Capítulo Quarenta e Dois

Eros Stackhouse:

Quando retornei para casa, a cena que se desdobrava diante dos meus olhos era digna de um filme de desastre culinário. A cozinha parecia ter sido alvo de uma explosão gastronômica. A geladeira, outrora repleta de alimentos frescos, agora exibia uma superfície branca decorada com redemoinhos vermelhos de ketchup. Uma das portas da despensa pendia precariamente em suas dobradiças. Pote de calda? Ele havia sido arrastado, espalhando seu conteúdo viscoso por praticamente todas as superfícies imagináveis.

No epicentro dessa catástrofe culinária, Tate aparentemente tentara dominar as panelas no fogão, que agora continham substâncias carbonizadas que lançavam uma fumaça densa no ar. As chamas ainda crepitavam, desafiadoras. Jeremy corria apressadamente para desligá-las enquanto eu observava, impotente, a cena caótica.

A cozinha que, durante anos, havia sido meu santuário, abastecido com uma variedade de ingredientes, mantido impecavelmente limpo, agora estava em ruínas.

— O que você fez na minha cozinha? — perguntei, boquiaberto. — Jeremy, deveria ter mantido ele longe dessas coisas.

— Eu só quis fazer panquecas para comemorar seu retorno. — Tate emergiu da despensa vestindo um avental branco adornado com estampas de corações, segurando dois pedaços de pão carbonizado. — Torrada! — anunciou com um sorriso radiante.

— Isso está bem longe de ser uma torrada — Braxton resmungou, sua expressão um misto de nojo e descrença, enquanto eu acidentalmente esbarrei em sua canela, ouvindo algo quebrar.

— Esta é a minha torrada! — Rafael interveio com entusiasmo.

— Certo. — Tate atravessou o caos, olhando-me pelo caminho. Eu estava me esforçando ao máximo para não perder o controle. Apoiei-me no fogão. — E o que você quer na sua torrada?

— Geleia de morango — Rafael respondeu.

— Não coma isso — alertei, dando um passo adiante. — Eu cuido da comida. Tate, faça-me um favor.

— Claro, basta pedir — respondeu.

— Enquanto eu ainda estiver respirando, você não cozinhará novamente. — Declarei, e ele me olhou confuso.

— Mas você é imortal agora — observou.

— Precisamente por isso, nunca mais deverá cozinhar. — Expliquei, indo buscar produtos de limpeza, lançando um olhar severo na direção de Rafael. — Rafael, não toque nessa torrada.

O menino olhou para mim e Braxton surgiu, entregando-lhe rapidamente um pão doce e abandonando a torrada queimada. Agradeci ao meu namorado com um beijo na bochecha e, finalmente, decidi começar a tarefa hercúlea de restaurar a cozinha aos seus dias de glória.

— Eu vou ajudar a limpar — ofereceu Tate.

— Não é necessário! — gritei, minha raiva fervendo dentro de mim. — Pode ajudar Jeremy a cuidar de Rafael ou arrumar qualquer outra coisa fora do lugar. Mas não entre novamente na minha cozinha.

Tate parecia magoado, mas fiz um esforço supremo para conter minha fúria.

— Eros, não precisa exagerar — Jeremy interveio, colocando-se entre nós. — É apenas uma bagunça na cozinha, não é como se tivesse atrapalhado algo importante para você.

Antes que eu pudesse responder, ouvimos um engasgo de surpresa. Virei-me e vi Ramona, observando o caos.

— Que desastre aconteceu aqui, Eros? — exclamou Ramona, com uma expressão preocupada. Olhei na sua direção.

— Tate, encontre algo para fazer sem causar mais estragos. — pedi, controlando um pouco meu temperamento.

Tate limpou a garganta e começou a empilhar as louças sujas na pia, enquanto Jeremy me lançou um olhar preocupado antes de ir ajudá-lo.

Braxton, por sua vez, me observava em choque, mas permanecia em silêncio.

— Vim ver como você está se sentindo. Carter me contou que está se adaptando gradualmente às mudanças. — Ramona comentou, depois olhou na direção de Braxton. — Braxton, preciso discutir algo com você em particular.

Notei uma ponta de preocupação nos olhos de Ramona. Braxton assentiu, ao mesmo tempo em que se virava para me encarar. Eles estavam, sem dúvida, preocupados comigo e com as novas sensações que eu estava experimentando.

