Capítulo 4
Frederick e eu estávamos parados perto de uma das escadas laterais enquanto os outros olhavam o hall de entrada da Escola, procurando desvendar a segunda pista.
— Onde o lema do país pode estar? — sussurrei pensativa.
— Talvez não seja literalmente o lema, mas algo que indique ou represente... — Fred ponderou.
— Como assim? — franzi a testa.
Notei seu olhar vagar pelo hall de forma avaliativa, até um sorriso surgir em seus lábios.
— Isso! — comemorou.
— O que? — sussurrei.
Frederick tocou meu ombro e fez com que virasse, ficando de frente para um quadro com o retrato de Vicente, o primeiro imperador, que fundou nosso lema.
— Vem. — empurrando-me levemente para que andasse.
Olhei na direção dos nossos companheiros de grupo e torci para entenderem que estávamos seguindo a segunda pista. Percebi que Luiza nos encarava fixamente, mas fui distraída quando Fred segurou meu braço, guiando-nos até o quadro e virando no corredor à esquerda.
— Onde estamos indo? — questionei.
Frederick soltou meu braço e pegou o celular, digitando rapidamente. Depois vi que abriu a foto da terceira pista e a leu baixo.
— Onde temos acesso a informações? — arqueou uma sobrancelha.
Franzi a testa, mas antes que conseguisse pensar em alguma resposta Fred já andava em direção ao final do corredor, então rapidamente o segui. Havia mais duas portas duplas de madeira escura com placas indicando ser a informática, mas aparentemente ele tinha algo em mente, já que as ignorou.
— Biblioteca. — comentei ao chegarmos à última porta.
Frederick apenas assentiu e a abriu, indicando que passasse a frente. Arregalei os olhos assim que entrei e não consegui esconder o deslumbramento ao ver o lugar gigante. Devia haver mais de cem estantes que iam até quase o teto, fazendo com que necessitasse de uma escada embutida, que deslizava para acompanhar toda a sua extensão.
— UAU. — respirei fundo.
— É! — Fred parou ao meu lado — Bem-vinda a Escola Real. — brincou e deu uma risada baixa.
— Como vamos achar algo aqui? Esse lugar é enorme. — pensei em voz alta.
— A pista diz que precisamos prestar atenção nos detalhes. — ponderou.
Ouvi o barulho da porta e logo nosso grupo todo entrava ali. Com certeza a mensagem que Fred enviou anteriormente era avisando que estávamos na biblioteca.
— Vamos olhar corredor por corredor. — a garota de cabelos cacheados sugeriu — Pode estar entre os livros, nas prateleiras, paredes... — enumerou com os dedos.
— Concordo Ximena. — Luiza sorriu.
Nosso grupo se dispersou e cada um entrou em um corredor. Sinceramente, não sabia se estávamos seguindo a pista certa, mas se fosse mesmo, não fazia ideia de como encontraríamos a estatueta no meio de tantos livros.
Suspirei alto e passei a mão pelas lombadas enquanto lia os títulos. Observei atentamente as prateleiras e cheguei a subir na escada, mas assim que estava na metade desisti, pois o medo de cair e fatalmente quebrar um braço era maior.
Já estava no terceiro corredor quando bufei de descontentamento. Esse negócio não estava indo bem e cogitava a hipótese de desistir. Olhei para os lados assim que cheguei ao final e vi Ximena e Luiza entrando juntas em mais um corredor.
A parede dos fundos da biblioteca era revestida com pequenas lajotas que imitavam madeira. Havia também alguns abajures pendurados, distribuídos igualmente, decorando o local. Reparei que um deles estava piscando sem parar, como se estivesse quebrado, então andei devagar até ele. Franzi a testa e o analisei com mais atenção. Fiquei na ponta dos pés e toquei com cuidado sua armação de ferro, inspecionando-o e encontrando uma pequena fita vermelha sutilmente amarrada.
Mexi na estrutura e franzi a testa ao ouvir o barulho de algo destravando. Antes que conseguisse raciocinar o que acontecia, uma pequena fresta surgiu onde anteriormente era apenas uma simples parede. Me inclinei levemente e tentei espiar o que havia dentro, mas estava completamente escuro.
— O que está fazendo? — alguém questionou e virei assustada.
— Mas que merda! — praguejei com o coração acelerado.
Frederick deu uma risada baixa e se aproximou, examinando também a recente porta descoberta.
— É uma passagem secreta. — sorriu.
— Encontrei sem querer, quando estava mexendo no abajur. — dei de ombros.
— Construções antigas sempre têm alguma saída escondida, ou passagens... — comentou enquanto abria mais a porta.
Ouvi algumas vozes perto de onde estávamos e não as reconheci. Provavelmente eram mais alunos que resolveram investigar a biblioteca.
