Capítulo 29

Era enfim sexta-feira, último dia de aula do semestre. Amanhã aconteceria o baile de inverno, além de ser meu aniversário, mais precisamente depois que o relógio batesse meia noite.

Não tinha contado a ninguém sobre esse fato, afinal não era uma data muito feliz. Isso porque no mesmo dia que nasci, à mulher que me deu a vida morreu. Não pensava com frequência em minha mãe, pois ficava triste, mas tinha dias que era inevitável e meu aniversário era uma destas datas.

Nem parecia verdade, mas segunda estaria em Cérnia, com tia Leila e amigos, aproveitando as duas semanas de férias de inverno. Parecia um sonho.

Suspirei alto e sai do quarto. Senti o celular vibrar no bolso da calça jeans e o peguei, vendo a mensagem.

Desci a escada e antes de ir à sala de convivência passei na cozinha para pegar uma xícara de café, com o intuito de me aquecer. Segundo os noticiários a neve chegaria neste final de semana. Ximena estava radiante com isso, afinal um baile de inverno com neve era mais do que perfeito.

Assim que entrei na sala vi Piter e Pablo sentados em um dos sofás, abraçados, se aquecendo. Vaiola e Ximena estavam em um dos puffs e acenaram assim que passei por elas, procurando algum espaço livre. Ultimamente a sala de convivência era o refúgio dos alunos que não queriam enfrentar o frio ao lado de fora do internato, em consequência disso o lugar estava sempre cheio. Por isso, não consegui recusar quando Frederick escorregou mais para o lado no sofá, abrindo espaço.

Alguns alunos estavam comemorando o início das férias com pizza. Então havia várias caixas, dos mais variados sabores, espalhadas pelo lugar.

— Pizza? — Fred ofereceu.

Encarei o pedaço que ele segurava e sorri levemente, aceitando-o. Luiza estava sentada no puff quase a nossa frente. Percebi que apesar de estar conversando com a garota ao seu lado, tinha parte da atenção voltada para nós dois. Frederick também deve ter percebido, pois notei que a encarou por alguns segundos fazendo com que ela desviasse o olhar.

— Essa situação é muito chata! — confessei em voz baixa, não conseguindo me conter.

— Eu sei, — suspirou alto — Desculpe.

Olhei de canto para Frederick que parecia realmente pesaroso e por alguns segundos cheguei a me solidarizar. Porém, meio minuto depois lembrei que Fred tem participação nisso tudo, afinal era ele quem estava envolvido com Luiza e aparentemente não soube colocar um ponto final definitivo.

Mordi o pedaço de pizza e mastiguei devagar enquanto tentava prestar atenção na conversa do grupo, ignorando completamente Luiza e aquele drama todo. Não sei como aquela situação acabaria, mas tinha a sensação de que quando Fred e ela estavam juntos, parecia que havia uma bomba prestes a explodir.

Nós ficamos ali na sala de convivência comendo e conversando até perto do horário do toque de recolher, quando finalmente Piter resolveu subir e rapidamente avisei que iria junto.

Entrei no quarto e vi que Michely já tinha separado meu pijama, então apenas tomei um banho rápido. Quando voltei ela estava parada perto da porta, apenas esperando.

Ontem à noite a questionei sobre o que faria quando a Escola entrasse em férias, afinal não teria trabalho se não tivesse alunos. Ela explicou que teria alguns dias de recesso, o que achei justo.

— Nós nos vemos em duas semanas? — questionei arqueando uma sobrancelha.

— É, — concordou, sorrindo levemente — Espero que aproveite o baile e suas férias.

— Obrigada Michely. — acenei me despedindo.

Suspirei baixo assim que ela havia ido e estava enfim sozinha. Encarei a sacola que repousava sobre a cadeira da penteadeira e guardava o vestido que usaria no baile. Não havia provado novamente, mas tinha certeza de que estaria tudo certo.

Deitei na cama, puxei a coberta e virei de lado,me ajeitando confortavelmente. Só precisava de uma boa noite de sono.

Estava oficialmente de férias então não me preocupei em colocar despertador na noite passada. Me espreguicei na cama e girei enquanto soltava um bocejo alto. Puxei a coberta mais para cima, me tampando até o queixo. Olhei pela janela do quarto e mesmo com a cortina fina conseguia ver que o dia estava nublado.

