Capítulo 14

Estava sentada na cadeira enquanto ouvia a professora Samira falar sobre teoria musical. Segundo ela, tem como objetivo a introdução à análise, classificação, composição e compreensão das partituras musicais.

A professora já havia nos testado, digamos assim, pedindo que nós lêssemos algumas partituras nas aulas passadas e devido ao desempenho mediano, de certos alunos, como a mesma pontuou, nós teríamos algumas aulas a mais sobre este assunto.

— A teoria musical identifica valores e elementos físico-musicais, — Samira explicou calmamente — Como altura, duração, intensidade, timbre, melodia, harmonia e ritmo. Isso estabelecendo símbolos para registrar uma ideia musical... — fez uma pequena pausa e nos olhou brevemente — Está fazendo sentido?

Nós assentimos. Já tinha ouvido e aprendido sobre tudo isso nas aulas em Cérnia, então não estava sendo nada tão extraordinário, na verdade, me sentia meio entediada.

Reprimi um bocejo e mudei de posição na cadeira, cruzando as pernas. Neste movimento, sem querer, acabei chutando a cadeira da fileira à frente, onde por azar, Jasmine estava sentada. Vi seu pescoço virar levemente e me encarar com a testa franzida.

— Desculpe. — sussurrei.

— Até parece... — negou com a cabeça.

— Então meninas, gostariam de demonstrar para nós? — ouvi alguém.

Percebi que o olhar de todos os alunos estava em nós duas e encarei a professora, que nos observava com expectativa.

— Ahm... — murmurei, não sabendo o que dizer, afinal não entendia o que estava acontecendo.

— Alicia e Jasmine gostariam de nos mostrar um pouco de harmonia? — Samira sorriu gentilmente.

No mesmo momento olhei para Jasmine, que não tinha uma expressão feliz no rosto, só para variar. Contive a vontade de revirar os olhos, com a ironia que era a professora chamar justamente Jasmine e eu para mostrar harmonia. A única coisa que não havia entre nós duas.

Sem muitas opções, levantei da cadeira e andei até o centro da sala. Notei que Jasmine fazia o mesmo e se posicionava ao meu lado, com alguma distância, óbvio.

A professora nos entregou a folha com a letra da música e suspirei baixo, aliviada por reconhecê-la.

— Só me segue... — Jasmine sussurrou, com seu habitual tom autoritário.

Até pensei e tive vontade de contestá-la, mas logo ela já começava a cantar

Jasmine cantou as primeiras estrofes e virou em minha direção, me olhando diretamente, dando a deixa para que eu cantasse as seguintes. Minhas mãos estavam levemente trêmulas, pelo nervosismo do momento. Aquilo podia dar certo, mas também podia dar muito errado.

Notei quando Jasmine se preparou para cantar novamente e dei espaço para isso, apenas a observando. Estávamos agora com o corpo de lado, quase de frente uma à outra. Resolvi me arriscar e em algumas partes fazer dueto, dando um toque a mais a música, afinal estávamos ali demonstrando harmonia, então tínhamos que fazer isso.

"Mas você não me julga,

Porque você enxerga isso do mesmo ponto de vista"

Nós cantamos juntas e ouvi os assobios dos nossos colegas, claramente gostando. Deixei Jasmine continuar com a música, apenas entrando quando achava que encaixaria nossas vozes juntas. Notei quando ela modificou parte da letra, encaminhando-a para um final e rapidamente me adequei. Nós nos encaramos, tentando manter a sincronia e harmonia.

Quando terminamos notei que Jasmine tinha um leve sorriso nos lábios e fiquei surpresa com isso.

— UAU! — ouvi alguém sussurrar.

Virei em direção aos nossos colegas, que aplaudiam. A professora Samira estava de pé, ao lado das cadeiras e sorria abertamente.

— Isso é harmonia. — comentou de forma orgulhosa.

Ouvi um bufo baixo e olhei de canto para Jasmine. Seu rosto havia voltado a expressão normal de sempre, ou seja, aquela outra Jasmine durou pouco tempo. Porém, foi o suficiente para perceber que realmente existe algo a mais nessa garota.

Alguma coisa aconteceu. Pensei, enquanto voltávamos aos nossos lugares e a professora continuava a aula.

Ouvia atentamente o professor Brendon falar sobre como Zifush virou a capital de Régnes, as assembleias que foram realizadas, votações e obviamente, algumas mentiras e intrigas que incluíram o processo. Sabemos que tudo que envolve poder, traz ambição e a busca por mais poder. É um ciclo vicioso.

