Capítulo 20
Acordei no domingo um pouco mais tarde do que habitualmente e por isso perdi o café da manhã no refeitório. Então depois da higiene matinal, me vesti e desci para tomar uma xícara de café e comer um misto quente na cozinha do internato.
Ontem tivemos atividade extracurricular e em função disso a maioria dos meus amigos ficou na Escola, por isso hoje tínhamos combinado de ir até o lago. A princípio era para ser algo mais íntimo, mas assim que sai da cozinha encontrei com vários alunos usando roupas de banho, alguns inclusive carregando boias, e assim deduzi que a ideia do lago havia se estendido para todos da Escola.
Sabia da existência do lago há algum tempo, mas ainda não tive oportunidade de ir. Era outono, mas especialmente hoje o dia estava ensolarado e a temperatura amena, ou seja, propício para irmos nos divertir.
Senti o celular vibrar e vi que era uma mensagem no grupo com meus amigos. Tínhamos combinado de nos encontrarmos em frente ao internato e já estava quase na hora.
— Bom dia, coisa linda! — Piter piscou assim que cheguei até ele e Pablo, que apenas sorriu discretamente.
Aos poucos os outros integrantes do nosso grupo foram chegando. Quando estávamos todos reunidos, Vaiola como sempre engatou nossos braços e seguimos em direção ao lago.
O caminho era praticamente o mesmo que fizemos no dia da fogueira. Nós percorremos o extenso gramado e a trilha que entrava por uma espécie de bosque, com árvores altas, mas antes de chegarmos a clareira, viramos à esquerda e pegamos outra trilha, que quase dez minutos depois revelava o lago.
— UAU! — sussurrei, percorrendo o lugar com os olhos.
Do lado oposto ao lago tinha uma mesa retangular, de madeira, com algumas comidas e bebidas. Mais adiante uma competição de vôlei acontecia e o clima era descontraído. À nossa direita havia um balanço feito de corda, com uma única tábua, amarrada, visivelmente improvisado, que os alunos usavam para se impulsionar e pular no lago. Já à esquerda havia um banco comprido e largo, estrategicamente posicionado embaixo de uma árvore gigante, que proporcionava uma agradável sombra.
— Vou pegar algo para beber. — Piter avisou e seguiu até a mesa acompanhado de Piter.
Vaiola e Ximena já tiravam a roupa e se preparavam para entrar na água. Olhei ao redor novamente e decidi sentar no banco, que até o momento estava ocupado apenas por duas garotas.
— Não vou agora, — avisei a Vaiola e Ximena, que me olharam indignadas — Mas depois entro, sério!
As duas não pareceram acreditar, mas por fim desistiram. Aproveitei e segui até o banco. Cumprimentei as duas garotas, reconhecendo-as da aula de perspectivas globais. Sentei e percorri todo o lugar com os olhos, reparando no entrosamento dos alunos.
Ouvi risadas altas e olhei para onde ficava o balanço de madeira. Lá estava Laisa, Jasmine e dois garotos idênticos. Gêmeos, constatei o óbvio. Seriam de Liquenti ou Monroll? Monroll, concluí ao lembrar que os de Liquenti eram um casal. Observei eles se prepararem para pular no lago.
Todos estavam se divertindo e isso é legal de ver. Vaiola estava em uma boia rosa neon, sendo empurrada por Caleb. Dei risada e retribuí seu aceno eufórico. Peguei o celular no bolso do short e tirei algumas fotos do pessoal todo.
Isso me deixou animada e em certo momento, quando percebi, estava também dentro do lago, em cima dos ombros de um garoto veterano, enquanto tentava empurrar e fatalmente derrubar uma garota morena. A famosa e conhecida 'briga de galo'.
— Vai Alicia! — ouvi gritos, mas estava concentrada demais para reparar de quem vinham.
Na verdade, vários alunos gritavam, visivelmente empolgados e querendo que uma de nós duas caísse na água e perdesse o jogo. A garota morena havia conseguido segurar meus dois braços na altura do cotovelo e fazia força para empurrar para trás. Por sorte o garoto segurava meus joelhos com força e tentava ao máximo me manter estável.
— Empurra ela, Alicia! — ouvi alguém.
— Estou tentando! — retruquei, afinal era o que estava fazendo até agora.
Impulsionei o corpo para frente, tentando com todo o meu peso desequilibrar a garota. Por uma fração de segundos percebi que ela desestabilizou e aproveitei a oportunidade para empurrá-la pelos ombros, fazendo com que caia de costas na água.
— AAAAAAAAAA... — comemorei ao perceber que ganhamos.
O garoto embaixo de mim também comemorou e acabou soltando meus joelhos, o que fez com que me desequilibrasse e fatalmente também caísse na água. Como fui pega de surpresa, não tive tempo para me preparar e obviamente afundei. Tentei subir novamente a superfície, o ar já estava faltando nos pulmões, quando senti alguém me puxar pela cintura.
Assim que emergi, dei algumas tossidas com a sensação de que isso ajudaria a respirar melhor, em seguida respirei fundo e finalmente abri os olhos, encontrando com os azuis penetrantes de Frederick.
— Você está bem? — questionou.
— Sim, obrigada. — sussurrei.
Fred segurava minha cintura, como se quisesse se certificar de que não afundaria novamente. Queria lhe dizer que sei nadar e o acontecido recente foi apenas por ter sido pega desprevenida, mas achei que soaria rude. Então apenas toquei seu ombro discretamente, impulsionando o corpo para trás, nos afastando mais alguns centímetros.
— Amiga, você ganhou! — ouvi alguém comemorando e logo Vaiola estava ao meu lado.