Ainda a contragosto levantei e segui ao banheiro para um banho quente. Vesti calça jeans, blusa de manga comprida e um casaco de moletom, calcei o all stars.

Desci já sabendo que o café da manhã não estava mais sendo servido no refeitório, então fui até a cozinha do internato para tomar uma xicara de café. Peguei o celular no bolso do moletom e resolvi chegar às quinze mensagens. Três delas eram de tia Leila perguntando sobre o baile e as férias. As outras eram de Sansa e Ryan, aparentemente eles ainda teriam mais uma semana de aula e estavam chateados com isso.

Depois de responder todas as mensagens enviei uma a Vaiola perguntando onde estava.

Hoje era sábado, dia do baile, e na última semana ela andava bem empolgada, só falando sobre isso. O motivo? Caleb a tinha convidado formalmente para ser seu par. Não era obrigatório ter um, mas obviamente que os casais da Escola iriam juntos.

Eu, ela e Ximena tínhamos combinado de nos arrumarmos juntas e não duvidada de que se dependesse de Vaiola isso iniciaria já no início da tarde.

Entrei na sala de convivência e vi Pablo em um dos sofás, mexendo no celular. Não pude deixar de reparar na aliança que ostentava no dedo anelar desde a o final de semana passado.

— Férias! — Pablo sorriu animado.

Não sabia o que os alunos em geral fariam durante as férias, mas acreditava que a maioria voltaria aos seus reinos para ficar com a família. Vaiola explicou que quem quisesse permanecer na Escola era permitido, mas acredito que ninguém pensaria nisso, a menos que fosse necessário.

—  Bom dia! — Poter cantarolou entrando na sala e vindo até nós — Preparados para a noite de hoje?

— Com certeza. —  afirmei bebendo mais um gole do café. 

O baile seria no anfiteatro. Vaiola comentou que sua irmã contou sobre como foi na época dela e se fosse metade daquilo, com certeza seria incrível. 

...

Tinha levado tudo que precisava para o quarto de Vaiola, então a penteadeira e a cama dela estavam uma bagunça. Ximena já estava ali e as duas falavam sem parar.

Tinha separado algumas imagens como referência do que queria fazer no cabelo e na maquiagem, nada elaborado demais, pois minhas habilidades não eram muitas.

Deixaria o cabelo solto, com leves ondas feitas com o babyliss e de cada lado, com um uma mexa do cabelo, faria uma trança embutida, que ia até a metade do comprimento. A maquiagem seria em um tom de dourado, puxando para o marrom brilhoso, esfumado, com algumas camadas de rímel para destacar. Nos lábios um batom levemente rosado.

Ximena me ajudou com o cabelo e em troca ajudei no dela, que estava preso em um coque. Já Vaiola optou por um rabo de cavalo, bem alto. A maquiagem tinha um delineado bem feito e os lábios um tom de vermelho escuro.

Quando estava pronta peguei o celular e tirei uma foto em frente ao espelho, mandando no grupo 'Três mosqueteiros'. Chamei as meninas e tiramos algumas outras juntas, que usei para postar nos stories. Dei uma olhada nos posts das pessoas que seguia e curti alguns. Já tinha fotos de garotas com vestidos de baile e garotos com smoking com a hashtag #BailedeInvernodaEscolaReal.

Ouvi alguém bater na porta e a abri encontrando com um dos seguranças da Escola.

— Olá, vim acompanha-las ao baile. — explicou sorrindo levemente.

Olhei no relógio e vi que estávamos exatamente no horário. Ótimo!

— Sim! — concordei — Vamos meninas? — as chamei deixando o celular em cima da penteadeira.

As duas assentiram. Vaiola conferiu o visual no espelho uma última vez antes de vir até a porta, sendo seguida por Ximena.

O segurança ainda esperava pacientemente no batente da porta, então juntos nós quatro seguimos pelo corredor. Descemos a escada e saímos do internato, indo em direção a Escola. Assim que começamos a cruzar o pátio senti o vento gelado do início do inverno e automaticamente abracei meu corpo.

