Capítulo 27
Era segunda-feira e como sempre, tinha a sensação de que o final de semana passou rápido demais. No sábado foi o show de talentos, não ganhei, mas recebi elogios, tanto pessoalmente, quanto nas redes sociais, além de novos seguidores no Twitter e Instagram. A maioria eram alunos da Escola e alguns amigos de outros amigos, mas que curtiam e até comentavam minhas fotos, além das visualizações dos stories.
Já no domingo nós ficamos no pátio, aproveitando o sol, voltando a Escola somente no horário das refeições. Foi bom, consegui descansar, afinal tinha dado muito da minha energia ensaiando e depois apresentando no show.
Foi inevitável não olhar de forma avaliativa e questionadora para Jasmine, quando ela, Lisa e Judy se juntaram a nós, à tarde, no gramado. Estávamos comendo algumas guloseimas que pegamos na cozinha do internato, então tinha virado uma espécie de piquenique. Jasmine não parecia tão de bom humor para quem ganhou em primeiro lugar o show de talentos, então considerei que tinha a ver com a conversa que escutei em seu quarto.
Suspirei baixo ao sair da última aula desta manhã, era perspectivas globais. Tínhamos apenas mais uma atividade para entregar antes de encerrar o semestre. Finalmente as férias de inverno estavam chegando e pretendia passar em Cénia, com Leila e meus amigos.
Deixei os materiais no armário e desci a escada. Assim que estava no hall senti alguém andar ao meu lado, virei o rosto e revirei os olhos ao encontrar o garoto.
— Frederick. — cumprimentei.
— Alicia, — sorriu — Que coincidência. — comentou de forma irônica.
Ele até tentou algum contato mais direto no domingo, mas não ficamos sozinhos por mais que dois minutos. O que foi ótimo, pois não queria ter que lidar com suas indiretas, ainda mais com a Luiza por perto.
— Então, agora que as coisas estão mais calmas aqui na Escola, — pigarreou baixo — Nós podíamos marcar de fazer algo... — sorriu abertamente — Só nós dois.
Estávamos passando pelo hall, indo em direção ao refeitório, então parei em frente à porta e o encarei.
— Você sabe que estou com Jordan. — arqueei uma sobrancelha.
— Sei, — deu de ombros — Mas isso pode mudar.
Dei uma risada sarcástica e neguei com a cabeça, não acreditando em suas palavras. Frederick só podia estar mesmo maluco, na verdade, obcecado.
— Tudo bem aqui? — alguém interveio chamando atenção.
Virei e contive à vontade revirar os olhos ao ver Piter, Pablo e Luiza parados a alguns passos de distância de nós.
— Tudo sim. — afirmei, olhando dela para Fred.
Ele parecia ignorá-la e notei que isso a deixava irritada. Encarei Frederick novamente e inclinei levemente a cabeça, silenciosamente querendo lhe dizer que devia fazer algo a respeito daquela situação, e logo.
— Estou faminto, vamos comer? — Piter questionou, visivelmente mudando de assunto.
Agradeci mentalmente por isso e assenti, já entrando no refeitório. Nós nos servimos e sentamos à mesa, onde alguns amigos já estavam. Sorri e ocupei o lugar ao lado de Vaiola.
— E aí, vai ao seu reino neste final de semana? — perguntou despreocupadamente.
— Ainda não sei, como as férias estão chegando, não vejo muito sentido em ir agora. — dei de ombros.
— Duas semanas! — Piter comemorou — Para poder enfim acordar tarde todos os dias.
Caleb fez sinal positivo e Ximena assentiu animada, concordando com Piter. Dei risada e neguei com a cabeça.
Seria realmente muito bom poder dormir sabendo que o despertador não tocaria na manhã seguinte. Iria aproveitar para descansar da rotina da Escola. Além de, obviamente, passear por Cérnia com meus amigos, passar algum tempo com a tia Leila, comer muita lasanha e tomar sorvete na praça.
— Ainda não anunciaram o baile de inverno. — Vaiola comentou.
— Será que não vai acontecer? — Luiza se pronunciou pela primeira vez.
