Fim da missão



Mesmo com o estilo errático (ou habilidoso, segundo o ponto de vista de Gabriel) de dirigir, o grupo não conseguia se desvencilhar dos mercenários que persistiam em sua perseguição. O pior era que estavam já saindo das docas e logo adentrariam no trânsito conturbado da cidade. Era cedo, isso era verdade, o que significava que havia poucos trabalhadores humanos nas ruas, mas isso estava prestes a mudar! As horas passavam e logo o fluxo de veículos e pessoas iriam aumentar! Como iriam continuar fugindo sem causar consequências desastrosas para os civis? Os mercenários não iriam parar. Eles pouco ligavam para as consequências, afinal, sabiam sumir quando necessário e deixar o problema para outra pessoa resolver.

— O que iremos fazer? — Perguntou Diego, o lobisomem anarquista tentava se acostumar com o constante solavancos e acelerações do veículo, pelo menos estava lidando melhor com o movimento do que um jovem vampiro que apresentava um evidente aspecto enjoado em seu rosto.

"Só espero que ele não vomite em mim, de novo" Pensou, receoso.

— Poderíamos para e tentar fugir a pé? — Sugeriu Cassandra que já tinha desistido de delimitar uma rota de fuga para Gabriel, afinal, o curandeiro parecia confundir a direita com a esquerda (pelo menos, quando dirige) e o que torna muito cansativo recalcular a rota novamente.

— Esqueceu da velocidade vampiresca? — Lembrou o vampiro nauseado — Vocês lobisomens podem ser rápidos, mas não tão rápidos.

— Lupin está certo. — Ponderou Akira — Estaremos em clara desvantagem em terra. Ainda mais, levando-se em consideração que a maioria dos lobisomens aqui não possuem nenhum treinamento tático e...AH! Cuidado!

Gabriel girou o volante, fazendo o carro virar e derrapar, quase batendo em um grupo de humanos que descarregavam caixas de madeira de um caminhão. Uma das motos dos mercenários não conseguiu acompanhar a manobra de Gabi e acabou por colidir frontalmente no caminhão. O barulho de colisão, gritos e em seguida o barulho de uma explosão deixou todos apreensivos.

— Merda... — Resmungou Alexander — E se alguém se machucou? Ou pior...Morreu?

— Não podemos continuar com essa perseguição! Não aqui! — Disse Gabriel aflito.

— Estamos no centro portuário da cidade, é um local movimentado. A tendência é que as coisas só piorem... — Pensou em voz alta Akira.

Um silêncio apreensivo se instaurou no carro, pelo visto, ninguém tinha ideia de como se livrar daquela situação. Gabriel cerrou seus punhos sobre o volante, se sentia parcialmente culpado pela a situação em que se encontravam. Era duro admitir, mas talvez (só talvez), não fosse um bom motorista...

Chegamos! — Uma voz grave propagou em seu auricular, o assustando e tal forma que subiu no meio-fio.

— Gabriel! — Gritou o agente oriental, tentando, junto com o lobisomem, levar o carro para a estrada sem ferir os assustados humanos na calçada.

— Vocês ouviram? Digo...Parecia que ouvi a voz de Adriano bem no meu ouvido!

— Acho que ouvi também... — Concordou Diego levando a mão a orelha como não tivesse acreditando que o seu irmão mais velho realmente tivesse falado por aquele dispositivo.

— Bem, o Alfa Jean disse que teríamos reforços. — Disse Cassandra esperançosa.

— E eu que pensei que ele estivesse falando no sentido figurado... — Resmungou Gabriel, mas logo obteve a sua resposta quando um O carro SUV (Suburban Vehicle) da marca Chevrolet surgiu. O veículo de coloração escura, saiu de uma rua transversal e se postou, com estranha leveza entre o carro do curandeiro e seus perseguidores.

— Pela santa Lua...Estou frito! — Gemeu meio desesperado e meio aliviado, sim, estava vivendo um paradoxo...Ali estava Adriano, o Beta de sua Alcateia além do melhor motorista que conhecia e ao seu lado estava o seu Alfa, Trevis. Ambos não pareciam nada felizes em ver Gabriel.

