Puro-sangue
Os bancos eram de couro branco, o que era bastante inconveniente já que Jack ainda sangrava devido ao golpe (possivelmente mordida) causado pelo o lobisomem mutante, logo, o sangue escorria por seu braço e manchava os bancos obviamente caros do suposto salvador do grupo. Gabriel fez uma anotação mental que não iria ser responsabilizado pela a conta que futuramente fosse pagar devido a aquela sujeira! Ainda mais, nem sabia se estavam seguros, podiam muito bem ter entrado em uma confusão ainda maior do que aquela que haviam escapado.
Jack choramingou enquanto Diego examinava o ferimento.
— Pare de ganir que nem um filhote. — Ralhou o jovem curandeiro — Eu nem estou te tocando direito!
— Me diz... Doutor. Se eu me comportar ganho um pirulito de presente? — Disse o agente lobo, apesar da dor que sentia ainda era capaz de flertar.
— Cuidado, eu posso te dar uma outra mordida e aposto que vai doer muito mais do que esse aí que tens no ombro! — Rosnou Di, mas sem parar de examinar e dar os primeiros socorros ao lobisomem pervertido. Gabriel sentiu um certo orgulho pelo modo profissional que o seu pupilo lidava com a situação.
— Hum, eu não tenho nada contra um sexo mais bruto...Mordidas e arranhões? Se forem dados por meu gatinho serão sempre bem vindas.
— Você só deve estar delirando!
— Não... Ele fala assim, normalmente. — Interpôs Akira com uma voz estranhamente calma levando-se a situação em que se encontravam — Só que me admira a sua insistência. Ele não costuma se concentrar em um único alvo, se é que me entende.
— Calúnia e difamação! — Protestou Jack.
— Pessoal... — Cassandra tentou falar, mas foi interrompida por Gabriel.
— Cas você não está machucada, não é? Como você conseguiu chegar aonde o lobisomem transformando estava antes de nós? — O curandeiro mais velho examinava as mãos da sua pupila, aflito, se algo ocorresse com Diego ou com ela nunca iria se perdoar, era para ser um professor e guia... Um guia acadêmico e não um guia para desastres.
— Eu estou bem. — Sorriu ela de forma meiga — E vocês tinham me pedido para investigar enquanto estavam... Er... Distraindo os seus parceiros românticos.
Gabriel corou, sentindo um olhar penetrante sendo lançado para si oriundo do agente oriental.
— Vocês nos distraíram com os seus corpos sexys. — Assentiu Jack — Eu acho que o plano funcionou, já que eu fiquei vidrado na bunda do Di...
Um soco foi desferido no ombro ferido do lobisomem arrancando um gemido choroso. Diego estava mais vermelho que um ketchup derramado.
— Sem pirulito para você! — Disse em um tom autoritário.
— Oh! Então, havia a possibilidade de eu ganhar o seu pirulito? — Arqueou as sobrancelhas de uma forma galante e lambeu os lábios, lascivamente.
— Gabriel, onde está a tesoura? Acho que vou cortar o pirulito de alguém...
— Eu estou confuso... Vocês estão falando de pirulito doce ou pirulito pinto? — Perguntou Akira franzindo o cenho.
— Vocês são sempre assim ou eu estou presenciando um momento especial? — O vampiro, que até o momento tinha ficado calado, finalmente se pronunciou.
— Eu iria perguntar a mesma coisa... — Aquela voz não pertencia a ninguém no grupo quebrou o momento feliz. Todos agora voltaram a sua atenção para o outro lado da limusine. Dentro do carro, o espaço era bastante grande e as luzes estavam parcialmente acendidas, de modo que um lado do ambiente estava obscurecido, pelo visto, o responsável pela a salvação deles estava ali o tempo todo, os observando.
Estranho...
— Quem é você? — Rosnou Akira, Gabriel rolou os olhos com aquela atitude.
"Perfeito! Temos que ser mal-educados com o nosso salvador? Vamos esquecer a gratidão!" Criticou em pensamento.
— Oh! Não precisa se preocupar quanto a educação e a gratidão. — Falou o misterioso-herói.
— V-você... Leu o meu pensamento? — O loiro mirou a penumbra, tentado discernir o aspecto do seu anfitrião. As luzes internas foram então acesas, subitamente.
— Isso é umas das habilidades inconvenientes que desenvolvi ao logo destes anos... Culpo também a minha genética. — Disse em um tom de reclamação um rapaz, não parecia ser mais velho que 15 anos. Vestia roupas finas, um terno branco e sapatos lustrados e pareciam ser extremamente caros. Bebia em um cálice um líquido vermelho. Seus olhos, de íris da mesma cor, exibiam um brilho tênue e hipnotizante, como uma cobra ludibriando a sua presa, atraindo para o golpe fatal.