Quando fomos liberados, arrumei os materiais e saí da sala, indo guardar no armário. Era a última aula, então peguei o celular e conferi as mensagens enquanto descia a escada, acompanhada de Vaiola e Ximena, indo ao refeitório.

— E aí moça. — Frederick cumprimentou surgindo ao meu lado no hall.

— Oi. — sorri levemente.

— Então, quando será nosso encontro? — questionou puxando assunto.

Franzi a testa e o encarei confusa por alguns segundos, até entender sobre o que se referia.

— Ah, o ensaio para a apresentação? — indiretamente o corrigi — Podemos marcar para daqui duas semanas, já que temos algum tempo... — dei de ombros.

— Na sexta depois da aula? — sugeriu.

— Pode ser. — assenti.

Estávamos em frente ao refeitório, Fred abriu a porta e fez sinal para que passasse na frente.

— Obrigada. — sorri levemente.

— Posso reservar a sala então? — questionou, insistindo no assunto.

— Pode. — afirmei.

— Ótimo! — comemorou.

Revirei os olhos, fazendo com que ele desse uma risada baixa. A autoestima desse garoto era altíssima e deveria ser estudada, porque independente do que falasse Fred nunca se abalava, pelo menos não visivelmente.

Nós nos servimos no buffet e seguimos até a mesa. Piter deu um sorriso quando nos viu chegando juntos e o repreendi com um olhar de: Nada de comentários! Reparei que Luiza já estava na mesa e nos encarava de forma avaliativa, com a testa franzida.

Sentei ao lado de Piter, na ponta da mesa e comecei a comer tranquilamente, enquanto Frederick ocupava o lugar vago ao lado de Caleb. Já Ximena e Vaiola sentaram no banco da frente e notei que conversavam sobre o show de talentos. Ao que parece Ximena tinha se inscrito e iria cantar, isso se fosse escolhida, claro. Logo Luiza entrou no assunto e então dediquei meu tempo a apenas escutá-las.

— Qual sua aula de hoje? — Vaiola questionou engatando nossos braços.

— Natação. — respondi.

Nós estávamos saindo do refeitório e indo à sala de convivência. Até pensei em subir ao quarto descansar, mas todos insistiram para que fosse junto com eles.

Saímos da Escola e seguimos ao internato. Passamos pela fonte e pelo canto de olho vi um pequeno grupo dando risada. Reconheci Jasmine e os gêmeos de Monroll, além de outras três pessoas, duas delas eu sabia serem princesas, já o outro garoto não tinha certeza. Foi inevitável não lembrar da aula de música, onde pela primeira vez consegui ver outro lado de Jasmine, mesmo que rapidamente, e novamente me questionei se meu instinto estava certo e havia alguma coisa errada com aquela garota.

Acabei ficando na sala de convivência até o horário da aula complementar. Me despedi dos meus amigos e subi ao quarto para colocar o uniforme. Michely não estava, mas como de costume havia deixado a roupa em cima da cama, já separada. Então, rapidamente coloquei o biquíni e o short, amarrei o cabelo e peguei a toalha, jogando-a sobre o ombro.

No corredor cumprimentei duas garotas que cruzaram comigo e desci a escada, seguindo a área em que ficava a piscina. Assim que passei pela porta vi Piter sentado em um dos bancos, conversando com outro garoto. Andei até eles e os cumprimentei, no mesmo momento em que o professor John entrava, chamando a atenção de todos.

As aulas de natação eram quase sempre em grupos, separados por sorteio, aleatoriamente. Nós fazíamos exercícios treinando braças e técnicas de respiração, para mergulhos mais longos. No final o que restava era muito cloro no cabelo e braços e pernas doloridos.

...

Quando terminamos a atividade do dia, tirei a touca e passei a mão pelo cabelo, tentando ajeitá-lo. Sequei o corpo rapidamente e vesti novamente o short. Calcei os chinelos e sai acompanhada de Piter.

Nós andamos sem pressa, voltando ao internato. Falávamos sobre o pedido de namoro que Piter planejava fazer a Pablo. Ele ainda não decidiu como seria, mas estava com duas possibilidades. Piter as explicou e pediu minha opinião.

Uma delas era jantar romântico no centro do reino, onde pediria que trouxessem uma sobremesa com a aliança dentro e então o pedido aconteceria.

— E se ele engolir sem querer? — ponderei.

— É verdade. — Piter fez uma careta — Seria trágico, para não dizer cômico.

