22- Entre Lendas e Histórias

Betina chegou ao convés do navio sob olhares desconfiados. Muitos ainda com medo e receosos pelo que tinham presenciado na noite anterior. Mesmo assim eles foram gentis.

-Bem vinda de volta capitã. - Jean disse tocando seu ombro.

-Obrigada.

-Capitã, a comandante quer falar com você lá no escritório dela. - Sasha disse gentilmente

Betina seguiu meio desconfiada e entrou no escritório de Hange que estava conversando com Levi, que cumprimentou discretamente a mulher com quem estava em uma situação bem íntima a alguns minutos atrás.

-Betina! Que bom que está bem! - Hange disse sorrindo.

-Igualmente... a Sasha disse... comandante? - Betina perguntou sem entender nada.

-Sim. Décima quarta... - Hange disse.

-Mas... e o Erwin? - Betina disse com a expressão triste.

Hange e Levi abaixaram a cabeça.

-Não me diga que... não. - Betina se jogou na poltrona a frente da mesa de Hange.

-Foi na recuperação da Muralha Maria, dos 300 soldados, apenas 9 sobreviveram. Além de você, e a Ygritte que não entraram em combate.

-Como aconteceu?

-Entramos em confronto com o Titã Bestial, Colossal e a Blindado. Ficamos sem saída e... - Hange ficou emocionada.

-Erwin se sacrificou junto com mais um número considerável de soldados corajosos. - Levi disse pesaroso.

Hange e Levi contaram a Betina sobre o confronto, a injeção e a dúvida de Levi em quem aplicar a injeção de Titã. Sobre a morte dos companheiros e de como descobriram sobre o mundo além das muralhas, com os diários encontrados no porão dos Yeagers. Contou sobre como foi a sensação de quando viram o mar. E sobre a missão dos soldados voluntários Anti-Marley. Sobre como os Titãs surgiam na ilha e do confronto com Marley e o resto do mundo.

-Nossa. São muitas informações. Não tem mais Titãs na ilha?

-Não. - Levi disse de braços cruzados.

-E o Erwin... - Betina tremeu os lábios. - Eu devia estar lá.

-Não adiantaria. Foi um Massacre. O Bestial jogou pedras para todo lado, o Colossal criou uma explosão gigantesca que matou um número enorme de soldados. Mesmo se estivesse lá, não poderia fazer muita coisa.

-Quem...sobreviveu?

-Eu, Levi, Eren, Mikasa, Armin, Jean, Connie, Sasha e o novato Floch. Além de você e a Ygritte.

-E a Ygritte? - Betina Lembrou-se vagamente da situação da ruiva.

-Ela segue em coma. Uma bala pegou de raspão na cabeça. O quadro dela é delicado.

-Onde ela está?

-No quarto do nível de baixo. Mikasa está com ela.

Betina tentou processar toda a informação e sentia uma culpa tão grande que seus ombros pareciam pesados.

-Me contem sobre ontem...

-Olha, Betina...

-Por favor Hange. Eu preciso saber.

Levi olhou para Hange e deu um suspiro e depois ele começou.

-Estava ensandecida, não via nada, era puro ódio e fúria. Arrancou as tripas dos soldados como se fossem de papel. Mordeu a traqueia de um homem como um fera selvagem. Não sentia dor, não ouvia nada. A pele blindada como um tipo de escama e além de tudo cuspiu fogo e incendiou mais de 30 homens.

Betina estava com a mão cobrindo a boca e com os olhos arregalados.

-Demos um jeito com o antídoto de Lírio-aranha vermelho, mas não sabemos quanto tempo vai durar e nem como conseguir mais. - Hange disse.

-Merda. - Betina levou as mãos à cabeça.

-Ah e tem mais uma coisa. Você é a rainha legítima do trono de Vermogen. - Levi disse objetivo.

-Isso é ridículo. Eu ouvi a líder da Resistência me explicar, mas pensei que fosse engano.

-Não é.

-Eu acho que vocês devem me matar. Antes que eu cause mais mal aos outros.

-Não seja boba! - Levi disse furioso. - Temos que pelos menos entender este seu poder. Talvez dar um jeito de controlar.

-Além do mais ainda temos um grande problema. Heide não deixará que a gente saia daqui vivos. - Hange disse.

-A tal marca do Dragão se esparramou pelas suas costas. - Levi disse.

