09 - Imersa em Arrependimento

Petra estava sentada do lado de fora numa cantina improvisada ao ar livre. Em sua mente, ela só pensava em Levi e Betina e na suposta relação deles. O capitão se aproximou e sentou-se ao seu lado com um xícara de chá.

-Levantou cedo Petra. - Ele disse calmamente.

-Eu não dormi muito bem essa noite.

-Ah. Sei como é. - Levi disse.

Ela ficou em silêncio. Queria perguntar, ouvir da boca dele. Mas, tinha medo da reação, ou pior de ouvir a verdade. Eles estavam sozinhos, ainda era muito cedo.

-Petra, que cara é essa? Está com dor de barriga? - Ele perguntou debochado como sempre.

-Não... - ela suspirou e criou coragem. - Eu... queria perguntar uma coisa.

-Então pergunta logo! Que enrolação!

-C-claro! - Ela olhou para ele triste. - O senhor, e capitã Betina...

Ele olhou tenso. Sabia a pergunta que viria.

-Vocês dois estão juntos? - Petra perguntou tristemente.

Ele pôs a xícara sobre a mesa e ficou um bom tempo em silêncio. Ele tentou ser discreto, já havia se passado quanto tempo? Três anos? Cinco? E mesmo assim nunca tinha dito a ninguém sobre o seu namoro com Betina.

-Por que quer saber disso? - Ele perguntou olhando nos olhos de Petra.

-Eu... Só achei estranho a relação de vocês.

-Seja sincera Petra. Sei que está mentindo.

-Eu tinha esperanças. É isso.

Ele ficou calado, olhando para a xícara de chá em cima da mesa. Não sabia bem o que responder. Depois de um tempo em silêncio ele disse.

-Eu sinto muito Petra. Nunca quis que nutrisse este tipo de sentimento.

-Não é culpa sua. Mas, não respondeu minha pergunta.

-A Betina é minha namorada. Ou algo assim. Estamos juntos a muito tempo.

Petra encheu os olhos de lágrimas e depois disse.

-Que sortuda.

Levi não respondeu mais nada. Estava surpreso, de certa forma. Já havia ouvido a respeito através de rumores e burburinhos, mas, ele não pensou que ela realmente gostasse dele de outra forma. Porém, infelizmente era um sentimento que não poderia retribuir.

Os dias se passaram. Logo após um tempo todo o reconhecimento foi até o castelo. Para ganhar certa confiança dos figurões do exército organizaram uma grande expedição com todos os integrantes, incluindo os recrutas. Os demais recrutas chegaram alguns dias depois. Mikasa sempre preocupada com Eren e uma Ygritte triste com isso. A ruiva desceu do cavalo e depois ficou um tempo apenas observando Mikasa, "mimando" o Eren, como ela pensava.

-Ei, Recruta! - Betina chegou perto de Ygritte.

-Capitã! - Ygritte bateu a continência típica do exército, punhos direito fechado sobre o peito.

-Descansar. Poderia por gentileza, trazer seu cavalo. Vamos deixar todos descansando no estábulo. Em alguns dias teremos um dia bem longo.

-Sim senhora! - Ygritte a acompanhou e no caminho olhou de soslaio para Mikasa. O coração dela chegava a doer quando olhava para a morena.

Betina percebeu o olhar, mas naquele momento não disse nada. Ygritte seguiu a capitã meio envergonhada.

-Não precisa ficar tão tensa. - Betina disse alegremente.

-Me desculpe capitã, eu sou muito sua fã. Vi a senhora quando era mais nova. No barracão dos refugiados.

Betina pensou por um momento. Puxou na memória.

-Ah! A ruivinha do pão... você entrou para o Reconhecimento mesmo hein?

-Sim. Graças à senhora. Fiquei admirada com seus feitos!

-Seu nome mesmo? - Betina disse amistosa.

-É Ygritte. Ygritte Wolfgang.

Betina ficou pálida ao ouvir o sobrenome. Wolfgang. Seria apenas uma coincidência? Apenas um nome comum? Ou Ygritte a ruivinha diante dela era mesmo a rainha legítima do trono de Vermogen.

-É um bonito nome, Ygritte.

Betina sentiu um arrepio na espinha. Se ela fosse mesmo a herdeira ela estava no pior lugar possível. Na frente de batalha contra Titãs sendo recruta. Onde a maioria morre no primeiro dia.

-Ygritte, você cuida de tudo aqui? Eu tenho resolver outros assuntos.

-Sim senhora!