— Oh! Não! — O vampiro "traficante" buscou, imediatamente, a porta do carro, nem se importando se este estava em movimento.
— Pare. — Mandou o adolescente estranho, o outro vampiro paralisou os seus movimentos de imediato. Mas era obvio que fora contra a sua vontade — Eu odeio fazer essas coisas, não me force a usar essas coisas, ok? — Disse isso massageando a testa com um indicador, um gesto de enfado.
— Você, também é um vampiro? — Cassandra sussurrou a sua pergunta.
— Oh! Minha criança. Infelizmente, sou. — Disse sorrindo e expondo seus caninos.
— Ele é um maldito sangue puro! Pertence a classe elitista, metida e fresca! — Disse o vampiro paralisado rangendo os dentes.
— Meu nome é Marco Antonangeli, e sim sou um sangue puro. E concordo com o nosso amável Alexander, sangues puros costumam ser, como hoje em dia diz? Um tremendo pé na jaca? Na bolsa? Na cova?— Sua expressão se tornou séria, como se estivesse se esforçando muito sobre o assunto.
— Pé no saco? — Ajudou Cassandra.
— Isso! Pé no saco! — Sorriu o vampiro.
— Espera aí... Quem é Alexander? — Questionou Diego.
— Esse sou eu! — Gritou o outro ser de dentes pontudos que estava agora como uma estátua — Eles fazem isso! Leem seu cérebro!
— Na verdade é pensamento, ler o cérebro seria algo desnecessário e nojento. — Marco bebeu o líquido do seu cálice tranquilamente.
— Bem... Prazer senhor Antonangeli... E obrigado por nos salvar, bem que...
Akira interrompeu o discurso nervoso de Gabriel para acrescentar a sua versão de "agradecimento".
— O que você quer? Como podemos confiar em você?
Agora era a vez do curandeiro mais velho rosnar para o seu namorado. Será que o agente não podia se controlar um pouco? Se aquele era um vampiro sangue puro isso significava ter poderes superiores a danos causados pela força dos músculos, garras e dentes. Vampiros daquele tipo eram raros, na verdade, praticamente extintos, fazendo parte do restrito ciclo da monarquia vampiresca. Em outras palavras, não deveriam deixar aquele adolescente irritado!
— O que estou fazendo é a minha obrigação como cidadão sobrenatural deste mundo. Não desejo a guerra, meus companheiros, e sim a paz. O que vocês presenciaram momentos atrás pode ser um estopim para uma grande catástrofe. Sinto-me responsável, pois minha raça está envolvida em toda essas terrível e lamentável trama.
— Sei... Esse discurso não prova nada se podemos confiar em você. — Akira não cedeu — Pelo que vimos até agora e você mesmo confirmou, a sua raça é responsável pela a criação destas terríveis pílulas, logo... Isso o torna um suspeito e não um aliado!
Marco colocou o seu cálice em um aparato próprio para o ele, ao seu lado, no banco. Logo em seguida começou a bater palmas.
— Bravo! Bravo! Um verdadeiro cavaleiro! Lutador da justiça!
O agente estava meio desconcertado com aquele gesto, sem saber se o garoto vamp estava brincando ou mesmo o saudando com tamanho entusiasmo.
— Sabe o quão é difícil encontrar indivíduos assim hoje em dia? Sérios e íntegros? Todos estão tão preocupados em ganhar mais poder e riquezas... No final, tudo desmorona. Pilhas de corpos são amontoados no campo de batalha... Cobiça, orgulho e egoísmo só levam a um único resultado: Destruição. Sei disso, pois já vi diversas guerras se iniciarem e se findarem. Sinceramente, não desejo ver algo assim ocorrer de novo. Por que não podemos viver em paz? Respeitar a liberdade do outro?
— Isso... Isso não parece ser um discurso de um sangue puro... — Pronunciou meio incerto o vampiro que se chamava Alexander.
— De fato, meus compatriotas não compartilham das minhas ideias, por isso, eles me "exilaram". — Disse isso fazendo o sinal de aspas com os dedos de uma forma elegante, deve-se frisar.
— Exilaram? — Cassandra estava extasiada com toda aquela história, como se tivesse vivenciando um livro de contos fantástico, ao vivo e a cores.
— Eles barraram minha entrada nos country clubes , não sou mais bem vindos em suas festas de gala, não tenho mais crédito nos cabelereiros e não recebo mais cartões personalizados das datas comemorativas... Esses tipos de coisa.
