Capítulo 8
Terminei de responder a última questão do trabalho de cálculo. Tinha praticamente virado a noite estudando e agora me sentia bem mais tranquila. Era um teste que valia nota extra e sabemos que qualquer ponto a mais é sempre bem-vindo.
Levantei da cadeira e deixei a folha sobre a mesa do professor Adam, que a colocou dentro de sua pasta.
— Já? — brincou.
— Espero que tenha conseguido. — dei de ombros.
Voltei até a mesa e peguei os materiais. Pedi licença e sai da sala. Em dia de testes e atividades nós não precisávamos ficar depois que terminássemos, então aproveitei para pegar o livro de francês no armário e ir até o pátio.
Sentei em um dos bancos que ficavam na sombra. Abri o livro na página que a professora Savanna havia indicado e iniciei a leitura. Francês nunca foi meu ponto forte. Confesso que tinha afinidade maior com o alemão, pois é com quem Cérnia faz maior fronteira.
— Salut comment allez-vous? — sussurrei, testando como soava.
Sempre achei o sotaque francês lindo e charmoso.
— A pronúncia está quase correta. — alguém comentou.
Levantei os olhos e sorri ao encontrar Nicholas. Ele estava parado logo a frente a alguns passos de distância, com as mãos no bolso na calça. Hoje seu conjunto social era cor azul chumbo, bonito.
— Olá. — cumprimentei.
— Salut comment allez-vous? — pronunciou com perfeição.
Sorri mais abertamente e tirei os livros que estavam ao lado no banco, lhe dando espaço. Nicholas entendeu e sentou, ajeitando-se meio de lado.
— Francês não é meu forte. — fiz uma careta.
— Nada que prática e dedicação não ajude. — incentivou, apoiando o braço no encosto do banco — E sinto que isso você tem de sobra.
— Preciso, não é? Afinal ganhei uma bolsa na Escola e quero merecê-la. — ponderei.
— Entendo... — sussurrou pensativo.
Nós nos encaramos por alguns poucos minutos, até pigarrear baixo.
— Então, você trabalha aqui na Escola? — questionei, afinal já era a terceira vez que o via por ali.
— Não oficialmente, — negou com a cabeça — Mas tenho interesses aqui, então acredito que irá me ver com certa frequência. — deu de ombros.
— Isso não é ruim. — sussurrei, me arrependendo logo em seguida.
Ficamos em silêncio alguns minutos, até Nicholas estender sua mão. A princípio não entendi, mas mesmo assim a aceitei, sorrindo levemente quando ele a levou aos lábios e beijou delicadamente o dorso, como na primeira vez que nos vimos.
— Acho que posso concordar. — comentou e levantou do banco, acenando com a cabeça antes de ir em direção a Escola.
Acompanhei com os olhos, até que Nicholas tivesse sumido completamente. Um pequeno frio tinha se instalado em meu estômago, não sei ao certo por que.
Suspirei alto e voltei a prestar atenção no livro, pelo menos tentei, já que recebi uma mensagem de Vaiola pedindo onde estava. Nós combinamos de nos encontrarmos para o almoço, então guardei os livros novamente no armário e segui ao refeitório.
Sentei ao lado de Piter, que falava animado sobre a aula de fotografia que teria a tarde, comentando sobre o professor e o ajudante, que segundo ele era um "gato". Nós almoçamos com calma, compartilhando sobre as matérias que mais gostávamos.
Como sempre, depois de satisfeitos nós fomos para a sala de convivência descansar e descontrair um pouco antes da aula complementar. Nós conversávamos sobre as mais variadas coisas, nosso grupo era bem diversificado em quesito de personalidade e isso era o que tornava tudo mais legal. É difícil conviver com as diferenças às vezes, mas precisamos aprender que todos temos um jeito de pensar e agir, e tudo bem, contanto que isso não me afete negativamente de algum modo.
— Está tudo bem? — sussurrei à Vaiola.
Já tinha percebido que ela estava estranha desde que voltou do seu reúno no final de semana. Questionei algumas vezes se gostaria de falar sobre o encontro com Louis, mas sempre negava, então respeitei sua decisão e não toquei mais no assunto.
— Sim, só estou com o estômago meio estranho... — comentou.
— Já tomou algum remédio? — toquei sua mão, preocupada.
— Sim, vou melhorar. — sorriu levemente.
Assenti e deitei a cabeça em seu ombro, voltando a prestar atenção na conversa do grupo.
