27 - Consequências

Mikasa penteava os cabelos ruivos de Ygritte com carinho e delicadeza. As duas não tocaram mais no assunto da noite que tiveram juntas, principalmente depois da perca de movimentos de Ygritte. Desde que a jovem descobriu que nunca mais andaria, ela nunca mais foi a mesma. O olhar estava sempre triste e apagado. Mikasa sempre que podia ia visitar a "amiga". A morena havia acabado de voltar da Missão em Marley, e a perca de amigos no confronto ainda assombrava seus pensamentos e sentimentos.

-Mikasa... - Ygritte começou a dizer. - A Sasha... ela sofreu?

Mikasa ao ouvir o nome de Sasha não pode conter as lágrimas. O Reconhecimento havia ido a Marley de dirigível que na fuga acabou sendo invadido por duas crianças e uma delas atirou em Sasha, que acabou falecendo.

-Ela parecia em paz...

-E você? Está em paz?

Mikasa tremeu os lábios e secou as lágrimas insistentes.

-O Eren... ele...

-Está diferente né? - Ygritte completou a frase. - A única vantagem de ser uma inútil é que eu tenho bons ouvidos.

-Eu ainda acredito nele! - Mikasa disse furiosa.

-Claro que acredita...

Ygritte havia perdido o brilho, a delicadeza, a bondade. Era uma casca vazia e fria. Seu maior sonho foi servir ao reconhecimento e terminou de maneira brusca e triste.

-Eu já disse: os braços ainda posso mexer. - Ygritte disse friamente para Mikasa.

-Eu faço questão.

Elas ouviram alguém bater na porta da casa de Ygritte e Mikasa seguiu até a porta para abrir.

-Capitã? - Mikasa se assustou ao ver a morena diante dela.

-É Majestade! - Trigun disse com cara de poucos amigos.

-Tudo bem Trigun. Mikasa é uma velha amiga. Estou surpresa de te ver aqui. - Betina disse gentilmente.

-Entra, Ca-Alteza... - Mikasa deu passagem para Betina. Mikasa notou a barriga da rainha e arregalou os olhos. - Você está...

-Grávida de 8 meses. Um Ackerman. - Betina disse radiante.

Ygritte se manteve em silêncio ao ver a Rainha. Desde o dia que acordou, Ygritte se remoía em amargura e rancor. Ela colocou a culpa em todos que se lembrava e Betina era uma delas.

-Ygritte... - Betina disse com pesar.

-Não. Desfaça esta cara de dó... - Ygritte disse friamente.

-Eu sinto muito... - Betina disse abaixando o olhar.

-Sente? Para falar a verdade acho que o reinado caiu muito bem em você.

-Ygritte, eu não sabia. Nunca pensei que atravessariam o mar para me resgatar e nem que seríamos emboscadas e...

-Que eu ia cair com um tiro de raspão na cabeça e esmagar 3 vértebras numa pedra? - Ygritte disse furiosa. - Nós fomos até lá! A briga nem era nossa! Era sua! E você sempre resolve tudo sozinha! Ainda virou rainha, que conveniente para você!

-Ygritte as coisas não saíram como a gente queria! Eu nunca quis ser rainha!

-Mentira! Você ama isso! Teve tudo que queria! Casou com o homem que amava, vingou sua amada Astrid, tornou-se rainha de uma nação e além de tudo, está grávida. Que vida maravilhosa! E o que sobrou para mim?

-Ygritte... as coisas não são bem assim.

-Eu queria ter morrido mastigada por um titã! Teria morrido lutando! Ao invés disso estou aqui presa nesta cadeira para o resto da minha vida!

-Majestade... - Veridiana começou a dizer, mas parou ao ver o sinal com as mãos de Betina.

-Tá tudo bem, deixa ela desabafar.

Ygritte chorava intensamente, as lágrimas caiam em seu colo enquanto a jovem tentava secar com as mãos.

