Bônus Quatro

Narrador:

Robin Compton, uma mulher cansada após séculos de vida, estava farta de ver seus filhos sempre em estado de alerta, mesmo antes do pior acontecer. Ela nasceu em uma época tumultuada da sociedade, marcada por guerras e mudanças sociais, e lembra vividamente o momento em que lhe foi revelada a verdade sobre sua imortalidade, uma possibilidade que jamais imaginara. Como uma feiticeira, ela tinha o poder de quebrar as amarras sociais e desvendar os segredos ocultos da magia.

Claro, quando seu interesse pela magia foi despertado, não resistiu à tentadora proposta de aprendê-la quando encontrou uma bruxa disposta a ensiná-la. No entanto, ao se tornar parte da comunidade dos submundanos, Robin percebeu que os mortais não tinham ideia do verdadeiro significado da imortalidade.

Durante séculos, ela se dedicou ao estudo da magia, mas os intrigantes planos de Logan e sua habilidade de se manter oculto a deixavam à beira da loucura.

— Mãe, alguma sugestão? — perguntou Luna, examinando o limitado cardápio de um restaurante barato na cidade, estendido sobre a mesa.

— Não faço a menor ideia. Como você sabe, prefiro cozinhar em casa, mas, já que somos apenas nós duas, talvez seja uma boa ideia experimentar. Além disso, temos aquele rapaz que Braxton e Eros encontraram.

— Desculpe, pensei que... como você estava ocupada com isso e com nosso convidado inesperado, eu quis te surpreender — disse Luna, um sorriso forçado surgindo em seus lábios. — Mas está sendo um saco ficar em alerta o tempo todo por causa dos nossos convidados.

Robin sorriu para a filha, sabendo o quanto ela detestava intrusos em seu espaço pessoal. Desde que Lauhar e Damaiel passaram a residir em sua casa, houve momentos em que os experimentos mágicos de Lauhar causaram estrondos pela casa ou deram vida a objetos hostis.

Então, Robin teve que proibir os experimentos noturnos em prol da segurança da família, embora agora contassem com Master, o cachorro, para protegê-los.

No entanto, a proibição não durou muito, pois Damaiel estava recuperando seu tamanho normal e estava ansioso para treinar com Carter ou Braxton, os únicos com poderes de cura capazes de enfrentar um anjo violento em treinamento.

— Não se preocupe, logo tudo voltará ao normal — disse Robin, estalando a língua e olhando para o convidado. — Peço desculpas por ter que ouvir nossas conversas mundanas.

Luna revirou os olhos e dirigiu o olhar ao rapaz preso a uma das cadeiras da mesa.

— Seu nome é Allan. O que um rapaz como você estava fazendo em um clube de submundanos? — perguntou Luna. — Posso dizer que tem um péssimo gosto por seguir Logan.

— Ele me salvou de ser morto — retrucou Allan, com o rosto contorcido de irritação, uma expressão que surgia sempre que ele sentia essa emoção.

O rosto de Luna se contorceu diante das palavras de Allan, o que fez Robin rir discretamente com a atitude da filha.

Luna não tinha interesse em confusões, mas os assuntos recentes a incomodavam profundamente.

Robin recordou como ela mesma costumava ser assim, uma jovem mulher com uma mente afiada, sempre disposta a enfrentar o que fosse necessário para resolver problemas e encontrar soluções corretas.

Era assim que Robin sobrevivera neste mundo por tanto tempo, e ela estava grata por sua filha mais nova seguir o mesmo caminho, pois sabia que este mundo exigia força para sobreviver.

— Já disse que ele é o meu salvador. Por que é tão difícil acreditar? — disse Allan, irritado, sua expressão sempre assim quando emocionado.

— Mesmo assim, foi um completo idiota por cogitar a ideia de que aquele demônio poderia ter um grande caráter — Luna retrucou, desafiando Allan a se controlar, suas bochechas vermelhas e os olhos quase saltando das órbitas.

Robin soltou um suspiro e deu um passo à frente antes que a situação piorasse ainda mais.

— Os dois, parem com isso imediatamente! — exclamou Robin. — Luna, ele fez o que tinha que fazer para sobreviver em nosso mundo. É um milagre que Logan o tenha salvo.

— Pode ser parte de um plano. Lembra do que os meninos dizem sobre ele sempre ter um plano para fazer as pessoas gostarem dele ou pensar nele como um santo? — Luna disse, e Robin teve que concordar com as palavras de sua filha. — Só estou sendo realista. Não acredito que esse cara merece ver quem é o verdadeiro Logan. Ele usa as pessoas em seu benefício e depois as descarta como se fossem lixo.

Com essas palavras, Robin ficou em silêncio, ciente de como era difícil tirar alguém de uma ilusão que havia durado séculos.

