Capítulo 21

Cálculo era uma das matérias mais complicadas, na minha opinião, pois aprendíamos sobre economia global. Não era boa em matemática e tudo que envolvia números exigia mais da minha atenção, porém era importante, afinal seja qual for o cargo que ocuparíamos na realeza, precisávamos saber o básico da economia não só do nosso país como dos outros.

Por sorte o professor Adam sempre é atencioso e detalhista, explicando com mínimos detalhes tudo que precisávamos saber. Mesmo assim, sempre saia desta aula com uma leve dor de cabeça, de tanto pensar.

Assim que a aula acabou, peguei os materiais e segui junto com Piter até os armários. Guardamos os livros e caderno e descemos ao refeitório. Depois de nos servirmos no buffet, sentamos à mesa, a maioria dos nossos amigos já estavam ali.

— Então, como anda os preparativos para a avaliação da aula de dança? — Ximena questionou enquanto comíamos.

— Acho que vai dar certo... — dei de ombros.

— Dar certo? — Frederick arqueou uma sobrancelha.

Virei o rosto, encarando-o. Não tinha percebido que ele prestava atenção na conversa e isso me fez corar levemente.

Super certo! — corrigi, revirando os olhos.

Frederick sorriu mais abertamente e assentiu.

Super certo! — confirmou.

Tínhamos apenas mais um ensaio até o dia da avaliação e ainda precisávamos decidir o final da apresentação, mas acreditava que conseguiríamos.

Continuamos comendo e dei graças pelo foco do assunto ter mudado. O almoço seguiu tranquilamente, quando terminamos decidimos ir à sala de convivência, descansar algum tempo até a hora da aula complementar. Hoje era equitação, quer dizer que veria Penélope e isso me deixava animada.

...

Acariciei a crina da égua e beijei o focinho, elogiando seu desempenho nas atividades que realizamos hoje. O professor Daniel nos fez trabalhar em novos obstáculos, então foi um pouco mais complicado do que de costume. Porém, Penélope sempre arrasa e não foi diferente desta vez.

— Você é ótima! — sussurrei e recebi como resposta seu relincho.

— Vamos Alicia? — professor Daniel chamou.

Já era nossa vez de novo, então segui com a égua até a arena e a montei com ajuda do professor. Observei enquanto o outro aluno finalizava os exercícios e assim que era minha vez bati os calcanhares e mexi as rédeas, fazendo com que Penélope começasse a trotar.

Nós passamos os obstáculos com mais facilidade desta vez. Sorri quando a égua pulou o último, de altura mediana, caindo do outro lado com perfeição.

— Isso! — comemorei.

Penélope e eu voltamos ao lugar inicial, onde o professor nos esperava. Desci da égua e sorri realmente feliz com nosso desempenho.

— Vocês foram bem! — o professor elogiou.

— Penélope é muito boa. — dei de ombros.

— Ela gosta de você. — comentou sorrindo e assenti.

O sentimento era mútuo. Desde o início senti a conexão com Penélope. Era um animal doce, atenciosa e bastante esperta.

Quando a aula terminou a levei até a baia e me despedi. Acariciei sua crina mais uma vez, me despedindo, deixando uma cenoura para agradá-la.

Sai da área das baias e arregalei levemente os olhos ao encontrar Jordan, parado a alguns metros, observando.

— Ei. — cumprimentei enquanto me aproximava.

— Pensei em dar um 'oi' pessoalmente... — sorriu levemente.

— Estava ajudando na aula de fotografia? — questionei parando a poucos passos de distância.

— Sim, — concordou — E quis te ver antes de ir... tudo bem? — arqueou uma sobrancelha.

— Tudo ótimo! — mordi o lábio inferior.

Jordan assentiu e sorriu abertamente, estendendo a mão. A aceitei e deixei que me puxasse para perto, recebendo seu beijo na bochecha.

— Estou fedendo a estábulo. — sussurrei.

— Não me importo. — deu de ombros.

— Me acompanha até o internato? — sugeri.

— Sim. — indicou para que passasse à frente.

Então juntos nós seguimos em direção ao internato, ainda de mãos dadas.

— E como estão as coisas para o show de talentos? — Jordan questionou parecendo realmente interessado.

Respirei fundo e inclinei a cabeça, pensando na resposta.

— Estão indo bem. — dei de ombros — Encontrei a música que queria, então agora está fluindo melhor.

— Isso é bom. — Jordan concluiu — Você é dedicada, determinada... Vai conseguir se sair bem. — apertou minha mão gentilmente, em forma de incentivo.