— E a segunda? — incentivei.

Piter começou então a falar sobre a outra opção, que envolvia uma serenata e poema. Bem clichê e cafona, mas nem ousei dizer isso a ele.

— Acho ideias legais, — sorri gentilmente — Mas será que é a cara do Pablo? Ele parece tão... — mordi o lábio procurando a palavra certa — "Discreto"? — fiz aspas.

— Sim, ele é! — bufou e assentiu — Acho que preciso pensar um pouco mais. — suspirou alto.

Nós estávamos quase na escada em frente ao internato, quando vi o homem que cruzava o pátio da Escola. Nicholas estava acompanhado da diretora Analise. Os dois conversavam enquanto seguiam em direção a estrada que dava acesso a saída da Escola Real.

Em certo momento Nicholas olhou para o lado e consequentemente me encontrou encarando-o. Imediatamente meu rosto esquentou e pude jurar que estava vermelha feito um pimentão. Nicholas acenou e eu retribui, mais animada do que deveria, não sei por quê.

— Hm, que gato! — Piter comentou.

Pigarreei baixo e o puxei para que entrássemos no internato. Passamos pelo hall e subimos a escada. Nos despedimos e segui para o andar das garotas, indo até o quarto.

— Michely! — cumprimentei encontrando-a ajeitando algumas coisas no roupeiro.

— Oi. — sorriu.

Andei até o banheiro, tirei o biquíni e tomei um banho demorado, tirando todo cloro do corpo. Sempre levava um tempo até conseguir desembaraçar o cabelo.

Quando terminei, me enrolei na toalha e voltei ao quarto. Michely estava parada perto da janela, visivelmente apenas me esperando.

— Você não precisa ficar em pé. — comentei.

— Tudo bem. — negou com a cabeça — Só queria avisar que seus uniformes limpos estão no roupeiro. — avisou.

— Obrigada. — sorri — Você merece um aumento... Com quem falo sobre isso? — pisquei com um olho só.

Michely deu risada e caminhou em direção à porta.

— Até amanhã. — se despediu.

— Até amanhã Michely. — acenei.

Assim que estava sozinha, vesti a lingerie e depois calça jeans, blusa cinza de manga curta e o all star. Sequei um pouco o cabelo e fiz uma maquiagem rápida e leve.

Peguei o celular em cima do bidê e conferi as mensagens. Respondi tia Leila e o grupo "Três mosqueteiros". Depois entrei no instagram e rolei o feed, sem procurar nada específico, curtindo uma foto ou outra que aparecia.

Quando era quase hora do jantar desci e segui ao refeitório. Me servi e sentei à mesa, com meus amigos.

Depois de jantarmos decidimos ir à sala de convivência, jogar castas. Assim que chegamos ao hall percebi que havia alguma coisa errada, pois, vários alunos estavam aglomerados ali. Já ia questionar o que acontecia quando a orientadora Joana apareceu, segurando uma folha nas mãos. Esqueci que hoje seriam anunciados os escolhidos para o show de talentos. Por isso todo esse alvoroço.

— E lá vamos nós! — Vaiola sussurrou ao meu lado.

Joana seguiu até o mural perto da porta de entrada da Escola e prendeu a folha. Em seguida se virou e nos encarou.

— Aqui está a lista para o show de talentos! — indicou a folha atrás de si — Parabéns aos escolhidos. — sorriu gentilmente — A data da primeira reunião está no final. Boa sorte.

Sem dizer mais nada Joana apenas seguiu de volta pelo corredor e então a confusão começou. Todos os alunos se esticavam e esbarravam tentando chegar mais perto do mural. O burburinho era crescente e conseguia ver os vários rostos decepcionados. Notei Ximena se aproximar da folha e analisá-la com atenção, sua testa franzida, demonstrando concentração.

Yes! — comemorou quando provavelmente achou seu nome.

— Acho que alguém foi escolhida. — Piter comentou.

— Acho que sim. — concordei.

Sorrindo brilhantemente Ximena andou até nós. Estava visivelmente feliz com a conquista.

— Porque não nos contou? — questionou me olhando.

— Contar o que? — franzi a testa, sem entender.

— Que se inscreveu para o show. — revirou os olhos.

Continuei a encarando por alguns minutos, sem entender. Como assim me inscrever? Não tinha feito isso. Com certeza Ximena leu o nome errado e por isso andei até o mural, me espremendo entre os alunos até estar em frente à lista. Acompanhei com os olhos os nomes, descendo até chegar ao antepenúltimo.