-Eu não vinguei a minha mãe, eu não fiz nada, eu não estava lá quando a Sasha morreu, e nem quando todo o reconhecimento foi massacrado, eu não estava lá quando o reinado de Heide caiu e nem quando vossa Majestade Betina foi coroada! Eu sou uma inútil!

-Ygritte... eu entendo a dor que você sente. Eu sinto muito pelo que te aconteceu. - ela se aproximou da ruiva com dificuldade devido a enorme barriga. - Mas, se quer saber, acho você uma covarde egoísta. Sabe quantos amigos meus que morreram, dariam tudo para estar no seu lugar? Você está viva! Debaixo de um teto! Acha que foi fácil a minha vida? Eu dormi no chão, comi comidas que não devia ser dada nem aos porcos! E fui amaldiçoada por um sangue que eu não escolhi! Sua mãe morreu? Eu sinto muito! A minha morreu, a da Mikasa morreu, a da Veridiana morreu, a do Armin morreu, a do Levi morreu! E o que fizemos? Seguimos em frente. Nem sempre da para nós fazer pagar quem nos fez sofrer. Você ficou presa numa cadeira de rodas, eu também lamento por você, mas não permitirei que fique se martirizando enquanto o mundo queima lá fora! Eu tenho uma coisa para te dizer, Ygritte, o mundo não gira em torno de você! Então você tem duas opções: siga em frente e viva a porra da sua vida, ou morra lamentando na mais profunda tristeza!

Betina levou as mãos à cintura e deu um suspiro profundo. Os demais dentro da sala de Ygritte ficaram no mais profundo silêncio. A rainha ao ver Ygritte em silêncio e boquiaberta ficou sem graça e disse.

-Me perdoa, Ygritte, estou grávida de 8 meses, viajei uma distância longa e minha paciência anda meio curta. - Ela olhou para Mikasa que mantinha-se em silêncio. - você me leva no túmulo de Sasha?

Mikasa acenou com a cabeça e seguiu a rainha até a saída. Betina ainda olhou para trás para Ygritte, mas não disse mais nada. Saiu junto de Mikasa até o cemitério.

Ao chegar diante da lápide da jovem, Betina sentiu um aperto grande no peito. A alegria de Sasha contagiava a todos. Sentiu as lágrimas descerem no rosto e depois criou coragem para perguntar.

-Como aconteceu?

Mikasa engoliu seco e depois disse com a voz embargada.

-Uma criança guerreira, de Marley, uma menina. Invadiu o dirigível e atirou em Sasha.

-Acha que ela estava errada?

Mikasa se irritou com a pergunta.

-Ela MATOU a Sasha. É lógico que estava errada!

-Vocês invadiram a casa dela. O Titã de ataque pisoteou centenas de civis e dezenas de pessoas ficaram sem lar, me responda, Mikasa, ela estava mesmo errada?

Mikasa cerrou os dentes e encheu os olhos de lágrimas, mas ela sabia que a Rainha estava certa. Depois Betina ainda disse.

-O ciclo de ódio não termina nunca. Assim são as guerras...

A rainha colocou flores sobre o túmulo de Sasha e lamentou mais uma vez a morte prematura da jovem, em seguida alisou a grande barriga. Mikasa então perguntou.

-O que uma Rainha estrangeira faz num lugar destes? Onde o alvo está bem no meio das nossas costas?

-Eu queria falar com a Rainha Historia, mas já fui informada que ela está na mesma situação que a minha, grávida. Então, vim dizer ao pai do meu filho pessoalmente que ele será pai.

-Ele ainda não sabe? - Mikasa perguntou surpresa.

-Não. Seria uma surpresa quando ele voltasse a Vermogen... mas, ele não vai lá a 8 meses.

-As coisas aqui ficaram tensas. - Mikasa ficou triste.

Betina notou a tristeza da jovem, se ela bem se lembrava, a garota estava sempre junto de Eren. A rainha se aproximou de Mikasa e tocou seu ombro de leve.

-Onde está o Eren?

-Preso... - Mikasa disse emocionada.

-E você... como está?

-O Eren é inocente e logo ele estará livre! - Mikasa disse irritada.