Betina foi atrás de Erwin. A única coisa que podia fazer era tirar a garota da frente de batalha. Não poderia defender a menina, não com tudo acontecendo

Ela bateu na porta de leve e ouviu um "entra" do outro lado. Ao entrar viu Mike e Erwin conversando sobre as estratégias que fariam na próxima expedição.

-Desculpa interromper comandante.

-Sem problemas.

-Mike. - ela cumprimentou Mike.

-Oi, Betina. - ele ainda não tinha superado o soco que levou de Levi por causa dela.

-Eu precisava conversar com você, Erwin.

-Eu vou lá ver a Hange, ela está desolada com a morte dos Titãs dela.

-Sawney e Beane?

-Parece que alguém matou eles durante a noite. - Mike disse.

-Um traidor? - Betina disse desconfiada.

-Aparentemente sim. - Erwin disse franzindo a testa.

Mike saiu deixando os dois sozinhos.

-Em que posso te ajudar, Betina?

-Na verdade, eu queria saber se seria possível a recruta Ygritte ficar de fora da expedição.

-Ygritte? - Ele perguntou confuso.

-Sim. Ygritte Wolfgang. Ruiva, baixinha.

-E por que este interesse repentino na garota?

-Acho que ela está despreparada. - mentiu.

-Betina, ela treinou, ficou entre os 11 melhores. Ela tem capacidade mais que suficiente. Não estou te entendendo.

-Me desculpe, eu... - Ela buscou as melhores palavras, estava desesperada, mas nada do que dissesse iria convencer o comandante. A não ser que ela falasse a verdade. Mas, isso ela não podia. - São interesses pessoais. Ela me lembrou uma pessoa que perdi a muitos anos. - ela mentiu.

-Francamente Betina. Você já foi mais profissional. Isso tudo é pelo seu envolvimento amoroso com o Levi?

Ela arregalou os olhos e engoliu seco.

-Achou que eu não sabia? - Ele continuou.

-Não sei do que está falando... - ela tentou disfarçar.

-Não mente pra mim. Eu te conheço muito bem. - Ele recostou na cadeira e suspirou. - Ele sabe?

-Não... - Betina abaixou o olhar. - E não deve saber. Por favor.

-Não se preocupe. É melhor assim... e sobre sua solicitação, a resposta é não.

-Ok. Obrigada mesmo assim.

Betina ia saindo pela porta quando ele disse.

-Betina... nós erramos? - Ele disse olhando pesaroso.

-Não sei... mas, o passado deve ficar no passado. É só o que sei.

Betina saiu e andou sentido ao lado de fora quando viu Levi saindo de seu quarto. Ele viu que ela estava vindo do escritório de Erwin, mas não disse nada, entretanto mais uma vez, ficou desconfiado.

-Betina! - Ele a chamou.

-Oi! Levi! - Ela disse assustada.

Desde o dia do incidente, ela tem fugido de Levi. Não queria falar sobre o assunto que ela vinha adiando.

-Quase não topamos. Quero falar com você.

-Eu tenho que ir ver a respeito dos equipamentos e do gás. - ela desconversou.

-Pode esperar.

-Depois vou treinar o Eren.

-Ele também pode esperar.

Ele tinha a expressão séria. Com ele não havia discussão.

-Ok... - Ela disse suspirando.

Ele abriu a porta do quarto e deu passagem para ela. Ela entrou meio cabisbaixa.

-Sobre o que quer falar? - ela disse se fingindo de desentendida.

-Sobre o que você acha? Óbvio que é sobre o que me prometeu.

Ela abaixou a cabeça, estava pensando a dias em como dizer isso.

-Eu fiz uma coisa muito ruim. E aqueles dois vieram se vingar.

-Meias verdades de novo? Acha que sou idiota?

-Não! Não é isso. É a verdade.

-E o que você fez? - Ele cruzou os braços.

-Matei pessoas.

-Eu também matei, e mesmo assim, não tenho pessoas querendo se vingar de mim. Não que estejam vivas.

-Levi... por favor, confie em mim. É só o que eu te peço.

-Como confiar, Betina? Você me esconde tantas coisas que já nem sei quem é de verdade!

Betina ficou irritada. Ele cobrava coisas dela e ela nem sabia se eles eram um casal de verdade. Ela deu passos largos e se aproximou dele.

-Não pode dizer isso pra mim! Não você sendo enigmático, inexpressivo e insensível!

-Eu sou insensível? O que mais você quer de mim? Eu sou seu namorado não é o suficiente?