-Sim... as vezes parece que queima. Como posso aprender algo que não sei nem do que se trata? - Betina perguntou.

Levi lembrou-se de uma pessoa. Talvez a única que pudesse ajudar.

-E a velha Babayaga?

Betina ficou surpresa ao ouvir o nome da velha.

-O que disse? - Betina ficou séria.

-Babayaga, a velha que você arrancou uma perna.

-Foi um acidente! Ou... quase isso... - Betina tentou se justificar. - Pensei que ela estivesse morta.

-Não está. Ela me contou a história sobre a rainha Calandiva e o sangue de dragão, talvez ela saiba uma maneira de controlar.

-SE ela quiser me ajudar. - Betina disse sem esperança.

-Estamos ficando sem tempo. Temos que dar um jeito de encontrar a Babayaga. - Hange disse.

Mikasa analisava Ygritte imóvel na cama. A cabeça enfaixada, as escoriações. Ela tocou a mão da ruiva e disse pesarosa.

-Tem que lutar pela vida. Ainda temos muito pela frente.

Veridiana se aproximou devagar com o olhar triste. Sentia-se culpada.

-Se eu não tivesse arrastado ela para essa loucura. Devia ter deixado ela em Paradis. No fim, ela nem era a rainha.

-Para mim ela é. - Mikasa disse triste. - Será que ela vai sobreviver?

-Não tem como saber o estrago, estamos sem recursos nenhum aqui e sozinhos num país estrangeiro.

-Se a viagem não durasse 10 dias poderíamos voltar e pedir ajuda. - Mikasa disse pensativa.

-10 dias é tempo demais.

-De todo jeito, ela pode morrer no caminho.

-E se fôssemos pelo ar? - Onyankopon chegou na porta e ouviu parte da conversa. -Tem dirigíveis aqui. Poderíamos conseguir um e levar Ygritte para Paradis e talvez conseguir ajuda. Faríamos o trajeto na metade do tempo.

-Não. Arriscado demais. Não podemos roubar um dirigível de qualquer jeito. - Veridiana pontuou.

Betina chegou devagar para ver Ygritte junto com Hange e Levi enquanto eles debatiam a respeito do que fazer.

-Ninguém vai roubar nada! - Betina disse firme.

-Mas, é caso de vida ou morte! Capitã... - Mikasa disse visivelmente nervosa.

-Vocês não vão roubar. Eu vou. Vão levar a Ygritte daqui o mais rápido que conseguirem e não vão voltar. Vão levar Armin, Connie, Jean e os outros. Já correram risco de mais por minha causa.

-Não! Vamos ficar e te ajudar! - Mikasa disse.

-Nem fodendo que vou deixar você aqui! Atravessamos o mar gelado inteiro atrás de você e vai nos descartar? Como se fossemos nada? - Levi disse irritado.

-Eu não quero correr o risco de perder vocês! - Betina disse emocionada. - A Ygritte está ali, nem sabemos se vai sobreviver.

-Nós somos soldados. Este é o preço da guerra. - Hange disse calmamente.

-Ok. - Betina abaixou a cabeça.

Veridiana ficou pensativa e depois disse.

-Não precisamos roubar um dirigível. Mas, podemos arrumar alguém para fazer isso.

-O que quer dizer? - Betina perguntou.

-A Resistência vai fazer tudo por você. É só pedir a eles. Eles precisam de você.

-Não são de confiança. - Mikasa disse.

-Não são. Mas, a Betina pode barganhar.

-Eles querem que eu lute com eles. Que eu os lidere.

-Querem derrubar a Heide. - Veridiana disse.

-Não posso entrar numa guerra! - Betina disse.

Hange ficou um breve instante em silêncio e depois disse calmamente.

-Entrar numa guerra, derrubar uma rainha... que diferença faz? Nós viemos até aqui resgatar você. Sabíamos que não ia ser fácil. Mas, não íamos deixar você aqui presa, sozinha.

Betina abaixou o olhar e ficou pensativa e depois disse. Hange tinha razão, eles já estavam envolvidos e não havia muito o que fazer, de tudo jeito eles já estavam em guerra com Heide.

-SE, eu concordar com isso. Com o golpe que daremos na rainha, quem assumirá o trono? Eu estava disposta a deixar Ygritte no poder. Tudo que fiz até agora foi pra isso.

-Você é a Rainha legítima. - Veridiana disse.

-Uma rainha louca, com um sangue venenoso.