Meu estômago se apertou. Eu também estava preocupado com o que estava acontecendo comigo e com as transformações que eu estava vivenciando.

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Em um frenesi de atividade, levei vinte minutos para restaurar a cozinha ao seu estado anterior. Fiquei verdadeiramente extasiado com as habilidades de um vampiro, especialmente com a velocidade sobrenatural que agora possuía.

Jeremy e Tate contribuíram um pouco mais, embora meu irmão ainda estivesse claramente irritado comigo por meu comportamento anterior. Isso era algo que eu estava decidido a não dar muita importância, pois eles haviam praticamente transformado a cozinha em um campo de batalha enquanto eu estava ausente. Pareciam determinados a eliminar qualquer possibilidade de não surtar quando tivessem a oportunidade de causar destruição.

Ramona, percebendo minha tensão, se sentou ao meu lado e comentou:

— Acho que ele está um pouco chateado, não é?

Eu respirei fundo e respondi, observando-a me analisar de cima a baixo:

— Está tudo tão estranho. Quero dizer, ser um vampiro neste momento e ainda lidar com os meus poderes de dragão e angelicais.

Ela apontou o óbvio ao acrescentar:

— E também a parte de ser um caçador. Amigo, não sei exatamente o que está passando pela sua cabeça, mas conheço você o suficiente para saber que vai encontrar uma maneira única de organizar tudo isso.

Olhei na direção dela, um sorriso surgindo em meus lábios, e perguntei:

— Como você tem tanta certeza de que vou fazer isso?

— Porque você sempre faz isso — afirmou Ramona enquanto me deu um peteleco na testa. — Você cuida de tudo o que vem em seu caminho, mesmo das coisas mais difíceis. Meu amigo é alguém que nunca desiste até encontrar uma solução para os problemas — Ela me abraçou de lado, e eu retribuí, tendo cuidado para não feri-la com minha força. — Agora, acho que você deveria falar com Tate e pedir desculpas por ter avançado nele.

Resmunguei contrariado:

— Eu realmente preciso ser um adulto nesta situação?

Ela foi firme:

— Sim, seja um adulto, mesmo que considere isso uma besteira.

Ramona sorriu para mim enquanto se afastava e acrescentou:

— Se não estiver proibido de ser meu padrinho e comparecer ao meu casamento.

— Seu padrinho? Seu casamento? — perguntei confuso.

Ela riu, respondendo:

— Só estou pensando no meu futuro.

Revirei os olhos, percebendo quão semelhantes éramos, até mesmo em nossas aspirações para o futuro.

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Neste momento, enfrentar Tate e Jeremy era uma tarefa árdua, uma batalha interna que se desenrolava dentro de mim. A partida de Ramona deixara um vazio, e Braxton aproveitava para cuidar de Rafael por mais alguns preciosos minutos, enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas. Atravessei o corredor em direção ao meu quarto, a nostalgia inundando minha mente. Abri a porta com cuidado, como se estivesse revivendo fragmentos de minha vida anterior, e me joguei na cama, sentindo a maciez do lençol contra minha pele. Era como se esse contato com o passado acalmasse minha mente turbulenta.

Estava exausto dessa situação, exausto de conspirações e tentativas desesperadas de provar que eu ainda era o mesmo Eros de sempre. Era um alívio aterrorizante e ao mesmo tempo maravilhoso ouvir meus próprios pensamentos ecoarem com as palavras que havia guardado por tanto tempo.

A porta se abriu com violência, indicando que era Jeremy, provavelmente irritado.

— Por que você agiu daquele jeito com o Tate? — Ele perguntou, me encarando com uma expressão séria. — Você vai mesmo dizer que agora odeia o meu namorado? Parece que o antigo você está de volta.

Fiquei momentaneamente sem palavras. Suspirei antes de encontrar coragem para responder.

— Eu não odeio ele, Jeremy, nem tenho nada contra o Tate. — Falei, e Jeremy cruzou os braços, cético.

— Você tem certeza de que não está sentindo algo estranho? — Jeremy disse. — Seus sentimentos podem estar confusos. As emoções ficam intensificadas durante e após a transição, e quem sabe como você está se sentindo agora. Afinal, seu lado caçador ainda está presente, e você possui magia angelical e os poderes de um dragão a seu favor. Você sabe o quão perigoso isso pode ser se perder o controle.