— Às vezes sou, quando não deixo o medo me vencer. — admiti, negando com a cabeça.

— É normal ter medo, não existe um ser humano que não tenha sentido em algum momento da vida. — ponderou pensativo — A gente só não pode deixar isso nos paralisar. — sorriu levemente — Se tiver medo, vai com medo mesmo!

Estávamos agora na escadaria ao lado de fora do internato. Paramos um de frente ao outro e nos encaramos.

— Obrigada, pelo incentivo. — sorri.

— Disponha. — piscou com um olho só.

Nos encaramos por alguns segundos. Sabe aqueles momentos de expectativa, que você não sabe muito bem o que vai acontecer, ou o que quer que aconteça, mas que espera por algo? Era isso.

— Preciso ir. — Jordan sussurrou.

— Ok. — suspirei baixo.

— Nos vemos algum dia desses? — arqueou uma sobrancelha, sorrindo.

— Mas é óbvio. — revirei os olhos e dei uma risada baixa.

Me aproximei e beijei sua bochecha, um pouco mais demorado do que o habitual. Quando me afastei notei o sorriso satisfeito de Jordan. Parecia uma criança que ganhou o doce preferido.

— Até. — sussurrei.

— Até. — acenou, se afastando com certa relutância.

Acompanhei com os olhos enquanto Jordan se distanciava, passando pela fonte e seguindo pela rua, indo em direção aos portões de saída da Escola.

Suspirei alto e virei, começando a subir a escada, mas parei no segundo degrau, ao dar de cara com Nicholas. Ele estava no topo e olhava na direção em que Jordan tinha ido.

— Nicholas. — chamei a atenção.

Imediatamente ele me encarou, sorrindo discretamente.

— Alicia. — cumprimentou.

Terminei de subir os degraus e parei ao seu lado. Sempre me pegava apreciando sua beleza. Nicholas tinha um porte elegante, de presença, passava seriedade e confiança. Era atraente, de certa forma.

— Não agradeci devidamente pela carona do outro dia... — fiz uma careta, me sentindo constrangida por isso — Então, obrigada!

— Não foi nada. — deu de ombros — Espero que tenha tido um ótimo final de semana.

— Eu tive. — afirmei.

— Que bom, isso que importa. — sorriu.

Assenti e pigarrei baixo, não sabendo muito bem o que falar. Nicholas tinha esse estranho poder de me deixar sem palavras, mas sentir a necessidade de manter algum diálogo.

— Encontrei a música, — comentei, sem saber o porquê — Para o show de talentos. — expliquei.

— Tenho certeza que será ótimo! — afirmou.

— Como pode ter certeza? — arqueei uma sobrancelha.

— Sou um bom observador, faz parte do meu trabalho. — me encarou intensamente — Já observei você Alicia... É comprometida e quando se propõe a algo, dá o melhor. — afirmou, com convicção.

— Você me observou? — arregalei levemente os olhos, surpresa com a confissão.

Nicholas sorriu de canto e assentiu. Queria perguntar mais sobre essa informação recém descoberta. Saber que Nicholas tinha me observado havia me pego de surpresa e feito o coração bater mais rápido, sem motivos aparentes.

Notei Nicholas desviar o olhar para a direita e acenar a um dos seguranças da Escola.

— Até mais Alicia. — Nicholas estendeu a mão.

Sorri colocando a minha sobre, acompanhando enquanto ele a levava aos lábios e beijava o dorso. Nicholas ainda acenou com a cabeça, antes de descer a escadaria e seguir acompanhado do segurança em direção a Escola.

Suspirei baixo e entrei finalmente no internato. Precisava de um banho, pois sabia não estar com o melhor dos cheiros.

Que belo dia paraencontrar com Jordan e Nicholas. Pensei, enquanto subia ao quarto.

As aulas de introdução histórica costumavam ser bastante interessantes. Ultimamente vínhamos estudando a constituição de Régnes, que é a lei máxima, na qual traçam-se os parâmetros do sistema jurídico e define os princípios e diretrizes que regem a sociedade. A constituição organiza e sistematiza um conjunto de preceitos, normas, prioridades e preferências que a sociedade acordou. Então nessa matéria nós víamos todas as leis do país, como foram pensadas e para que. A garantia dos direitos e deveres dos cidadãos.

Fiz várias anotações, tanto no livro quanto no caderno. O professor Brendon passou coisas no quadro e como atividade deixou algumas páginas do livro, para lermos e comentarmos na próxima aula, valendo ponto extra.