— Não parece ser um exilio muito ruim.
Marco deu os ombros.
— A nobreza se acostumou com coisas fúteis. Enfim, o exilio veio em boa hora, só assim pude me dedicar a minha investigação. Como vocês, fiquei muito interessando nos boatos da existência de uma droga que afetaria lobisomens... Ainda mais interessado quando vi que a criação desta mesma droga pode ter advindo de um vampiro.
— E quem seria? — Gabriel estava ansioso para saber a resposta e pelo o silêncio tenso que se instaurou no grupo, não era o único.
Marco soltou um grande suspiro.
— Infelizmente ainda não disponho da resposta. Aqueles vampiros que invadiram o clube? São mercenários... E tem uma política especial para proteger seus financiadores.
Akira soltou um palavrão em japonês.
— Eu ainda não confio em você, vampiro. — Insistiu o agente oriental — Mas, não posso negar que você nos ajudou a escapar...
— Quero ser um aliado e não um inimigo. — Ao falar isso sentiram o veículo parando. Os vidros escuros impediam que o exterior fosse visto de forma clara. Podiam discernir uma grande casa... Não... O certo seria uma mansão!
— Onde nós estamos? — Balbuciou Diego quando a porta da limusine fora aberta por uma formosa mulher de brilhantes olhos azuis, pelo visto, era a motorista.
— Minha casa de verão. Não notem a bagunça, sim? Estou recebendo um convidado e ele não é muito... Enfim... — Se desculpou Marco se apressando para sair.
— E você acha mesmo que iremos te seguir a sua casa sem saber se é uma armadilha? — Akira era mesmo insistente.
O vampiro sangue puro já iria responder quando...
— Oh! Pessoal! Vocês demoraram! Eu fiz pipoca amanteigada e já preparei a maratonas de filmes de terror para a noite! — Das escadarias da grande mansão um homem descia animado, vestindo um roupão rosa e pantufas de gatinho.
— Minha lua... — Murmurou Cassandra cobrindo o rosto envergonhado. Gabriel até que pode entender o motivo de seu embaraço.
— Er... Alfa Jean? O que está fazendo aqui? — Jean, tio de Trevis, irmão do falecido alfa Robert, líder da alcateia a qual Cassandra pertencia, conhecido por sua inteligência e liderança... E ele usava pantufas de gatinho.
— Ora, Gabi. — Piscou o alfa exibindo o seu famoso sorriso "arrasa corações" — Acha mesmo que vocês iriam brincar de detetive sem mim? Ainda mais, vocês tem que ver o home theater do Marco!
Gabriel soltou um suspiro cansado. As coisas poderiam começar a complicar um pouco...
~**~
Alexander viu o grupo se afastar rumo a mansão. Ele realmente queria acompanha-los mas um certo vampiro sangue puro parece ter esquecido que o tinha paralisado! Não iria gritar por ajuda! Não! Ainda tinha o seu orgulho!
— Er... Senhor Alexander. — A garota lobisomem não tinha ido? Por que ela ainda estava ali o olhando? O vampiro começou a suar, não que tivesse medo de garotas! Lógico que não! Era um grande pegador! As garotas se jogavam aos seus pés... Ok, talvez tivesse exagerando... Um pouco... Ok! Muito! Mas quem iria saber?
— O senhor Antonangeli disse que já tirou o comando mental que mantinha você paralisado... Na verdade, ele parecia não entender por que você ainda está parado...
"Ele o que?" o jovem vampiro começou a testar as suas mãos e logo notou que de fato podia se movimentar. Agora se sentia um total idiota.
— E-eu sabia que ele tinha tirado o comando! — Riu nervoso — Só estava enganando vocês, fazendo pensar que eu estava paralisado!
— Ok. — Disse a garota que ocultou o sorriso por trás de um livro.
Surfando em seu coração.
Havia um homem musculoso na capa, a prancha de surfe que segurava estava estrategicamente colocada na cintura...Dando a impressão que deveria estar nu!
"Que livro seria aquele?!".
— Senhor Alexander? — A lobisomem agora corava, podia ouvir o seu coração acelerando.
— Pode me chamar de Alex. — Disse, talvez se tivesse a mesma fisiologia da garota, sabia que agora deveria estar corando.
— Eu sou Cassandra. — Sussurrou tímida — E...Acho que devemos ir... — Apontou para a mansão evitando mirar diretamente o outro rapaz.
Alex assentiu e até forçou um sorriso, talvez ter escolhido ficar com aqueles estranhos lobisomens não fora uma má ideia, afinal.
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