-Eu não perguntei do Eren, perguntei como VOCÊ está. Parece estar em conflito Mikasa! Entre o que é certo e os seus sentimentos...

-Não sabe nada sobre mim!

-Não. Mas, conheço uma alma despedaçada quando vejo uma.

-Não. Não sabe de nada. Agora... se não precisa mais de mim... - Mikasa desconversou.

-Ok. Sabe onde o Levi está?

Levi havia recebido a missão de ficar de olho em Zeke Jaeger. O plano de traição contra Marley era ideia dele e estava de acordo do Eren. Os dois eram irmãos filhos do mesmo pai. Zeke era o titã Bestial e tinham planos ainda pouco revelados. Zeke e Levi já haviam se enfrentado antes e não tinham muito apresso um pelo outro. A crise política pairava sobre Paradis e milhares de pessoas pediam a liberdade de Eren. Os chamados "Jeageristas". Enquanto o mundo marchava para atacar Paradis e os demônios eldianos.

Levi e seu esquadrão seriam o responsáveis por vigiar Zeke para que ele não se encontrasse com Eren. O capitão estava do lado de fora encostado na carruagem aguardando para dar destino ao Bestial. Ao lado da carruagem, uma segunda carruagem parou, Mikasa desceu primeiro.

-O que foi Mikasa, está com cara de quem não dorme a dias e-... - Ele parou de falar ao ver a esposa descer da carruagem. Os longos cabelos pretos presos numa trança lateral, o aplique delicado de flores preso na trança, os lábios com um batom vermelho sangue. O vestido em vermelho e dourado cobertos por uma capa de veludo verde escuro. A barriga de 8 meses saliente chamava atenção e os seios mais volumosos do que de costume. Levi engoliu seco ao ver a barriga de grávida e ficou sem palavras.

-Oi, querido. Já faz um tempo. - ela disse meio sem graça. - Acho que a gente precisa conversar.

Levi ainda estava em silêncio olhando para a barriga de Betina. Mikasa ao notar a surpresa do "pai" tentou disfarçar.

-Capitão, eu fico aqui. Pode ir... ok?

-O..k.

Levi seguiu a rainha para dentro da carruagem dela e eles seguiram para um local um pouco mais afastado. Durante o trajeto ele se manteve em silêncio com o olhar espantado. Quando chegaram a um local um pouco mais afastado a carruagem parou. Betina estava de frente para o marido que mantinha a expressão surpresa. Em seguida ele criou coragem para dizer.

-Você... ele é...

-Se você atrever a me perguntar isso taco fogo em você aqui mesmo!

-Me desculpe são muitas informações. Por que não me contou? Nas cartas?

-Isso não é algo para se contar assim.

Levi recostou a cabeça para trás e deu um suspiro. Betina o conhecia bem, sabia o que ele estava pensando, entretanto não foi algo que ela havia escolhido.

-Sabe que estamos em guerra, não é? - ele disse finalmente

-Sei.

-E mesmo assim quis levar esta gravidez adiante?

Betina se entristeceu. Ela queria que ele estivesse feliz, mesmo com tudo acontecendo.

-Eu... pensei que ficaria feliz. Sinto muito.

Ele notou a tristeza da rainha e tocou suas mãos delicadamente, e as beijou com carinho.

-Eu estou feliz. Muito feliz. Mas... estamos no meio do caos! O que vamos fazer? Você nem devia estar aqui!

-Eu precisava te ver! - Betina disse com os olhos marejados.

-Betina... - Levi se abaixou diante dela ainda dentro da carruagem e encostou o rosto na barriga dela e acariciou com delicadeza.

-Conversa com ele. Dizem que ouvem tudo.

-Mas, o que eu diria para ele, ou ela?

-Não sei... O que seu coração mandar.

Ele pensou por um instante, queria mesmo que fosse em outra época, outro mundo. Ele temia pela segurança deles.

-Meu filho, é... O seu pai. Estou ansioso para ver você. Vamos tomar chá juntos.