-Você não é louca. Conheço você há mais de 10 anos. Sempre foi gentil e se importou com os outros. Tem um coração nobre. - Levi disse e depois desviou o olhar triste.

-Merda. - Betina disse chateada. - Não era nada disso que eu queria.

-Faça o que tem que fazer e depois vemos o que faremos depois. É sempre um passo de cada vez. - Levi disse tocando seu ombro.

E o próximo passo foi dado naquele dia mesmo. Saíram do esconderijo e foram diretamente para o QG da Resistência tomando cuidado para não serem vistos pelo número absurdo de soldados que rondavam o lugar. Betina entrou pela claraboia acompanhada de Levi e Veridiana que disseram que ela não daria um passo longe de Betina. Os integrantes da Resistência ao ver a morena e seus amigos recuaram alguns passos com os olhos arregalados.

-Se acalmem. Eu vim em paz. - Betina ergueu os braços em sinal de rendição.

-Chamem a líder! Rápido. - Um deles gritou.

Em questão de minutos Taiga desceu as escadas correndo e se curvou diante de Betina.

-Que grande honra minha rainha!

-Parou! Se levante. Não sou uma rainha. - Betina respondeu irritada.

-Para nós a senhora é e sempre será.

Betina olhava meio desconfiada. Mas, depois de um tempo disse com a voz firme.

-Quero barganhar.

-Tudo que estiver ao meu alcance, minha rainha. - Taiga disse calmamente.

-Preciso de um dirigível.

-Um dirigível? - Taiga ficou pensativa. - Isso é bem complicado.

-Por isso vamos barganhar. - Betina se aproximou de Taiga que corou ao ver a mulher alta a sua frente. - Quero um exército e um dirigível.

-Um exército? Pensei que não quisesse lutar. - Taiga disse ansiosa.

-Que escolha temos? Lutaremos por Vermogen. Não era o que você queria? - Ela olhou fixamente para Taiga.

-Sim! Liberdade para o Vermogen! Para o povo das Vielas!

-Atenderei seu pedido. Em troca de um dirigível e a saída segura de alguns dos meus amigos de Vermogen.

Taiga olhou para Betina emocionada como se estivesse diante de uma deusa, se ajoelhou diante dela com os olhos cheios de lágrimas.

-Nunca chegamos nem perto da Vitória. A senhora... pode vencer?

Betina deu um sorriso de lado e se aproximou do rosto de Taiga e tocou delicadamente seu queixo.

-Eu VOU vencer.

-Considere feito. Eu, a Resistência e toda a Viela serviremos a você, Betina Drachen. No máximo até amanhã terá seu dirigível.

Ela olhou para Falke e acenou para o homem que foi rapidamente na direção da líder.

-Acompanhe a Betina e seus amigos. Mandaremos eles para uma instalação mais segura do que a que estamos. - depois virou-se para Betina. - Se houver algo mais que possa ajudar.

-Uma pessoa me disse que tem uma velha senhora morando aqui. Velha, cadeira de rodas, falta uma perna...

-Sim...

-Onde ela está?

-Ela normalmente fica na ala norte perto do pátio, mas é uma senhora muda e...

-Ok. Eu vou até ela. É uma velha conhecida. Poderia me mostrar o caminho? - Betina disse calmamente.

-Claro, Hai vai te acompanhar. - Ela acenou e Hai os guiou até o pátio. Betina ficou espantada ao ver seu rosto na parede, mas não disse nada.

A velha mulher estava sentada olhando para o tempo como se estivesse paralisada. Os olhos mal piscavam.

-Lá está ela. - Hai disse apontando para a mulher.

Betina se aproximou lentamente da velha senhora e olhou para a mulher. A outrora impunemente Babayaga estava velha, magra e frágil. A expressão era de tristeza e sofrimento e em seus olhos era como se já não tivesse mais vida. O que não era mentira de certa forma.

-Já faz um bom tempo, não é? Marta?

Babayaga arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma.

-O que faz aqui? - a velha disse com a voz arrastada.

-Eu vim te ver, Marta. Ou você prefere Babayaga?

-Pensei que estivesse apodrecendo na prisão de Hölle. Como conseguiu sair?

-Com dificuldade. Mas, isso não vem ao caso agora. Está fazendo o que faz de melhor pelo visto. "Correndo" para o lado dos vencedores. - Betina disse debochada fazendo aspas com os dedos.