— É tradição, óbvio que vai! — Ximena interveio.
— Como assim? — chamei atenção, perdida no assunto.
— Aí Alicia, — Vaiola revirou os olhos — Tinha esquecido como você é desinformada... — desdenhou e eu belisquei seu braço, a repreendendo — Todo final de ano é feito o baile de inverno da Escola Real.
— Baile tipo... Baile mesmo? — franzi a testa.
— Sim, com vestido longo, maquiagem, cabelo, tudo! — Vaiola sorria, visivelmente animada.
— Não vou usar um vestido longo! — Caleb sussurrou de forma brincalhona.
Vaiola revirou os olhos e cutucou suas costelas, fazendo com que ele desse uma risada e beijasse sua bochecha. Vi o rosto dela ganhar um tom avermelhado e achei aquilo fofo.
— Pois eu vou! — Piter afirmou, jogando seu cabelo imaginário sobre o ombro.
Nós demos risada e ele mostrou a língua, não se demonstrando abalado. Pablo negou com a cabeça enquanto continuava comendo, afinal estava mais do que acostumado com o jeito de Piter.
— Provavelmente ainda irão anunciar a data. — Ximena comentou.
— Já vou procurar um vestido! — Vaiola afirmou sorrindo.
— Podemos ir ao centro do reino juntas. — sugeri, pois também precisaria de um vestido.
Vaiola bateu palmas, empolgada, já fazendo vários planos. Ximena e Luiza se incluíram e chamaram Laisa e Judy. No fim, tinha virado algo maior do que pensei, mas ok, seria legal uma atividade só entre garotas.
Depois do almoço nós fomos à sala de convivência e ficamos jogando sinuca. Ainda não tinha melhorado muito as minhas habilidades. Caleb e eu jogávamos contra Ximena e Laisa e por incrível que pareça estávamos ganhando.
— Isso aí Alicia! — Caleb comemorou e fizemos um high five quando milagrosamente acertei uma das bolas.
Dei risada e fiz uma dancinha com os braços, olhando em direção aos nossos amigos. Eles estavam sentados nos puffs e cadeiras que colocamos ao redor da mesa de sinuca. Vaiola dividia um deles com Luiza, e Piter e Pablo estavam ao lado.
Quando terminamos a rodada e comemoramos nossa vitória, Caleb foi sentar com Vaiola e eu me acomodei em uma das cadeiras enquanto outras duas duplas iniciavam um novo jogo.
...
Quando era hora da aula complementar, Laisa e eu seguimos até o anexo, indo à sala de música. Jasmine estava sentada, com as pernas elegantemente cruzadas, mexendo no celular. Notei que sua testa estava franzida enquanto digitava com rapidez.
Laisa a cumprimentou, chamando sua atenção. Jasmine ergueu os olhos do celular e fez um pequeno aceno com a cabeça, sorrindo minimamente. Seus olhos encontraram os meus e o sorriso sumiu, dando lugar a algo diferente, mas que não soube dizer o que.
Já tinha notado que o sentimento de desgosto era mútuo. Jasmine não fazia questão de fingir que gostava de mim, apesar de nunca ter feito nada para merecer isso. Tudo bem que tivemos poucos momentos de interação direta e que todos não foram amigáveis, mas desde nosso primeiro contato, na fogueira, Jasmine tinha se mostrado uma pessoa desagradável. Seus comentários mesquinhos e cheios de soberba fizeram com que criasse certa antipatia por ela. Depois que a gente pega ranço por alguém, é difícil mudar isso.
— Olá pessoal! — a professora Lexa cumprimentou entrando na sala.
Todos os alunos se sentaram e a aula começou. A professora parabenizou Jasmine por ter ganhado o show de talentos, e ela apenas fez um aceno com a cabeça, agradecendo.
Depois entregou a cada um de nós uma partitura e avisou que praticaríamos canto. Lexa nos separou em pequenos grupos, por compatibilidade vocal. Após, escolheu alguns alunos para tocar instrumentos e assim formamos uma espécie de grande coral.
