Capítulo 17

Ainda era cedo, mas queria praticar um pouco antes da aula de música iniciar, mesmo que não tivesse nada decidido para o show. Então deixei meus amigos na sala de convivência e segui em direção ao anexo da Escola.

Suspirei alto assim que entrei na sala e vi a variedade de instrumentos. Andei em direção ao piano e sentei, olhando as partituras que estavam sobre. Reconheci como sendo da aula passada, a professora Samira devia tê-las esquecido ali.

Escolhi uma delas e comecei a tocar, sem pretensões, apenas testando os acordes. Fiquei ali por algum tempo, apenas sentindo a melodia e a paz que aquilo me trazia.

— Eu sei disso. — ouvi alguém.

Parei de tocar imediatamente, prestando atenção nos passos que se aproximavam pelo corredor. Levantei e andei silenciosamente até a porta, parando perto do batente. Consegui ver Jasmine, recostada de lado na parede, de costas para mim. Notei que havia alguém à sua frente, mas não conseguia ver quem era, pois estava na curva perto do final do corredor.

— Sim, — concordou a outra pessoa, sussurrando — Mas não podemos aqui.

Jasmine parecia tensa, seus ombros estavam duros e a postura ereta. Seja com quem estivesse falando, ou sobre o que, não parecia confortável.

Ouvi passos e logo o corredor era invadido por vários alunos. Notei que estava na hora da aula e rapidamente entrei na sala, com o coração acelerado. Cumprimentei os alunos que entravam e sorri mais abertamente ao ver Laisa, que sentou ao meu lado como sempre fazia.

Quando Jasmine entrou notei que estava com a postura relaxada, bem diferente da anterior. Se não tivesse a visto a alguns minutos, não saberia do momento de tensão. Não nos cumprimentamos e evitei olhá-la, pois não conseguiria disfarçar a cara de curiosidade. Afinal, Jasmine me intrigava com suas atitudes e cada vez mais acreditava que escondia algo. Por alguns segundos invejei sua capacidade de disfarçar o que sente.

A professora Samira entrou na sala, sorrindo abertamente, já iniciando a aula. Me acomodei melhor e prestei atenção no que ela falava, torcendo para que hoje não precisasse interagir diretamente com Jasmine. Ultimamente não tive muita sorte com isso.

...

— Então, já escolheu a música? — Piter questionou enquanto jantávamos.

Depois de passar alguns dias tentando encontrar a música para o show de talentos, agora tinha uma lista com cinco possíveis opções e era só escolher qual. Era uma tarefa fácil, tecnicamente.

— Não exatamente, — mordi o lábio inferior — Mas pretendo fazer isso ainda hoje.

— Ata! — Vaiola debochou.

Bati nossos ombros, a repreendendo, revirando os olhos em desdém. Sabia que estava enrolando muito e teria que encontrar uma música logo, para enfim começar a ensaiar. Por isso me comprometi a ainda hoje escolher e preencher a ficha que precisava entregar amanhã.

Nós jantamos enquanto conversávamos sobre diversos assuntos, era sempre assim quando estávamos juntos. Em certo momento parei e observei meus amigos, pensando que nunca imaginei que ao deixar Cérnia minha vida toda mudaria tanto e que encontraria bons novos amigos. Conhecia Vaiola e Piter a, tecnicamente, pouco tempo, mas já os considerava tanto quanto Sansa ou Ryan. Acho que quando encontramos as pessoas certas essa questão de tempo não faz muito sentido.

Depois do jantar me despedi de todos e subi para cumprir minha missão. Entrei no quarto e encontrei Michely organizando a penteadeira. Nós estávamos mais íntimas na relação, não éramos melhores amigas, mas conversávamos brevemente sobre algumas coisas. Já compartilhei fatos sobre minha vida, tanto em Cérnia quanto aqui na Escola, me sentindo confortável para isso.

— Precisa de algo mais? ­— questionou.

— Não, agora só preciso focar em escolher a música para o show de talentos. ­— fiz uma careta enquanto vestia o pijama — Mas é uma tarefa só minha, então está dispensada.

— Achei que já havia escolhido... — comentou.

— Ainda não, mas o tempo está acabando. — suspirei alto.

— Vai conseguir! — tranquilizou-me.

Nosdespedimos e acenei antes de Michely sair do quarto. Assim que estava sozinhame ajeitei e deitei confortavelmente na cama. Peguei o celular e cliquei na playlistque fiz apenas com as cinco músicas restantes. Apertei o play e meconcentrei nas melodias, afinal precisava decidir isso hoje. 

Entreguei a ficha impressa para a orientadora Joana antes de ir ao refeitório.

Joana agradeceu e avisou que anexaria junto com a dos outros participantes. Não conversamos mais do que isso e quando percebi já estava no refeitório, sentada à mesa junto com meus amigos.

Hoje era sexta-feira, então amanhã teríamos atividade extracurricular, mas ainda não sabíamos onde seria.

— Não acredito que vai mesmo manter em segredo a música que escolheu. — Vaiola resmungou quando saímos do refeitório, indo em direção ao pátio.

— Você disse que ajudaria, mas no final acabei escolhendo sozinha. — dei de ombros — É seu castigo. — avisei e ouvi seu bufo baixo.

Sentei no banco e ocasionalmente, ou não, Frederick ocupou o lugar ao meu lado. Nós não conversávamos muito, principalmente em público e mais principalmente quando Luiza estava por perto. Acho que Fred já havia notado esse meu padrão de comportamento, mas ainda não comentou sobre e nem sei se faria.

