Capítulo 19
Já tinha ensaiado a música algumas vezes. Depois de escolher qual seria, finalmente comecei a praticar. Já fazia uma semana que ia todos os dias à sala de música, antes da hora do jantar e ensaiava com ajuda de Pablo. Descobri que ele fazia ajustes eletrônicos em melodias, então estava me ajudando.
No começo Pablo era apenas o garoto com quem Piter ficava, mas com o passar do tempo nos tornamos amigos. Secretamente me perguntava como os dois estavam dando tão certo, afinal Pablo é calmo e sereno, o oposto de Piter, que é totalmente ligado na tomada de tanta energia.
— Pronta? — Pablo chamou a atenção.
— Sim, vamos lá. — afirmei, ajeitando o microfone e pigarreando baixo.
Pablo soltou o som e fechei os olhos sentindo as batidas da música começarem. Confesso que as leves mudanças que fizemos tinha a deixado ainda melhor.
O show seria em um mês e conforme o tempo passava, estava ficando nervosa. Não em ganhar ou perder, mas em conseguir fazer uma boa apresentação.
Cantei o refrão com toda empolgação que conseguia, mexendo os quadris no ritmo da música. Era sempre assim quando me deixava envolver completamente, como se nada mais existisse.
Nós ficamos ali na sala até perto da hora do jantar. Nossos amigos estavam na sala de convivência e nestes dias em que ensaiávamos, nós os encontrávamos no refeitório. Vaiola nunca estava com uma cara amigável, pois dizia se sentir traída por não ter lhe contado qual a música escolhida e nem deixado que participasse dos ensaios. Já havia lhe explicado querer que fosse surpresa para todos a apresentação. Então depois de alguns minutos e um pouco mais de drama, Vaiola relaxava e seguia a vida normalmente.
— Até que enfim. — Piter comentou quando chegamos à mesa.
Todos já estavam ali, comendo. Sentei ao lado de Ximena, ficando na ponta.
— Boa noite para você também. — sorri sarcasticamente.
Piter fez uma careta e mostrou a língua. Dei risada e comecei a comer, prestando atenção no assunto da vez. Era alguma fofoca que alguém havia conseguido coletar informações durante o dia e gentilmente compartilhava na hora do jantar. Eu nunca contribuía muito, afinal não sei cuidar e lidar com as coisas da minha vida, que dirá palpitar na dos outros.
Não consigo nem decidir se beijo Jordan na próxima vez que nos vermos. Se deixo Frederick continuar investindo em uma aproximação mais íntima, como vem acontecendo em todos os últimos ensaios de dança. Sinceramente? Minha linda cabeça anda uma bagunça, na qual dois pensamentos persistem. Há o anjinho bom, situado no ombro esquerdo, que diz para tomar cuidado, ser prudente e esperar. Já no ombro direito, o anjinho que diz ser perda de tempo esperar, que não há motivo para ter cuidado e devo aproveitar a vida. Ainda não decidi qual deles está ganhando, mas neste processo vou ficar louca. Certeza.
...
Já tínhamos jantado e estávamos na sala de convivência. Piter insistiu para que jogássemos cartas, então agora estávamos eu, Piter, Pablo, Vaiola e Ximena jogando.
Ficamos ali por horas, em certo momento mais alguns alunos se juntaram a nós e virou algo em grande grupo. Por isso, após perder mais uma rodada, sai do jogo e avisei ao pessoal que iria subir, me recolher.
Encontrei por acaso com Michely no corredor do segundo andar e aproveitei para dispensá-la, avisando que estava indo dormir. Expliquei que a única coisa que queria no momento era um banho relaxante e minha cama, e conseguia fazer isso sozinha. Michely tentou contestar, mas havia melhorado no método de persuasão, então após justificar querer um tempo só e cutucar suas costelas enquanto a empurrava gentilmente pelo corredor, ela apenas desistiu e seguiu seu caminho.
Respirei fundo, sentindo-me vitoriosa, indo enfim em direção ao quarto. Realmente desejando um banho e deitar confortavelmente na cama. Só esse pensamento já me fez bocejar.
A semana havia sido extremamente cansativa. Ensaiei incessantemente com Pablo, mas estava valendo a pena, pois a música ficou perfeita. Agora só precisava elaborar melhor a apresentação em si, colocar alguns passos de dança, quem sabe.
Por falar em dança, hoje tinha aula complementar e após eu e Frederick treinaríamos a coreografia da avaliação, que aconteceria em duas semanas. Nós já tínhamos montado praticamente a apresentação toda, faltava apenas um "tchan" no final, como Fred dizia.
Sai da aula de perspectivas globais e segui sem pressa para a de línguas. Hoje teríamos aula de francês e isso me deixava empolgada, pois havia melhorado bastante na conversação. Esse foi um desafio particular que tive quando entrei na Escola, mas me dediquei a estudar e hoje conseguia me virar razoavelmente bem. Quem sabe um dia vou para Paris, comer croissant em frente a Torre Eiffel.
Sonha Alicia! Pensei, desdenhando.
Sentei à mesa e alguns minutos depois Vaiola se acomodou ao meu lado. Toquei levemente sua mão sobre a mesa em forma de cumprimento, recebendo um sorriso como resposta. Meio minuto depois a professora Savanna entrou na sala, iniciando a aula. Abri o livro na página indicada e recostei melhor na cadeira, prestando atenção.
...
Depois do almoço nós fomos até a sala de convivência. Sentei em um dos puffs e Ximena praticamente se jogou ao meu lado. Recostei a cabeça no ombro dela e tentei prestar atenção no filme que passava na tv. Era alguma comédia já que Ximena dava risada de vez em quando e isso fazia seu corpo tremer levemente.
