Capítulo 9
Acordar cedo no final de semana não era a melhor coisa do mundo, na verdade, estava bem longe disso. Desliguei o despertador e resmungando levantei da cama, indo ao banheiro para um banho rápido.
Ontem recebemos o aviso de que neste sábado teríamos atividade extracurricular e precisávamos estar cedo no hall da Escola.
Escolhi uma calça jeans e blusa de alças. Calcei o all star e penteei o cabelo, amarrando-o. Peguei o celular e coloquei no bolso, saindo do quarto e seguindo pelo corredor.
— Bom dia! — ouvi alguém.
Virei e sorri ao encontrar Judy e Laisa. As duas eram colegas de quarto.
— Bom dia. — cumprimentei.
— Bem-vinda à deliciosa vida de atividades extracurriculares. — Judy ironizou e revirou os olhos.
Dei risada e segui junto com elas, descendo a escada.
— Agora você oficialmente já pode começar a reclamar da Escola. — Laisa comentou e Judy assentiu.
— Antes não podia? — arqueei uma sobrancelha.
— Até perder o primeiro sábado ensolarado? — Judy questionou fingindo ofensa — Jamais!
Nós atravessamos o pátio e entramos na Escola. Já tinha vários alunos espalhados por ali. Ainda não sabíamos que atividade seria, mas Judy explicou que eram sempre em algum lugar que aceitava serviços voluntários.
Estava conversando com meus amigos quando Kamily e Joana apareceram.
— Bom dia alunos. — Joana cumprimentou — Para alguns de vocês hoje será a primeira atividade extracurricular, então... Bem-vindos! — sorriu levemente — Acredito que todos já estejam sabendo do que se trata, mas explicando brevemente... A Escola Real é conhecida pelas ações voluntárias que faz em alguns lugares do reino, principalmente em instituições sem fins lucrativos. — fez uma pequena pausa — A maioria de vocês são ou serão nobres da realeza e nós temos como um dos princípios, que títulos não fazem pessoas mais ou menos importantes no cuidado... — negou com a cabeça — Todos merecemos o mínimo de respeito e dignidade.
Joana olhou para Kamily que assentiu, concordando com suas palavras.
— Hoje iremos até uma das escolas primárias, que está sendo reformada. — Kamily avisou e deu um passo à frente, ficando ao lado de Joana — Peço que colaborem. Sei que alguns não gostam destas atividades, mas respeitem e lembrem-se de que estão sendo avaliados. — nos olhou seriamente — Quando chegarmos ao local nós explicaremos melhor o que farão.
Nós voltamos ao pátio, onde algumas vans já nos esperavam. Entramos aleatoriamente e acabei sentando entre Vaiola e Ximena. Piter e Pablo estavam no banco de trás, como os pombinhos apaixonados que eram. O pessoal foi conversando durante o percurso e isso fez com que não acabasse cochilando.
Quase trinta minutos depois estacionamos na escola. Desembarcamos e nos reunimos na calçada, em frente aos portões. Kamily explicou que iríamos ajudar na finalização da pintura e organização das salas. Acabamos nos separando em pequenos grupos e Kamily indicou os lugares que devíamos ir.
Encarei o muro externo ainda totalmente branco enquanto um dos responsáveis pela área falava como deveria ser feita a pintura. Vaiola brincava com o pincel distraidamente e a cutuquei, chamando a atenção.
— Chata... — bufou baixo.
Quando estávamos liberados para iniciar o trabalho, as latas de tinta foram distribuídas pela calçada. Molhei o pincel e iniciei a pintura. O tom de azul era bonito e delicado, combinava com uma escola primária.
A parede era alta e contornava a quadra toda da rua. Vaiola estava mais ao lado, visivelmente matando tempo, já que ainda não tinha pintado nem um metro de muro.
Mergulhei o pincel na lata de tinta mais uma vez e passei na parede. Não era uma grande pintora e minhas habilidades passavam longe disso, mas mesmo assim me dediquei ao trabalho, afinal Kamily disse que seríamos avaliados. Tomara que não fosse pelo talento e sim disposição.
...
Já estávamos a algumas horas trabalhando. Sentia o topo da cabeça quente pelo sol e devia estar vermelha de calor. Ainda bem que lembrei de passar protetor solar.
Sorri agradecida quando o homem responsável pelo nosso trabalho avisou que podíamos fazer uma pausa. Nós recebemos garrafas de água gelada e bebi quase tudo como se estivesse no deserto. Passei a mão na testa limpando o suor e respirei fundo aproveitando a brisa leve que soprava naquele momento.
— Se soubesse que íamos ficar fritando no sol tinha colocado um biquíni. — ouvi alguém comentar e virei minimamente, encontrando com Jasmine.
Já tinha visto ela pintando o muro perto da esquina da rua e por isso fiquei no lado oposto. Queria paz e tranquilidade, coisa que não tinha com os seus comentários desagradáveis.