...
Quando era quase hora da aula complementar me despedi do pessoal e segui ao internato, precisava trocar o uniforme, afinal hoje tinha equitação.
— Michely! — cumprimentei entrando no quarto — Que surpresa vê-la por aqui. — ironizei.
Ouvi sua risada baixa e sorri, piscando com um olho só. Nós tínhamos desenvolvido mais a relação durante a semana que passou. Ainda a sentia resistente em certos aspectos, mas entendia que aquele era seu trabalho, então levaria algum tempo até estarmos completamente confortáveis.
Segui em direção ao banheiro e tomei um banho rápido. Quando voltei ao quarto vi que o uniforme já estava separado, em cima da cama.
— Você é um anjo. — comentei.
— Eu tento. — deu de ombros, mas notei seu sorriso satisfeito.
Me troquei rapidamente enquanto Michely organizava o banheiro, voltando com o cesto de roupas sujas. Amarrei o cabelo e calcei as botas, pronta para a aula.
— Vou aproveitar para levar as roupas na lavanderia. — Michely explicou e assenti.
Nós descemos juntas e nos despedimos no hall. Segui até a arena onde são feitas as aulas de equitação. Nunca andei a cavalo antes e confesso que tinha certo receio, mas o professor Daniel explicou como chamavam os acessórios que usaríamos e nos mostrou as baias com os cavalos e éguas. Penélope era o nome da égua com que faria as aulas. Era lindíssima.
— Boa tarde turma. — professor Daniel cumprimentou-nos — Preparados para a primeira aula de montaria? — arqueou uma sobrancelha.
Vários alunos cochicharam entre si, empolgados com a ideia. O professor nos chamou para irmos à arena, onde teríamos a aula. Os animais já estavam à nossa espera e sorri animada ao ver Penélope. Passei a mão em sua crina e ouvi o relincho baixo, como se estivesse me cumprimentando.
— Também estou feliz em vê-la. — sussurrei.
Daniel escolheu um dos garotos para iniciar e nós os assistimos da beirada da arena. Fiquei parada ao lado de Penélope, passando a mão pelo seu corpo enquanto escutava as instruções.
A aula foi interessante, o professor nos auxiliou e cada um montou seu animal. Nós apenas trotamos. Penélope era calma e isso ajudou, pois não levava muito jeito com aquilo.
Depois da aula nós fomos até as baias. Daniel explicou que não era nossa responsabilidade limpá-las e que havia funcionários que cuidavam dos animais, mas podíamos escová-los e passar algum tempo por ali se quiséssemos. Deixei cenouras para Penélope e me despedi, beijando seu focinho.
Voltei ao internato junto com os outros alunos. Precisava de um banho demorado e foi exatamente o que fiz. Michely não estava no quarto, então tirei a roupa ali mesmo, indo ao banheiro. Ainda tinha tempo até a hora do jantar, então quando voltei ao quarto, deitei na cama apenas de roupão.
Peguei o celular e conferi as mensagens no grupo com meus amigos de Cérnia e no da Escola, e por fim as de tia Leila. Nós nos falávamos sempre, sabia que seu horário de trabalho a ocupava praticamente o dia todo e por isso a noite estava mais disponível. Acabei mandando uma mensagem de voz, contando sobre a aula de equitação e como estava apaixonada por Penélope.
Fiqueideitada por algum tempo, apenas rolando o feed do instagram, até sentira barriga mexer e fazer um barulho estranho. Estava faminta e a única coisa queconseguia pensar no momento era no jantar, que seria servido em vinte minutos.Por isso, levantei da cama e comecei a me arrumar.
Estava praticamente correndo pelo pátio, indo em direção ao internato. A aula de natação havia passado um pouco do horário, então deixei Piter para trás, junto com nossos colegas. Pedi desculpas e aleguei se tratar de algo importante.
Tinha recebido um aviso de Michely hoje pela manhã, na verdade, vindo de Analise. O grupo vencedor do jogo de iniciação finalmente receberia o prêmio, então devíamos estar todos no hall do internato perto do horário do jantar.
Entrei no quarto e Michely já estava arrumando a penteadeira. Nós combinamos que nos encontraríamos depois da aula.
— Eu sei, — exclamei andando ao banheiro — Estou atrasada!
Não ouvi nenhuma resposta, então apenas entrei no box e tomei banho, o mais rápido que conseguia. A parte mais difícil sempre era desembaraçar o cabelo, pois ficava amassado dentro da touca.