— Vem. — Frederick chamou e no instante seguinte estávamos os dois dentro da passagem na parede.
— Você está maluco? — sussurrei piscando algumas vezes para adaptar a visão.
— Alguém podia nos ver e aí já era nossa chance de ganhar o jogo. — explicou.
Peguei o celular no bolso do casaco e liguei a lanterna, iluminando o espaço ao nosso redor, encontrando a estreita escada de madeira logo à frente.
— Vamos ver o que tem lá em cima. — Fred sugeriu.
Iluminei os degraus até chegar à porta que havia no topo da escada.
— Não sei... — sussurrei apreensiva.
— Vamos Alicia. — incentivou empurrando levemente a base das minhas costas.
Assenti e subi o primeiro degrau, ainda receosa. O lugar era meio abafado, mas ignorei esse fato e apenas me movi mais rápido, querendo sair logo dali.
Ouvia os passos de Frederick logo atrás e por incrível que pareça isso me acalmou um pouco, por saber que não estava sozinha naquele lugar desconhecido.
Chegamos ao topo e rapidamente girei a maçaneta da porta, abrindo-a. Imediatamente uma rajada de vento bagunçou meus cabelos. Frederick subiu o último degrau e ficou ao meu lado, fatalmente deixando-nos mais perto um do outro, já que o espaço era limitado.
— Isso é um terraço? — questionei olhando ao redor.
Estava praticamente vazio ali, se não fosse por alguns vasos com plantas, indicando que alguém devia ir de vez em quando regá-las.
— Sim, estamos no terraço da Escola. — Frederick confirmou andando até mais ao centro.
— Pista falsa. — bufei baixo.
— Ou não! — indicou com a cabeça para a esquerda.
Dei alguns passos à frente e vi mais ao longe a mesa de madeira comprida, com dois bancos, um de cada lado. Franzi a testa tentando enxergar melhor e sorri ao reconhecer a águia símbolo na estatueta apoiada no centro.
Frederick andou até a mesa e a pegou, levantando-a e comemorando. Dei risada e fiz um sinal positivo com as duas mãos.
— Fazemos o que agora? — questionei.
— Vamos voltar à biblioteca e encontrar os outros. — sugeriu.
— Ok. — concordei já indo em direção à porta.
Nós descemos a escada com cuidado, iluminando-a novamente. Quando chegamos ao final notei que havia uma maçaneta na parede e a girei, abrindo a porta secreta.
Suspirei de alívio assim que percebi que estávamos novamente na biblioteca. Fred empurrou a porta, fechando-a e fazendo com que parecesse novamente apenas uma parede qualquer.
— Aí estão vocês! — o garoto negro comentou.
Virei e encontrei com o nosso grupo. Eles não pareciam muito felizes.
— Acho que a pista estava errada... — Ximena fez uma careta — Não tem nada nessa biblioteca.
— Tem certeza? — Frederick ergueu a mão que segurava a estatueta.
— AH! — o outro garoto comemorou pulando em cima dele.
— Onde encontraram? — Ximena perguntou.
— É... Vocês sumiram... — Luiza franziu a testa — Onde estavam?
— Você nem acreditaria... — Fred sorriu despreocupadamente e me olhou de canto.
Bufei baixo e revirei os olhos. Percebi que Luiza me encarava diretamente e dei de ombros, afinal não tinha muito o que comentar.
— Vamos voltar à fonte. — sugeriu o garoto ruivo.
Nosso grupo todo concordou e seguimos juntos pela biblioteca. Alguns alunos que estavam por ali viram a estatueta agora na mão do garoto de cabelo platinado e vários fizeram caretas, praguejando baixo.
— Até que foi divertido. — Frederick sussurrou, andando ao meu lado enquanto saíamos da Escola.
— É, — mordi o lábio inferior — Poderia ter sido pior.
— Formamos uma boa dupla. — piscou com um olho só, descontraído.
— Na verdade, isso foi um trabalho em grupo. — lembrei fazendo com que sorrisse abertamente.
Nós caminhamos pelo pátio e vários alunos nos seguiam desde a biblioteca, pois sabiam que o jogo havia terminado.
— Eles conseguiram! — ouvi alguém gritar.
Logo os outros grupos começaram a chegar e em poucos minutos estávamos todos reunidos novamente perto da fonte. Provavelmente alguém avisou a diretora de que tínhamos finalizado o jogo, pois logo Analise apareceu.
— Foram mais rápidos do que pensei. — comentou e olhou para Luiza, que segurava agora orgulhosamente a estatueta — Parabéns a todos que participaram e se empenharam. — sorriu calorosamente — Espero que este jogo tenha aproximado alguns de vocês, afinal sabemos como tudo isso é novo para a maioria e só queremos ajudar a tornar o período de permanência na Escola o mais fácil e memorável possível. — fez uma pequena pausa e então olhou diretamente para nosso grupo — Vocês como ganhadores terão direito ao prêmio e saberão o que é assim que for o momento.