A expressão dela mudou para cólera. Estava a um ponto de explodir de raiva e sempre se segurou, mas aquele dia ela não conseguiu. Ela o pegou pela gola da camisa e o bateu as costas dele na parede o suspendendo para cima.

-O que eu quero de você? Quero que me foda! Que me beije, me abrace, me ame! E não fique me dando migalhas como se eu estivesse mendigando seu amor!

Ele tentou movimentar as pernas, furiosa ela o jogou no chão e montou em cima dele forçando e segurando as pernas dele. A força dela era tão grande que ele não conseguia se mexer.

-Me solta Betina!

-Vai me escutar primeiro! Eu tô cansada disso! Eu me encontro com você às escondidas como se eu fosse uma meretriz e ainda por cima não posso te tocar a hora que eu quero. Tenho que pedir permissão! E você vem me dizer que não sabe quem eu sou? Você não faz questão de saber! Não de verdade!

As lágrimas escorriam do rosto dela misturada a raiva que ela sentia. As gotas caiam sobre o rosto dele enquanto ela forçava ele no chão. O ar começou a faltar nos pulmões dele.

-Betina, eu não consigo respirar.

Ela soltou Levi no susto e ficou olhando para as mãos dela. Ela iria matar ele ali? O rosto dela era de puro horror.

-O que eu fiz?

-Tá tudo bem... - ele disse tossindo.

-Não... - ela se levantou muito abalada e disse - Nós temos que terminar.

-Betina!

Ela bateu a porta do quarto, ele ficou no chão sentado olhando para a porta.

-Você é muito imbecil Levi... - Ele disse para si mesmo.

Ele ficou lá tentando processar tudo que havia conseguido. Ele a amava de verdade, mas estava farto de ficar aquém da vida dela, enquanto ela se machucava e sofria.

Os dias foram passando assim. Betina tinha tido um acesso de raiva que a muito não sentia e para piorar terminou com Levi, que apesar de tudo o amava intensamente. E além de tudo, ia ter que fazer de tudo para defender Ygritte de uma morte quase certa.

Todos estavam posicionados para a expedição. Betina virou-se para seu esquadrão como fazia sempre antes de qualquer missão.

-Senhores, até aqui a sorte sorriu para nós. Mas, nunca sabemos quando será a última missão. Gostaria de dizer a vocês que foi uma honra servir ao lado dos senhores nesta batalha e quem sobreviver continuará lutando por nossa liberdade! Ofereçam seus corações!

-Ofereçam seus corações! - eles gritaram em coro.

Ela depois se aproximou de Ygritte e disse para a jovem quase sussurrando.

-Ygritte, se algo der errado corra o máximo que puder na minha direção e quando estiver próxima dispare a arma de fumaça eu vou onde você estiver.

-Sim senhora.

Betina montou seu cavalo e voltou a formação. Levi se aproximou dela e tocou em seu braço.

-Se sobrevivermos nós precisamos conversar.

-Nossa conversa já acabou, Levi. - ela disse de cabeça baixa.

-Pra mim não.

Ela desviou o olhar e seguiu seu destino sem olhar pra trás.

A expedição começou cerca de 10 minutos depois.

Erwin liderou a 57ª expedição e implantou a sua Formação para Reconhecimento de Inimigos de Longa Distância para garantir que as baixas sejam reduzidas ao mínimo.

Neste meio tempo um tiro de fumaça vermelha e logo em seguida um tiro de fumaça preta. Era um anormal. A figura de uma titã extremamente rápida surgiu do meio da Floresta massacrando boa parte do esquadrão.

A notícia de um Titã misterioso matando os soldados chega ao Esquadrão Levi assim que Petra e outros testemunham o sinal de fumaça negra, sabendo que um Titã anormal está perto de sua posição. Eles adentram a floresta.

Betina firma a visão a procura de Ygritte. A correria e a confusão dificulta a proteção da jovem.

Sobreviva Ygritte.

Ela segue rumo a Floresta para se encontrar com Erwin e executar o resto do plano.

A titã Fêmea persegue Eren e mata muitos membros da Divisão de Reconhecimento, mas cai na armadilha de Erwin e é incapaz de se mover.

Betina ainda está a procura de Ygritte a preocupação dela só aumenta.