Não sei se era protocolo, mas o segurança que nos guiava permaneceu o tempo todo em silêncio, alguns passos à frente, sempre olhando ao redor, em alerta.

Quando estávamos quase chegando ao salão já consegui ouvir a música tocando e algumas vozes. De cada lado das portas duplas de madeira havia seguranças, que fizeram um pequeno aceno de cabeça assim que nos viram.

— Sejam bem-vindas! — o segurança que estava à esquerda sorriu e abriu uma das portas.

— Obrigada. — Agradeci.

Entrei no salão primeiro, sendo seguida por Vaiola e Ximena.

Como esperado o lugar estava perfeitamente decorado. Havia faixas com um tecido azul da cor da Escola que percorriam o teto todo, se transpassando, e ao mesmo tempo segurando pequenos arranjos de flores brancas. Os lustres tinham sido retirados e agora focos de luzes estavam espalhados, dando a impressão de estarmos em uma noite estrelada.

Na parede oposta foram alinhadas várias mesas de madeira, cobertas por tecidos cor vermelho também da Escola, nela havia bandejas com petiscos e bebidas à vontade.

No palco, o mesmo que usamos para o show de talentos, uma banda tocava enquanto alguns alunos dançavam.

Já estávamos ali a alguns minutos, perto de uma das mesas, conversando sobre a decoração e ocasionalmente alguns vestidos das garotas, quando Piter e Pablo apareceram. Piter usava um conjunto social verde oliva e Pablo um preto, tradicional.

— Que lindas! — Piter elogiou olhando para nós três de forma avaliativa.

— Isso não é novidade. — Vaiola desdenhou, jogando seu cabelo sobre o ombro.

— Convencida. — ele acusou revirando os olhos.

— Pois eu acho que ela apenas disse a verdade. — Caleb concordou, se juntando ao grupo.

Vi o rosto de Vaiola ganhar um tom avermelhado e dei uma risada baixa. Caleb sorriu abertamente e lhe estendeu a mão, que ela prontamente aceitou.

— Gente apaixonada é um saco. — Piter desdenhou.

— Piter! — Vaiola o repreendeu.

— É mesmo? — Pablo questionou olhando-o com uma sobrancelha arqueada.

— Menos nós, óbvio. — justificou, beijando sua bochecha.

Revirei os olhos e neguei com a cabeça.

Vaiola e Caleb já estavam na bolha particular deles, então pediram licença e saíram juntos. Ximena não estava mais ali e não sei em que momento ela tinha saído.

O lugar já estava cheio de alunos. Vi mais ao longe Jasmine e suas fiéis escudeiras, quer dizer, amigas. Pelo menos, tinha que reconhecer que seu vestido era bonito, em um tom de vermelho com decote que deixava os ombros a mostra.

— Bem que podia ter álcool nisso aqui. — Piter comentou bebendo do ponche que, na verdade, era suco de framboesa.

— Aham, a Escola ia deixar mesmo. — bufei baixo.

Piter até ia responder, mas Pablo o chamou para irem até a pista dançar um pouco. Só ele mesmo para conseguir doma-lo.

Suspirei alto assim que fiquei sozinha e decidi comer alguns dos salgados que estavam na mesa ali perto. Fiquei ali apenas observando a movimentação, acenando vez ou outra para alguns alunos conhecidos que passavam. A pista de dança estava repleta de casais e até grupos de amigos.

Reparei nos sofás do canto oposto ao da mesa, provavelmente para quem quisesse descansar ou conversar mais confortavelmente. Vi que em um deles Laisa e Judy estavam sentadas junto com outras garotas.

Sorri quando Laisa acenou me chamando, então peguei mais um pouco de ponche e segui até elas, para socializar. Fiquei algum tempo ali, apenas conversando. Em certo momento decidimos ir até a pista de dança, onde agora tocava Girls Like You do Maroon 5. Sorri cantando junto o refrão.

A banda era boa e tocava covers de várias músicas. Piter estava tão animado que dei risada quando puxou Pablo pela mão, fazendo com que o pobre garoto girasse e quase caísse.

Nós ficamos bastante tempo na pista, até meus pés reclamarem, afinal não estava acostumada a usar salto por muito tempo, então assim que possível dei uma desculpa e segui até uma das mesas, me servindo de mais ponche.