Sorri e aproveitei para me desvencilhar completamente de Fred, abraçando Vaiola, desajeitadamente por ainda estarmos dentro da água.
Nós nadamos até a beira do lago e saímos. Meus amigos estavam sentados em uma toalha estilo de piquenique, estendida no chão, no gramado que havia perto do lago. Me enrolei na toalha felpuda que Ximena havia trazido e emprestado, sentando ao lado de Piter.
— Frederick é persistente. — comentou.
— Aí amigo. — suspirei baixo — Não sei no que isso vai dar... — confessei minha indecisão.
Olhei na direção do lago, onde mais duas duplas jogavam agora e os alunos torciam e gritavam para eles. Fred estava ali e dava risada enquanto encorajava um dos garotos.
— Ele é um gato. — Pablo afirmou, me surpreendendo.
Piter o olhou visivelmente chocado e recebeu um beijo na bochecha como resposta. Dei uma risada baixa.
— Ele é mesmo. — concordei, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão, enquanto observava Fred — Mas não sei, com Frederick é algo mais físico, sabe... — comentei pensativa — Quando estamos próximos eu sinto algo que não sei explicar, mas sinto.
— E isso é ruim? — Vaiola semicerrou os olhos
— Não, mas... — mordi o lábio inferior.
— Mas... — incentivou.
— Tem Jordan... — dei de ombros — Ele também desperta algo em mim! — confessei.
— E ele também é um gato! — Piter comentou, movendo as sobrancelhas sugestivamente.
— Sim! — tampei o rosto com as duas mãos.
— Nossa, que vida cruel! — Vaiola desdenhou — Com qual dos dois garotos extremamente gatos a Alicia deve ficar? — questionou com ironia.
— Vaiola, — repreendi, batendo em seu braço — É sério!
Ela revirou os olhos e me abraçou de lado, em um pedido de desculpas. Bufei e passei o braço pelos seus ombros, a perdoando por desmerecer meus sentimentos.
Ok, pare de ser dramática Alicia. Pensei.
— E com Jordan, é mais do que físico? — Pablo perguntou.
Mordi o lábio inferior e pensei por alguns minutos sobre meu relacionamento com Jordan, se é que podemos chamar assim.
— Acho que sim, — sussurrei pensativa — Tem esse lance físico e de atração, mas ao mesmo tempo tem algo intelectual... — ponderei e olhei para cada um dos meus amigos — Faz sentido?
— Faz! — Pablo sorriu de forma cúmplice.
— Então você está ferrada. — Piter afirmou.
Gemi baixo e deitei a cabeça no ombro de Vaiola, praguejando baixo.
— Bom, o que posso dizer é que com Frederick você tem um plus... — Piter comentou, fazendo suspense — Chamado Luiza.
Fechei os olhos e respirei fundo. Às vezes minha mente fazia questão de não lembrar deste fato.
— Mas ela não tem nada com ele. — Ximena se pronunciou pela primeira vez.
— Você está com cara de quem sabe de algo. — sussurrei.
— Só de que Luiza comentou sobre ela e Frederick não estarem mais ficando há algum tempo. — deu de ombros.
— Isso quer dizer que eles ficavam. — Piter sussurrou.
— Isso não é novidade... — Vaiola deu de ombros — A novidade é de que se eles não estão mais ficando e isso provavelmente foi uma decisão de Frederick, já que Luiza ainda está visivelmente interessada. — piscou com um olho só.
— Porque ele está interessado na nossa lindíssima amiga Alicia! — Piter me encarou com uma sobrancelha arqueada.
— Vocês não estão ajudando... — murmurei.
— Minha opinião é que você deveria beijar os dois e ver qual é melhor. — Ximena sugeriu, levantando uma das mãos como se pedisse permissão para falar.
— Nossa, porque não pensei nisso antes! — ironizei, revirando os olhos.
Fiz uma careta e bufei baixo, pensando naquela situação. Luiza e Frederick não estarem mais ficando, era e ao mesmo tempo não era, uma surpresa. Desconfiava de que algo estava acontecendo, pelas reações que Luiza sempre tinha quando estávamos todos juntos e havia maior interação entre eu e Fred. Porém, não esperava que ele tivesse esse tipo de atitude, afinal todas as informações que tive sobre seu currículo amoroso dizem o contrário.
...
Já anoitecia quando resolvemos voltar ao internato, pois logo seria servido o jantar.
Estávamos seguindo pela trilha. Vaiola e Ximena mais à frente, junto com Piter e Pablo. Ainda me pegava pensativa com tudo que conversei com meus amigos, referente a Fred e Jordan.
— Você precisa se conter Jasmine! — ouvi alguém.
Virei minimamente a cabeça e a vi junto com dois garotos, os mesmos gêmeos de antes.
Com certeza era mais um dos comentários desagradáveis sobre algo ou alguém. Já tinha reparado que essa era sua especialidade. Não sei porque, mas Jasmine parecia ter um amargor dentro de si e colocava para fora através das palavras.
— Só disse a verdade, ué! — ela desdenhou, dando de ombros — No fundo eles não são ninguém.
Franzi a testa ao ouvir suas palavras. Então ela se achava melhor? Que pensamento mais imbecil. Uma coroa sobre a cabeça não fazia ninguém melhor, nada disso vale se não tiver princípios e caráter, isso para dizer o mínimo.
Quando percebi que estava olhando os três já era tarde e Jasmine me encarava de volta. Seus olhos estavam sérios e pareciam emanar algum tipo de poder, mas não algo bom e que traz respeito, era algo como superioridade.
Não gosto mesmo dessa garota! Pensei, apressando o passo para alcançar meus amigos.
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