Pouco tempo depois, Levi fica separado de seu pelotão. Ele se reúne com Erwin e prepara-se para extrair o humano no controle do Titã Fêmea na parte da nuca.. Ele e Mike atacam e tentar cortar suas mãos, apenas para descobrir sua capacidade de endurecer a pele. Depois Erwin ordena que os canhões sejam carregados com explosivos e que mire nos pulsos do Titã Fêmea, Levi, de pé sobre sua cabeça, a provoca com ameaças de violência, dizendo-lhe que ele gostaria de enfrentá-la em sua forma humana para vingar as incontáveis mortes de seus soldados. Em resposta, o Titã Fêmea começa a rugir. Pouco depois, Titãs vem em direção a ela e começam a devorá-la. Erwin e o resto da equipe tentam evitar o ataque de titãs sobre ela mas é inútil. Erwin ordena o recuo para o Distrito de Karanese .

No entanto, Erwin observa que o vapor libertado pelos corpos titã irá dificultar a visão para o resto do Corpo de verem os foguetes de sinalização. Ele então percebe que o ser humano dentro do Titã fêmea pode ter escapado.

-Levi, vá reabastecer gás e lâminas!

O baixinho obedece relutante.

Aproveitando a deixa, Betina volta em seu cavalo a procura de Ygritte.

-Onde você vai, Betina? - Erwin grita para ela.

-Vou voltar para o meu pelotão! - Não era de tudo mentira.

Ela ia ao encontro do pelotão e aproveitaria para ver a situação em que Ygritte estava. No caminho ela passa pelo esquadrão de Levi. Petra, Eld, Uroro, Gunther e Eren. Ela os avista de longe. E segue mais alguns metros. Ygritte vinha de longe cavalgando sozinha com lágrimas nos olhos. Estava desesperada.

De repente ela ouviu gritos vindo da direção do esquadrão de Levi, e logo depois a Titã Fêmea surgiu ela ia dar meia volta e ajudar o esquadrão, mas surgiu atrás de Ygritte um titã anormal correndo na direção da garota. Betina ficou em dúvida, salvar o esquadrão ou a vida de Ygritte. Eles são capacitados. Ela pensou, correu na direção de Ygritte e golpeou o titã. Ygritte caiu do cavalo. Betina correu para ajudar a menina.

-Vamos Ygritte. - Ela ergueu a garota do chão e a ajudou a subir em seu cavalo.

-Obrigada, capitã! Eu achei que fosse morrer.

-Vá naquela direção, estará segura lá.

Talvez ainda dê tempo. Ela correu na direção do esquadrão de Levi, mas o que viu no caminho foi apenas a desolação. Os corpos dos soldados de Levi despedaçados pelo caminho e o capitão parando diante do corpo de Petra, morta pela titã Fêmea.

-Levi... - ela disse sussurrando.

Era como um dejavu. Mais uma vez seu esquadrão morto. Não. Seus amigos mortos. Ao ver a expressão de Levi, Betina foi inundada de culpa, e arrependimento. Se tivesse ido ao encontro deles, eles não teriam morrido. Mas, Ygritte podia ter morrido.

Levi não disse nada. Seguiu seu caminho de cabeça baixa. Betina o seguiu de longe.

Após a Titã Fêmea retornar e matar todo o esquadrão de Levi, ele e Mikasa unem forças para recuperar Eren dela. Levi diz a Mikasa para distrair o Titã e evitar tentar matá-la, já que ela é capaz de endurecer sua pele. Levi então começa a atacar o titã Fêmea, e após uma série de ataques bem-sucedidos que a incapacita. Vendo o Titã Fêmea impotente, Mikasa desobedece as ordens de Levi e tenta assassiná-la. Ao salvar Mikasa do punho endurecido do Titã Fêmea, Levi fere a perna esquerda. Usando a dinâmica adquirida a partir do último ataque, ele corta os músculos faciais do Titã Fêmea, fazendo-a abrir a boca e revelar Eren dentro. Ele agarra Eren e foge com Mikasa, a quem ele repreende por ter arriscado a vida de seu "amigo especial" por uma questão de vingança.

Durante a retirada do Reconhecimento da 57ª expedição, os Titãs perseguem os soldados sobreviventes. Para escapar, Levi ordena que as tropas abandonem os corpos dos mortos para que o peso seja retirado dos vagões e eles possam ir mais rápido. Um dos corpos que são eliminados é o corpo de Petra, de quem Levi estava cuidando.

Ao adentrar as muralhas, o pai de Petra diz a Levi que a garota tinha grande devoção por ele e que estava disposta a morrer por ele.

Levi ficou sem reação.

Betina assistiu tudo se sentindo a pior pessoa do mundo. Imersa em seu arrependimento.

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