É incrível como cada timbre de voz, quando colocados juntos, no momento certo, conseguem criar a harmonia perfeita. Todos nós cantávamos Baby, You Make Me Crazy do Sam Smith concentrados, entrando e saindo da música conforme íamos acompanhando a partitura e letra. Ao final, estávamos todos animados, balançando nosso corpo no ritmo da música.
A aula tinha sido leve e divertida. Tanto que quando a professora Lexa finalizou, nos dispensando, me surpreendi.
Os alunos saíram da sala e vi que Laisa me esperava perto da porta. Segui até ela e franzi a testa ao ver que Jasmine estava ao lado de fora, parada, também esperando.
Nós andamos em silêncio até a escada, Jasmine desceu na frente e novamente digitava no celular. Por cima do seu ombro vi que mandava uma mensagem e mesmo sabendo que era errado, tentei ler. Semicerrei os olhos, mas não conseguia ver com clareza.
Que droga de letras pequenas! Praguejei em pensamento.
Estávamos cruzando o pátio quando vi o homem que saía da Escola acompanhado de Joana. Os dois conversavam concentrados. Nicholas gesticulava com a mão, como se explicasse algo. Notei quando seu olhar desviou em nossa direção e mesmo a certa distância percebi que Nicholas franziu a testa, parecendo preocupado.
Joana falou algo que chamou sua atenção e então os dois se despediram. Joana voltou à Escola e Nicholas permaneceu parado, ao final da escadaria, agora com as mãos no bolso da calça social.
Nós três continuamos andando em direção a Escola e consequentemente nos aproximávamos cada vez mais dele. Minhas mãos começaram a suar, sem motivo aparente, e um frio surgiu em meu estômago. Mordi o lábio, pensando no quanto aquelas reações todas eram ridículas e despropositais.
Que merda Alicia, é só um cara qualquer! Revirei os olhos mentalmente.
Jasmine e Laisa haviam ido em direção ao um grupinho de amigos perto da fonte, então respirei fundo e segui sozinha em direção a Escola, ou melhor, Nicholas.
Olhei novamente na direção dele, que me encarava com um discreto sorriso nos lábios. Outra vez senti um pequeno frio no estômago.
— Alicia. — cumprimentou.
— Nicholas. — parei à sua frente e mordi o lábio inferior.
— Como você está? — inclinou levemente a cabeça.
— Bem, — dei de ombros — E você?
— Estou bem! — afirmou.
— Trabalhando... — comentei, afinal sempre que o via na Escola estava falando com a diretora ou orientadora.
— Sim, — suspirou baixo — E já de saída.
— Nossos encontros são sempre assim, rápidos... — mordi o lábio inferior — Devo achar que está fugindo de mim? — brinquei.
— Se você soubesse, — negou com a cabeça e encarou meus olhos — Acredite Alicia, não é o que eu gostaria, mas... — pigarreou baixo — Tem coisas que precisam acontecer de um modo e não há muito o que se fazer.
— Você faz isso de propósito? — semicerrei os olhos — Ser assim todo misterioso? — acusei.
— Desculpe. — Nicholas deu risada, mas percebi que havia mais, como se ele quisesse dizer algo diferente.
— "Desculpe"? Só isso? — desdenhei, bufando baixo.
Esperava que Nicholas finalmente desse as respostas que eu queria, para o seu trabalho, as aparições repentinas, a mulher loira que o acompanha com frequência, e principalmente as indiretas que davam a ideia de que tinha interesse, que me deixam confusa.
— Por enquanto. — Nicholas pegou minha mão e a segurou, apertando gentilmente, fazendo meu coração acelerar consideravelmente — Por enquanto. — repetiu.
Franzi a testa, mais confusa do que nunca. Não encontrando nenhum sentido em suas recentes palavras. Estava começando a achar que ou Nicholas era maluco, ou estava brincando com a minha cara. Nenhuma das duas opções eram boas.
Acompanhei com os olhos enquanto ele levava minha mão aos lábios e beijava o dorso. Já era um ato característico, mas ainda assim me deixava encantada.
— Até mais Alicia. — Nicholas sussurrou antes de ir em direção a saída da Escola.
