Capítulo Quarenta e Quatro
Eros Stackhouse:
Não sabia ao certo o que mais a apavorava em relação ao que estava acontecendo naquela caverna sombria e úmida. Tinha a fúria do monstro, uma grotesca criatura de pesadelo com tentáculos azul-escuros, cujas pontas brancas se assemelhavam a laços mortais. No entanto, à medida que esses tentáculos se aproximavam da nossa direção, a visão era chocante, pois eles se contraíam com a voracidade de punhos gigantes em busca de presas.
Eu estava preso, um pedaço quebrado do chão me prendendo, e aquela sensação de queda livre me atormentava, como se eu estivesse despencando em um poço de elevador sem fundo. A força da rocha que me envolvia parecia capaz de me esmagar até a morte a qualquer momento. Ao meu lado, ouvi engasgos e o som de alguém se debatendo, lutando desesperadamente por um último fôlego. Além disso, havia a esmagadora sensação de profundidade.
Gritos ecoavam de várias direções enquanto eu era arrastado para baixo, engolido pela escuridão que preenchia meus olhos e ouvidos. O pavor me cercava por todos os lados, a escuridão se expandindo sobre mim como um buraco negro. Eu conseguia vislumbrar uma porta clara e quadrada à distância, forçada a se abrir sob a pressão daquela criatura monstruosa.
A criatura era uma força incontrolável, seus tentáculos apertando cada vez mais. Olhei para cima e vi a luz da porta se tornando cada vez mais distante, lançando uma luz fraca sobre a área ao meu redor. No entanto, não conseguia ver além dos tentáculos demoníacos que me cercavam. Estiquei a mão para cima e empurrei o escombro que me prendia, sentindo algo romper a escuridão, meu pulso acelerando. Olhei na direção de onde vinha a luz, simultaneamente percebendo um brilho emergindo ao meu redor, formando uma enorme esfera de luz.
— Está tudo bem?— Braxton perguntou, preocupação em sua voz, e eu assenti.
— Nada quebrado, e se estivesse, já estaria de volta ao lugar— respondi, observando a criatura começar a apertar ao redor da esfera de proteção que nos envolvia.
Desviei o olhar para a direção oposta, onde Lauhar recitava um encantamento para manter nossa proteção intacta. Parecia que a criatura estava determinada a destruir a barreira primeiro.
— Onde estão os outros? — perguntei, preocupado.
— Eles estão ajudando os caçadores que caíram— Braxton explicou. — Damaiel e Carter estão enfrentando o monstro. Ingrah e Hampher também estão lá, e imagino que até aqueles a quem pedimos para ficar do lado de fora da caverna tenham se juntado à luta.—
— Maxuel desapareceu assim que caímos — acrescentou Braxton.
— Era isso que ele estava fazendo — ouvi a voz de Marceline, que segurava o braço e empunhava uma faca enquanto observava os tentáculos com determinação. — Ele criou um demônio destinado a consumir tudo, uma maneira de aniquilar a essência de um anjo.—
Um choramingo perturbador interrompeu nossa conversa, e todos nós nos viramos confusos.
— Vocês estão ouvindo esse lamento?— perguntei, enquanto o som aumentava, fazendo-me apertar a cabeça em agonia.
— É só o som dos caçadores, suas armas, Carter quebrando algo e xingando, Damaiel usando sua magia— explicou Braxton. — Não parece haver nenhum animal aqui, além dessa criatura horrenda.
O lamento ecoou novamente, enchendo o ambiente, e eu me senti compelido a investigar.
— Parece... Parece que é como o choro do Xuro — murmurei, finalmente olhando para os tentáculos. Concentrei-me no som do lamento e vi imagens surgirem em minha mente, revelando a presença de uma alma de dragão, uma entidade que clamava por ajuda para aliviar seu sofrimento.
— Há uma alma de dragão lá dentro — disse com descrença. — Como é possível que isso tenha acontecido?
— Logan sempre usou energia espiritual em seus experimentos — explicou Marceline. — A energia espiritual do mundo está desaparecendo rapidamente, e o mundo espiritual se fechou para proteger as almas.
— Isso é possível? — perguntei, tentando entender.
— Sim, neste mundo, existe uma ordem que controla a magia espiritual— respondeu Braxton. — Sem um dos deuses que mantém o equilíbrio do mundo espiritual e das almas, essa ordem começa a se desfazer.
— E, pelo que estou presumindo, um desses deuses desapareceu — concluí. — Mas por que só agora isso está acontecendo, depois de dezesseis anos?
— A magia demora a se manifestar, e pode ter levado um tempo até alguém perceber o desaparecimento desse deus — sugeriu Braxton. — Mas, com as ações dos aliados de um deus do caos, destruindo cidades e manipulando a mente dos mundanos com magia, a magia espiritual foi cada vez mais utilizada pelos ceifeiros.
