Era duro admitir, principalmente para Diego, que Gabriel era o seu mentor. Sim, aquele pervertido escritor de contos eróticos gays que sempre parecia envolve-lo em confusões quando se encontravam era o seu professor, fora Gabriel que primeiro viu a tendência do jovem gótico e rebelde lobo da alcateia-irmã para com fórmulas químicas e conhecimento da medicina alternativa (principalmente oriental), fato era que Diego escondia essa faceta de sua família, tinha construído por tantos anos um perfil do "do contra" e de garoto-problemático da alcateia que achava difícil que alguém o levasse a sério, ou mesmo utilizasse de suas recomendações terapêuticas. Pelo menos até o estranho curandeiro loiro aparecer... Por isso, talvez Diego fosse o mais indicado em notar a alteração no comportamento de seu mentor, desde que aqueles agentes do conselho apareceram Gabi estava tenso, sua postura relaxada e tagarela tinha sumido! Agora se encontra com um Gabriel retraído e totalmente atrapalhado.

— Ops... Desculpe! — Riu nervoso tentando recolher os amendoins oferecidos como aperitivos, Gabriel estava comendo os coitados com uma estranha voracidade até que, devido seus movimentos erráticos, ocasionou que a tigela virasse.

— Mas que diabos! O que está acontecendo com você? — Resmungou Diego ajudando-o a recolher a comida.

— N-nada, ué...

O garoto colocou a sua mão sobre o pulso do outro o fazendo paralisar momentaneamente a sua ação.

— Gabriel, se aqueles caras te fizeram algum mal, eu posso me livrar deles! — Rosnou Diego, seus olhos castanhos assumiram uma coloração amarelada, própria de sua origem lupina, por alguns segundos.

O curandeiro mais velho soltou uma risada baixa.

— Você sabe que eles são agentes do conselho, não é? Tipo... São como a versão sobrenatural do 007!

— E daí? — Continuou a rosnar o mais novo — Eles podem ser fortes mas não são imortais!

Gabriel soltou um suspiro e depois sorriu.

— Obrigado pela a preocupação, Di... Mas a questão não é que ele tenha me feito algum mal... — Balbuciou corando um pouco.

— Qual é o problema, então? — Insistiu.

— Gabi... — Cassandra ousou interromper a discussão, escondendo o rosto por trás de um livro (quem traz um livro para um club? Bem, pelo visto ela traria) — Esse senhor Kurokami... Parece um pouco com o personagem principal do livro " Bang! Tiro certeiro em meu coração do meu agente secreto favorito!".

Se Gabriel estava levemente corando antes agora assumiu com fervor a coloração intensa do vermelho. Diego ficou encarando o seu mentor e depois a loba, tentando entender o que estava acontecendo.

— C-como... Digo...Eu ainda não lancei esse livro!

— Oh! D-desculpe... Eu estava ansiosa por saber dos seus novos livros e meio que... Assim... Invadi o seu computador buscando por manuscritos! Desculpe! Desculpe!

Diego estava surpreso, nunca imaginou aquela garota fazendo algo ilegal, ainda mais sendo uma Hacker!! Mas talvez a sua surpresa também se estendeu para o fato de que Gabriel tinha uma paixonite para com o agente do conselho, Akira Kurokami? Isso sem dúvida era um fato novo, afinal, Gabi nunca agiu como alguém que buscasse um parceiro, sempre usando de sua lábia e flerte para com todos, homens e mulheres, era difícil saber se ele realmente levava a sério o romance para si mesmo, além do mais, o curandeiro parecia muito mais interessado em se meter na vida amorosas dos outros do que em sua própria.

— Isso é verdade? — Inqueriu, ainda tentando digerir a nova informação.

— O que? Lógico q-que não! Só por que escrevi um livro tolo que não será publicado, friso bem isso! — Apontou o dedo para Cassandra que enfiou o rosto ainda mais no livro (se é que aquilo era possível) — E que o personagem a qual o protagonista se apaixona se parece e muito com o Akira não significa que... Bem... Não significa nada! Trata-se de pura coincidência!

— Que coincidência? — Esse não morreria tão cedo, Akira tinha chegado com os drinks, acompanhando por aquele seu estranho pupilo.

