-los ou abandoná-los. Nós nascemos com magia, mas leva algum tempo para entendermos e aprendermos a esconder nossa verdadeira aparência ou ocultar nossa marca demoníaca.— Ela então virou-se para mim, sua pele agora adornada com pintas brancas e vermelhas, revelando sua própria marca demoníaca. — Minha mãe me manteve escondida do mundo até que eu aprendesse a ocultar isso. Tive sorte de ser aceita por ela e meu padrasto. Eles me deram esse presente quando eu finalmente dominei meus poderes. Ambos eram pessoas incríveis, sempre foram a luz da minha vida, e depois deles, minha meia-irmã.
— Deve ter sido doloroso perdê-los — comentei, compreendendo a complexidade de sua imortalidade.
— Sempre é doloroso perder as pessoas que amamos e cuidamos. Quando parei de envelhecer e vi minha irmã se casar e ter filhos, fiquei emocionada, afinal, eu nunca teria filhos próprios — Robin continuou, seus olhos refletindo saudade. — Isso era meu maior sonho naquela época. Quando cada membro da minha família se foi, não aguentei e me afastei da sociedade humana. Eventualmente, retornei como curandeira e me acostumei com meu novo lugar no mundo. Foi então que conheci Braxton e Carter, e os adotei. Anos depois, Luna entrou em nossas vidas.
Ela apertou a bolsa contra o peito e, com um sorriso suave, abriu o zíper, revelando uma joia que reluzia sob a luz local. Era um anel.
— Eu acredito que você deveria ficar com isso— , disse ela, lançando o anel em minha direção. — É uma relíquia de família. Existem seis deles: o meu, o da Luna que era de minha mãe, Ramona detém o que pertencia ao meu padrasto, e este era da minha irmã. Braxton e Carter têm os que eu criei.
Olhei para o anel, que ostentava a letra "S" . Era prateado, com detalhes em vermelho.
— Por que está me dando isso?— Perguntei, confuso.
Robin riu levemente.
— Bem, nós seremos uma família, afinal, essa é uma relíquia que estou passando para minha família.
Ela se aproximou, colocando a mão em meu ombro.
— Quero que saiba que me importo com você, Rafael, e com seu irmão. Estarei sempre aqui para ouvir, quando precisar.
Meu olhar voltou para o anel, sentindo a pressão de sua mão em meu ombro se fortalecer por um instante antes de ela se afastar, deixando-me sozinho na sala, com um novo vínculo e um presente que carregava significados profundos.
Enquanto Robin se afastava, fiquei sozinho na sala, segurando o anel com a letra "S" em minhas mãos. Era uma relíquia de família, uma herança que ela havia compartilhado comigo como um gesto de carinho e união. A luz da sala refletia nas curvas do anel, destacando seu design elegante e os detalhes vermelhos que pareciam pulsar com uma energia própria.
Refleti sobre as palavras de Robin, sobre sua jornada como uma feiticeira e como ela havia encontrado sua própria família, incluindo Braxton, Carter e Luna. Era evidente que sua vida era repleta de desafios e momentos emocionantes, e ela compartilhou uma parte desse mundo sobrenatural comigo, tornando-me parte de sua história.
Coloquei o anel cuidadosamente em meu dedo, sentindo-o se encaixar perfeitamente. Era como se ele pertencesse ali, como se fizesse parte de mim agora. Olhei ao redor da sala, vendo os livros empilhados e a bolsa luxuosa que Robin havia usado em um passado distante. Cada objeto carregava uma história, um fragmento do passado dela que ela compartilhara comigo.
Com um suspiro profundo, decidi que era hora de sair da sala e enfrentar o mundo exterior. Tinha muito a considerar e muitas responsabilidades a cumprir, especialmente no que dizia respeito ao colar de Jade e às almas que estavam presas nele. Mas agora, eu não estava sozinho. Tinha uma nova família, uma aliada confiável em Robin, e um anel que simbolizava nosso vínculo.
Enquanto me dirigia para fora da sala, carregando comigo a herança da família e as promessas do futuro, eu sabia que estava pronto para os desafios que estavam por vir. E, com Robin ao meu lado, eu não estava apenas enfrentando esses desafios, mas também construindo laços que transcendiam o tempo e o espaço.
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Uma semana e alguns dias haviam se passado desde aquele dia memorável. Sabia que Braxton continuava a enviar Rafael e Jeremy para me observar diariamente, como se fossem seus pequenos espiões. Ficava ciente dessas atividades quando Rafael, sem querer, deixou escapar informações sobre o que estava acontecendo. A situação me arrancou uma risada, e pedi a Rafael que não mencionasse que eu sabia, pretendendo agir como se ainda estivesse alheio quando Braxton viesse nos visitar em nossa casa ou quando fossemos até a imponente mansão Compton.
A ligação entre Rafael e Braxton havia se fortalecido consideravelmente, e era incrível testemunhar o carinho e a afeição que compartilhavam. Era notável que Braxton cuidava de Rafael como um verdadeiro pai, e isso aquecia meu coração. Até mesmo Jeremy, em vez de sentir-se excluído, estava se adaptando à dinâmica e brincava ou conversava com os dois todos os dias. Braxton os tratava com um amor genuíno e, na cidade, as pessoas comentavam entre si sobre como ele era o namorado perfeito e o guardião perfeito para nossas crianças.
Enquanto observava pela janela, meu rosto se iluminava com a felicidade que a cena me proporcionava. Lá fora, Braxton e Rafael riam e brincavam no quintal, compartilhando momentos de alegria e cumplicidade.
— Esses dois realmente se apegaram, não é? — Jeremy comentou, aparecendo ao meu lado.
— Eles são adoráveis juntos — Tatiana acrescentou, surgindo atrás de nós.
Era evidente que eles formavam uma família unida e amorosa, repleta de amizade e harmonia.
— É incrível vê-los assim — murmurei, olhando para meu irmão. — Diga-me, Jeremy, o que Tate tem feito? Já faz um tempo desde que o vi em nossa casa.
— Ele está treinando como sempre. Deve estar chegando em breve — Jeremy respondeu, e a campainha tocou. — Vou obrigá-lo a tomar um banho quando ele chegar.
— Mas ele não tem roupas aqui — Tatiana observou, e Jeremy congelou.
Meu irmão desapareceu rapidamente da cozinha, e Tatiana o seguiu para resolver a situação.
Meu olhar voltou para a cena no quintal, onde Braxton e Rafael agora seguravam as mãos e entravam na cozinha. O sorriso de Braxton ao olhar para Rafael era puro e transparente. Não havia mais nenhum sinal de sua relutância inicial em relação a crianças, como havia demonstrado em nosso primeiro encontro. Em vez disso, ele cuidava de Rafael com um zelo incrível. Enquanto observava, não pude deixar de pensar em como Braxton estava determinado a proteger Rafael dos rumores maldosos que circulavam sobre nós, assim como eu estava.
Eu era alguém que entendia, mais do que qualquer um, como os rumores podiam ser destrutivos. Já havia experimentado em primeira mão o impacto devastador que as palavras podem ter. Sabia que até mesmo as mentiras podem se transformar em "verdades" se forem repetidas com frequência suficiente. E, assim como Braxton estava comprometido em proteger nossa família das fofocas, eu também faria o mesmo, não importando o que viesse em nosso caminho. Juntos, éramos mais fortes, e essa era a única verdade que importava. Porque ele também foi uma das vítimas.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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