Alicia Dolohov.

Com certeza aquele era o meu nome, mas o que estava fazendo ali? Não tinha colocado nenhum papel na urna, então ou tinham se equivocado e aquilo era um engano, ou alguém tinha feito isso. Mas quem? E por quê? Já estava cansada de tantos mistérios. Primeiro foi a Escola e agora a competição. Quando isso iria acabar?

— Alicia? — ouvi alguém chamar.

Virei e encontrei com Piter, que também avaliou a lista e depois me encarou.

— Não coloquei meu nome na urna! — afirmei.

— Acredito em você. — tranquilizou-me.

— E o que faço agora? — suspirei alto.

— Agora? — deu de ombros — Seu nome já está aí Alicia, — indicou o mural — Você só precisa participar e arrasar!

Revirei os olhos e puxei Piter pelo braço, saindo do meio do alvoroço. Nossos amigos já haviam ido à sala de convivência e assim que me viram parabenizaram por ter sido escolhida. Agradeci, mesmo que no momento não soubesse como isso aconteceu.

— Vamos jogar? — Ximena chamou.

Assenti e sentei ao lado de Vaiola. Por hora decidi deixar de lado o show de talentos. Pensaria amanhã no que fazer.

Nós ficamos jogando cartas até sentir sono, então quando não aguentava mais bocejar, me despedi e subi ao quarto para enfim dormir.

Quando vi a palavra cálculo no cronograma imaginei que seria uma aula chata, cheia de números e tabelas. Ok, havia números e tabelas, mas o professor Adam conseguia deixar menos ruim. Ele usava exemplos simples e cotidianos ao explicar como a economia do país funcionava, assim ficava mais fácil de suportar. Por isso acabei nem notando o tempo passar, e foi só quando Piter fechou o livro e se levantou que percebi os outros alunos já saindo da sala.

Deixamos os materiais no armário e encontramos com Vaiola e Ximena na escada, então seguimos juntos ao refeitório.

Já fazia alguns dias desde que recebemos o resultado dos escolhidos para participar do show de talentos. Ainda não aceitei essa história e já sabia o que faria, iria até a diretora e diria que foi um engano, que meu nome não devia estar naquela lista. Seria minha segunda vez na sala de Analise em uma situação bem parecida.

O destino deve estar de brincadeira! Pensei ironicamente.

Então depois do almoço meus amigos foram até a sala de convivência enquanto eu seguia em direção a da diretora. Quando estava parada em frente à porta, pude ouvir as vozes baixas e reconsiderei a ideia de falar com Analise.

Já me virava para ir embora e quem sabe tentar novamente amanhã, quando ouvi a porta da sala abrir.

— Alicia? — Analise chamou.

— Desculpe, não quero interromper. — sorri constrangida.

— Não interrompe querida, — negou com a cabeça — Quer entrar? — convidou indicando a sala.

— Se tiver um minuto... — olhei esperançosa.

— Claro. — indicou novamente a sala e deu espaço para que passasse.

Entrei ainda timidamente e parei assim que vi Nicholas. O que ele estava fazendo ali? Se bem que já havia dito que tinha interesses aqui na Escola e não era a primeira vez que o via com Analise.

— Eu já vou indo. — Nicholas avisou pegando alguns papéis de cima da mesa e colocando-os em uma pasta — Bom vê-la novamente Alicia. — sorriu, agora me olhando.

— É, é sim! — concordei.

Nicholas fez um aceno de despedida com a cabeça e saiu da sala.

— Sente-se. — Analise pediu e indicou a cadeira em frente à mesa.

— Queria falar sobre o show de talentos. — expliquei e pigarrei baixo — Meu nome está na lista de escolhidos, mas não pode ser verdade.

— Não entendo querida. — franziu a testa, demonstrando confusão — Acha que não é capaz?

— Não é isso, — neguei rapidamente — Só não coloquei meu nome na urna.

— Então não se inscreveu? É isso? — questionou inclinando a cabeça enquanto me avaliava.

— Isso! — afirmei e suspirei baixo — Achei justo avisar sobre o mal-entendido.

Analise sorriu e assentiu. Em seguida levantou e deu a volta na mesa, sentando na cadeira vaga ao meu lado.

— Sabe, aprecio sua sinceridade, já mostrou essa qualidade anteriormente e agora se repete. — pegou uma de minhas mãos, apertando-a gentilmente — Com certeza seus pais devem ter orgulho de você.