— Já estamos quase acabando. — comentei, sem conseguir me conter.
Olhei o muro de forma avaliativa e constatei que tínhamos pintado mais da metade.
— Isso foi para tentar me tranquilizar? — arqueou uma sobrancelha.
— Não. — neguei a encarando — Mas reclamar não ajuda em nada.
— Então você é do tipo positiva, que agradece ao sol todas as manhãs? — sorriu ironicamente.
— Só não sou pessimista, não faz bem para a alma. —dei de ombros.
— Quem disse que tenho alma. — piscou com um olho só.
Nos encaramos por alguns minutos. Jasmine não comentou mais nada e aproveitei para discretamente me afastar do grupo. Peguei o celular e verifiquei as horas, suspirando baixo ao ver que faltava pouco para o almoço.
— Oi. — ouvi alguém e virei encontrando Frederick.
— Oi. — sussurrei.
— Achei que fossemos pintar o muro... — comentou olhando minhas pernas.
Franzi a testa ao perceber que estava com a calça manchada de tinta. Eram apenas respingos, mas que com certeza não sairiam.
— Droga! — resmunguei.
— Achei conceitual. — deu uma risada baixa.
— Muito. — revirei os olhos.
Fred sorriu abertamente e deu de ombros. Neguei com a cabeça e respirei fundo, bebendo mais um gole da água.
— Queria falar com você... — fez uma pausa e me encarou — Sobre o beijo de Luiza.
— Ela beijou sozinha? Não sabia. — desdenhei.
— Você entendeu, — bufou baixo — Foi inesperado.
— Então vocês nunca ficaram antes? — sorri sarcasticamente.
— Não disse isso. — negou rapidamente — Só não esperava aquela atitude, naquele momento.
— Luiza gosta de você Frederick, — ergui o dedo indicador, pedindo atenção — E, por favor, não me subestime negando saber disso. — completei — Ela teve aquela atitude porque queria afastar qualquer possibilidade de nós nos aproximarmos.
— Primeiro, jamais a subestimaria. — fez uma careta — E em segundo, Luiza está ciente de que não temos um relacionamento sério. — ponderou colocando as mãos no bolso da calça — Eu e ela já conversamos sobre isso.
— Bom, então acho que você não foi muito específico. — constatei.
— É por isso que não me leva a sério? — franziu a testa.
— Não, — neguei com a cabeça — É porque nem você se leva a sério.
Frederick era um garoto bonito e mesmo que fosse considerado um 'bom partido', como já escutei DE algumas garotas, ainda não sentia que um envolvimento nosso seria a melhor ideia.
— Vamos voltar ao trabalho? — o homem responsável chamou.
— Preciso ir. — comentei já andando em direção ao muro.
— Não desisto fácil. — Fred avisou.
Parei e virei, encarando-o com uma sobrancelha arqueada.
— É uma decisão sua, — dei de ombros — Mas aguente as consequências.
Voltei a andar em direção a parte do muro que estava pintando anteriormente.
— Você e Fred juntinhos... — Vaiola sussurrou.
— Não comece. — repreendi.
Peguei o pincel e reiniciei o trabalho, torcendo para o tempo passar rápido e chegar logo a hora do almoço.
Era domingo, o dia estava ensolarado e por isso Piter praticamente implorou para que fossemos passear no centro do reino. A princípio tentei recusar, pois ainda me sentia cansada do dia anterior, mas ele insistiu tanto que acabei cedendo.
— Cheguei! — avisei encontrando com meus amigos no hall do internato.
Piter já tinha chamado um carro para nos levar, então esperamos sentados no banco do pátio. Vários alunos estavam por ali, conversando em pequenos grupos. Vi Laisa e Judy mais ao longe e acenei as cumprimentando.
Quando o carro enfim chegou nós embarcamos em frente à Escola e seguimos ao centro do reino. Piter pediu que o motorista nos deixasse em uma rua em que havia vários brechós, sebos e outras pequenas lojas.
Nós andamos sem pressa, entrando vez ou outra em alguma loja. Vaiola insistiu em vermos uma com bijuterias. A senhora dona do lugar era extremamente atenciosa e gentil, explicando que era ela quem fazia as peças, à mão, com todo cuidado. Óbvio que acabamos comprando alguns itens, na verdade, tive que conter Vaiola a lembrando que só tinha duas orelhas para a quantidade de brincos que pegou.
Depois entramos em um brechó e ficamos bastante tempo garimpando peças de roupa. Consegui achar um vestido xadrez, preto com amarelo, estilo 'as patricinhas de beverly hills'. Foi amor à primeira vista e por sorte coube certinho.
Quando saímos do brechó já era quase hora do almoço, então procuramos por algum restaurante perto.
— Você vai pedir salada? — Piter questionou arqueando uma sobrancelha.