Diego rosnou, não escondendo a sua aversão por aqueles dois. Gabriel, que no momento tinha ficado mudo novamente, enfiou uma grande quantidade de amendoim na boca, algo muito nojento de se ver. Cassandra, por sua vez, parecia estar com aquele estranho brilho nos olhos a qual só parecia ser direcionado quando estava lendo algum de seus livros favoritos, entretanto, o seu fascínio atual não estava nas páginas escritas e sim nos personagens bastante reais em sua frente.

— Oi, gatinho! — Jack sentou ao lado de Diego — Trouxe uma bebida especial para você, Akira me garantiu que você realmente não é um velhote com cara de novo, bem que eu já desconfiava! Tipo assim, não sou tão idiota assim, bem que não seria o fato de você ser um ancião que me faria me afastar de você...

— Isso é leite... — Di apontou para o copo deixando a sua frente.

— Sim~ — O outro lobisomem cantarolou — Perfeito, não é?

— Primeiro, não sei o quanto o seu cérebro é defeituoso para não ver o obvio. Não sou um gato, sou um lobisomem, assim como você! Segundo...

— Você é menor de idade, logo precisa de leitinho para crescer, a não ser que queira o meu leite! — Piscou Jack dando uma conotação nada inocente para o sentido da palavra leite, Diego respondeu da melhor forma possível, deu um tremendo soco no rapaz, porém a trajetória de seu golpe foi rapidamente contida pelo o agente, este segurou o punho do garoto que praticamente espumava de raiva.

— Miau! O gatinho tem garras!

— Jack! — Repreendeu Akira — Se comporte, sim? O que esses bons cidadãos de nossa comunidade irão pensar se seus agentes agem desta forma?

— Que somos demais!? — Questionou piscando.

— Que são uns babacas pervertidos! — Finalizou Diego dando um chute na perna de Jack o fazendo que este libertasse o seu punho.

— Bem... Ele não está completamente errado nessa afirmação. — Sussurrou Gabriel, lógico que esse comentário não passou despercebido por Akira que teve a audácia de sentar ao seu lado. O oriental levantou as sobrancelhas e sorriu, mas nada falou para contradize-lo.

— Eu vou dançar! — Anunciou Gabi, subitamente.

— E vai me deixar sozinho com esses.... — Fez um gesto com o pulso para indicar os agentes do conselho, havia também uma pergunta subentendida naquela fala: E o nosso plano?!

— Eu irei acompanha-lo. — Akira também se levantou.

— Claro que você irá... — Resmungou, não podia continuar a agir que nem um idiota, tinha que formular uma maneira de se livrar daqueles agentes e investigar a pista, afinal, sabia como o conselho era em relação a compartilhar as informações. Não iria perder aquela oportunidade e não seria o Akira –bonitão- Kurokami que o faria desviar de sua missão.

— Bem, se quiser, gatinho, podemos ir dançar também! — Jack sugeriu bastante animado. Diego estava prestes a jogar o copo de leite naquela cara feliz quando viu o olhar que Gabriel o lançou.

"Você só deve estar brincando?!" Pensou, franziu o cenho, estava começando a entender o que o seu mentor estava planejando e não gostou nada disso...

— Quer saber, até que pode ser uma boa ideia. — Cada palavra dita pelo mais novo escapou por meio do range dos seus dentes.

— Perfeito! Todos nós vamos dançar! — Disse Gabriel recobrando o seu jeito animado de ser — Cassandra, você cuida das nossas coisas ,sim?

A garoto apenas assentiu vigorosamente, pelo visto seria ela a responsável por continuar a investigação enquanto os agentes estavam devidamente distraídos. A garota estava tendo quase um ataque de ansiedade, mas iria conseguir!

Pelo menos assim esperava...

~~**~~

Luzes piscando de multicoloridas. Som forte e ritmo da música eletrônica. Corpos suados colidindo e se esfregando um nos outros. Uma verdadeira massa de gente se movendo desordenadamente. Um verdadeiro caos. Gabriel nunca fora muito de sair para casas de shows como aquela, talvez fosse um pouco antiquado, ou talvez aquele conjunto de sensações, visuais, sonoras e olfativas confundiam os seus sentidos lupinos o que deixava confuso e até mesmo nauseado.

Sentiu seu corpo vacilar. Tonto, por alguns segundos, pensou que iria cair de cara na pista de dança, mas foi aparado por mãos fortes.