Ainda, antes de finalizar a aula, o professor passou uma atividade rápida, com cinco questões, para respondermos em dupla e entregarmos antes de sairmos. Estava sentada com Vaiola, como sempre, então fizemos juntas.

— Acho que é isso. — comentei ao final da quinta pergunta.

— Sim. — concordou.

Arrumei os materiais e peguei a folha, deixando-a em cima da mesa do professor antes de sair da sala. Ainda tinha algum tempo até a hora do almoço, então aproveitei e liguei para tia Leila, combinei com Vaiola de encontrá-la depois no refeitório.

"Minha querida! comemorou assim que atendeu o celular Que saudade!"

"Oi tia, sorri sentando no banco do pátio da Escola Como estão as coisas por aí?"

" Tudo bem e você, como está na Escola? questionou."

" Bem também... suspirei baixo Estou pensando em ir a Cérnia neste final de semana. comentei mexendo na barra da saia, distraidamente."

" Eu ficaria feliz. afirmou."

" Estou precisando de conselhos... respirei fundo."

"Sempre que precisar, você sabe disso. tranquilizou-me."

"— Sei. — afirmei."

Respirei fundo. Uma das melhores sensações é a de saber que há alguém ali por você, independente do momento e da situação. Poder confiar em alguém completamente é algo raro.

...

A contragosto levantei do banco e me juntei ao próximo grupo que participaria da atividade da aula de natação. Piter estava no outro grupo e parecia concentrado, afinal era bastante competitivo.

— Vai Alicia, sua vez! — professor John avisou.

Me posicionei à beirada da piscina e esperei sua ordem, mergulhando assim que a ouvi. Nadei até a borda do outro lado, dei uma cambalhota embaixo d'agua e peguei o impulso para voltar. Assim que encostei à borda inicial novamente ouvi a comemoração do meu grupo.

— Muito bem Alicia. — John comemorou.

Sorri e peguei uma das toalhas, me secando. Alguns outros alunos seguiram fazendo a atividade, até todos termos completado. O grupo do Piter ganhou e houve vários gritos de comemoração.

O professor encerrou a aula, então me enrolei na toalha e esperei Piter, que ainda comemorava, para enfim voltarmos ao internato.

Nós seguimos juntos, caminhando sem pressa enquanto Piter falava algo sobre um dos garotos da aula de natação. Ao que parece ele fez comentários desagradáveis sobre o corpo de algumas garotas e isso gerou desconforto no grupo.

— É sério, da próxima vez vou dar um soco na cara dele. — Piter bufou baixo.

— Você batendo em alguém? — arqueei uma sobrancelha.

Não imaginava Piter agredindo alguma pessoa, apesar do seu jeito expansivo, não tinha físico nenhum para isso.

— Ok, — fez uma careta — Chamo alguém para dar um soco nele.

Dei risada e neguei com a cabeça.

Apesar de realmente achar que Piter não faria nada do que estava falando, entendia sua revolta, afinal se tivesse ouvido as besteiras que aquele garoto falou, provavelmente estaria tão revoltada quanto. Não que estivesse tranquila, na verdade, minha vontade era voltar na área da piscina e tirar satisfação. Afinal, o que dava o direito daquele garoto falar do corpo alheio, não só ele como qualquer outra pessoa.

Nós entramos no internato e nos despedimos no segundo andar. Subi ao terceiro e entrei no quarto, encontrando com Michely.

— Juro que vou ser menos bagunceira. — revirei os olhos.

— Tudo bem. — deu risada, ajeitando algumas blusas limpas no roupeiro — É bom, assim tenho trabalho e passo meu tempo.

— Vou fingir que é isso mesmo, para me sentir melhor. — pisquei com um olho só.

Michely assentiu, sorrindo abertamente.

Segui ao banheiro e tirei o maiô, jogando-o no cesto de roupas. Tomei um banho demorado. Era sempre trabalhoso desembaraçar meu cabelo, mas no fim conseguia.

— Esse final de semana irei a Cérnia. — comentei, indo até o roupeiro.

Peguei calça jeans e blusa de manga curta, cor mostarda. Me vesti rapidamente, enquanto Michely ajeitava a penteadeira.

— Isso é bom. — afirmou mexendo nos pincéis de maquiagem — Vai ver seus amigos.

— Sim! — sorri abertamente — Ainda é difícil às vezes... Sinto saudades. — suspirei baixo, terminando de me vestir.