— Ó! — exclamei assustada quando virei e quase esbarrei em alguém.

Só faltava mesmo derrubar a bebida vermelha no vestido. Seria uma tragédia.

— Desculpe. — Frederick sussurrou.

— Tudo bem, — dei um passo para o lado, me distanciando um pouco — Não aconteceu nada.

Reparei no smoking cinza quase chumbo que ele usava e no contraste que fazia com seus olhos azuis. Frederick era um garoto bonito e isso não podia ser negado, mas beleza não é tudo.

— Que bom, — sorriu levemente — Seria uma pena estragar toda a sua produção. — piscou com um olho só.

Mordi o lábio inferior e neguei com a cabeça.

— Não comece. — alertei.

— Foi apenas um comentário. — ergueu as duas mãos, como se estivesse se rendendo.

— Até parece. — desdenhei fazendo com que Frederick desse risada — Com você sempre tem mais. — acusei.

Olhei ao redor procurando algum dos nossos amigos e os encontrei ainda na pista de dança. Aparentemente estavam se divertindo, o que eu deveria estar fazendo também.

— Alicia. — Fred chamou fazendo com que o encarasse — Sei que está tudo uma confusão e que talvez as coisas pareçam não fazer sentido, — respirou fundo — Mas sinto algo por você!

Ainda segurava o copo com o ponche e tive que me concentrar para não deixar cair. Sério que Fred estava vindo com esse papo novamente? Contive a vontade de revirar os olhos. Minha vida estava virando um daqueles livros de drama bem clichês.

— Frederick, — mordi o lábio inferior, pensando na melhor forma de falar o que queria — Sinceramente não sei o que dizer. — suspirei baixo — Nós até poderíamos ter tido algo, mas aí teve todo o lance com a Luiza, o envolvimento entre vocês, que até agora não está totalmente resolvido, — fiz um sinal com a mão para que ele esperasse eu terminar — Você já se explicou e entendi, mas não sinto que tenha realmente terminado tudo entre vocês.

— Mas terminou! — afirmou com seriedade.

— E estou com Jordan no momento. — lembrei.

— Duvido que seja realmente sério entre vocês. — acusou com o tom de voz levemente alterado — É um erro!

Arregalei os olhos, surpresa com o rumo que a conversa estava tomando. Sinceramente, não achei que Fred fosse me abordar justamente hoje para falar sobre tudo isso.

— Não ligo para o que você acha Frederick. — afirmei — Alias, você não tem nada a ver com minha vida e o que faço. — completei encarando-o com seriedade.

— Eu sei, desculpe. — suspirou baixo — Mas quando é em relação a nós, está sempre parecendo que faço as coisas erradas. — negou com a cabeça — Não era para ser assim!

— Não existe 'nós' Frederick. — sussurrei.

— Mesmo que seja algo que eu queira muito? — me encarou nos olhos de forma intensa.

Frederick se aproximou lentamente e meu coração deu um salto quando percebi qual era sua intenção. Automaticamente dei um passo para trás, mas acabei encurralada entre ele e a mesa.

— Frederick. — alertei.

Seu corpo estava bem próximo e isso era perigoso. Arqueei uma sobrancelha e o encarei séria. Fred piscou algumas vezes parecendo se situar do que estava acontecendo, ou melhor, fazendo.

— Desculpe, — recuou alguns passos nos dando uma distância segura novamente — Jamais forçaria nada.

— É o que espero. — murmurei.

Frederick encarava seus pés e parecia pensativo, além de quem sabe meio envergonhado. Então antes que algum de nós dois pudesse dizer mais alguma coisa, Luiza magicamente apareceu.

— Tudo bem por aqui? — olhou para nós dois de forma avaliativa.

— Frederick. — o encarei com uma sobrancelha arqueada.

— Acho que nós dois precisamos conversar Luiza. — Fred suspirou alto, virando em direção a ela — Definitivamente.

Notei que Luiza estava nervosa, pois torcia as mãos em frente ao corpo. Acho que ela não esperava que algo assim acontecesse, porém era inevitável, afinal a situação estava se tornando insustentável.