— Não quero comer hambúrguer. — Vaiola deu de ombros.
— Pois eu quero! — afirmei e sorri para o garçom que estava parado ao lado da nossa mesa.
Nós fizemos os pedidos e o garçom avisou que em alguns minutos ficaria pronto. Enquanto isso trouxe meu chá gelado, o suco de laranja de Vaiola e refrigerante para Piter.
— Então... — Piter pigarreou baixo — Vou pedir Pablo em namoro.
Arregalei levemente os olhos, visivelmente surpresa. Vaiola bufou baixo e deu um gole no suco.
— Isso é uma decisão bem séria. — ponderei.
— Eu sei, — afirmou — Mas nós temos uma sintonia muito boa e... — suspirou baixo.
— E você gosta realmente dele. — conclui.
— Sim. — concordou.
Segurei sua mão em cima da mesa, apertando-a gentilmente.
— E já pensou em como fará isso? — arqueei uma sobrancelha.
— Pensei em milhares de coisas, — fez uma careta — Mas nada parece bom o bastante.
— Conte-nos. — pedi e olhei Vaiola — Podemos ajudá-lo a decidir isso, não é? — a cutuquei.
— Já vou avisar que algo meloso demais é bem cafona. — ela comentou e fez uma careta.
Revirei os olhos e voltei a prestar atenção em Piter, fazendo sinal com a mão para que começasse a falar.
— Ok... — respirou fundo — Estou fazendo aulas de culinária, então pensei em fazer um jantar romântico. — mordeu o lábio, pensativo.
— E onde faria isso? — franzi a testa.
— Aí está o problema... — escorregou na cadeira, desanimado.
— E as outras ideias? — Vaiola questionou.
— Pensei em uma poesia, talvez uma serenata... — Piter enumerou com os dedos.
— Eca, não. — ela negou com a cabeça.
— Nós podemos pensar com calma. — chamei a atenção dos dois — Acredito que você queira fazer algo especial.
Piter assentiu e apertou minha mão, que ainda segurava.
— Com licença... — o garçom chegou à mesa e colocou os pratos à nossa frente.
— Obrigada. — sorri.
Encarei o hambúrguer apetitoso e as batatas fritas, sentindo a boca salivar.
Nós começamos a comer enquanto ainda falávamos sobre o pedido de namoro. Piter parecia ansioso e conforme íamos pensando nas possibilidades, novas ideias surgiam. No fim não chegamos a uma conclusão, mas o bloco de notas do celular de Piter ficou cheio.
Depois que terminamos ficamos algum tempo sentados, apenas conversando. Vaiola sabia de várias fofocas da Escola e me perguntava em que tempo conseguia obter tantas informações.
...
Quando já era de tarde nós voltamos a andar pelas ruas do reino. Fiquei animada ao ver um sebo e sem pensar duas vezes entrei. Percorri as bancas repletas de livros, olhando as capas e folheando alguns deles.
Piter estava entretido nos discos de vinil e Vaiola parada perto da entrada, mexendo no celular. Voltei a passar a mão pela lombada dos livros, pegando um de capa dura, vermelha. Abri e sorri ao ler a dedicatória carinhosa na primeira página, logo abaixo do título.
Era fantástico saber que aquele livro já havia passado pelas mãos de outra pessoa, que quem sabe chorou, sorriu, gargalhou, se surpreendeu e até raiva sentiu. Esse era o poder de uma história, o de mexer com pensamentos e sentimentos.
— Vamos? — Piter tocou meu braço.
— Vamos. — assenti.
Com muita força de vontade consegui sair sem levar nada. Não era consumista, mas confesso que livros era meu ponto fraco.
Estávamos em frente à loja quando vi dois homens parados a certa distância, conversando. Franzi a testa reconhecendo um deles, era Nicholas. O assunto parecia sério já que ele gesticulava com uma das mãos enquanto a outra estava no bolso da calça social.
Fiquei encarando-o por alguns segundos. Não sei ao certo porque, mas não consegui desviar, até sentir alguém segurar meu braço.
— Alicia... — Vaiola chamou.
A encarei, sorrindo como pedido de desculpas. Ela engatou nosso braço, como de costume, e voltamos a andar pela calçada. Virei o rosto e olhei para trás, mas os dois homens não estavam mais ali. Senti um leve puxão e fiz uma careta para Vaiola.
— Perdeu alguma coisa? — Piter olhou na mesma direção, com a testa franzida.
— Achei ter visto alguém conhecido. — dei de ombros.
— Vamos, quero comprar uma bota nova. — Vaiola comentou.
— Não vou carregar mais sacolas de ninguém... — resmunguei.
Já estava levando a sacola com meu vestido e outras duas de Piter, que tinha algum problema com autocontrole quando se tratava de compras.
— Chata... — Piter sussurrou e bati levemente em seu braço, repreendendo-o.
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