Virei e a encarei. Michely estava parada ao lado da penteadeira, com um espanador na mão.

— Saudade faz parte, — sorriu gentilmente — Tudo que é bom deixa saudade.

Mordi o lábio inferior e assenti. Realmente, quando vivemos algo bom, mesmo que por curto tempo, sentimos saudade. Vivi anos muito felizes em Cérnia, com minha tia e amigos, então é natural que sinta saudades, mesmo estando em um bom lugar agora.

Minha estadia na Escola Real estava sendo fantástica, nunca poderia imaginar que teria as experiências que tenho aqui e era grata por isso. Seja lá quem me inscreveu e porque, essa pessoa acabou fazendo algo bom. Porém, isso não amenizava o fato de ser difícil ficar longe de quem amamos.

— Tem razão. — afirmei, semicerrando os olhos — Você é muito sábia para uma pessoa tão jovem. — brinquei.

— E sabedoria tem idade? — franziu a testa, dando risada em seguida.

— Justo. — dei de ombros.

Michely tinha apenas vinte e um anos, mas sua postura centrada fazia com que parecesse mais velha. Engraçado como nós sempre associamos responsabilidades a pessoas com mais idade, quando na verdade, isso vem grande parte da personalidade da pessoa, do que qualquer outra coisa.

Calcei o all star e andei até a penteadeira. Parei ao lado de Michely e peguei a escova de cabelo, penteando-o. Vi que ela me encarava pelo reflexo do espelho e corou ao ser pega no flagra. Já tinha percebido seu olhar meio avaliativo de vez em quando, mas sempre ignorei, afinal ela trabalhava para a Escola, então devia fazer parte observar e monitorar os alunos.

Terminei de me arrumar e peguei o celular, colocando-o no bolso da calça.

— Vou descer. — toquei o ombro de Michely.

— Claro. Bom jantar. — sorriu.

Andei até a porta e a abri, parando no batente.

— E você, saia daqui o quanto antes e vá aproveitar o restante da noite... — semicerrei os olhos e apontei o dedo indicador em sua direção — Não quero encontrá-la quando voltar!

Michely deu uma risada e assentiu.

— Sim senhora. — bateu continência com uma mão ao lado do corpo e outra na testa.

Revirei os olhos e sai do quarto, seguindo pelo corredor. Ainda não era hora do jantar, mas iria até a sala de convivência ficar com meus amigos. Era nosso local de encontro, mesmo que nunca tivéssemos estabelecido isso verbalmente, acabávamos indo à sala por ser mais confortável e ter coisas para fazer e passar o tempo.

Assim que entrei vi Vaioa e Ximena sentadas em um dos sofás, então andei até elas e me espremi junto com as duas. Alguns alunos assistiam um programa que passava na tv e outros conversavam entre si. Notei que Judy contava sobre alguma coisa que aconteceu na aula de etiqueta, mas como o assunto estava na metade, não entendi muito.

Nós ficamos ali até a hora do jantar, quando Vaiola engatou nossos braços e seguimos juntas ao refeitório. Nossos amigos estavam logo atrás, incluindo Frederick, que piscou com um olho só quando passamos por ele indo em direção a saída da sala.

— Ele não desiste, né? — Vaiola sussurrou.

— Não! — suspirei baixo.

Nós duas nos olhamos de canto e demos uma risada cúmplice.

Parecia que a cada dia me afundava mais na área movediça, que também podia ser chamada de 'minha vida amorosa'. Ainda ficava repetindo que não queria envolvimento com ninguém para me dedicar à Escola, quando na verdade, nem sabia mais se isso era verdade.

Sentia que as coisas iriam se complicar mais se não tomasse alguma atitude. Fred não parecia disposto a desistir de investir em algo entre nós, mesmo que eu achasse ser superficial, só alguns beijos e amassos. Nada contra beijos e amassos, óbvio. E aí tinha Jordan, que já havia deixado claro estar interessado em ter algo mais íntimo, e quem sabe mais sério.

A questão toda é que não sabia o que queria e isso era um problema, porque quem não sabe o que quer, não vai a lugar nenhum. Então era isso, eu estava estagnada e essa não é uma posição confortável. Não mesmo.

Precisa tomar alguma atitude Alicia! Pensei, suspirando baixo.

O dia tinha amanhecido ensolarado, então aproveitei para passear pelo centro de Cérnia. Depois de tomar café da manhã, fui com a tia Leila até seu trabalho e de lá caminhei pelas ruas, sem pressa e sem destino específico. Cumprimentei alguns conhecidos conforme ia passando por eles, explicando meu sumiço e recebendo os olhares surpresos ao contar sobre a Escola real.