Você dirigindo? — Questionou Adriano no auricular, o lobisomem mais parecia gritar do que falar — Você perdeu a sua carteira! Nem devia estar atrás de um volante e... Meu irmãozinho está aí dentro? Gabriel...Se ele tiver um arranhão sequer, eu juro que...

Pode ameaça-lo o quando quiser, Adriano. — Agora era a vez de Trevis entrar na "festa" — Mas eu quero ter a prioridade em relação ao nosso querido curandeiro. Ele tem muitas coisas para explicar... Depois, você pode fazer o que quiser com o que sobrar do Gabi.

Gabriel fez a coisa mais sensata para aquele momento, retirou o auricular de sua orelha e jogou fora pela a janela.

— Pelo visto, estamos salvos! — Disse todo sorridente, Akira resolveu ignorar a atitude meio louca do seu lobo. Além disso, estava relutante em concordar com ele...Estavam mesmo salvos? Aquele Adriano poderia mesmo ajuda-los?

~**~

— Não acredito! Ele jogou o comunicador fora? É isso mesmo? — Adriano estava praticamente uivando, Scott já tinha visto o Beta irritado, mas não ao ponto de quase se transformar em sua forma lupina. Pelo visto, Gabriel tinha a tendência de despertar a fera nas pessoas.

— Não se preocupe. — Garantiu Trevis com um sorriso nada gentil estampado em seus lábios — Ele não poderá escapar...

— Melhor se preocuparem mais com esses vampiros que estão nos perseguindo do que com o meu irmão! — Alertou Angel.

— Eu sempre imaginei vampiros usando capas, cabelo com gel e sotaque romeno... — Comentou Scott que observava pela a janela de trás do veículo a aproximação dos mercenários — Lógico que também tenho uma versão mais moderna dos vampiros com um jeito sexy e também com a pele brilhosa...Pela lua! Eles estão armados!

— Merda! Se abaixem! — Comandou Trevis ao ver que de fato, os mercenários tinham empunhado suas armas e miravam no carro.

— Podem ficar tranquilos, não há perigo de... — Começou a dizer, em um tom tranquilo, Adriano, mas foi interrompido pelo o som de tiros. Trevis esperava o pior, vidros se estilhaçando, pneus estourando e gritos de dor...Mas nada disso ocorreu. As balas não tinham penetrado.

— O que aconteceu? Existe uma barreira magica protegendo o carro? Isso seria tão maneiro! — Questionou Cezar, irmão mais novo do alfa.

— Não é magia. — Concluiu Angel — Esse carro está blindado!

— Isso mesmo. — Assentiu o lobo Beta com um semblante orgulhoso.

— Quando...

— Eu trabalho em uma oficina mecância humana, Trevis. Em meu tempo livre resolvi fazer algumas melhorias no nosso carro. Digo, já estou cansado de ter que trocar de veículos! Quero que, pelo menos, possamos manter carro por mais de um ano, sem que ele sofra algum acidente!

— Bem...Isso foi muito esperto de sua parte. — Admitiu o Alfa satisfeito — Você falou melhorias, usando o plural. Fora a blindagem, existe algo mais?

Adriano sorriu, era o tipo de sorriso que muito parecia uma criança prestes a exibir seu brinquedo favorito. Ele apertou um botão no painel donde se encontrava o rádio, ao invés de ouvirem música observaram que um novo painel surgiu abaixo do primeiro, contendo ainda mais botões.

— Ai meu deus...Estamos no carro do Batman! — Scott sussurrou, com admiração.

— O que isso tudo faz? — Quis saber Trevis com os olhos arregalados. Adriano devia ter muito tempo livre para adicionar tantas coisas!

— Cada uma tem uma função especial, por exemplo...

— O que esse botão faz? — Cezar refez a mesma pergunta do seu irmão mais velho, mas ao invés de esperar uma resposta já foi apertando o referido botão.

— CEZAR! — Todos gritaram, ainda mais quando ouviram algo ser liberado da parte inferior do carro. Scott, rapidamente, olhou para trás. Bolinhas coloridas foram lançadas na estrada. Será que o intuito era fazer os perseguidores escorregarem? A resposta para a questão foi logo sanada ao observarem que as referidas bolas se transformarem em verdadeiros ouriços. Cada uma das bolinhas, de suas superfícies lisas, emergiu o que pareciam espinhos afiados. A consequência foi imediata, os motoqueiros mercenários perderam o controle de suas motos que caíram sobre a estrada repleta de bolas espetadas.