Fiquei ali descansando até perto da hora da aula de dança, quando pedi licença ao pessoal e fui ao internato para trocar de roupa.
— Oi. — sorri ao entrar no quarto e encontrar Michely.
— Seu uniforme já está sobre a cama. — avisou indicando com a cabeça enquanto andava até a porta, parando perto do batente.
— Precisa de algo a mais? — questionou.
— Não, obrigada. — neguei com a cabeça — Vou à aula de dança e depois ensaiar com Fred até a hora do jantar, então sinta-se dispensada.
— Tem certeza? — arqueou uma sobrancelha.
— Absoluta. — afirmei.
— Ok, então boa sorte. — sorriu de forma descontraída.
Sabia que Michely se referia ao ensaio com Frederick. Tinha comentado brevemente com ela sobre isso, pois na semana passada cheguei ao quarto praguejando baixo, por causa das mais do que evidentes investidas de Frederick.
— Nem fale... — revirei os olhos.
Até o momento estava conseguindo me manter invicta. Nossa coreografia estava boa. Tinha alguns passos um pouco, ousados, mas nem tanto. Se dependesse de Frederick haveria mais, porém mantive apenas os em que me sentia confortável.
Michely deu risada e acenou antes de sair do quarto. Terminei de colocar a roupa e troquei o all star por tênis esportivos. Conferi as horas e se não saísse agora chegaria atrasada na aula, então peguei um prendedor de cabelo e o amarrei enquanto andava pelo corredor.
Cruzei com Laisa, Judy e Jasmine no pátio da Escola, elas estavam sentadas em um dos bancos, pensei fingir não ter visto, mas Laisa sorriu e acenou, então retribui. Entrei na sala de aula meio esbaforida e praguejei baixo ao perceber que esqueci a garrafa de água.
Por sorte a aula não foi tão puxada. Gostava de dança contemporânea, pois permitia que nos expressássemos. Podíamos incrementar os passos e usar nossa imaginação para criar coisas novas. A professora Lexa elogiou bastante a interpretação da dupla que tinha acabado de coreografar e todos aplaudimos, afinal foi mesmo muito bom.
— Por hoje é isso pessoal. — Lexa nos dispensou.
Suspirei alto e andei até o banco no final da sala. Sentei e esperei pacientemente até todos os alunos terem ido. Como sempre, Frederick ficou responsável por fechar a porta quando estivéssemos a sós.
— Então vamos lá! — sorriu, indo até seu celular.
Levantei e segui ao meio da sala. Já estava bem alongada e aquecida, então assim que os acordes da música iniciaram já comecei a me mover. Rapidamente Frederick veio e se posicionou praticamente ao meu lado, um pouco mais atrás.
Começamos a coreografia de forma individual, mas sincronizada, até chegar à parte em conjunto. Estávamos em frente ao espelho, então notei o sorriso travesso de Frederick quando se posicionou as minhas costas, com nossos corpos quase colados. Obviamente que esta parte da coreografia foi criada por ele e acabei cedendo depois de muita insistência e de perceber que realmente ficava legal com a música.
Continuamos dançando, chegando à parte em que Fred segura minha cintura e puxa para mais perto, nos movendo para trás juntos. Nesse momento nos encaramos e Frederick piscou com um olho só, me fazendo dar risada. Apesar de tudo não conseguia ficar brava com ele, era estranho e totalmente irracional, porque Fred tinha um potencial enorme de me deixar brava com suas investidas descaradas e ao mesmo tempo me divertia com o jeito descontraído, como se não tivesse 'tempo ruim'.
Preciso confessar que não é totalmente insuportável estar na companhia de Frederick. Acho que o motivo de sempre estar fugindo, evitando-o ou sei lá mais o que, é porque ele me deixa sem jeito. A maneira como investe em cantadas, indiretas bem diretas e tudo mais, me deixa sem saber como reagir. Às vezes penso que deveria simplesmente deixar acontecer, seja lá o que fosse, mas aí vinha a conhecida sensação de perigo, que me fazia recuar.
Peguei impulso e corri até Frederick, pulando contra seu corpo. Ele rapidamente me segurou pela cintura e girou, colocando-me no chão novamente. Virei, ficando de costas e inclinei o tronco para frente, com uma mão no joelho e outra na cintura, subindo novamente. Não sabia sensualizar e evitava me olhar no espelho nestas partes.
Ainda não tínhamos um final escolhido. Já havíamos pensado e tentado algumas coisas, mas nenhuma agradava completamente.
— Ainda temos mais de uma semana. — comentei quando estávamos saindo da sala.
— Vamos achar algo legal. — Fred concordou.
Assenti e seguimos andando pelo pátio. Nosso grupo de amigos estava em um dos bancos, conversando e dando risada de algo.
— Aí estão eles... — Vaiola comemorou quando nos aproximamos.
— O que? — Frederick questionou.
— Estamos combinando de ir ao lago neste final de semana. — Ximena explicou.
— Legal! Estou dentro. — Frederick confirmou.
— Alicia... — Vaiola arqueou uma sobrancelha.
— Vai adiantar dizer que não? — coloquei as mãos na cintura e a encarei.
Vaiola deu de ombros e negou com a cabeça. Sabia que indiferente do que dissesse ela iria me fazer mudar de ideia, então melhor já concordar de início.
Ficamos ali até a hora do jantar, gostaria de ter tomado banho antes, mas acabei me entretendo com o pessoal, então deixaria para depois quando subisse ao quarto.
Banho de banheira! Pensei, sorrindo com a ideia. Fazia tempo que não a usava e seria ótimo.
— Vamos? — Vaiola chamou e percebi que os outros já andavam em direção a Escola.
— Vamos! — engatei nossos braços.
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