Isso me fez questionar se eu não demonstrava ter potencial suficiente para ser escolhida para algo grande, como a Escola. Mas aí lembrei que o outro nunca saberá tudo sobre mim, ou seja, se viver para suprir expectativas nunca viverei realmente. E ainda, o que o outro pensa sobre mim, diz mais sobre ele, do que realmente eu.

Quando era hora do almoço, parei em um restaurante e comi com calma, ouvindo um podcast sobre história. Nunca me cansava de aprender sobre Régnes e outros lugares. O pós-guerra foi um momento muito importante para vários países, então sempre havia detalhes não contados, especulações e afins.

Terminei o almoço e decidi tomar um sorvete de sobremesa, então segui até a praça do reino, onde havia a barraca com o melhor sorvete de morango, meu preferido.

Era engraçado como Cérnia me fazia bem. Acho que porque cresci aqui, então tinha muitas memórias e sentimento de pertencimento. Cérnia me trazia segurança, coisa que foi tirada quando entrei na Escola Real, afinal não sabia o que aconteceria quando completasse os estudos e saísse. Então estar aqui me lembrava da estabilidade que tinha antes.

Sentei no banco de madeira embaixo de uma das árvores e saboreei o sorvete enquanto observava as pessoas passeando, crianças brincando e casais namorando.

Tinha conversado brevemente com a tia Leila na noite anterior, depois do jantar. Contei sobre Frederick e Jordan. Nós nunca tivemos segredos, nem mesmo sobre namorados e intimidades. Leila sabia que eu era virgem e estava esperando a pessoa certa. Não tenho vergonha disso, acho que todos têm seu tempo e momento, o meu não havia chegado ainda.

Leila me ouviu atentamente, pediu como me sentia com relação a cada um dos garotos e aconselhou seguir o que meu coração dizia. O grande problema é que não estava conseguindo ouvi-lo, era como se estivéssemos em frequências diferentes. Tia Leila falou que mesmo que não fosse me envolver seriamente com nenhum deles, não devia me privar de viver as experiências.

"Melhor se arrepender pelo que fez, do que de nunca ter tentado". Foi o que ela disse quando confesse que não havia beijado Fred ou Jordan ainda.

Nossa conversa me fez tomar a decisão de deixar as coisas fluírem. Não ficar controlando as situações como vinha fazendo ultimamente e seja lá qual fossem as consequências, lidaria com elas depois. Isso não quer dizer que iria agarrar Fred ou Jordan, ainda não era meu estilo. Porém, não evitaria mais ser agarrada, digamos assim.

Fiquei na praça por um tempo, até decidir que precisava ver meus amigos. Tínhamos combinado de nos encontrarmos na casa de Ryan, então segui sem pressa até o endereço. Passei no mercado e comprei algumas guloseimas para comermos.

Leila trabalhava aos sábados, às vezes de manhã, mas na maior parte das vezes era à tarde. Então, ao invés de ficar em casa sozinha, eu ia até a casa de Ryan para passarmos algum tempo juntos. Além de Sansa, óbvio.

Nós assistimos alguns filmes enquanto comíamos as coisas que havia levado. Sansa fez bolo de chocolate e estava uma delícia. Em certo momento ela recebeu uma ligação e saiu para atender, sorrindo bobamente. Não precisei de muito para entender que era Eduardo. Sansa estava apaixonada, isso era fofo e ao mesmo tempo engraçado.

Fiquei imaginando como seria realmente gostar de alguém. Óbvio que já tive paixonites, mas duraram pouco tempo e o suficiente para resultar em alguns beijos, apenas. O que queria dizer agora é sobre gostar realmente, sentir aquelas borboletas no estômago toda vez que você está com a pessoa. Não conseguir parar de pensar ou falar nela.

Vi Sansa retornar com a testa franzida, mordendo o lábio nervosamente.

— Eduardo quer conhecer vocês. — informou, torcendo as mãos em frente ao corpo.

— Agora? — arqueei uma sobrancelha.

— É, ele está aqui por perto. — deu de ombros — E você está em Cérnia lili, então queríamos aproveitar.

— Isso quer dizer que é sério mesmo? — sorri — Entre vocês...

Sansa deu de ombros novamente e revirou os olhos, mas acabou assentindo.

— AAAA... — gritei e levantei do sofá, indo abraçá-la.