— Ah... — Luiza murmurou.
— Estão todos dispensados para aproveitarem o final da tarde como quiserem. Sugiro que usem esse tempo para interagirem e se conhecerem ainda mais. — fez um sinal com o indicador para que prestássemos atenção — Mas lembrem-se do horário do jantar e o toque de recolher... Até mais!
Suspirei baixo e virei para meu grupo, que comemorava a conquista.
— Será que isso é nosso? — Luiza perguntou olhando a estatueta em sua mão.
— Ninguém pediu de volta. — o garoto ruivo comentou.
— Então vou pegar para mim... — ponderou — Se ninguém mais quiser, óbvio.
Todos nós negamos com a cabeça e Luiza sorriu agradecida.
— Parabéns! — senti uma mão em meu ombro e virei encontrando Vaiola.
— Obrigada! — sorri.
— Sabe que se o prêmio for bom e quiser dividir, nem vou reclamar. — brincou e deu risada.
— Pode deixar. — pisquei com um olho só.
Vi Frederick conversando com alguns alunos e antes que conseguisse desviar ele já me encarava de volta, sorrindo abertamente. Vaiola pigarreou baixo chamando atenção.
— Conhece ele? — questionei, indicando Frederick com a cabeça.
— Só de vista. — deu de ombros.
— Hm. — murmurei.
— Ele é filho de um dos duques mais importantes de Ligoni. — explicou olhando-o nada discretamente — Digamos que sua fama de "conquistador" é bem conhecida entre as garotas. — fez aspas no meio da frase.
Olhei de canto e notei que agora Frederick conversava com Luiza. Os dois davam risada de algo e pareciam já se conhecer bastante.
Você não tem nada a ver com isso Alicia. Pensei.
— Bom, e nós fazemos o que agora? — questionei voltando a atenção para Vaiola.
— Que tal um café? — sugeriu e assenti — Então vamos. — engatou nossos braços.
Vaiola nos conduziu ao internato e reconheci o caminho quando passamos pela sala de convivência, indo até a cozinha. Já havia vários alunos ali e recebi 'parabéns' de alguns deles por ter vencido o jogo. Agradeci sorrindo e sentei em uma das mesas enquanto Vaiola pegava duas xícaras, servindo-nos do café que alguém bondosamente fez.
Acabei percebendo que não me despedi do meu grupo. Espero que não fiquem chateados com isso, pois não queria parecer mal-educada. Lembrei da indireta de Frederick sobre formarmos uma boa dupla e contive a vontade de revirar os olhos. Ele visivelmente estava jogando charme, mas agora já sei da sua fama.
— Aqui. — Vaiola deixou a xícara a minha frente e agradeci.
Senti o celular vibrar e praguejei baixo lembrando de Michely. Fiz uma careta ao ver sua mensagem, junto com várias no grupo do jogo e mais duas no grupo 'Três mosqueteiros'.
Respondi primeiro Michely, tranquilizando-a sobre onde estava e que não precisaria de seus serviços por enquanto, mas lhe avisaria se necessário. Depois enviei um agradecimento ao meu grupo por termos conseguido vencer o jogo e por fim, avisei Ryan e Sansa que no momento estava ocupada, mas que ligaria antes de dormir para atualizá-los de tudo.
— Que horas é o toque de recolher? — perguntei a Vaiola que ergueu os olhos do celular, dando-me atenção.
— Meia noite em ponto. — fez uma careta.
— Ou...? — arqueei uma sobrancelha.
— Advertência. — fez um muxoxo — Três advertências e eles comunicam o responsável e você recebe uma punição.
— Eita! — arregalei os olhos.
Vaiola assentiu e voltou a digitar, parecendo preocupada.
— Namorado? — brinquei.
— Mais ou menos. — mordeu o lábio inferior — Louis e eu ficávamos, mas agora as coisas se complicaram... Sabe, todo lance da distância e tals...
— Mas você gosta dele? — inclinei levemente a cabeça para o lado.
— Sim, muito. — afirmou e deixou o celular sobre a mesa, me encarando.
— Bom, tem uma frase que li uma vez e resume bem isso, — pigarreei baixo e limpei a garganta antes de continuar — "Não importa a distância que os separa, mas o sentimento que os une." — toquei sua mão sob a mesa — Se o sentimento entre vocês for verdadeiro e recíproco, com certeza darão um jeito de permanecerem juntos.
— Obrigada. — Vaiola apertou minha mão gentilmente.
Neguei com a cabeça e peguei a xícara, dando um generoso gole. Senti alguém sentar ao meu lado e sorri ao reconhecer Ximena. Aproveitei para elogiar seu estilo e pedir dicas sobre o delineado perfeito, que obviamente não pude deixar de reparar.