-E você? Você costumava ter modos.

-Vocês me ensinaram direitinho.

-Diga logo o que você quer ou simplesmente me mate de uma vez. Estou velha demais pra ficar de conversa.

-Não vou te matar... não hoje.

-A minha perna não foi suficiente? - Babayaga olhou para Betina com os olhos esfumaçados.

-Você quis me matar primeiro, se não me falha a memória.

-Essa conversa não vai nos levar a nada. Diga-me o que quer e me deixe morrer lentamente em paz.

Betina encarou a velha a sua frente. Marta, a Babayaga, estava diferente. Tinha a expressão cansada e triste, arrependida. Parecia estar farta daquela vida e mal via a hora de morrer.

-Uma vez, eu descobri sem querer, que a sua família sabia sobre o poder que eu possuo. Quero saber se pode me ajudar.

-Não, eu não posso.

Betina se agachou diante e ficou um bom tempo olhando para a velha Babayaga.

-Você mentiu pra mim. Eu tinha mãe, pai, um nome. Charlotte. Nem meu nome você me disse. Me tratou feito lixo a minha vida inteira e eu nem sei porquê. Nem lá eu estava.

-Você tinha o sangue ruim dos Drachen's!

-Eu não pedi para nascer assim! Pedi?

Babayaga começou a chorar e levou dos dedos flácidos e enrugados ao rosto para limpar as lágrimas que desciam.

-Perdi entes queridos pela sua família. Minha mãe, duas das minhas filhas. Ou mortas pelo governo ou mortas pelas Sangues de Dragão descontroladas. Eu não podia arriscar morrer ou perder mais ninguém!

-Tem que ter existido alguém! Uma pessoa que tivesse dominado este poder!

Babayaga parou e ficou olhando para Betina de maneira assustadora. E depois prosseguiu.

-Ouvi uma história certa vez. Mas, primeiramente quero perguntar, está disposta a tudo para descobrir como controlar?

-Sim.

-Pois bem. Minha avó me contou que a protegida dela conseguiu controlar e usava o poder como uma extensão de seu corpo. Dizem que quando os primeiros descendentes de Elise foram derrotados, uma certa mulher foi até o vulcão mais alto atrás de um dragão poderoso que ali vivia. Ela clamou a fera para que ajudasse na guerra que assolava seu povo. O Dragão disse que estava velho demais e que não teria como ajudar, exceto se ela fizesse uma coisa pra ele. Ela beberia seu sangue. O sangue representa também a vida. Ela iria beber e depois disse o Dragão habitaria seu corpo e faria parte dela. Viveria através do corpo dela. E quando ela morresse passaria para sua próxima descendente, mulher. A jovem obedeceu e assim o fez. Só que o Dragão não lhe explicou que o sangue também seria um veneno e que haveria momentos em que a sua fúria seria incontrolável.

-Mais e mais histórias e aí?

-Não seja impaciente! A jovem morreu e depois uma descendente surgiu e assim foi sucessivamente. A protegida da minha mãe, então, certa vez, temendo o veneno, entrou no fogo, na esperança de morrer queimada. Naquela época, não sabia que poderiam ser resistente ao fogo. No meio das enormes labaredas, ela teve uma epifania. O dragão conversou com ela durante o incêndio e perguntou o que que ela iria fazer com este poder. Ela respondeu que ia proteger as pessoas que ama. O Dragão então a julgou digna e passou a ajudar a jovem, ela acordou no meio das cinzas. E realmente ela foi benevolente e protegeu pessoas escondida do governo. Escondendo refugiados. Ela vivia nas montanhas.

-Eu já incendiei e nunca vi dragão nenhum! - Betina disse sem paciência.

-Mas, você queria vê-lo?

-Tenho que entrar numa fogueira e esperar ele falar comigo?

-Não é só isso! Se ele te julgar indigna você pode morrer. Aconteceu com a sucessora e protegida da minha mãe.

-Mas, que merda! Me conta este conto da carochinha. É só fazer uma fogueira então? - Betina alterou a voz irritada

-Eu não disse nada de fogueira. Ela entrou no vulcão. Onde o Dragão adormecia.

-Caralho.

Betina soltou os ombros pesadamente. Depois olhou para Betina e Veridiana que observavam tudo de longe. Betina estava desconfiada, mas não tinha muita escolha. Tudo dependia disso.

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