Marceline interveio novamente.
— Logan aproveitou essa situação, usando uma dimensão de bolsa onde guardou almas que fugiram sem serem descobertas. Cada demônio que ele modificou utilizou uma parte dessas almas e a essência de demônios que ele obteve por meio de contatos no Submundo.
— Como você sabe disso? — Braxton perguntou, surpreso.
— Eu fiz um pouco de investigação— admitiu Marceline. — Além disso, ele me contou que eu estava apta para ser sua aluna em seus experimentos. Mas ainda sou leal ao nome de minha família.
— Não precisa se justificar — consolei-a, enquanto olhava para um dos tentáculos. Uma linha de luz começou a brilhar, e uma ideia começou a se formar em minha mente. — Acho que tenho um plano para contornar a criatura e detê-la de atacar os outros.
Comecei a me mover em direção à saída, mas Braxton segurou meu pulso suavemente, sua expressão cheia de determinação.
— Você está louco em ir sozinho? Eu vou com você — declarou Braxton, surpreendendo-me. — Eu sei que é um ótimo plano, sei que você consegue se proteger sozinho, afinal, é um vampiro com uma espada mágica, poderes de um anjo e até a habilidade de controlar criaturas. Vou com você para estar ao seu lado, para protegê-lo no caso de precisar fazer uma ligação mental com essa coisa.
Senti-me ligeiramente envergonhado com sua preocupação e proteção.
— Vamos em frente com o plano — concordei, e nossos dedos se entrelaçaram enquanto usávamos nossa velocidade para atravessar o escudo protetor.
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Foi uma tarefa árdua passar pelos tentáculos grotescos que nos cercavam, enquanto avançávamos em direção à colossal cabeça da criatura. Sua cabeça era uma monstruosidade, com um único olho gigantesco que parecia conter um abismo de escuridão e um bico sinistro que começou a cuspir projéteis negros em quem estivesse próximo.
Em meio a esse caos, ouvi um grito que me pareceu familiar por alguns instantes. Rapidamente, percebi que era Logan, tentando disfarçar sua agonia enquanto faltava um dos seus braços. Maxuel emergiu das sombras atrás dele, suas asas abertas em todo seu esplendor.
— Maxuel parece estar à beira da insanidade. — Braxton comentou, sua voz cheia de compreensão. — Mas considerando o que ele passou, é compreensível.
Balancei a cabeça em concordância e me atirei para longe quando um dos tentáculos se lançou em minha direção, atingindo Braxton, que foi arremessado para trás.
— Estou bem! — Ele gritou em resposta.
Com um salto, segui o tentáculo que se contorcia freneticamente. Tentei convocar a magia de Xuro para mim, levantando uma das mãos em um gesto determinado. Uma sensação de pressão crescente irrompeu de dentro de mim, como uma explosão em câmera lenta. Fiquei fascinado enquanto meus dedos se contorciam e se estendiam, a magia do rei dos dragões se mesclando com a de um anjo finalmente se unindo.
A energia mágica irrompeu de minha palma, erguendo-se e formando uma prisão de luz ao redor da criatura. A besta começou a gritar, e eu compreendi os gemidos que diminuíam a cada momento.
As duas magias colidiram e se entrelaçaram, destruindo a criatura que agora estava quieta e imóvel. A energia mágica então se espalhou em busca de um novo propósito, reconstruindo tudo ao seu redor e dando vida à caverna destruída. Ela se estendeu, transformando as partes do monstro em algo que parecia um filhote do que antes fora. Logan, ofegante, estava cercado por Maxuel, que estava prestes a arrancar-lhe o coração.
Eu tentei conter a magia que ainda fluía lentamente de dentro de mim. Senti a mão de Braxton em minhas costas, puxando-me de volta à realidade e me fazendo concentrar em parar a liberação de energia. A magia desapareceu, cessando sua emissão de minha palma, e o brilho que a acompanhou também se desvaneceu. Tremendo, olhei ao redor enquanto a pequena criatura se aproximava, olhando-me com temor e fazendo uma reverência.
Era agora um pequeno lagarto com asas escuras, plumas nas patas e grandes olhos brilhantes. Era uma transformação radical em relação à monstruosidade que fora há poucos minutos, adquirindo um charme inesperado.
— Agora ele parece um filhote de lagarto adorável e enorme. — Braxton comentou, enquanto a criatura observava, fascinada.
— Isso porque ele é um dragão. — Respondi, agachando-me com o pequeno animal pulando em meu colo e lambendo minha mão. — A magia o reconstruiu em sua forma verdadeira, ou seja, como era antes de ser submetido aos experimentos de Logan.
Um grito estridente ecoou pelo local, e olhei para ver Logan caído no chão, com um buraco no peito, enquanto Maxuel segurava seu coração nas mãos.
Maxuel olhou para o órgão por alguns instantes e, sem hesitar, o esmagou completamente.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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