— Ouch...Isso deve ter doido! — Comentou Cez entretido com a cena.

— Idiota! — Rosnou Adriano para o pequeno lobisomem.

— O que? Nos resolvemos o problema, não é? — Se defendeu, prontamente.

— Você acha mesmo? — Angel aponto para trás, mais precisamente para vários carros que agora também perdiam o controle, batiam de encontro a outros veículos, havia aqueles que subiam no meio fio para tentar evitar as bolinhas fatais. Pedestres também foram afetados com a confusão. Em resumo, a rua virou um verdadeiro caos. Ao fundo, se podia ouvir a sirene da polícia se aproximando.

— Ops... — Riu nervoso Cezar.

Trevis apenas rolou os olhos.

— Acelere, Adriano. Vamos sair daqui. — Ordenou o alfa.

— Mas...A polícia...Deveríamos dar o nosso depoimento.

— Adriano, acho que será meio difícil de explicar que estávamos sendo perseguidos por vampiros mercenários e que seu carro agora parece modelo saído do filme do 007! — Argumentou Angel.

— A polícia humana não irá entender e não temos tempo de sermos "bons cidadãos"! Temos que fugir! Ao menos que você queria aceitar as várias infrações de trânsito que deve ter cometido durante toda essa perseguição. Isso sem contar as infrações de Gabriel. — Trevis já estava perdendo a paciência, Adriano com o seu jeitão de devo seguir sempre as regras.

— Acho que... A polícia seria bem capaz de apreender o seu veículo por tempo indeterminado. — Completou Scott.

— Isso não! Não posso perder o Jason! Não depois de ter investido em tantas modificações! — Isso parece ter motivado Adriano o suficiente para acelerar o carro.

— E se estiverem ouvindo... — Avisou Trevis para o seu celular — Sugiro que também acelerem.

A perseguição, por fim, tinha terminado.

~**~

— ...Polícia ainda tenta rastrear os vândalos que causaram uma verdadeira confusão no centro da cidade. Pelas informações das testemunhas, os suspeitos tinham já feito a sua parcela de desastres na zona portuária. No momento, o departamento de polícia está tentando coletar os vídeos das câmeras de segurança para assim identificar, por fim, esses terroristas!

A Tv de plasma exibindo uma jovem jornalista, ao fundo se podia ver que bombeiros tentavam coletar as bolas-ouriços da estrada, enquanto outros tentavam apagar os incêndios provocado pelas colisões dos veículos.

O som da Tv era a única a se fazer ouvir na ampla sala da casa de praia de Marco. O vampiro bebericava a sua taça de vinho (ou talvez sangue?) enquanto observava seus novos convidados. Todos tão quietos e com olhares tão diversos. Irritação, apreensão, vergonha, medo...Muitas emoções, de fato.

— Eles não conseguir nada! — Anunciou Jean apontando para Tv, o único que parecia relaxado com toda a tensão no ambiente — Falo das câmeras de segurança, corrompi todas as imagens. Não vão conseguir informações como placa do carro nem nada!

— Isso não muda o fato que causamos uma grande confusão. Somos culpados de todo esse desastre! Pessoas se machucaram! — Disse Adriano com evidente ressentimento em suas palavras.

— Os verdadeiros culpados são aqueles vampiros e sua insistência em nos perseguir. — Enfatizou Gabriel — Afinal, se eles nos deixassem ir, nada disso teria ocorrido.

— E eles fariam isso logo depois de vocês roubarem os seus dados? — Inqueriu Lupin incrédulo — Obvio que não. A fama dos mercenários é a garantia de proteger as informações em relação aos seus clientes! Eu não duvido que eles ainda irão nos perseguir em busca de vingança...

— Perfeito, acabamos de adicionar mais um problema em nossa lista de problemas. — Resmungou Diego.

— Ora, ora... Devemos ver o lado positivo. — Disse Jean sorridente.