Suspirei baixo, tentando deixar a frustração de lado. Não conseguiria mais informações sobre Nicholas e isso nem devia ser prioridade, afinal não tínhamos ligação nenhuma. Nem amigos podíamos nos considerar, na verdade, éramos meros conhecidos.
Virei e segui em direção ao internato. Entrei e subi, indo ao quarto. Queria tomar um banho e vestir roupas mais quentes. O outono estava findando e agora viria minha estação do ano preferida, o inverno.
— Oi. — cumprimentei Michely que terminava de colocar roupas limpas no roupeiro.
— Oi. — sorriu levemente — Achei que não ia conseguir vê-la hoje, para parabenizar pelo show.
— Ué, você ficou? — franzi a testa.
— Sim! — confirmou — E você foi muito bem.
— Obrigada. — sorri — É que não vi você... — comentei.
— Só fiquei até o fim das apresentações. — justificou.
— Ah. — murmurei.
Fazia sentido, afinal durante a apresentação não fiquei muito atenta a plateia, focando em quem estava ou não lá. Só queria me dedicar à música e foi o que fiz. Era bem provável que tivesse visto Michely, mas não reparado realmente nela.
— Obrigada pela ajuda. — sorri e andei até Michely, abraçando-a rapidamente.
Quando nos desvencilhamos notei que ela estava com os olhos levemente arregalados e parecia surpresa com a atitude.
— Desculpe. — sussurrei, afinal ela podia ser do tipo de pessoa que não curte ser tocada.
— Não, tudo bem. — negou com a cabeça.
Peguei algumas roupas limpas e segui ao banheiro, para enfim tomar banho. Aproveitei a água morna e apenas quando meus dedos estavam enrugados, decidi que era hora de sair.
Me sequei e vesti no banheiro. Voltei ao quarto e Michely não estava mais ali. Calcei novamente o all star e sequei melhor o cabelo, penteando.
Quando estava pronta saí do quarto. Vaiola tinha avisado que estava na sala de convivência com nossos outros amigos, então desci encontrá-los para passarmos algum tempo juntos antes do jantar.
Vaiola desfilava usando um vestido rosa, quase neon. Nós estávamos em uma loja no centro do reino, provando vestidos para o baile de inverno da Escola Real. Tinham finalmente anunciado a data e seria em duas semanas, um dia após o fim das aulas e coincidentemente no dia do meu aniversário, mas isso ainda era segredo.
Havia cartazes espalhados pela Escola toda falando sobre o Baile. No mural de avisos perto da porta de entrada tinha um calendário, onde estava sendo feita uma contagem regressiva.
Na quarta-feira, quando a orientadora Joana pregou o cartaz no quadro de avisos, houve um alvoroço entre os alunos. Vaiola e Ximena deram pulos de alegria, literalmente.
Então, como já havíamos combinado anteriormente, neste sábado viemos ao centro do reino para encontrar o "vestido perfeito" como Vaiola mesmo fez questão de enfatizar.
— Um pouquinho chamativo, não acha? — ponderei avaliando o tom de rosa.
— E quem disse que quero passar despercebida? — Vaiola arqueou uma sobrancelha.
Neguei com a cabeça e continuei passando a mão pelos vestidos da arara. Estávamos em uma loja relativamente grande, na verdade, de dois andares, cheia de vestidos das mais variadas cores e modelos. Porém, até agora não encontrei nenhum que me chamasse atenção.
Ao contrário de Vaiola, não queria nada muito espalhafatoso. Queria algo simples, mas obviamente elegante. De preferência que não tropeçasse nele nos primeiros dois passos que tentasse dar o usando.
— E esse? — Vaiola questionou, saindo do provador com um vestido amarelo, tom mostarda.
Fiz uma careta e foi a resposta que ela precisava para dar meia volta e entrar novamente no provador.
Ximena usava um vestido com mangas bufantes, cor lilás, bem suave, quase lavanda. Era bonito e combinava com seu tom de pele.
Continuei percorrendo as araras, até tocar o tule de um vestido, contornando o bordado com a ponta dos dedos. Peguei o cabide e o puxei, tirando o vestido de alça fina do meio do emaranhado de outros, para conseguir vê-lo melhor.
