Capítulo 3


Sentei na antepenúltima fileira, entre uma garota loira de olhos azuis e um garoto ruivo.

O burburinho ao nosso redor estava alto, mas cessou quando uma mulher subiu no palco. Ela usava um conjunto de terninho preto com uma águia vermelha no lado direito do peito, eram as cores de Régnes: Azul, vermelho e preto. A mulher caminhou até o púlpito de vidro que tinha ali e conferiu o microfone. Pigarreou baixo e deixou o tablet em cima.

— Olá. — cumprimentou-nos e mesmo de longe vi seu bonito sorriso — Primeiramente gostaria de me apresentar... Sou Analise Curty Coleman, diretora da Escola Real. — fez uma pequena pausa e nos observou atentamente — É um prazer termos todos vocês aqui este ano.

O burburinho se fez presente novamente, dos alunos visivelmente animados.

— Nem é tudo isso. — desdenhou a garota loira sentada ao meu lado.

A encarei um pouco surpresa com o comentário. Ela tinha um pequeno sorriso e piscou com um olho só, distraidamente, antes de voltar atenção à diretora.

— A Escola Real é o início de uma nova etapa na vida de vocês. Muitos sairão daqui com o futuro definido e outros com novas oportunidades. — explicou olhando o tablet por alguns segundos — Nosso cronograma está disponível no site da Escola e vocês podem conferir desde já, montando a grade curricular conforme sua preferência. Também há um arquivo com as diretrizes da instituição, incluindo as regras para bom convívio, então sugiro que realizem a leitura antes do início das aulas, para evitarmos maiores transtornos. — fez uma pausa e sorriu levemente — Vejo alguns rostos assustados, mas fiquem tranquilos, sua respectiva dama e ajudante auxiliarão no que for necessário. Além disso, nós da diretoria estamos disponíveis para tirarmos qualquer dúvida. — notei Analise olhar para o canto do palco, onde Joana acenou com a cabeça, concordando com as palavras.

Fiz uma nota mental de falar com Michely sobre o tal site. Pelo que entendi somos nós que montamos as aulas que teríamos. Também tinha as tais regras, precisava ler urgentemente, pois não queria cometer erros por falta de informação.

— Bom, como devem ter percebido ainda não recebemos nossos alunos veteranos. Achamos melhor hoje a Escola ser apenas de vocês, já que a programação é um pouco diferente. — Analise continuou enquanto mexia no tablet — Vocês terão os jogos de iniciação, que começarão logo após o almoço. Por isso, peço que se reúnam no pátio, perto da fonte, assim que terminarem. — colocou as mãos em frente ao corpo e as cruzou elegantemente — Nos vemos mais tarde. Estão dispensados, por hora.

Analise nos liberou e imediatamente todos se levantaram, já começando a sair do auditório. Estava prestes a fazer o mesmo quando senti a garota loira segurar meu braço.

— Deixe-os irem primeiro ou será atropelada. — avisou e percebi que a saída estava congestionada pelos alunos — Aliás... Sou Vaiola, prazer.

— Alicia. — aceitei sua mão estendida e a apertei.

— Sou de Górdon e você? — levantou da cadeira.

— Cérnia. — a olhei de canto.

Vaiola andava ao meu lado enquanto mexia no celular e lembrei de avisar Michely que estava saindo.

— Minha irmã disse que a comida daqui é boa. — comentou.

— Sua irmã estuda aqui? — perguntei e ela negou com a cabeça.

— Estudou, mas agora trabalha para a rainha de Górdon. É uma das assessoras. — comentou de forma despreocupada.

— Deve ser uma honra. — comentei e Vaiola deu de ombros.

— Vamos ao refeitório? — mudou de assunto.

— Minha dama pediu que a chamasse quando terminássemos aqui. — expliquei quando paramos no corredor.

O lugar estava vazio agora, com certeza a maioria dos alunos já almoçava.

— Não precisa, sei onde fica. Vamos! — engatou nossos braços.

— Vou avisá-la então. — comentei e Vaiola assentiu.

Digitei rapidamente uma mensagem para Michely dizendo que tinha encontrado uma amiga e que iria com ela ao refeitório, então estava dispensada até que a avisasse novamente, o que provavelmente seria depois dos jogos.

Vaiola falou sobre a Escola durante o percurso até o refeitório. Perguntei como conhecia tanto dali e ela disse que já tinha visitado antes, junto com a irmã.

— Chegamos! — anunciou.

Olhei para o grande refeitório, cheio de mesas espalhadas com vários alunos já acomodados. A entrada ficava ao lado da parede com o retrato do primeiro imperador, Vicente.