Hoje teríamos aula complementar de dança e depois nós iríamos ensaiar novamente. Ainda lembrava de como foi da última vez e o clima que havia se instalado entre nós, então hoje precisava tomar cuidado para não fazer besteira.

— Como andam os preparativos para o show? — Fred perguntou enquanto todos conversavam distraídos.

— Ahm... — franzi a testa — Escolhi a música e agora preciso ensaiar.

— Já é alguma coisa. — sorriu me encorajando — Você é talentosa e vai se sair bem! — afirmou.

— Nunca me ouviu cantando ou tocando, — arqueei uma sobrancelha — Posso ser péssima e desafinada.

— Impossível! — negou com a cabeça.

Frederick piscou com um olho só e voltou a prestar atenção na conversa dos nossos amigos. Resolvi fazer o mesmo e ficamos ali até perto da hora da aula complementar, quando pedi licença e subi para me trocar.

A professora Samira já estava na sala quando entrei, então apenas deixei a garrafa de água no canto e corri até o grupo de alunos. Hoje teríamos que coreografar uma música que a professora enviou durante a semana para treinarmos. Primeiro dançamos em grande grupo, depois a professora nos separou em trios.

As aulas eram divertidas e a maior parte dos alunos sabia dançar, ou seja, tinham o mínimo de ritmo que precisávamos para não nos esbararmos ou deixarmos o coleguinha cair e fatalmente quebrar a perna.

...

Andei até o canto da sala e peguei a garrafa de água, dando um generoso gole. Frederick estava perto da porta e assim que todos os alunos estavam fora da sala, a fechou.

— Finalmente. — sorriu animado.

Tomei mais um gole de água e deixei a garrafa no mesmo lugar. Andei devagar até o centro da sala e parei, com as duas mãos na cintura.

— Precisamos de uma música oficial. — ponderei.

— Sim. — pegou o celular — Tenho uma sugestão.

Esperei enquanto Fred mexia no celular, concentrado. Ele levantou o dedo indicador e sorriu. Meio segundo depois ouvi os acordes da música iniciar.

— Conheço essa. — semicerrei os olhos.

— Acho perfeita. — sorriu mais abertamente.

Bufei baixo enquanto Señorita do Shawn Mendes e Camila Cabello continuava tocando no celular de Fred. Confesso que estava na minha playlist, pois gostava da música, mas não sei se era boa ideia usá-la em uma coreografia com Frederick.

— Você parece já ter tudo planejado... — acusei, cruzando os braços em frente ao corpo.

— Tudo não, — deu de ombros — Mas boa parte.

Mordi lábio inferior enquanto ponderava os prós e contras. Estava atarefada com o show de talentos e alguns trabalhos das disciplinas, não queria ter que me preocupar com mais isso, então apenas suspirei rendida.

— Isso! — Fred comemorou.

— Só não vamos nos empolgar demais, ok? — fiz sinal de menos com a mão.

— Só o necessário para arrasarmos na avaliação. — piscou com um olho só.

Neguei com a cabeça. Frederick não tinha jeito mesmo e o que me restava era controlá-lo, mantendo-o na linha o máximo possível.

— Então, vamos lá! — suspirei alto.

Fred imediatamente recolocou a música. Escolhemos não apresentar inteira, pois não encaixaria no tempo determinado para cada dupla. Então definimos o melhor trecho e a partir disso começamos a pensar a coreografia.

— Não... — neguei quando ele sugeriu um dos passos.

Fred deu risada e revirou os olhos em desdém. Era assim quando ele colocava algum passo difícil e principalmente ousado demais, se é que me entendem.

A coreografia estava ficando boa, admito. Frederick era melhor nisso do que pensei. A música tinha uma batida que sempre me contagiava, então foi ligeiramente fácil me envolver e deixar fluir, como Fred gostava de falar. Decidimos gravar o ensaio para irmos decorando os passos e podermos rever depois.

Ficamos ali até perto da hora do jantar, na verdade, nem vi o tempo passar. Só quando ouvi o bip do celular, pela milésima vez, avisando que havia mensagem é que aproveitei e olhei as horas.

Fiz uma careta ao ver a mensagem de Vaiola.

Digitei rapidamente uma resposta avisando onde estava e revirei os olhos com sua próxima mensagem:

Nem dei ao trabalho de respondê-la. Apenas peguei a garrafa de água e segui em direção a porta da sala, onde Frederick esperava.

Andamos juntos pelo pátio. A noite estava mais fresca e fechei os olhos aproveitando a brisa do outono.

— Acho que nós evoluímos bastante hoje! — Fred comentou.

Entramos no internato e seguimos ao refeitório, afinal já estava praticamente na hora do jantar.

— É, acho que sim. — concordei.

Frederick sorriu e passou o braço pelos meus ombros. O olhei de canto com a testa franzida, visivelmente questionando sua atitude.

— Ok, precisamos estabelecer limites. — sussurrei, tirando a mão do meu ombro e afastando seu braço.

No instante seguinte ouvi um pigarro baixo. Nós viramos e encontramos com nosso grupo de amigos, que provavelmente também seguia ao refeitório.

— Hey! — sorri indo até Vaiola.

Notei que Luiza também estava ali e nos observava com a testa franzida. Ignorei este fato, pois era problema apenas de Frederik e foi isso que quis transmitir através do olhar que lhe lancei.

— Você vai ter que me contar. — Vaiola sussurrou.

— Depois... — engatei nossos braços, seguindo em direção ao refeitório.

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