Infelizmente nenhum deles está entre nós para sabermos. — suspirei baixo.

— Desculpe. — deu um pequeno sorriso — Quanto ao show... Você pode não ter colocado o nome na urna, mas alguém fez e não há regras sobre outra pessoa colocar sugestões de participantes. — explicou apertando minha mão gentilmente.

— Ok. — encarei nossas mãos.

— Tudo bem? — questionou fazendo com que a olhasse novamente.

— Tudo sim. — assenti e respirei fundo — Vou pensar sobre isso. Obrigada.

— Sempre que precisar. — sorriu, se levantando — Joana também está à disposição para tirar dúvidas sobre a competição.

Levantei da cadeira e andei em direção à porta.

— Alicia. — Analise chamou e virei encarando-a — Aproveite as oportunidades que estão surgindo. Pode ser um sinal. — deu de ombros.

Assenti e me despedi, saindo da sala. Segui pelo corredor pensando sobre o que a diretora falou. Se realmente estava tudo bem com a inscrição, devia participar, não é? Afinal tinha sido escolhida entre muitos.

— Posso lhe dar os parabéns? — ouvi alguém pedir.

Estava de volta ao hall da Escola e virei assustada, encontrando com Nicholas.

— Nicholas. — cumprimentei, sentindo o coração meio acelerado.

O que ele ainda estava fazendo ali? Será que me esperava?

Ata Alicia! Sonha! Pensei e revirei os olhos mentalmente.

— Soube do show de talentos, — comentou apontando o mural atrás de si, onde provavelmente viu meu nome — Parabéns!

— Ah, obrigada! — sorri timidamente — Mas ainda não sei se participarei, estou pensando sobre.

— Devia, — incentivou enquanto ia em direção à porta da Escola, indicando com a cabeça para que o seguisse e foi o que fiz — Às vezes é de um desafio que precisamos. — comentou me olhando de canto.

Já estávamos do lado de fora, nos degraus da frente. Uma rajada mais forte de vento soprou bagunçando meus cabelos e abracei meu corpo tentando aquecê-lo.

— Isso quer dizer que você é aventureiro? — brinquei.

Ouvi sua risada baixa e foi impossível não o admirar. Nicholas era um homem muito bonito.

— Nenhum pouco. — negou com a cabeça, sorrindo — Gosto de segurança.

— Ótimo! — desdenhei — "Faça o que digo, não faça o que eu faço". — revirei os olhos.

— Algo assim... — piscou com um olho só.

Ouvi algumas vozes mais altas e percebi que era um grupo de garotas perto da fonte. Elas riam e vez ou outra olhavam em nossa direção, obviamente tentando chamar a atenção de Nicholas.

— Vou indo. — avisou fazendo com que o encarasse novamente.

— Então... Até! — sorri levemente, me despedindo.

— Até! — estendeu a mão.

Já sabendo o que aconteceria coloquei a minha sob e esperei em expectativa enquanto Nicholas a levava aos lábios e beijava o dorso.

Acompanhei com os olhos ele se afastar, até não conseguir mais vê-lo, então cruzei o pátio e voltei ao internato, indo me juntar aos meus amigos na sala de convivência. Agora que sabia que não sofreria uma desclassificação já pensava nas palavras da diretora e no incentivo de Nicholas.

Um desafio não faria nada mal. Pode até ser bem legal! Pensei, dando um pequeno sorriso.

...

Hoje era dia de aula complementar de equitação. Tinha descoberto uma coisa que gostava: Andar a cavalo. As aulas com o professor Daniel eram melhores do que imaginei.

Confesso que no começo não era tão boa, afinal não estava familiarizada com o esporte. Porém, com o passar das aulas consegui ir me aperfeiçoando e acredito que ter me conectado com Penélope ajudou.

— Até outro dia garota. — sussurrei à égua, beijando seu focinho.

Sai do estábulo e andei em direção ao internato. Tinha marcado de ver Jordan depois da aula e provavelmente daqui a pouco ele estaria no banco em frente à fonte, onde combinamos de nos encontrar.

Subi ao quarto e segui ao banheiro para um banho demorado, tirando todo o cheiro de estábulo. Quando terminei, vesti o roupão e voltei ao quarto. Escolhi uma calça jeans estilo mom, cropped preto de alça fina e calcei o all star.

Não era um encontro oficial. Era só duas pessoas marcando de se verem depois de se conhecerem ocasionalmente em um pub. Tentei me convencer enquanto me maquiava, apenas rímel, blush e gloss.