— Somos nós que nos servimos, — Vaiola explicou enquanto andava até o buffet — Depois podemos sentar em qualquer mesa, menos ali... — indicou com a cabeça para a direita — Que é somente para a realeza.

Olhei para o lado encontrando uma espécie de mezanino, onde havia uma mesa retangular com especificamente doze cadeiras, ou seja, apenas para o príncipe e princesa de cada reino, isso com exceção de Liquenti e Monroll, que tinham gêmeos na coroa.

Vaiola pegou uma bandeja e fiz o mesmo, indo até o buffet repleto de opções de comida. Quando estávamos prontas ela andou em direção a uma das mesas e a segui. Nós sentamos junto com dois garotos e uma garota, que conversavam animadamente como se fossem bons amigos.

— Então, minha irmã disse que esse jogo é importante e que nele nós somos discretamente avaliados. — Vaiola comentou enquanto colocava um pouco de comida na boca.

— Avaliados? — franzi a testa.

— Sim, — concordou — Eles te observam para saber como interage em grupo, se têm voz de comando e essas coisas. — revirou os olhos.

— Entendi. — sussurrei pensativa.

— Isso para nós, já que eles não participam. — indicou a mesa da realeza, que estava ocupada apenas por três pessoas até o momento.

Claro que não participariam, pois não tinha motivos para serem avaliados, afinal chegariam à coroa de qualquer forma e comandariam seu reino.

Logo, Vaiola puxava assunto com os outros que estavam na mesa e iniciamos uma conversa. Fazíamos suposições do que poderia ser esse jogo. Vaiola achava que seria alguma gincana com perguntas e respostas e a garota chamada Luiza concordava. Já os outros dois garotos, que não recordo os nomes, apostavam ser alguma atividade que envolvia correr e habilidades físicas.

Quando terminamos, deixamos as bandejas em um carrinho perto da porta e saímos do refeitório. Eu seguia um pouco mais atrás dos quatro. Não estava com pressa de chegar ao pátio, na verdade, a única coisa que vinha a mente era meu novo quarto e a cama que havia nele. Tinha acordado cedo hoje para poder vir para a Escola e só precisava de alguns minutos, ou horas, de sono.

— Vem! — Vaiola me puxou em direção ao lado esquerdo da fonte.

Desviei de algumas pessoas e esbarrei em outras, pedindo desculpa, ainda tentando acompanhar seu ritmo. Assim que estávamos aonde queria, Vaiola soltou minha mão e pegou o celular no bolso do casaco, digitando rapidamente. Neguei com a cabeça e revirei os olhos.

Alguém parou ao meu lado e notei ser o mesmo garoto loiro que esbarrei na entrada do auditório. Ele virou a cabeça em minha direção e deu um pequeno sorriso.

— Boa tarde. — alguém chamou a atenção.

Todos nós olhamos para os degraus em frente à Escola e encontramos a diretora. Ela esperou que os alunos fizessem silêncio.

— Espero que todos já estejam aqui, pois iniciaremos. — comentou, nos olhando atentamente — O símbolo da nossa Escola como já devem saber é a águia, assim como o de Régnes. — indicou a fonte.

Ali havia uma bela ave esculpida no centro, sob uma pedra de onde a água vertia e escorria até o lago que a circulava.

Já conhecia esse símbolo, afinal estava na bandeira do país. Vicente Gilbertt, nosso primeiro imperador, escolheu a águia para representar Régnes, pois são associadas à coragem e força, duas coisas que nosso país teve após o fim da segunda guerra mundial, quando finalmente conquistamos a emancipação. No início era apenas um lugar repleto de refugiados vindos dos países vizinhos, mas Vicente conseguiu com o passar do tempo organizar e dividir o território conquistado, formando os dez reinos: Cérnia, Górdon, Ballis, Pretz, Faght, Monroll, Zifuch, Ligoni, Guinóva e Liquenti.

Eu era boa em história, uma das minhas matérias preferidas. Sempre me interessei em aprender mais sobre o mundo e principalmente o país que vivo. Acho importante como cidadã.

— O jogo de iniciação consiste em pistas. Vocês terão que desvendá-las e a finalidade é encontrar um objeto específico que têm o nosso símbolo. — Analise apontou para Kamily, que estava à sua direita e segurava uma estatueta com a miniatura da águia — Vocês receberão três envelopes e terão que desvendar o que há neles... — sorriu levemente — A dica que posso lhes dar é que são três etapas: Agilidade; Lealdade; e Conhecimento. — fez uma pequena pausa e nos olhou de forma avaliativa — Vocês serão divididos em grupos, sorteados aleatoriamente, — comentou enquanto mexia no tablet — Então aqui ao lado esquerdo... — indicou com a mão, já começando a falar o nome dos alunos, que individualmente foram se unindo e formando o grupo.

