E o carro seguia pela rua, ziguezagueando pela mesma. Alguns poderiam pensar que fosse uma estratégia do motorista, já que seus perseguidores estavam, claramente, confusos com tudo aquilo. A rota seguida pelo veículo era por demais imprevisível. Mas a verdade era que...

— Você disse que era para virar à esquerda e eu estou virando a esquerda! — Reclamava Gabriel puxando fortemente o volante para si.

— Essa é a direita! — Rosnou Akira puxando o volante para o outro lado.

— Não é não! Bonitão! Depende do referencial! Você nunca estudou física? Tudo depende do referencial! — Argumentou o curandeiro.

— Não existem referencial nisso! Direita é direita e esquerda é esquerda!

— Solte o meu volante!

— Só irei fazer isso quando você seguir a rota correta!

— Er... Pessoal...A rota está sendo recalculada...De novo. Se continuarmos assim, nunca saberemos a rota correta! — Avisou Cassandra com muito receio, afinal, não queria se meter no meio do conflito Akira vs Gabriel.

— Será que dá para parar de brigar? Ou esqueceram que estamos no meio de uma perseguição! — Ralhou Diego, falando com certa dificuldade já que o banco traseiro estava bem lotado.

— Esse ziguezague todo... Está me deixando... — O vampiro de nome Lupin levou a mão a boca, tentando conter o resto do seu almoço em sua barriga. Já bastava ter vomitado uma vez.

— Nossa...E eu que pensava que nunca iria viver uma cena de um filme de ação! — O outro vampiro metido a Rambo dizia, seus olhos brilhavam de excitação.

— Jack! — Disse Di, mirando com certa dificuldade o outro lobisomem, a posição em que se encontrava era por demais constrangedora, estava praticamente sentado no colo do referido agente do conselho. Bem que, para compensar, Jack também estava meio que sentado no colo do vampiro bombado.

— Sim, gatinho? — Inqueriu Jack, tendo a audácia de entrelaçar seus braços na cintura de Diego, que, impossibilitado pela a posição de seu corpo, cujos os movimentos eram limitados pela presença de Alexander e Cassandra ao seu lado, impedia de arranhar e desvencilhar aqueles braços de si. Desta vez, deixaria passar aquela afronta, mas...Quando estivesse livre...Jack iria sofrer!

— Faça alguma coisa! Você deveria ter alguma autoridade, sendo um agente ou algo do tipo!

Jack mirou de soslaio a dupla que brigava pela a direção do veículo.

— Er...Akira! Meu velho! Será que posso dar uma sugestão sobre...

— Calado! — Akira rosnou o lobisomem oriental — Eu tenho a situação sobre controle!

— Sobre controle, é? — Gabriel disse com ironia — Quem está dirigindo esse carro sou eu! Eu que estou no controle, queridinho!

— Saia do banco do motorista, eu que vou dirigir! — Exigiu Kurokami.

— Como é? Se não percebeu, estamos em movimento! Quer nos matar?

— Eu te pergunto a mesma coisa! Já viu como está dirigindo?!

Jack deu os ombros.

— Eu tentei. — Disse simplesmente. Diego queria poder dar um soco na cabeça oca de Akira e Gabriel.

— Pessoal... — Uma voz soou nos comunicadores do grupo — Desculpe interromper a briguinha de casal, mas eu posso dar uma solução para o problema. Irei dizer que rota vocês irão seguir e pelo visto vocês terão reforços.

Isso sim chamou atenção de Akira que parou de brigar pelo volante.

— Reforços? Você irá vir nos ajudar?

Todos escutaram uma risada sendo propagada em seus ouvidos.

— Eu? Não! Minha área é mais gestão do que trabalho braçal, entende?

— Então?

— Acabei de notar que outros lobisomens chegaram a cidade. Eles poderiam ajudar.

— Outros lobisomens? — Agora foi a vez de Gabriel perguntar — Como eles poderiam nos ajudar? E por que fariam isso?

— Bem, digamos que eles são nossos amigos... E possuem um motorista muito mais habilidoso para guia-los para fora dessa louca perseguição.

~**~

— Será que poderia ir mais rápido? — O rapaz de cabelos platinados inqueriu com clara impaciência.

— Estou dirigindo no limite de velocidade permitidos para o ambiente urbano. — Respondeu o homem de cabelos negros longos, amarrados de forma desleixada. Ele possuía uma cicatriz, um corte que descia do meio da sua testa, passando por sua sobrancelha e se findando logo acima de sua bochecha. Era algo que realmente chamava atenção e lhe conferia um aspecto de alguém perigoso, talvez, até mesmo selvagem e imprudente. Poucos saberiam que na verdade, se tratava de um verdadeiro amante das regras e do que era correto.

— Quando estávamos na autoestrada, você estava dirigindo acima de 100 km! — Frisou o outro rapaz.