— Vou deixar os dois a sós. — sussurrei, olhando uma última vez para Frederick.

Então, sem esperar por nenhuma resposta, apenas virei e sai dali, indo até a pista de dança. Piter e Pablo ainda estavam ali e sorriram assim que cheguei até eles.

Percebi que Luiza e Frederick seguiram em direção a parte de trás do palco, onde sabia que tinha portas duplas que davam para uma espécie de varanda. Era grande e percorria toda a extensão do salão.

Só esperava que os dois conseguissem se resolver, finalmente. Toda aquela situação estava indo longe demais e não precisava ser assim. Entendo que é complicado quando existe sentimentos alheios envolvidos e o que menos quero é que pessoas saiam machucadas de tudo isso, o que parecia ser inevitável.

— Alicia! — ouvi alguém.

Ximena sorriu abertamente e segurou minha mão puxando para que dançássemos juntas. Dei uma risada e entrei no ritmo animado da música, voltando a me divertir com meus amigos.

A noite estava passando rápido, até demais. Ficamos bastante tempo na pista de dança e só paramos quando começou a tocar uma música mais lenta. Como estava sem par, aproveitei para ir comer alguma coisa.

— Uma moça tão bonita sozinha, — ouvi alguém falar quando estava novamente enchendo meu copo de ponche — Que desperdício.

Virei sorrindo abertamente ao reconhecer aquela voz.

— Jordan. — cumprimentei.

— Posso tirar uma foto da moça mais linda deste baile? — piscou com um olho só.

Assenti e deixei o copo na mesa, fazendo minha melhor pose. Vendo o flash da câmera disparar.

— Perfeita! — elogiou avaliando a foto na câmera.

Peguei meu copo novamente e dei um pequeno gole.

— Muito trabalho? — questionei.

— Infelizmente, — suspirou baixo — Gostaria de ficar aqui com você, mas preciso continuar registrando tudo. — justificou, dando de ombros.

— Tudo bem. Entendo. — o tranquilizei.

Jordan se aproximou e beijou minha bochecha. Afagando meu braço rapidamente, antes de seguir em direção a um casal no outro lado do salão para tirar uma foto deles.

...

Jordan e eu nos cruzamos mais algumas vezes durante o baile. Em alguns momentos ele passava perto e disfarçadamente tocava minha mão, o que achei extremamente fofo.

Já Frederick não tentou nenhuma aproximação depois da conversa que tivemos, o que agradeci mentalmente. Luiza tinha simplesmente sumido, mas evitei me preocupar com esse fato. Só esperava que os dois tivessem se resolvido definitivamente.

Estava novamente dançando com meus amigos quando vi o homem que saia para a varanda. Sem pensar muito segui na mesma direção, parando perto das portas ao ver Nicholas conversando com a diretora Analise.

Semicerrei os olhos tentando ler os lábios deles para saber o que estavam conversando, mas os dois falavam baixo, quase aos sussurros, como se contassem segredos. Isso me deixava bastante intrigada e curiosa.

Não sei a quantos minutos já estava ali, até que os dois se despediram, Analise seguindo pela varanda e indo embora.

Era natural que a diretora estivesse no baile, afinal era a responsável pela Escola Real. Mas Nicholas também precisava estar aqui? Seu cargo exigia isso? Suspirei frustrada por não ter respostas.

— Alicia? — alguém chamou atenção.

Olhei na direção da voz e encontrei Nicholas, parado a alguns passos de distância, me olhando atentamente. Estava tão absorta em pensamentos, que não notei que ele havia me visto ali e agora tinha que pensar em uma desculpa.

— Oi, — pigarrei — Eu só estava pegando um pouco de ar puro, — dei de ombros — Estava com calor.

Nicholas sorriu de canto e colocou as mãos no bolso da calça social. Quem sabe pensando se acreditava ou não naquilo, mas cavalheiro demais para falar algo.

— E como está sendo sua noite? — questionou.

— Ah, — mordi o lábio inferior — Agradável.

Nicholas assentiu enquanto ainda me observava de modo avaliativo. Isso me deixava nervosa, pois não sabia o que ele podia estar pensando agora. Não que isso devesse me preocupar.