Depois do primeiro, ela indicou o espaço ao lado e começou novamente a chamar pelos nomes, formando um novo grupo. Contei rapidamente e percebi que eram compostos por doze alunos em cada.

— Alicia Dolohov. — chamou e segui até o local indicado.

— Destino? — alguém perguntou.

Olhei para o lado e encontrei o garoto de antes, que agora me encarava.

— Vai saber... — dei de ombros e virei novamente em direção à diretora.

Não sabia se acreditava muito em destino. Podia ser uma mera coincidência nossos encontros e não significar nada.

— Agora cada grupo irá receber as pistas. — Analise levantou a mão e nos mostrou três envelopes pretos — Vocês terão que descobrir a ordem deles baseado nas dicas que falei anteriormente e no final isso os levará até onde está a estatueta... Muito bem guardada devo acrescentar. — explicou sorrindo mais abertamente — Diga...

Percebi que uma garota do outro grupo tinha a mão levantada.

— Tem algum prêmio para quem ganhar? — perguntou e outros assentiram, pois também queriam saber.

— Os vencedores ganharão algo sim, mas é confidencial ainda. — respondeu de forma enigmática.

Percorri os grupos com os olhos e percebi que Vaiola estava em outro. Ela piscou com um olho só e dei um pequeno sorriso, acenando.

— Quais os lugares que fazem parte do jogo? — questionou um garoto do grupo de Vaiola.

— Boa pergunta... — Analise pontuou — Vocês estão liberados para percorrerem todo o campus. — sorriu levemente — Usem a imaginação.

— E se nenhum grupo encontrar a estatueta? — perguntou outro garoto, do mesmo grupo.

— Vocês têm até a hora do jantar... Caso ninguém consiga completar a tarefa o jogo será finalizado da mesma forma e obviamente não haverá ganhadores. — Analise deu de ombros — Lembrem-se, é muito bom ganhar, mas o intuito deste jogo é o trabalho em conjunto, então a interação entre vocês é importante para alcançarem o objetivo final. — sorriu abertamente — Bom, sugiro que comecem já.

Rapidamente um aluno de cada grupo buscou os envelopes. Todos se aglomeraram e um barulho alto de vozes falando ao mesmo tempo começou. Fiz uma careta e deixei que meu grupo se reunisse para então devagar ir até a rodinha.

Vi que Luiza, a garota com quem almoçamos, estava ali e lhe cumprimentei. Prestei atenção na conversa e notei que quem falava era o mesmo garoto loiro de antes.

— Vamos achar esse símbolo. — afirmou um garoto com o cabelo cheio de cachinhos fofos.

— Mas o símbolo está espalhado pela Escola inteira, como saberemos qual o certo? — Luiza questionou visivelmente confusa.

— Pelas pistas. — dei de ombros.

— Isso, vamos colocá-las em ordem. — o garoto loiro concordou.

Ele pegou o primeiro envelope e o abriu enquanto Luiza pegava o segundo, e um garoto negro o terceiro.

— Ok, aqui diz, "Onde contém grandes informações. Preste atenção, pois as descobertas estão nos pequenos detalhes". — Luiza leu e fez uma careta no final — Conhecimento?

— Sim. — concordei.

— Vamos ao próximo, para colocar em ordem. — outro garoto sugeriu — Aqui está assim, "Ande na direção correta e preste atenção nas indicações pelo caminho, continue as seguindo." — terminou de ler e ficou encarando o papel nas mãos.

— Agilidade — a garota ao meu lado concluiu e todos nós assentimos.

Aparentemente esse era o mais fácil até agora.

— Esse diz, "A força quando aliada de coragem, torna-os invencíveis.". — o garoto leu com calma — Espera... Esse não é o lema do país? — franziu a testa.

— Sim, está em uma placa na entrada do Palácio de Régnes. — Luiza explicou pensativa.

— Lealdade. — sussurrei chamando a atenção.

— Sim. — concordou.

— Já temos a ordem então. — o garoto loiro comentou — Agilidade, lealdade e conhecimento. — apontou para cada envelope.

— Vamos começar com agilidade. — um dos garotos murmurou encarando o papel que tinha nas mãos, lendo-o novamente.

Cruzei os braços e olhei ao redor, avaliando os dois prédios. Não achava que colocariam pistas muito distantes, afinal tínhamos relativamente pouco tempo para completar a tarefa.

— Acho que podemos nos dividir... — Luiza sugeriu.