— Que lado positivo? — Rosnou o outro alfa — Pelo que vejo estamos afundados até o pescoço em algo por demais perigoso! O que presenciamos hoje só prova que não estamos preparados para lidar com...Seja lá o que estamos lidando! Aliás, nem devíamos ter entrado nessa confusão, para começo de conversa.

Trevis terminou a sua fala fixando o seu olhar em Gabriel que se remexia, desconfortável em seu assento.

— Querendo ou não, meu caro, você e sua alcateia já estão entrelaçadas pelo o fio vermelho do destino. — Comentou Marco, o vampiro de aparência juvenil pegou o controle da Tv e a desligou, fazendo que um silêncio pesado se alastrasse pela frasca sala.

— O que quer dizer com isso, vampiro? — Trevis questionou, não ligando em ser mal-educado com o seu anfitrião, estava muito irritado para ser diplomático.

— O que quero dizer, nobre Alfa, é que antes que seu curandeiro persistisse em sua investigação, sua alcateia, como muitas outras foi utilizada como cobaia em um experimento de campo.

— Cobaia? — Adriano questionou.

— Aqueles lobos que consumiram as pílulas com a nova droga baseada em sangue de lobisomem, eles não atacaram sua alcateia por puro acaso.

— De fato, não foram! Estávamos acolhendo um fugitivo na época: Eric. Eles o estavam caçando. — Lembrou Trevis.

— Tolo. — Sorriu Marco exibindo seus caninos avantajados — Tudo foi orquestrado para que esse tal Eric fosse acolhido por vocês...Ou por qualquer alcateia que tivesse o coração bom o suficiente para salvar um companheiro lobisomem em apuros. Não foi coincidência. Eles estavam observando todo o processo. O objetivo? Colher dados para a melhora da droga, apenas isso.

— Mentira...Digo...Isso é impossível.

— Trevis, infelizmente, isso é verdade. Na mesma época que sua alcateia foi atacada, outras também foram. — Acrescentou Jean agora assumindo uma expressão mais séria.

— Você não nos informou isso antes. — Gabriel fitou o outro alfa com desconfiança.

— Na verdade, só tenho boatos e nada concreto. Talvez o conselho tenha dados mais verossímeis.

Akira franziu o cenho.

— Alcateias somem. Já discutimos isso anteriormente. O conselho não dispõe de um sistema organizado de documentação. Se tiver algum relatório ou solicitação de ajuda na época em que a alcateia de Gabriel foi atacada, não saberei dizer. Sou um agente de campo, não cuido da papelada e nem da burocracia ligada a ela.

— Mas é verdade...Tipo muitos agentes foram enviados para trabalhos de campo naquela época. — Recordou Jack — Tipo, por isso você foi para lá sozinho, lembra? Estávamos com pouco pessoal!

Akira assentiu com lentidão, será que havia uma correlação entre tudo aquilo?

— Se sabia de tudo isso, Alfa Jean, por que não informou o Conselho? Ou melhor...Por que não me informou? — Trevis rangia os dentes — Minha alcateia foi atacada para servir de ratinho de laboratório para algum vampiro louco, é isso?

Jean levantou as mãos em sinal de rendição.

— Calminha, meu querido sobrinho. Se omiti informações, foi por um bom motivo. Não tinha provas e só tinha suposições. Agora...Com as informações que Cassandra trouxe dos mercenários...Pudemos unir os pontos entre os fatos.

Marco se inclinou para frente, encarando sua plateia, fazendo com que os mesmos sentissem calafrio em percorrer as suas espinhas devido a ferocidade daquele olhar.

— De fato, você acertou, nobre alfa...Foi um vampiro louco que atacou a sua Alcateia. — Rosnou Antonangeli, fazendo com que a taça que segurava em suas mãos explodisse em mil cacos de cristal — Estamos falando de Alois Drăculești, descendente de Vlad III, também conhecido como Vlad Drácula e Vlad, o Empalador. Estamos falando de um dos príncipes do império vampiresco.

— Uau... — Falou Jack depois de mais um silêncio tenso ter se instaurado — Isso significa que estamos ferrados?

Sim, eles deveriam estar...

~~**Palavras da autora**~~

Desculpe o atraso pessoal!!

Mais aí está o novo capítulo! Falta três capítulos, mais ou menos, para o final deste livro!! (só avisando!).

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