— E então?

Angel estava sentado no telhado que no momento estava coberto por folhas verdes, pétalas e flores. Sujeira da primavera. Para completar havia o recorrente zumbido de alguma abelha para irritar ainda mais o adolescente que tentava buscar um pouco de paz e privacidade na sempre lotada e movimentada residência da alcateia.

— Às vezes, fico em dúvida quem é o irmão mais velho entre vocês dois! — reclamou Diego, mesmo estando quilômetros de distância, o tom irritado do jovem curandeiro era bastante evidente no celular o que só gerou um sorriso divertido nos lábios de Angel.

— Você já sabe a resposta, biologicamente ele é o mais velho, mas em relação a maturidade...

— Eu não sou babá dele, sabe? — frisou Di.

—Pare de reclamar! Como se você pudesse evitar de tomar conta dele... — Ouch! Aquele foi um soco direto. Angel sabia muito bem o quão Diego, apesar da personalidade e atitudes excêntricas de Gabriel, respeitava e amava o seu professor... Assim como Angel. Os dois rapazes compartilhavam aquele vínculo em comum: serem os guardiões do curandeiro de 30 anos (tecnicamente considerado adulto), na verdade, fora isso o gatilho inicial para o desenvolvimento da amizade daqueles jovens lobisomens.

— Cala a boca! — resmungou o gótico — Aliás, ele está dando muito trabalho aqui!

— Eu já imaginava. — suspirou Angel levando a mão ao seu cabelo loiro com mechas vermelhas, retirando a franja do rosto e observando melhor o horizonte primaveril da floresta — Afinal, estamos falando de Gabriel Galistro.

Sim, Gabi sempre dava trabalho nessas viagens, metendo seus pupilos em locais ou situações pouco convencionais (clubes de striper, sex-shops, bares gays, entre outras coisas...), tudo isso justificável como pesquisa de campo para um de seus livros.

— Ok, mas agora é meio diferente...

— Diferente como?

— Tem um cara.

— Cara?

Agora Angel ficou atento, seu coração acelerou... Havia poucos caras que realmente causassem confusão na vida de seu irmão. Gabi sempre fora paquerador, mas a verdade era que nunca tivera uma relação séria, o curandeiro se assegurava de manter uma distância segura do amor... Embora, sempre se metesse nos romances dos outros (sem contar as pilhas de livros que ele escreveu sobre essa temática).

— É... Ele é um agente do conselho e...

— Akira! — rosnou Angel antes mesmo que Di terminasse a fala.

— Hã? Você o conhece? Bem... Já tinha presumido que o Gabi o tivesse conhecido antes, pelo modo como agiu quando esbarramos no agente oriental e no seu parceiro cérebro de pinto.

— Cérebro de pinto? Parceiro? — agora Angel estava confuso, mas resolveu não se concentrar muito nesse assunto, em particular — Akira foi o agente que nos socorreu durante o ataque...Na época ele não estava acompanhado por um parceiro.

— Sorte sua, então!

— Ele e meu irmão, acho que tiveram um rolo se é que me entende...

— Acho que entendo muito bem! Angel, eles têm mais que um rolo! Estão mais enrolados que uma múmia em suas próprias faixas na porcaria de uma pirâmide! Entende? Você não imagina as coisas que presencie na presença deles dois!

— Fala isso por que ainda é virgem. — provocou Angel.

— I-i-isso não tem nada a ver com isso! Droga! Estou falando sério! O agente fez sexo oral em uma salsicha! UMA SALSICHA!

— Isso é estranho. — admitiu.

— E na frente de todos.

— Eu sabia que esse agente era esquisito...

— E Gabi teve uma ereção com isso!

Dessa vez Angel ficou incapaz de dar um comentário pertinente ao assunto. Deixou a mão descer do seu cabelo ao seu rosto, escondendo um pouco o rubor que já se alastrava por sua pele alva.

"Gabriel! Se controle, pelo amor da lua e de todos os astros!" lançou o pensamento, esperando que este atingisse seu irmão no litoral e o fizesse retornar a razão!

— Mas... Ele está feliz? — inqueriu, depois de alguns segundos para se recompor.

— É. Acho que sim... Ele parece estar em melhor situação que a minha, pelo menos.

— Como assim?

—... Nada.

— Você hesitou em responder. Obvio que está escondendo algo! — Angel agora estava preocupado com seu amigo — Um dos agentes te ameaçou ou algo do tipo? O Akira é um tremendo de um chato...Me tratou como criança e ousou usar meu nome de batismo como se fosse todo íntimo e tal... — rosnou com a lembrança — Posso até entender se você deu algum soco na cara arrogante daquele japa-lobo!

— Não foi bem o Akira o problema.