— Estava dentro do limite estipulado pela a lei. — Argumentou, com paciência.

— Se acalme, Trevis. — Disse um jovem de sorriso cordial — Afinal, nós já chegamos na cidade, não é? Logo iremos encontrar o Gabriel.

— Assim espero. — Resmungou Trevis, cruzando os braços diante do peito — Aquele idiota não está no hotel que o conselho hospedou os curandeiros! Liguei para lá e nada... Onde, pela lua, ele está?

— Não devemos esquecer da Cassandra e do meu irmãozinho! — Rosnou o lobisomem motorista, cerrando os punhos sobre o volante — Se algo acontecer com o Diego...

— Nada deve ter acontecido com o Di, Adriano. — Tentou tranquilizar o jovem.

O carro passou por uma lombada, gerando um forte solavanco no veículo, pois Adriano não havia diminuindo a velocidade a tempo. Estava tão concentrando nas formas que poderia fazer Gabriel sofrer caso seu irmão caçula estivesse machucado que esquecera de diminuir a marcha.

— Ai! — Alguém emitiu um grito abafado.

— Desculpe, Scott! — Se lamentou, Adriano.

Trevis havia franzido o cenho, observou pelo retrovisor o seu namorado no banco de trás.

— Não foi você que disse "Ai"... — Comentou.

— N-não! Lógico que foi eu! — Respondeu o rapaz, evitando os olhos penetrantes do Alfa Trevis — Quem mais poderia ser? Só estamos nós três no carro! Ninguém está escondido ou algo do tipo!

Isso só fez com que Trevis franzisse ainda mais a sua testa.

— Sabe o que acho estranho... — Coçou o queixo enquanto falava. Adriano notou que o seu Alfa apontava, discretamente, com o dedo para o acostamento, indicando que deveriam estacionar.

— Você sempre acha muitas coisas estranhas, um péssimo hábito seu. — Comentou Scott dando uma risada nervosa.

Trevis continuou falando, ignorando o que o outro tinha dito.

— ... O fato de que Angel não ter feito nenhuma objeção a minha ordem de que ele ficasse com o resto da nossa Alcateia. Em casa. Levando em consideração que estamos aqui por causa do irmão mais velho dele. Lógico que dei essa ordem, levando-se em consideração a segurança de nossa Alcateia e o fato dele ainda ser menor de idade, tendo que ir a escola e coisas do tipo. Nós três poderíamos cuidar de qualquer confusão que Gabi tenha se metido...

— Angel é um garoto muito maduro para a sua idade. — Defendeu Scott — Ele compreendeu a sua ordem, ainda mais, você é o Alfa.

— Aham. Todos me respeitam por eu ser o Alfa. — Disse Trevis com evidente sarcasmo em sua fala.

— O que v-você está fazendo? — Scott estava preste a entrar em pânico ao ver o carro começar a parar no acostamento — P-pensei que estivesse com pressa para encontrar Gabriel e os outros...

Trevis não o respondeu, ao invés disso, saiu do carro indo para o porta-malas do veículo. Adriano o seguiu. Os dois trocaram olhares e de forma sincronizada abriram a mala.

E não foi tão surpreendente encontrar não um, mas dois garotos ali escondidos.

— E te disse que essa mala cabia muita coisa. — Comentou Adriano orgulhoso.

— Bem que estranhei a falta desses dois durante a nossa partida. — Trevis disse lançando olhares irritados para os adolescentes. Um deles apresentava cabelos platinados tal como o Alfa, enquanto o outro exibia uma cabeleira loira com mechas pintadas de vermelho.

— Quais são as chances de você acreditar que caímos aqui por acidente? Tipo, isso pode ocorrer, sabe? Poderíamos estar limpando o carro e Bum! O porta malas se fecha conosco dentro! Ou melhor, já assistiram ao filme Cristine? Pois é, carros podem ter consciência própria! Ele poderia, desta forma, ter nos sequestrando! — Inqueriu o mais novo da dupla.

— Zero! As chances são zero! — Respondeu o Alfa — Esse tipo de coisas eu esperava do Cezar, mas pensei que você fosse mais maduro, Ângelo.

O outro adolescente deu os ombros, ainda sem encarar o seu Alfa.

— Eu também tenho direito, tal como Adriano, de vir. Também estou preocupado com o meu irmão. — Respondeu.

— Não fique zangando com o Angie! — Interpôs Cezar — Você que estava errado, Trevis! Lógico que Angie tinha que vir! E se Gabriel tiver ferido? Preso? Ou sei lá...Foi abduzido por Ets! Angie tem que estar presente para ajudar...Tipo...Se fosse no meu caso, se você, Trevis, estivesse em apuros...Eu também iria vir ajudar! Pois é isso que irmãos fazem!

Trevis levou a mão a testa, não devia ceder àqueles argumentos. Era um Alfa. Tinha que ser mais duro com seus subordinados, mesmo seus irmãos mais novos.