— Esse tipo de ambiente não combina com lobisomens, não é? — Falou Akira, sempre muito prestativo, não é mesmo?

— Você não parece muito afetado... — Respondeu ríspido, o som alto da música podia dificultar que os humanos conversassem, mas isso não era barreira para um lobisomem.

— Treinamento. Temos que estar aptos e adaptados a qualquer ambiente e situação.

— Ora, não diga?

— Está chateado comigo, Gabriel?

— Eu deveria?

— Não, pois pelo o que sei, eu que deveria ficar irritado por ter me engando e roubado aquela amostra.

Gabriel engoliu em seco, as mãos que seguravam seu braço desceram lentamente. Era como descargas elétricas fossem emanadas por aquele toque termo.

— Enganado? Que eu me lembre você estava me ameaçando e se utilizando de sua posição como agente para se aproveitar de mim! — Rosnou.

Akira riu, suas mãos agora estavam na cintura do curandeiro e com um movimento brusco o puxou para perto de si fazendo com que os quadris se colidissem. Gabriel mordeu o lábio inferior abafando um gemido.

Não iria ficar excitado.

Não iria ficar excitado.

Repetia esse mantra em sua cabeça.

— Até parece que você desgostou de nossa brincadeira... Eu me lembro muito bem... Do quão animado você estava.— As mãos agora estavam em uma zona particularmente perigosa, desciam para a bunda em um movimento lento e ao mesmo tempo pressionando a carne com seus dedos, marcando, apalpando. Gabriel levou uma mão a boca, estava difícil conter os gemidos. Como seu corpo podia o trair deste jeito?!

— E-eu não sou um b-brinquedo seu! — Consegui forças para falar isso, seus olhos azuis focaram nos castanhos escuros do lobo oriental — Não pense que sou uma presa fácil, tão pouco irá me distrair ao ponto de me fazer esquecer do meu objetivo!

— Ora, você fez a mesma coisa comigo na última vez...

— E-eu não planejava fazer tudo aquilo! E-eu só... — Gabriel sacudiu a cabeça tentando organizar os seus pensamentos — Por que você não me denunciou?

Aquilo sim pegou Akira desprevenido, não esperava aquele tipo de questão.

— Como assim?

— Você sabia que eu tinha roubado a amostra... Na verdade, até esperava que seria levado ao conselho, mais cedo ou mais tarde, pelo meu ato, mas nada ocorreu.

Essa era uma das dúvidas que remoíam a sua mente desde que encontrara Akira naquela noite da primeira lua cheia do ano. Ficara dias e até mesmo semanas esperando alguma notícia do conselho, mas pelo visto, o seu roubo não fora informado, isso só gerou mais dúvidas em relação ao misterioso Akira. Será que ele iria retornar para recuperar a amostra? Ou será que desejava exatamente isso? Vê-lo novamente...

"Idiota! Ele é um agente... Um fantoche do conselho! Não tenho que nutrir esperanças para algo impossível!".

— Eu cometi um erro naquela noite. — Disse Akira abalando o lobisomem que tinha em seus braços. Gabriel sentiu seu coração acelerar e seu corpo gelar. Lágrimas começaram a se formar no canto de seus olhos. Não! Não iria chorar! Sabia que isso iria acontecer! Nada é fantástico e maravilhoso como nos romances que escreve... Aquilo era a vida real!

— O meu maior erro foi deixa-lo escapar. — Uma das mãos do agente agora jazia ao lado do rosto de Gabriel, com o polegar aparou uma lágrima que já descia por sobre a bochecha avermelhada do curandeiro — Você não é um brinquedo, Gabriel Galistro. Eu nunca agi da forma que agi com você naquela noite perante um subordinado ou um lobisomem civil... Nunca. Você faz despertar estranhos instintos em mim. Bem... Não são muito bom em explicações, sempre preferi a ação, não é mesmo?

Não foi dado tempo o suficiente para Gabriel responder, ainda mais, nem poderia já que seus lábios foram tomados por um beijo inesperado.

Sua mente praticamente derreteu. O mundo parecia ter paralisado. O som sumiu. As únicas sensações que seu corpo captava eram advindas de Akira.

Bang!

Tiro certeiro em seu coração dado por seu agente favorito!

Era a melhor formar de descrever o momento.