Allan permaneceu em silêncio por alguns instantes, enquanto Luna se afastava. Robin não a impediu, apenas observou sua filha se distanciar, sabendo que Luna era tão forte quanto ela nesse mundo implacável.

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No dia seguinte, Robin já estava completamente engrossada em seus estudos, imersa em uma pilha de velhos grimórios empoeirados, desvendando com dedicação vários feitiços destinados a ocultar indivíduos ou até mesmo a sua localização. O ambiente estava preenchido pelo aroma de incensos místicos, que criavam uma atmosfera enigmática.

Entretanto, toda sua concentração foi abruptamente interrompida pelo som estridente dos gritos de Damaiel, que se esforçava intensamente em seu treinamento do lado de fora. Robin suspirou profundamente, fechando o livro com um olhar de leve irritação.

— Por que diabos autorizei esse treinamento ao ar livre? — Murmurou para si mesma. — Ser gentil com os outros está se tornando exasperante.

Nesse momento, uma explosão repentina estremeceu o local, seguida pela voz tranquila de Lauhar.

— Estou ileso, apenas tenham cautela ao passar por aqui. — Lauhar declarou quando Robin se aproximou da porta.

— Estou profundamente arrependida. — Robin resmungou entre dentes, passando pela porta.

Ela encontrou Luna na sala, imersa em uma conversa telefônica animada.

— É só uma música, Carter. — Luna falou com um desdém evidente em sua voz. — Pare de reclamar e divirta-se com a Ramona. Afinal, você tem cento e setenta e cinco anos.

— Seu irmão ainda é um cavaleiro no final das contas e só aprecia as músicas da sua época. Pare de implicar com ele. — Robin comentou, repreendendo levemente Luna. — Agora, poderia me dizer onde está o Allan? Lembro-me de ter pedido para você ficar de olho nele enquanto eu examinava alguns livros.

— Deixei o Mestre fazer esse trabalho, já que o Carter me ligou para reclamar que a mãe da Ramona possui um gosto musical terrível. — Luna respondeu, desligando o telefone com um suspiro. — Possivelmente ele tem pavor de cachorros, pois quando viu o Mestre, simplesmente congelou no lugar.

Robin subiu as escadas em direção ao quarto que havia disponibilizado para o jovem Allan. A porta estava entreaberta, com o Mestre encostado nela, fitando um Allan completamente petrificado.

Allan balançou a cabeça, mas não emitiu uma única palavra. Parecia estar completamente imerso em seus próprios pensamentos, distante da realidade.

Robin tinha plena consciência de que seria um longo caminho até que ele conseguisse retomar alguma ação por vontade própria, sem que fosse necessário recorrer à força ou ao chame de Eros.

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Uma semana inteira havia transcorrido, e para Allan, era como se estivesse vivendo um conto de fadas distorcido, adentrando a residência de indivíduos que eram considerados inimigos jurados de Logan. Agora, encontrava-se em um quarto, acolhido por um desses "inimigos", onde comia, dormia e mantinha conversas eventuais com Robin, a única pessoa que parecia compartilhar um vínculo tão profundo com ele que chegava a parecer parentesco de sangue. A rotina estava se tornando quase um hábito.

Tudo se desenrolava de maneira surpreendentemente idílica, como se fosse um sonho há muito tempo acalentado por Allan: ter uma família, uma casa e alguém que genuinamente se importasse com sua existência, algo que, até então, parecia um luxo inalcançável. A casa estava localizada em uma vasta propriedade, camuflada por feitiços de ilusão para enganar olhos mundanos. Era um lugar repleto de modernidade reluzente entrelaçada com magia. Robin demonstrava uma habilidade notável em mesclar esses dois elementos, e os cômodos eram encantados de tal forma que, desde sua chegada, as paredes se transformaram, refletindo suas preferências pessoais.

Pelas breves conversas que interceptara, ficava claro que Robin se preocupava genuinamente com o bem-estar das pessoas em sua casa. Carter, que o tratava como um irmão mais novo, demonstrava uma curiosidade genuína em relação aos gostos e interesses de Allan. No entanto, Luna e Braxton eram menos acolhedores, exibindo hostilidade sempre que Allan cruzava seus caminhos.

A porta da sala de jantar se abriu, revelando a entrada de Eros, acompanhado por Master, que parecia radiante em ver Allan. Eros carregava uma pilha de livros nos braços. Rafael, seu mentor e figura paterna, se ergueu da cadeira ao avistar o rapaz, e assim, a família se reuniu para o jantar, servido na longa mesa vitoriana da imensa sala de jantar.

— Vejo que ainda não conseguiu encontrar alguma pista sobre como realizar o funeral de um dragão de verdade, não é? — Robin indagou, quebrando o silêncio.