— Que bom, esses eventos são como ritos de passagem, — ponderou — É importante vivenciar.

— É, acho que sim. — concordei inclinando levemente a cabeça — E você? Aproveitando?

— Digamos que sim, — deu de ombros — Pelo menos vi quem eu queria...

Nós nos encarávamos nos olhos de um jeito intenso, bom, pelo menos da minha parte estava sendo e não sabia aonde isso levaria. Meu coração estava acelerado.

Nicholas conseguia me deixar mexida com as coisas que falava. Sempre sentia que tinha um algo a mais em suas palavras, como mensagens subliminares.

— Eu tenho uma coisa... — comentou sem quebrar nosso contato visual — Para você!

Vi ele tirar as mãos dos bolsos, com uma delas pegou minha mão direita, e com a outra ele colocou algo no meu pulso. Olhei com atenção e percebi que se tratava de uma pulseira, mas não qualquer, era a mesma que eu havia provado no centro do reino, quando nos encontramos por acaso. Sorri ao ver as pequenas borboletas que pendiam delicadas.

— Feliz aniversário. — sussurrou.

Sua mão ainda segurava a minha. Seu toque era quente e fazia minha pele formigar.

— Como você... — o encarei surpresa.

— Já disse que observo você Alicia. — deu de ombros — Também sei que não é uma data exatamente feliz, mas não queria que passasse despercebido.

— Isso é... Perfeito. — suspirei baixo — Obrigada!

— Disponha. — sorriu e afagou minha mão gentilmente — Infelizmente agora preciso ir. — completou pesaroso.

Nicholas levou minha mão aos lábios e beijou o dorso demoradamente. Meu coração estava novamente acelerado.

Então, parecendo relutante, Nicholas suspirou alto e deu alguns passos para trás, enfim virando e seguindo pela varanda, na mesma direção em que a Analise foi anteriormente.

Respirei fundo assim que estava sozinha. Ergui o pulso e avaliei a pulseira que agora pendia ali. Toquei com cuidado todas as pequenas borboletas que contornavam a extensão e não pude conter um sorriso satisfeito.

Nicholas saber do aniversário me deixou surpresa. Como será que tinha descoberto? Será que olhou minha ficha da Escola? Eram vários questionamentos. E ele ainda tinha se lembrado da pulseira e comprado de presente, foi extremamente atencioso.

Suspirei baixo e decidi que era momento de voltar ao baile. Procurei meus amigos, encontrando-os em um dos sofás, conversando animadamente, então me juntei a eles, aproveitando o restante da noite.

Já era bem tarde quando a banda parou de tocar e nossa orientadora Joana assumiu o palco avisando que o baile estava encerado. Obviamente houve vários murmúrios de desaprovação e reclamações, mas foi explicado que vários dos alunos viajariam no dia seguinte para seus reinos, além de que já era madrugada.

Vi de longe Jordan, que acenou se despedindo. Sabia que receberia uma mensagem sua mais tarde. Confesso que senti uma pequena pontada no coração ao lembrar de meus momentos anteriores com Nicholas, como se estivesse traindo Jordan. O que não faz sentido nenhum, eu sei.

— Só preciso de um banho e minha cama. — Ximena comentou enquanto saiamos do salão.

Atravessamos o pátio com certa rapidez. Os outros alunos também voltavam ao internato. Entramos no hall e imediatamente suspirei alto de alivio. Esfreguei as mãos e toquei a ponta do nariz gelada.

Sabia que Pablo iria para seu reino, assim como Piter, até porque a cara de desolamento deles por terem que passar esse tempo afastados era mais do que visível.

Vaiola me abraçou apertado quando ainda estávamos no corredor, pois ela viajaria logo cedo, na verdade, em algumas horas. Seus pais estavam ansiosos para vê-la e a irmã também estaria em casa. Resumindo, todos iriam passar as férias de inverno em casa, inclusive eu.

Óbvio que a ideia de ficar longe dos amigos da Escola era triste, mas tinha o outro lado, o de que passaria algum tempo com meus amigos de Cérnia, e principalmente tia Leila.

Entrei no quarto e segui direto ao banheiro, só queria tomar um banho quente e finalmente deitar para dormir. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top