A parte de cima era uma espécie de corset, feito com um tecido em tom de azul claro, quase transparente, com alguns aros de sustentação no bojo e tronco. Ainda na parte de cima, havia o bordado com flores em tom de rosa e azul, distribuídos de forma harmoniosa no bojo, descendo pela extensão de todo o vestido.
— UAU. — Vaiola comentou parando ao meu lado e tocando o vestido com cuidado — É lindo, a sua cara!
— É. — afirmei, sorrindo.
— Experimenta! — Laisa incentivou e Judy assentiu.
Entrei em um dos provadores e pendurei o vestido no gancho, enquanto tirava a roupa. Depois com cuidado abri o zíper lateral e coloquei o vestido, fechando-o.
Sai do provador e parei em frente ao espelho, avaliando a imagem da garota que refletia ali. O vestido tinha se ajustado perfeitamente, como se tivesse sido feito sob medida. Toquei com cuidado os bordados do busto, descendo pela saia. Girei levemente, fazendo com que rodasse com o movimento.
— Uma princesa! — Ximena elogiou.
Sorri agradecida, virando e avaliando-o nas costas. O comprimento tinha ficado um pouco maior, mas a atendente da loja garantiu que eles podiam fazer a barra.
— Finalmente. — Vaiola comentou e virei, encarando-a.
Ela usava um vestido rosa claro, com detalhes em dourado, no busto, mangas e cintura.
Fiz um sinal positivo com a mão e Vaiola comemorou fazendo uma espécie de dança da vitória. Dei risada e virei novamente em frente ao espelho, alisando a saia do vestido com cuidado.
...
Depois de termos escolhido os vestidos, os deixamos reservados para serem ajustados e combinamos de buscá-los na semana seguinte.
Como ainda era cedo, resolvemos andar pelo centro. Visitamos várias lojas e as garotas compraram algumas coisas. Quando era hora do almoço nós paramos em um restaurante que Laisa recomendou e comemos com calma, conversando.
Nós ficamos no restaurante até que o garçom gentilmente nos avisasse que estavam fechando. Já era início de tarde, então decidimos ir até a praça do reino, que ficava a algumas quadras dali. Compramos sorvete e sentamos em dois bancos, saboreando-os enquanto Laisa contava alguma fofoca. Ela e Vaiola eram campeãs em coletar informações na Escola e ainda não entendia como conseguiam achar tempo para isso. Eu mal conseguia administrar as aulas, os trabalhos, as atividades extras e ainda um ficante.
Por falar nisso. Comentei com Jordan na terça-feira, quando nos vimos depois da aula complementar, que eu estaria no centro do reino neste final de semana. Entre vários beijos escondidos ele avisou que infelizmente teria que trabalhar, mas podíamos nos encontrar no estúdio, depois que terminasse. Então, quando as garotas se organizaram para chamar um carro e voltar para a Escola Real, gentilmente avisei que iria ficar um pouco mais.
— Vocês vão ficar sozinhos... — Vaiola moveu as sobrancelhas, sugestivamente.
— Safadinha! — Ximena sorriu maliciosamente.
— O que? Não! — dei uma risada nervosa — Não tem nada a ver, — neguei com a cabeça — Só vou conhecer o estúdio onde ele trabalha.
— Ata! — Laisa desdenhou.
Todas deram uma risada cúmplice e bufei baixo, revirando os olhos.
Óbvio que quando Jordan me convidou para ir conhecer o estúdio, pensei se teria segundas intenções, afinal estávamos ficando a algum tempo. Notava seu entusiasmo quando nos beijávamos, suas mãos apertavam minha cintura e puxavam para mais perto, porém nunca passou disso.
Assim que as garotas entraram no carro, segui em direção ao endereço que Jordan havia enviado. Não ficava longe da praça, então decidi ir caminhando. Já começava a entardecer e o vento leve soprava, bagunçando meu cabelo, então coloquei o casaco que levei na bolsa.