— O agente cérebro de pinto, então?

— Oh! Te encontrei! — Uma voz estridente quase fez com que Angel soltasse o celular devido o susto, se virou só para ver Cezar subindo, debilmente, no telhado, quase escorregando em alguns folhas — O que você está fazendo? Te procurei por toda a parte! Era como se tivesse se escondendo e...Oh! Você estava se escondendo! Estavam mesmo, não é? É algo secreto? Eu sei guardar muito bem segredos! Me deixa participar! Seria como ser um espião... Adoro filmes de espião... Na verdade, eu gosto muito de filmes de espião, fantasia, animação e um pouquinho dos filmes de terror. Não que eu tenha medo, claro! Sou um lobisomem quase caçador! Medo é para filhotes chorões e... Espera...Do que estávamos falando mesmo?

Não pode conter um sorriso formando em seus lábios, pelo visto não necessitava se explicar, seu namorado era capaz de chegar a suas próprias conclusões através do seu falatório eterno. Angel ouviu um suspiro advindo do seu celular.

— O tagarela alegre chegou. — resmungou Di, mas havia certa afeição naquela reclamação.

— AH! Didi! — antes que Angel pudesse fazer algo, seu afoito namorado engatinhou rapidamente e roubou o aparelho eletrônico, lobos tem uma boa audição, afinal de contas, por isso ter uma conversa privada era algo tão difícil de conseguir com tantos ouvidos curiosos — Oi, Didi! Como vai? E a praia? Você devia usar a sunga que comprei para você ano passado! Aquela negra cheia de caveirinhas! Eu escolhi junto com o Angel! Ele disse que era a sua cara!

— Já imaginava que devia ter uma mente maligna por trás daquele presente...

— Hã? Você não gostou? — Cez fez biquinho.

— L-lógico que gostei! — Angel riu, Di não conseguia ser duro com o Cezar — Só que não sou muito de ir à praia, entende?

— Ah! Entendo! Você é rebelde! — disse isso como se a palavra "rebelde" fosse algo místico dotada de poderes ocultos.

"Como se isso tivesse algo a ver com o fato de ser rebelde!" pensou Angel dando um tapa na própria testa.

— Er... Isso... — confirmou Di, parecia conter para não rir.

— Que algazarra é esse aí em cima? — Mais um convidado para o telhado, desta vez era Adriano, um dos betas da alcateia. — Se vieram aqui para limpar, espero que façam ao invés de ficarem brincando com o... Vocês estão falando com quem?

— Não diga... — sussurrou Diego para Cez, mais era tarde demais.

— O Didi! — anunciou o adolescente de cabelos prateados.

— Didi? Hã? Diego? Por que ele liga para vocês e não para o seu irmão mais velho!?

Angel rolou os olhos, parece que deveria dar adeus aos créditos de seu celular.

— Me dê aqui! — mandou o beta e Cez prontamente deu o aparelho para o homem — Di? Você está comendo bem? Mamãe está preocupada se você tem cuecas o suficiente para a viagem? E protetor solar? Está usando? Você nunca sai no sol... Deve tomar cuidado! Você não esqueceu sua escova de dentes e pasta, não é?

— Adriano, se não notou, não sou mais um filhote! — Cez e Angel puderam ouvir a explosão do amigo no telefone, mas Adriano parecia alheio aquilo.

— Responda as perguntas, senão eu irei aí para me certificar que estejas bem. O trato era ligar para a mamãe toda a noite, sabe o quanto ela está preocupada? Só espero que que o Gabriel não esteja te apresentando para pessoas estranhas...

Silêncio.

"Oh... Aquilo não é bom..." imaginou Angel, pois pode notar as mudanças nas feições de Adriano conforme os segundos passavam. Ele transitou de "irmão preocupado e super-protetor" para "irmão pronto para matar qualquer que tocasse em seu irmãozinho".

— Eu estou bem! Está tudo bem aqui! Não me encontrei com ninguém estranho! Juro! Mande um abraço para meus sobrinhos e a Marcely! Tchau! — Di falou tudo aquilo sem ao menos parar para respirar.

Adriano mirou o celular como esperasse que o irmão lhe desse mais uma explicação.

— Olha... Eu acho... — começou a falar Angel tentando amenizar a situação e talvez, salvar o amigo...

— Quanto será que gastarei de gasolina daqui até o litoral? — matutou o beta para si mesmo.

"Di... Você está lascado!" concluiu em pensamento.

— Eba! Viagem para a praia! — comemorou Cezar.

**~~Palavras da autora~~**

O prometido Extra!

Espero que tenham gostado! Retorno de Cez e Angel!

E agora... Adriano!

Problemas a vista!