Quando terminei, voltei ao quarto e encontrei a roupa que havia separado hoje pela manhã, já estendida em cima da cama. Sorri para Michely em forma de agradecimento e comecei a me vestir. Era uma camiseta rosa clara, com uma jardineira saia, jeans, cor preta. Calcei o all star e segui ao banheiro para secar o cabelo, fazendo babyliss e deixando-o com leves ondas.
Sentei em frente à penteadeira e passei rímel, blush e gloss. Não queria exagerar demais na produção, mas também não sabia o que teríamos como prêmio. Até tentei sondar Michely, mas ela jurou não ter nenhuma informação.
Quando estava pronta, conferi as horas e mesmo ainda estando adiantada, me despedi de Michely e segui até o local combinado. Sorri ao ver Ximena e a cumprimentei. Também notei Luiza, Frederick e mais dois garotos, que conversavam sobre as possibilidades do que poderia ser o prêmio.
Aos poucos o restante do grupo chegou e no horário marcado Kamily apareceu, pedindo que a seguíssemos. Percebi que estávamos indo em direção à sala de convivência. Na porta havia um cartaz dizendo que o lugar estava interditado temporariamente, mas Kamily ignorou e a abriu.
Assim que entramos soltei um suspiro alto, de surpresa. A maioria das lâmpadas estavam desligadas, deixando o lugar quase no completo breu, se não fosse pelo teto repleto de luzes de pisca, decorando e ao mesmo tempo iluminando. As mesas tinham vários tipos de comida e bebida, além de sobremesas.
Reconheci a música tocando ao fundo, era Hard Times do Paramore, uma das minhas preferidas.
— Espero que gostem da comemoração que preparamos. — Kamily indicou o lugar.
Ela explicou que podíamos ficar ali até o horário do toque de recolher. Hoje a sala de convivência era apenas nossa.
— É isso aí pessoal, — o garoto ruivo comentou quando estávamos sozinhos — Vamos nos divertir!
Luiza e Ximena imediatamente foram para a pista de dança improvisada, perto da estante. Já eu, segui até à mesa, enchi um copo com suco e peguei algumas bolinhas de queijo. Sentei em um dos sofás e comecei a comer com calma.
— Isso está uma delícia. — um garoto comentou e sentou ao meu lado com três pedaços de pizza no prato.
— Sim. — assenti, com a boca cheia.
— Não imaginei que o prêmio fosse ser isso, — falou enquanto mastigava — Mas confesso que se tem comida eu já gosto.
Dei risada e assenti. Duas coisas que são importantíssimas em um rolê, é se terá lugar para sentar e comida.
— Sou Caleb. — se apresentou e estendeu a mão — Acho que não tivemos oportunidade de conversar, com aquela loucura do jogo... — fez uma careta.
— Foi mesmo. — aceitei sua mão, apertando-a — Sou Alicia.
— Você é de onde? — questionou.
— Cérnia e você? — bebi um gole de suco.
— Guinóva. — sorriu levemente — Nem minimamente perto.
— Sim. — dei uma risada baixa.
Desenvolvemos uma conversa agradável e ficamos algum tempo apenas comendo e falando sobre livros, filmes e séries. Caleb também gostava de documentários e isso nos rendeu bastante assunto.
— Estão a fim de jogar? — Fred convidou, surgindo à nossa frente e indicando a mesa de sinuca.
— Não sou boa nisso. — fiz uma careta.
— É só para descontrair, vamos... — estendeu a mão.
Olhei para a mesa e ponderei a ideia.
— Ok, vamos! — aceitei deixando que me puxasse do sofá — Caleb... — o chamei.
Frederick ainda segurava minha mão, então sutilmente a puxei. Ele sorriu abertamente, claramente se divertindo com a situação. Não pude deixar de revirar os olhos enquanto seguíamos até a mesa. O garoto de cabelo platinado também estava ali e fez um sinal positivo quando nos viu.
— Vamos dois contra dois? — sugeriu.
— Eu e Alicia, contra vocês dois. — Fred comentou, me oferecendo um dos tacos.
— Ainda bem que minha opinião importa. — ironizei, pegando-o.
— Nós formamos uma boa dupla, esqueceu? — sorriu e arqueou uma sobrancelha — Vamos ganhar gata. — afirmou confiante.