Menos de quinze minutos depois eu estava parada em frente ao prédio de três andares, feito de tijolos. Vi uma mulher ruiva saindo pela porta da frente e sorri agradecida quando ela a deixou aberta, para que eu passasse. Entrei no hall, percorrendo com os olhos a placa com as indicações das localizações das salas. Achei o estúdio, no segundo andar, sala 02.
Subi a escada e encontrei a porta com o letreiro "". Devia ser o nome do dono, chefe de Jordan.
Bati na porta e poucos segundos depois Jordan a abriu, sorrindo abertamente assim que seus olhos me encontraram.
— Achei que não fosse vir. — confessou.
— E perder a oportunidade de conhecer um profissional estúdio pessoalmente? — arqueei uma sobrancelha.
— Ah, então não tem a ver com esse cara bonitão aqui... — apontou para si, fazendo uma careta — Que pena!
Dei risada e bati em seu braço, repreendendo-o. Jordan segurou minha mão, puxando para que entrasse na sala.
— Nossa! — sussurrei olhando ao redor.
Havia um sofá no lado direito, perto da porta, junto com uma mesinha, com um pote de biscoitos, uma garrafa térmica e xícaras. Em frente, na parede oposta, havia um quadro com uma caricatura que obviamente eu não sabia de quem era, mas dava um ar descontraído ao local. Em baixo estava a mesa de escritório, razoavelmente grande para caber um computador em um canto e o notebook no outro, fora os milhares de papéis espalhados.
No canto esquerdo da sala, havia uma janela grande, que cobria quase toda a parede e era parte da fachada do prédio. Na parede ao lado estava estendido um tecido branco, que pendia desde o teto, descendo e indo ao chão, se estendendo por mais alguns metros. Na frente do tecido estavam os vários aparelhos usados para tirar as fotos, desde tripés com câmeras variadas, a softbox de todos os tamanhos possíveis e outras coisas que não sabia para que serviam.
— Bem-vinda ao meu mundo! — Jordan anunciou com os dois braços abertos, indicando o espaço ao seu redor.
— É muito legal. — comentei indo até a janela e olhando os carros passarem na avenida logo abaixo.
— Sou suspeito para falar. — deu de ombros.
Sorri e andei até uma das câmeras, tocando com cuidado. Não queria nem pensar no valor caso quebrasse alguma delas.
Estava parada avaliando o tecido branco quando o flash de luz disparou. Revirei os olhos ao perceber que Jordan havia tirado uma foto minha.
— Isso está ficando sério! — acusei — Vou cobrar pelo uso da minha imagem, hein! — apontei o dedo indicador em sua direção.
— Relaxa, são todas para o arquivo pessoal. — deu de ombros, sorrindo antes de tirar mais uma foto.
— Pior ainda! — bufei baixo.
Jordan deu risada e negou com a cabeça.
— Prometo só ficar admirando elas de vez em quando. — piscou com um olho só.
— Até parece. — sussurrei, colocando o cabelo atrás da orelha, sentindo o rosto um pouco quente.
Jordan sorriu abertamente e se posicionou melhor atrás da câmera. Revirei os olhos em desdém, mas acabei fazendo uma pose e logo vi o flash da câmera. Dei risada e fiz outra pose, e assim seguiu uma sequência de fotos espontâneas, nada pensadas e planejadas.
— Ok, chega! — fiz um sinal de pare com a mão.
— Ah. — Jordan fez um muxoxo — Acabou com a minha graça.
Neguei com a cabeça e andei até o sofá, sentando confortavelmente. Jordan ocupou o espaço ao meu lado, ficando meio de lado, com o braço apoiado no encosto. Propositalmente, ou não, sua mão ficou perto da minha nuca. Jordan a tocou, fazendo uma carícia leve, causando arrepios pelo meu corpo. Depois desceu a mão e o segurou com mais firmeza, fazendo com que o encarasse.
— Sabe, você é a primeira garota que vem aqui no estúdio. — comentou.
— Mentiroso, — semicerrei os olhos — Esse lugar deve viver cheio de garotas.
— Nenhuma que eu tenha convidado. — negou aproximando o rosto do meu — Você é a primeira.