— Concordo. — o garoto que tinha a segunda pista assentiu.

Percebi que a maioria dos grupos se dispersou e tinham adotado a mesma tática de se dividirem. Não pareciam já ter alguma resposta para as pistas, o que me tranquilizou.

— Vou montar um grupo no celular e aí vamos nos comunicando. — o garoto de cabelo cacheado rapidamente anotou o número de cada um de nós.

Luiza tirou foto dos envelopes e enviou no grupo, então agora todos tínhamos acesso às pistas.

— Ok, nós quatro podemos ir por ali, em direção ao internato. — o garoto ruivo se pronunciou fazendo com que o encarasse, lembrando de tê-lo visto mais cedo no auditório.

Percebi que referia a si e mais três garotos, provavelmente já conhecidos.

— Nós podemos ficar com a área externa... — o garoto com cabelos platinados comentou e logo dois garotos e uma garota se dispuseram a ir junto.

— Bom, então nós ficamos com a Escola. — Luiza afirmou e percebi que havia sobrado apenas eu, uma garota de cabelo cacheado e o garoto loiro de antes.

— É isso pessoal! Vamos dar nosso melhor e ganhar! — o garoto afirmou sorrindo e fazendo sinal de positivo com a mão.

Nós assentimos e então nos separamos, iniciando a tarefa. Digamos que não estava tão animada com esse jogo, mas também não sou uma pessoa que gosta de perder, não custava nada realmente participar.

Percebi que meus companheiros já andavam em direção a Escola e dei uma pequena corrida para alcançá-los. Estávamos na metade do caminho entre a fonte e a escada da frente quando trombei no garoto loiro.

— Ei... — murmurei — O que foi?

— A primeira pista falava em indicações, não é? — perguntou recuando alguns passos.

— Sim, "...preste atenção nas indicações...". — Luiza comentou.

— Disfarcem e olhem para a pedra que está embaixo dos meus pés, — ele sussurrou e pigarreou, limpando a garganta — Isso é uma seta? — franziu a testa.

— É sim. — a outra garota concordou.

— Ótimo, vamos andar normalmente em direção a Escola e ver se encontramos mais dessas pelo caminho. — o garoto ponderou e nós assentimos.

Então, o mais naturalmente possível, voltamos a caminhar. Meus olhos percorriam as pedras a nossa frente com rapidez, tentando capturar qualquer rabisco ou sinal diferente.

— Aqui! — Luiza sussurrou — Mais uma! — indicou levemente com a cabeça a sua esquerda.

Sorri e comemorei internamente. Vi que a garota já digitava no celular, provavelmente avisando o restante do grupo que havíamos desvendado a primeira pista.

Continuamos seguindo as setas, que apareciam vez ou outra de forma sutil em um azul que quase se camuflava ao tom da pedra. Paramos em frente à Escola e nos olhamos antes de começar a subir os degraus. Ao que tudo indicava tínhamos que entrar e foi o que fizemos. Alguns alunos estavam por ali, examinando as paredes, estátuas, quadros e tudo que pudesse ser visto e tocado.

— O resto do pessoal já está vindo. — disse a garota que enviou a mensagem no grupo.

— Vamos nos dividir novamente? Aqui é grande... — Luiza comentou.

— Pode ser... Nós dois podemos ir naquela direção... — o garoto loiro tocou meu braço levemente e indicou com a cabeça para a direita.

— Hm, ok. — concordei.

— Nós duas ficamos por aqui até eles chegarem e aí nos dividimos também. — a garota do cabelo cacheado explicou.

Nós assentimos e sorri levemente antes de seguir junto com o garoto. Havia um mural grande cheio de avisos e cartazes na parede perto de uma mesa com folhetos. Parei em frente e comecei a avaliá-lo, afinal podia ter alguma informação camuflada.

— A propósito, meu nome é Frederick, — ele se apresentou, parando ao meu lado — Mas pode chamar de Fred.

— Alicia. — sussurrei sem olha-lo.

— É um prazer. — estendeu a mão.

Virei o rosto e o encarei. Frederick sorria abertamente e demonstrava confiança no modo de agir. Ele seria um futuro duque ou assessor? Não conseguia dizer ao certo, mas com certeza sua postura era de alguém importante.

Suspirei baixo e apertei sua mão. Seu sorriso aumentou, como se fosse possível, então antes que a situação ficasse mais constrangedora, soltei-a e voltei a avaliar o mural. Ouvi sua risada baixa, mas ignorei.

— Isso vai ser interessante... — sussurrou, mas foi tão baixo que não tive certeza de suas palavras.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top