Nós três iniciamos uma conversa descontraída e algum tempo depois vi Luiza e Frederick entrarem juntos na cozinha. Ela era uma garota bonita, com cabelo castanho escuro, meio ondulado, e olhos quase da mesma cor. Luiza sorria abertamente para Fred e revirei os olhos com isso.
Tão previsível. Pensei.
Antes que conseguisse disfarçar ele virou o rosto e fatalmente nossos olhos se encontraram. Senti as bochechas esquentarem ao ser pega no flagra pela segunda vez e rapidamente encarei Ximena, voltando a prestar atenção na conversa.
Mais alunos foram chegando com o passar do tempo e nós acabamos ficamos ali até a hora do jantar. Tomei mais duas xícaras e se não fosse minha alta tolerância à cafeína não dormiria a noite.
Depois do jantar resolvi me recolher e subir ao dormitório. Vaiola até insistiu para que fosse junto com nosso pequeno e recém-formado grupo de amigos, se já podia chamá-los assim, até a sala de convivência, mas tinha acordado cedo e estava realmente cansada. Então me despedi dela, Luiza, Ximena, Frederick e Piter, um garoto que se sentou conosco e acabou sendo ótimo, pois era divertido.
Entrei no quarto e suspirei alto de alívio. Ouvi o barulho do celular avisando que tinha chegado alguma mensagem e o peguei no bolso do casaco. Sorri negando com a cabeça ao ver que fui adicionada ao grupo intitulado 'Melhores pessoas!'.
— Senhorita. — ouvi alguém e virei assustada.
Michely estava parada perto da porta do banheiro, segurando algumas toalhas.
— Oi. — murmurei sentindo o coração acelerado — Você ficou esse tempo todo aqui esperando?
— Oh, não. — negou com a cabeça — Organizei seus pertences no roupeiro e depois fui até a dependência dos funcionários, — sorriu levemente — Retornei com algumas toalhas limpas para o banho, após receber sua mensagem.
— Que bom. Não quero que fique presa aqui. — suspirei baixo.
— Meu trabalho é estar à disposição. — justificou.
A encarei por alguns poucos minutos, pensando em como fazer aquilo funcionar da melhor maneira para nós duas.
— Então vamos combinar de que sempre que precisar irei lhe chamar, mas que está liberada para fazer outras coisas no tempo restante. — argumentei com seriedade — Ok?
Michely mordeu o lábio, parecendo pensativa. Notei que estava em um conflito interno entre aceitar a proposta ou rebate-la, mas por fim, suspirou alto e assentiu.
— Ok. — concordou.
— Ótimo. — sorri vitoriosa — Agora vou tomar um banho para depois ir dormir. — deixei o celular em cima da cama e segui ao banheiro.
Tirei a roupa e a deixei no cesto perto da porta. Entrei no box e liguei o chuveiro, deixando a água cair em meus ombros. Fechei os olhos e aproveitei a sensação.
Quando estava pronta me sequei e vesti o pijama que Michely já havia deixado separado em cima da pia. Voltei ao quarto e a encontrei terminando de ajeitar os lençóis na cama.
— Então, nós nos vemos amanhã? — comentei ainda meio incerta quanto a como tudo funcionava.
— Estarei aqui todos os dias de manhã para ajudá-la a se preparar para a aula. — explicou sorrindo gentilmente — Amanhã é o penúltimo dia de férias e os alunos veteranos chegarão à Escola. — deu de ombros — É o penúltimo dia antes de começar o período letivo.
— Hm... — murmurei absorvendo as informações.
— Sei que é bastante para assimilar, mas acredito que com o passar dos dias as coisas vão se normalizando e fazendo mais sentido. — tranquilizou-me.
— É, acho que sim. — concordei pensativa.
— Então vou indo. — se despediu e andou em direção à porta — Boa noite, senhorita.
— Alicia... — corrigi e Michely apenas deu uma pequena risada, antes de sair.
Suspirei baixo e me acomodei na cama, puxando o lençol. Até que o primeiro dia não tinha sido tão ruim assim. Óbvio que sentia saudades de casa, mas ao mesmo tempo tudo que estava acontecendo agora parecia ser o certo. Era um sentimento estranho, que me assustava e reconfortava ao mesmo tempo.
Resolvi deixar esse pensamento de lado. Peguei o celular e entrei no grupo apertando para fazer uma chamada de vídeo, como havia prometido. Tinha certeza que Sansa e Ryan estavam ansiosos e curiosos para saber como havia sido o primeiro dia na Escola.
Sorri assim que a chamada conectou e vi o rosto dos meus dois melhores amigos, sabendo que iria dormir tarde hoje.
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