Caleb e Frederick tiraram dois ou um para ver quem começava a partida. Fiquei parada no lado direito da mesa observando as jogadas, até chegar minha vez. Não era muito boa de mira e avisei Fred antes de tentar a tacada e obviamente errar.
— Eu disse... — dei de ombros.
Fred negou com a cabeça e colocou a mão em meu ombro, apertando-o levemente.
— Relaxa Alicia. — sussurrou.
Nós jogamos três partidas e perdemos todas. Foi vergonhoso, mas aparentemente Fred não estava se importando, então resolvi desencanar também e apenas curtir.
Em certo momento Luiza e Ximena se juntaram a nós e essa foi a oportunidade de sair do jogo. Agora Luiza era dupla de Fred e os dois iam bem, tinham até chances de ganhar a partida.
Estava sentada em um dos puffs perto da mesa de sinuca, apenas observando. Ximena se acomodou ao meu lado e nós ficamos torcendo, vaiando e dando risada das jogadas erradas.
— AEEE! — Luiza exclamou quando venceram a partida.
Nós batemos palmas comemorando junto, quando de repente Luiza segurou o rosto de Frederick e o beijou. As reações foram variadas, Ximena e outros assoviaram incentivando-os, Caleb e o garoto ruivo deram risada, já eu fiquei em silêncio, apenas encarando-os.
Óbvio que desconfiava que os dois tinham algum tipo de envolvimento e Luiza sempre deixou claro o interesse. Só não esperava alguma interação mais física tão explícita hoje.
Notei que Luiza sorria abertamente e tinha as bochechas vermelhas, enquanto Fred olhava ao redor, enfim encontrando meu rosto. Nos encaramos por alguns segundos, até a porta da sala ser aberta e o segurança que estava ao lado de fora entrar, avisando que era quase horário do toque de recolher. Todos fizeram um muxoxo de descontentamento, mas aceitaram, afinal não havia o que ser feito.
Levantei do puff e puxei Ximena, seguindo junto com o pessoal para fora da sala de convivência. Acenei discretamente ao segurança quando passamos e andei em direção à escada.
— Até que foi divertido. — alguém comentou.
Nós concordamos enquanto subíamos ao segundo andar. Os garotos ficaram por ali, nos despedimos rapidamente e percebi que Frederick tinha o rosto mais sério.
Já no terceiro andar dei tchau para as garotas e agradeci pela noite, pois tinha mesmo sido legal. Segui ao quarto e suspirei alto assim que entrei.
— Está tudo bem? — Michely questionou.
— Só cansada. — comentei indo até a cama e me jogando, literalmente.
— Quer que prepare o banho? — andou até perto e me observou.
— Não precisa, — neguei e virei o rosto, encarando-a — Mas consegue algum remédio? Meus braços doem por causa da aula de natação.
Com certeza ter jogado sinuca também não tinha sido uma boa ideia, já que nadei a tarde toda. Agora sentia os reflexos nos músculos dos braços.
— Claro. — afirmou — Já volto.
Michely saiu do quarto e assim que estava sozinha resmunguei, levantando da cama e indo ao banheiro. Tomei um banho rápido e vesti o roupão, voltando ao quarto.
Encontrei Michely já esperando com dois comprimidos e um copo de água.
— Obrigada. — sorri levemente — Você está dispensada, — comentei enquanto vestia o pijama — Só quero minha cama agora.
Michely deu uma risada baixa e assentiu, pegando o copo e se despedindo antes de ir.
Deitei na cama e fechei os olhos. Respirei fundo algumas vezes, tentando relaxar. Coloquei os fones de ouvido e selecionei a playlist de músicas calmas, pegando no sono em pouco tempo ao som de Turn Right dos Jonas Brothers.
Franzi a testa enquanto ouvia a professora Savanna falar em francês. Não era completamente leiga, mas precisava prestar atenção, pois se perdia alguma pronúncia mais complexa não conseguia entender o contexto.
Suspirei baixo e acompanhei a leitura no livro a frente. Vaiola era minha dupla nesta aula e conseguia ser tão ruim quanto eu, o que não ajudou na hora de fazermos os exercícios que a professora passou.
— Nós estamos muito ferradas... — Vaiola sussurrou quando a professora entregou a folha com as perguntas e a última era um breve resumo de até dez linhas sobre o capítulo que lemos hoje.
— Não vou discordar. — neguei com a cabeça.
Respirei fundo e me concentrei na atividade.
— Muito feio se deixarmos o texto de lado? — Vaiola mordeu o lábio, pensativa — Fingimos que esquecemos... — deu de ombros.