Eros balançou a cabeça enquanto tomava assento, sendo prontamente abraçado por Rafael, que irradiava felicidade.

— Até agora, nada. Parece ser uma busca quase impossível encontrar informações concretas sobre os dragões que não sejam meras suposições de historiadores do submundo — explicou Eros com uma pontada de frustração.

— Consegui desvendar parte do ritual para os funerais de anjos, mas ainda falta o componente crucial para honrar um dragão. Esses livros estão se mostrando inúteis.

Allan, em um murmúrio quase inaudível, resmungou:

— Eles já foram úteis alguma vez?

Ele não imaginava que alguém pudesse ouvir, mas Carter explodiu aos risos ao ouvir a observação de Allan.

— Bem, ainda mantenho alguns contatos valiosos no submundo, e vou continuar aprofundando minha pesquisa. Deve haver um feiticeiro, uma bruxa ou até mesmo um vampiro que tenha vivido desde a época do último suspiro de um dragão — ponderou Robin.

Luna, sorrindo amplamente, acrescentou:

— Parece que não precisamos mais discutir esse assunto na presença de nosso convidado — apontando na direção de Allan, que apenas revirou os olhos em resposta. Desta vez, foi Braxton quem soltou uma gargalhada, provocando uma repreensão de Eros.

— Não exatamente — Eros respondeu docemente. — O que sei até agora sobre como os anjos encontram a paz é que é um processo extremamente complexo, especialmente sem o corpo original. Lauhar me deu essa informação em troca de ser minha madrinha de casamento, e segundo ela, nenhum dos irmãos vai se casar tão cedo.

Todos se entreolharam, principalmente Damaiel, enquanto a irmã de Lauhar simplesmente deu de ombros. Entretanto, ninguém fez comentários, pois Ramona e Jeremy entraram na sala de jantar com bandejas fumegantes de pizzas caseiras que haviam preparado.

— Ainda tenho que pesquisar sobre a parte dos dragões, mas isso não está completo de verdade até que eu descubra — Eros afirmou com simplicidade.

Damaiel sugeriu:

— Por que você não consulta alguém do reino das fadas? Eles podem ter informações sobre criaturas já extintas.

Lauhar, cruzando os braços, complementou:

— Eu também sugeri isso, mas Eros não concordou, pois acredita que as fadas podem ser cruéis.

Robin interveio:

— Talvez você devesse procurar Maxuel. Ele conhece o rei das fadas e o lorde, e me disse que poderia ser de grande ajuda.

Eros refletiu por alguns instantes antes de concordar com a sugestão. Tudo isso estava deixando Allan confuso, questionando por que Logan estava tão determinado a destruir aquelas pessoas.

No final das contas, Luna revelou a verdade sobre Logan, descrevendo-o como alguém que não se importava com as pessoas e as tratava como meros objetos descartáveis. O pedestal onde Logan estava colocado começava a ruir lentamente, causando uma dor profunda no peito de Allan.

Aquela revelação sobre Logan ecoou na mente de Allan como uma melodia sombria. Ele não podia deixar de se perguntar como alguém tão impiedoso e frio havia conseguido criar um abismo tão profundo entre si e aqueles que, agora, pareciam ser sua verdadeira família. O jantar continuou em silêncio, todos imersos em seus próprios pensamentos, enquanto desfrutavam das deliciosas pizzas caseiras preparadas por Ramona e Jeremy.

Depois da refeição, a atmosfera na casa começou a se acalmar. As tensões entre alguns membros da família eram palpáveis, mas havia uma unidade estranha que os mantinha juntos. Allan se encontrava perdido em seus próprios pensamentos, tentando decifrar os enigmas que envolviam sua atual situação.

Mais tarde naquela noite, enquanto Allan estava deitado em seu quarto, olhando para o teto encantado que mudava de cores suavemente, ele não conseguia evitar a sensação de que havia algo mais profundo em jogo do que ele conseguia compreender. As palavras de Robin sobre a busca pelo funeral dos dragões ecoavam em sua mente, e ele se perguntava por que essa tarefa era tão importante para eles.

No entanto, o que mais o intrigava era a verdadeira natureza de Logan e por que ele estava determinado a destruir pessoas que pareciam tão diferentes de qualquer inimigo que Allan já tinha imaginado.

Enquanto as luzes mágicas dançavam pelo seu quarto, Allan decidiu que, no dia seguinte, começaria a investigar por conta própria. Ele estava determinado a descobrir a verdade por trás dos enigmas que cercavam nesse novo lugar.

E, à medida que a noite avançava, ele sentiu um estranho senso de pertencimento, como se, de alguma forma, estivesse exatamente onde deveria estar, mesmo que isso significasse enfrentar desafios desconhecidos e perigos inimagináveis.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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