Levi deu um beijo na barriga dela e sentiu o bebê se mexendo. Os olhos do capitão brilharam de emoção ao perceber e olhou para Betina com um sorriso que ela nunca tinha visto.

-Viu? Ele ouviu você.

-Ela. - Levi disse com certeza.

-O que?

-É uma menina. - Ele se levantou e sentou-se diante dela, em seguida tocou o rosto dela com as duas mãos e beijou os lábios dela com um beijo intenso. - Betina, quero que vá para casa, cuide de nossa filha. Aqui é perigoso demais para você.

-Eu não vou sem você. - Betina disse chorando.

-Por favor, eu sou um soldado. Não posso sair agora. Mas, eu vou ao encontro de vocês assim que sairmos vitoriosos.

-Me sinto inútil! Não sirvo para nada desse jeito! Eu poderia lutar com vocês!

-Betina... não diga bobagem... - Levi tocou a barriga dela com carinho. - está carregando nossa filha. Para mim, isto é o mais importante.

-Por favor, Levi... sobreviva. - Betina o abraçou ainda chorosa. - Eu e nossa filha vamos estar te esperando!

Betina não disse a Levi naquele momento, mas cada instante ali era como uma dolorosa despedida.

-Betina... você está mais linda do que nunca. - Ele disse ainda abraçado a esposa.

-Estou imensa como um elefante.

-O Elefante mais lindo do mundo... E seus seios ficaram ainda mais incríveis.

-Idiota.

A carruagem seguiu de volta para onde Levi estava. Ao parar o baixinho desceu devagar e deu mais um beijo caloroso na esposa.

-Eu te amo. - Betina disse.

-Também amo você, muito.

Levi viu a carruagem de Betina se afastar e em seguida entrou na que Zeke estava, o loiro barbudo de óculos fez uma cara de deboche e disse de braços cruzados.

-Quem é aquela grandona peituda? Aquela não é a rainha de Vermogen?

-Mais respeito com a minha esposa macacão!

-Sua esposa? Fala sério! O que um mulherão daquele viu em você? Além de tudo uma rainha. Seu sortudo do caralho! Não tinham homens em Vermogen e ela veio buscar um projeto em Paradis?

-Fica na sua macaco!

-E ela está grávida? Você não perde tempo mesmo!

-Já disse para cuidar da sua vida! Vamos logo, reservamos para você o melhor hotel da cidade...

Betina seguiu com a carruagem para o porto. Iria direto para o seu navio. No caminho avistou Veridiana, que provavelmente estava a procura de Hange. Fez sinal para o cocheiro parar e pediu para que Veridiana entrasse. A mulher entrou discretamente na carruagem e sentou diante da rainha.

-E então? - Veridiana perguntou.

-Historia não está disponível e Levi quer que eu vá para Vermogen cuidar de nosso filho.

-Os rumores aqui é de que Historia engravidou para não se envolver na guerra. Por ter sangue real ela herdaria o Bestial, já que Zeke tem pouco tempo de vida. Parece que os Titãs não duram mais que 13 anos. E usaria todo o poder do Titã Original, que está em posse de Eren e só pode usar seu poder total com o sangue real.

-Faria muito sentido. Agora ela deve estar escondida em algum lugar enquanto o país dela queima. - Betina disse olhando da janela da carruagem.

-E você fará o mesmo! Tudo em prol dos filhos de vocês. - Veridiana afirmou.

-Eu sou uma rainha e além de tudo sou uma guerreira, não fugirei de uma luta mesmo não podendo entrar no combate.

-Betina... O que vai fazer?

-Vamos para o navio, ficaremos no mar numa distância segura e aguardamos . Em algum momento nossa ajuda servirá nem que seja para resgatar feridos.

Veridiana deu um sorriso e balançou a cabeça.

-Você é mesmo uma Rainha louca!

Betina tinha isto em mente desde o começo. A ideia inicial era conversar com a rainha e ver o que podia fazer, mas, ela teve que mudar os planos. Estava decidida que só sairia dali acompanhada de Levi.

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