— Ahh... — Scott tinha aparecido e deu uma leve cotovelada no seu namorado — Não seja tão chato. Eles não estão tão errados! Se fosse o Cezar ou a Marcely em perigo, você iria aceitar ficar em casa esperando?

— Isso é diferente, eu sou o Alfa!

— Antes de ser um Alfa você é um irmão! — Lembrou o rapaz — Não seja hipócrita!

Trevis deu uma risada.

— E você sabe o significado da palavra hipócrita? Meu Scott está crescendo.

— L-lógico que sei o significado! Só por que eu não a uso tanto, não significa que eu...Espera! Não mude de assunto! — Rosnou o mais novo.

Trevis apertou uma das bochechas do seu namorado.

— Eu estava brincando, Scotty. — Dá um selinho nos lábios do rapaz — Mas você tem que melhorar sua capacidade de "mentir". Além do mais, sabe que terei que te penalizar, posteriormente, não?

Scott apenas assentiu, bochechas coradas.

— E vocês dois também. — Agora com uma cara mais séria, voltou sua atenção para os adolescentes.

— Mas... Irá nos mandar para casa? — Angel inqueriu.

— Bem, já chegaram até aqui... Seria um desperdício de tempo e dinheiro manda-los de volta.

— Yeah! — Cezar levantou os braços para o alto em comemoração.

Trevis já iria reclamar daquela obvia alegria do seu irmão caçula, mas foi interrompido pelo toque estridente do seu celular. Ainda irritado, atendeu, sem ao menos ver que o estava ligando.

— O que é? — Rosnou.

— Oh! Meu querido sobrinho está naqueles momentos?

Trevis ergueu as sobrancelhas, fazia meses desde que ouvira a voz daquela pessoa.

— Quem é? — Quis saber Scott vendo a expressão do seu amante.

— Como você conseguiu o meu número pessoal? — Questionou, ainda ríspido.

— Ora, ora...Sou seu tio, tenho direito de ter o número pessoal de todos os meus sobrinhos. Afinal, ligar para o telefone oficial da sua Alcateia é meio...Sei lá...Formal demais. Somos uma família, não é mesmo?

— Somos é?

— Ouch! Essa doeu, Trevis! Sei que me mantive afastado desde da morte do seu pai, meu irmão, mas fiz isso em respeito à sua liderança. O conselho dos lobisomens desejava que eu adicionasse o território do meu irmão ao meu, após o seu falecimento...Achei mais prudente mostrar que você era um bom líder, um bom Alfa, sem precisar de me ajuda para manter o equilíbrio em sua Alcateia e...

— Ok! Ok! Tio Jean! Já entendi. — Rosnou, levando a mão para massagear o espaço entre as suas sobrancelhas — Mas você só esqueceu de me avisar dos seus planos, não é? Como sempre, você pensa demais, age sem avisar e espera que nós, relés mortais, apenas acatamos com suas ordens. Você pode ser um gênio, tio Jean, mas ainda é muito burro em outros quesitos.

— Trevis... — Adriano estava com uma expressão de puro desespero — Ele é um Alfa!

— E eu também sou um, merda!

— Tio Jeje? — Cezar inqueriu — E-ele não fala conosco desde o funeral... Ele não está bravo? Ele não nos odeia?

— Ouviu, Tio Jean? Até o Cez pensou que você estava querendo cortas os laços conosco?

Trevis ouviu um alto fungar no telefone.

"Ele estava chorando?".

— Me desculpe, garotos. Você está certo, Trevis...As vezes consigo ser um grande idiota, mas...Eu não te liguei para falar sobre isso. Alias, podemos nos encontrar mais tarde para continuar esse nosso papo de Alfa para com Alfa.

— Mais tarde? Espera um pouco...Você está aqui?

— Trevis, não me interrompa, sim? Seu Tio Jean está querendo lhe dar uma nova missão.

— Oh! Merda... — Trevis sentiu um calafrio percorrer seu corpo — Se você está aqui... Com Gabriel desparecido...A presença daquele agente metido a besta... O que ocorreu, tio?

— Irei te explicar tudo, mas antes, o que acha de salvar o seu curandeiro querido junto com outros lobisomens membros da Alcateias irmãs, alguns agentes do conselho e vampiros...

— Vampiros? — Agora é a vez de Scott perguntar — Eles existem? Você não me contou sobre isso!

— Diego está em perigo, é isso? — Adriano também perguntou, todo ansioso.

— Onde Gabriel está? — Agora foi a vez de Angel questionar.

— Tio, fale logo a missão que você tem para nós. — Trevis exigiu com um leve rosnado em sua fala.

— Primeiro, era melhor vocês ligarem o carro...

~~**Palavras da autora**~~

Chegou mais um Alfa na história!

Como Adriano irá encarar o Jack?

E Angel o Akira?

O encontro dos novos personagens versus os antigos!!