Senti o polegar acariciar minha bochecha, antes dos nossos lábios enfim se encontrarem. O beijo era gentil e delicado, cheio de expectativas. Nossa boca se movia devagar, sem pressa, apenas aproveitando o momento.
Jordan ainda segurava minha nuca quando notei a intensidade do beijo mudar, sua língua cobrando mais atenção, se enroscando avidamente. A outra mão dele tocou a parte logo acima do meu joelho, apertando levemente. Nossos corpos estavam próximos, então foi fácil para Jordan ir se debruçando devagar, fazendo com que eu deitasse cada vez mais no sofá. Quando percebi minha cabeça repousava no encosto e o corpo de Jordan estava sobre o meu. Sua mão havia subido pela minha perna e agora estava na lateral da coxa, enquanto a outra desceu e agora tocava a cintura. Já as minhas estavam em seus ombros e braços, alternando conforme a intensidade do beijo.
Senti algo duro contra minha coxa direita e foi o que precisou para a luz vermelha piscar em minha cabeça. Estava com as mãos nos ombros de Jordan, então o empurrei levemente.
— Jordan... — chamei.
— O que? — sussurrou afastando o rosto, minimamente.
— Precisamos parar. — avisei, respirando fundo.
Jordan me encarou por alguns segundos, antes de suspirar baixo e assentir. Ele sentou novamente, me levando junto. Passei a mão pelo cabelo, tentando organiza-lo enquanto fazia a respiração voltar ao normal.
— Desculpe. — Jordan sussurrou.
— Só não é assim que... — mordi o lábio, não continuando a frase.
— Eu entendo. — afirmou, segurando minha mão.
Ergui os olhos e encontrei seu sorriso gentil.
— Então... — murmurei, não sabendo como agir depois do momento recente.
— Preciso de dois minutos. — avisou pegando uma das almofadas e colocando-a sobre o colo.
Assenti, sentindo o rosto quente, sabendo o que ele tentava esconder.
— Posso ver aquelas fotos? — questionei indicando os papeis sobre a mesa.
Estava visivelmente tentando mudar o clima quente que havia se instalado.
— Óbvio! — afirmou.
Sorri e levantei do sofá, indo até a mesa de escritório. Vi os vários papéis espalhados em cima e as fotos. Toquei com cuidado, pegando algumas na mão para ver mais de perto. Eram fotos de um casal, a mulher estava grávida e a barriga exposta era o foco principal.
Jordan levantou do sofá e foi até o computador. Parei ao seu lado e o vi abrir um arquivo no computador. Ele puxou uma cadeira para que sentássemos lado a lado, para então começar a mostrar alguns ensaios recentes. Era nítido seu talento e a forma como falava e explicava sobre cada foto era extremamente fofa.
Ficamos grande parte do tempo envolvidos com as fotos. Quando já era quase de noite Jordan pediu pizza e nós jantamos sentados no chão, recostados no sofá enquanto um episódio de Greys Anatomy passava no notebook na mesinha a nossa frente.
Quando o episódio acabou, Jordan esperou junto comigo em frente ao prédio, até que o carro que chamei chegasse para me levar de volta à Escola Real.
Não tivemos nenhum contato mais íntimo desde o amasso no sofá. Provavelmente Jordan não queria forçar nada. Então, quando o carro chegou e nos despedimos, segurei seu rosto com as duas mãos e beijei seus lábios, um selinho demorado.
— Até. — sussurrei.
Jordan sorriu e assentiu. Entrei no carro e acenei enquanto o motorista acelerava, seguindo pelas ruas em direção a Escola.
Recostei no banco e abracei minha bolsa, suspirando baixo. Estava ficando confusa com relação a Jordan. Não sabia o que realmente sentia, além de, apreciar sua companhia, as conversas, os beijos. Não sabia se podia classificar isso como gostar, paixão, desejo, ou outra coisa.
— Droga! — praguejei baixo, não querendo lidar com aquilo no momento.
Respirei fundo e olhei pela janela do carro, me concentrando em contar o número de árvores que passavam como borrões, até finalmente chegarmos à Escola.
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