Ajeitei o cabelo e quando fiquei pronta peguei o celular, saindo do quarto. Conferi o horário percebendo estar dois minutos atrasada, então andei mais rápido.

Assim que saí do internato vi Jordan sentado no banco. Ele sorriu e levantou assim que me aproximei.

— Finalmente. — comemorou.

Dei risada e neguei com a cabeça.

— Assim você faz com que me sinta a vilã. — comentei.

Jordan deu de ombros e sem que esperasse segurou minha mão, puxando para mais perto. Por um segundo meu coração falhou, mas voltou a bater rápido assim que ele beijou minha bochecha, cumprimentando.

Nós sentamos no banco, um de frente ao outro. Olhei para Jordan de forma avaliativa. Ele era um garoto bonito, devo admitir.

— Então, muito cansada? — questionou puxando algum assunto.

— Razoavelmente, — suspirei baixo — A rotina aqui na Escola é puxada, mais do que era em Cérnia. — ponderei.

— Mas você escolheu isso, não é? — franziu a testa.

Dei uma risada nervosa e cruzei as pernas, me ajeitando melhor no banco enquanto pensava se contava a Jordan a estranha história de como cheguei até a Escola Real.

Jordan me ouvia e fazia um comentário ou outro. Acabamos falando sobre nossas vidas e consequentemente sobre nós, nos conhecendo melhor. Jordan nasceu em Zifush, ele mora sozinho há dois anos, depois de conseguir um emprego como fotógrafo em estúdio e recentemente na Escola Real como ajudante. Isso fez com que questionasse sua idade e me surpreendi ao saber que tinha apenas vinte anos.

Estava distraída conversando com Jordan quando ouvi um pigarro. Virei no banco e encontrei com meus amigos, parados nos encarando.

— Você não apareceu para jantar, ficamos preocupados. — Ximena comentou.

— Nossa, esqueci completamente. — olhei a hora no celular, encontrando as várias mensagens de Vaiola.

— O papo estava muito bom. — Jordan afirmou.

— Sim. — concordei.

— Não vai apresentar os amigos? — Piter interveio.

Revirei os olhos, desdenhando.

— Jordan, estes são Piter, Ximena, Vaiola, Pablo, Luiza e Frederick. — apontei para cada um deles ao falar os nomes — Pessoal, este é Jordan. — indiquei-o.

— Oi Jordan! — Ximena sorriu maliciosamente.

— Oi! — Jordan cumprimentou fazendo um aceno geral, ao pequeno grupo — Piter já conheço da aula de fotografia... — comentou olhando-o diretamente.

— Sim! — Piter sorriu abertamente.

— Bom, nós vamos indo... — Vaiola chamou a atenção — Não é pessoal?

Todos assentiram e acenaram se despedindo.

— Ah, Alicia... — Frederick chamou quando já estavam a alguns passos de distância, fazendo com que o encarasse — Tudo certo para o nosso encontro de sexta!

Antes que tivesse oportunidade de dizer algo Fred já havia ido, junto com meus amigos. Mordi o lábio inferior e neguei com a cabeça.

— Então... — sussurrei e olhei novamente para Jordan.

— Já esperava ter algum tipo de rival. — brincou e deu de ombros.

— O que? Não! — dei uma risada nervosa — Frederick é só um colega.

— Você não precisa se explicar. — tranquilizou-me — Estamos nos conhecendo e não quero e nem vou pressionar nada.

— Obrigada! — sorri levemente — Estou gostando de conhecer você. — confessei.

Pude perceber que Jordan é um garoto bacana, não só um rosto bonito, mas tem conteúdo. Isso fez com que de certa forma ficasse mais atraente. Isso faz sentido? Para mim sim.

— Bom, está tarde... — comentou enquanto levantava do banco.

O imitei e quando estava de pé, na sua frente, Jordan segurou minha mão novamente.

— Nós nos falamos então. — sussurrei.

— Sim. — concordou.

Desta vez eu me aproximei de Jordan e beijei sua bochecha, um pouco mais demorado do que deveria. Me afastei e virei, andando de volta ao internato.

Meus pensamentos estavam confusos no momento. Parte de mim queria socar a cara de Frederick por causa da sua atitude recente, totalmente infantil. Outra parte ponderava sobre a vontade de o beijo recente de despedida não ter sido apenas na bochecha de Jordan.

Aí, aí Alicia. Olha lá onde vai se meter, ein. Pensei, negando com a cabeça.

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