Sansa deu risada e retribuiu meu abraço.

Estava muito feliz por ela ter encontrado alguém. Dava para ver no rosto de Sansa quando falava sobre Eduardo que estava gostando dele e que lhe fazia bem. Afinal, mais importante que estar em um relacionamento, é estar em um relacionamento saudável.

— Chame logo este garoto! — Ryan interveio, chamando atenção.

— Por favor, seja legal com ele. — Sansa pediu de forma apreensiva.

— O que? Eu? — Ryan arregalou levemente os olhos — Porque faria algo?

— Porque sempre que falo dele você faz uma careta ou sussurra alguma coisa... — ela suspirou baixo.

Estava parada em pé, entre os dois. Ryan ainda estava sentado no sofá, agora nos olhando de forma ofendida.

— Não é porque não gosto dele Sansa, afinal nem o conheço direito. — Ryan se defendeu, levantando do sofá — Mas porque você é minha amiga e não quero vê-la machucada.

Sansa e Ryan se encaram em silêncio por alguns minutos, até ela encurtar a distância e ir abraçá-lo.

— Eu vou ficar bem! — sussurrou.

Sem conseguir me conter, me juntei ao abraço. Os dois deram risada, mas esticaram o braço para que coubesse no meio, entre eles.

Quando nos desvencilhamos, Sansa enviou uma mensagem a Eduardo avisando de que estávamos o esperando.

Confesso que não me surpreendi tanto com as palavras de Ryan. Lá no fundo, sempre desconfiei de que ele tinha sentimentos por Sansa, para além da amizade, mas nunca quis ser invasiva ao ponto de confrontá-lo sobre. Sei que somos melhores amigos, mas isso não quer dizer que não tenhamos coisas apenas nossas, e tudo bem.

Ouvi a campainha tocar e Sansa praticamente pulou do sofá, indo abrir a porta. Olhei para Ryan e pisquei com um olho só.

— Pessoal, este é o Eduardo. — Sansa apresentou entrando com o garoto na sala.

Fiquei de pé, sendo acompanhada por Ryan.

— Oi, é um prazer conhecê-lo. — sorri.

O cumprimentei com um beijo no rosto e ele e Ryan apertaram as mãos, formalmente.

Notei que Sansa e Eduardo estavam de mãos dadas e sorri mais abertamente com isso. Nós voltamos a sentar no sofá, eu e Ryan em um deles e o casal no outro, mais ao lado.

— Então, Sansa disse que você estaria em Cérnia, — Eduardo pigarreou baixo — Achei uma boa oportunidade de conhecer os dois melhores amigos dela... — a olhou de canto.

— É agora que pergunto quais são as suas intenções? — brinquei, franzindo a testa.

Nós demos risada da piada improvisada. Eduardo negou com a cabeça e sua postura no sofá ficou mais relaxada. Imagino que devia ser tenso para ele este momento, afinal é importante em um relacionamento os dois conhecerem e se entrosarem com a rede de amigos e familiares do companheiro.

A conversa foi fluindo entre nós quatro. Logo já falávamos sobre a escola, achava que ele não lembraria de nós, afinal não éramos os mais populares, diferente de Eduardo que até fazia parte do time de basquete. Eduardo disse que lembrava e confessou estar interessado em Sansa desde aquela época. Vi minha amiga ficar com o rosto vermelho e escondê-lo no ombro dele.

Falamos sobre alguns ex-colegas, professores e outras coisas da escola. Também entramos em outros assuntos de Cérnia e assim o tempo foi passando.

Já era noite e nós jogávamos cartas quando recebi a mensagem de Leila avisando que estava vindo me buscar. Então me despedi dos meus amigos com um abraço forte e depois de Eduardo.

— Foi bom conhecê-lo. — sorri levemente — Vê se não apronta nada e cuida da minha amiga. — apontei o dedo indicador em sua direção.

Eduardo deu uma risada baixa e assentiu, mas visivelmente entendeu o fundo de ameaça.

Assim que o carro com a tia Leila chegou, entrei e acenei. Olhei pelo retrovisor encontrando os três ainda parados na calçada, até que sumissem completamente.

Suspirei baixo e recostei no banco traseiro do passageiro, com Leila ao lado. Senti sua mão tocar a minha e virei o rosto, sorrindo.

Estava feliz e em paz. Sentia que minha vinda a Cérnia tinha sido essencial, tanto pela conversa com Leila, quanto por finalmente conhecer Eduardo. Só esperava que as coisas continuassem dando certo.

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