Ele estava certo, e mesmo assim, balancei a cabeça, minha voz suave ao falar.

— Eu sei! Você acha que é fácil para mim? O medo de perder o controle sobre mim mesmo e machucar as pessoas que me importam está sempre presente em meu peito desde o momento em que despertei. Está sendo incrivelmente difícil, Jeremy. Só quero que todos entendam que ainda sou o mesmo Eros, minha essência não mudou.

Ele ficou em silêncio, virando o rosto para o lado. Depois, respirou profundamente, endireitando os ombros, e me encarou nos olhos.

— Não preciso que meu irmão esteja na minha frente o tempo todo, mas acho que o Tate acredita que vai acabar com você se te irritar. — Jeremy disse com um sorriso amplo, sentando-se em frente a mim. — Agora, pare de ser melodramático e volte a ser o rapaz que brigava comigo por fazer besteiras. Você é praticamente um vampiro poderoso capaz de influenciar as pessoas à sua vontade, e ainda tem os poderes de um dragão com toques angelicais.

Engoli em seco, abraçando meu próprio corpo. Sentia como se algo estivesse me perfurando. Meus olhos ardiam, e minha garganta parecia em chamas. O gosto do sangue inundou minha boca, e tossi, meu corpo se contorcendo enquanto cuspia sangue no chão.

— Sangue? — Jeremy exclamou em choque. Limpei a boca com as costas da mão, e se meu coração ainda batesse, ele estaria acelerado.

Algo estava terrivelmente errado. Meu corpo doía, e eu estava atordoado e assustado. Olhei para Jeremy, buscando uma resposta.

Enquanto observava atentamente o horizonte à minha frente, uma sensação estranha começou a se apoderar de mim. O cenário diante dos meus olhos, uma paisagem pitoresca com montanhas imponentes e um céu límpido, começou a desvanecer gradualmente, como se estivesse sendo apagado por alguma força invisível. Eu senti meu coração acelerar, e a adrenalina começou a fluir pelas minhas veias quando percebi que algo extraordinário estava acontecendo.

Nesse instante, um grito estridente e assustador, ecoando através do ar, me fez dar um pulo. Era a voz de Jeremy, meu melhor amigo, preenchida com um medo palpável que enviou arrepios pela minha espinha. O pânico tomou conta de mim quando eu me vi em um piscar de olhos em outro lugar, como se tivesse sido arrancado à força da realidade que conhecia.

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Encontrei-me em uma vasta câmara, situada profundamente nas entranhas de uma caverna misteriosa. As paredes da câmara exibiam tons impressionantes de bronze, suas texturas pareciam contar histórias antigas, e os veios reluzentes capturavam a luz de maneira hipnotizante. No centro do chão de pedra, um elaborado círculo de giz estava cuidadosamente desenhado, como se marcasse o epicentro de um acontecimento extraordinário.

As portas enormes, majestosamente esculpidas em vidro translúcido, estavam embutidas nas paredes da caverna. Atrás delas, a escuridão era densa e impenetrável, criando uma sensação de mistério e perigo iminente. Meu coração começou a bater mais rápido enquanto eu observava o cenário diante de mim.

De repente, algo dentro de mim pareceu estalar, como se uma força invisível estivesse me puxando em direção ao centro do círculo. Era a magia de um feitiço, um poder que eu mal conseguia compreender. Minhas pernas me levaram automaticamente para dentro do círculo, como se eu estivesse sendo guiado por uma vontade além da minha própria.

E ali, no interior daquele círculo de giz, uma figura se ergueu, sorrindo para mim com malícia e entusiasmo. Era Logan, seu sorriso divertido dançando nos olhos travessos.

— Demorou, mas finalmente consegui fazer com que viesse até mim! — Logan disse com um tom de triunfo, sua voz ecoando na câmara. — Você veio em busca de diversão com meus amigos e para testemunhar minha mais nova experiência.

Enquanto ele falava, um estranho ruído ecoou das portas de vidro atrás de nós, como se algo estivesse se esforçando para quebrá-las e invadir aquele lado sombrio e enigmático. A tensão no ar cresceu, tornando evidente que algo extraordinário estava prestes a acontecer naquela câmara oculta nas profundezas da caverna.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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