— Acho que a professora não vai cair muito nessa. — inclinei levemente a cabeça e a encarei.
Vaiola bufou alto e apoiou o cotovelo na mesa, descansando a cabeça, visivelmente entediada.
Ainda pensava no que escreveria, sem parecer muito burra, quando uma folha deslizou em cima da mesa. Olhei para Frederick que passava ao nosso lado, indo em direção à professora e entregando a atividade já concluída.
Encarei a folha e arregalei os olhos ao perceber que era um resumo do capítulo. Sabia que Ligoni, o reino de Fred, fazia fronteira com a França e o idioma era o segundo mais falado.
— Acho nós que fomos salvas. — sussurrei e olhei novamente para Fred, que apenas sorriu levemente antes de sair da sala.
— O que? — Viola perguntou confusa.
Mostrei a folha e disse que havia sido Frederick quem fez. A princípio, Vaiola não entendeu. Ainda não tinha tido oportunidade de lhe contar sobre o beijo entre ele e Luiza na noite anterior. Não que isso fosse à fofoca do ano e nem nada tão surpreendente, mas acredito que Vaiola gostaria de saber, além de achar que a atitude recente tinha haver com o acontecido. Por isso, enquanto passava o resumo para a nossa folha, aproveitei para deixá-la apart da história.
— Fred claramente está arrependido. — deu de ombros.
— Ele não parecia nenhum pouco arrependido enquanto recebia o beijo ontem. — desdenhei.
— Garotos podem ser bem estúpidos às vezes. — ponderou.
— Acho que esse é o problema, — a encarei — São apenas "garotos", — fiz aspas com os dedos.
— Ok, senhora adulta. — Vaiola deu risada e a empurrei levemente, repreendendo.
— É sério. — suspirei baixo e voltei a escrever — Não quero me envolver com alguém que visivelmente não está procurando nada sério.
— Então você está procurando algo sério? — arqueou uma sobrancelha.
— Não... — fiz uma careta — Ou sim... Não sei. — suspirei alto — Nós nem deveríamos estar falando disso. — argumentei.
— O que? — bufou baixo — Só minha vida amorosa entra em questão e a sua não?
— Você nem fala mais sobre sua vida amorosa. — acusei.
— Porque não existe mais. — deu de ombros e notei sua fisionomia ficar séria
— Desculpe, — segurei sua mão em cima da mesa — Não precisamos falar disso se não quiser.
Vaiola assentiu e sorriu levemente, mas não chegava aos olhos. Isso partiu meu coração, então a abracei rapidamente, afagando suas costas.
— Obrigada. — sussurrou.
Nos desvencilhamos e terminei de passar as últimas linhas do resumo para nossa folha. Assinei os nomes e entreguei a Vaiola, que fez uma careta enquanto ajeitava suas coisas nos braços e levantava da cadeira.
A professora sorriu quando lhe entregamos a atividade e guardou na pasta. Nos despedimos com um aceno e saímos da sala.
— Você precisa agradecer Frederick. — Vaiola comentou quando estávamos guardando os materiais no armário.
— Ué, porque eu? — a encarei — Que eu saiba o trabalho era em dupla, então você também deve agradecer. — acusei.
— Tenho certeza que ele não está esperando o meu agradecimento. — afirmou piscando com um olho só — Aliás, posso até dizer que tipo de agradecimento espera... — sorriu maliciosamente.
Bufei alto e fechei a porta do armário com um pouco mais de força, encerrando o assunto.
Como já estava quase na hora do almoço nós descemos ao refeitório. Já havia alguns alunos por ali, tão famintos que não conseguiam esperar o pouco tempo que ainda faltava.
Quando o buffet foi liberado eu e Vaiola nos servimos e sentamos à mesa. Alguns minutos depois nosso grupo de amigos foi chegando e entre eles Frederick, que sentou mais na ponta, acompanhado de Luiza.
— Oh ou! — Piter murmurou ao meu lado enquanto mexia no celular.
— O que? — questionei.
— Luiza twittou sobre ontem. — entregou o celular.
Peguei e olhei mais de perto o post da rede social.
Encarei a tela por alguns segundos e depois o devolvi a Piter.
— É, acho que podemos ter um novo casal na área! — comentou baixo.
— É, acho que sim. — concordei.
Sinceramente Alicia, você não tem nada a ver com isso. Repreendi mentalmente.
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