01 - Baixinho Arrogante
Betina abriu os olhos com dificuldade. O sol entrava fraco pela janela. A cama não era das mais confortáveis, mas ela já havia dormido em locais piores.
Deitada no beliche de cima, sua colega de quarto roncava alto. Hange e Betina dividiam o quarto desde o primeiro dia de Betina no esquadrão. Quando, o homem de sobrancelhas grossas, Erwin Smith a recrutou, a quase 3 anos. Desde então, Betina é membro do Reconhecimento, um grupo de soldados de Paradis que luta contra os Titãs, seres enormes e famintos que surgiram no mundo a muito tempo. A cidade era cercada por enormes muralhas que protegiam seus habitantes da invasão dos monstros e assim permaneceram por muito tempo.
-Hange... – Ela cutucou a cama de cima para acordar a colega.
-Só mais cinco minutos.
-Vamos Hange! O capitão Erwin tá chegando hoje da sua missão no subsolo.
Hange era morena de cabelos castanhos, usava um óculos de proteção, magra, de nariz adunco e olhos castanho-avermelhados. Ela fazia parte do Reconhecimento a muito tempo, dizem que estava lá antes de Erwin.
Betina vestiu o uniforme do Reconhecimento e seguiu para o pátio onde todos iriam se reunir. Betina ajeitou os cabelos pretos curtos e bagunçado num coque mal feito, bocejou e esfregou os olhos, ainda era muito cedo.
Os soldados já estavam enfileirados esperando o comandante. Erwin, o sobrancelhudo era o capitão do esquadrão que Betina fazia parte e de certa forma, ela tinha muito respeito por ele. O comando do regimento era feito por um homem chamado Keith Saids, um homem já cansado e desgastado com o trabalho. As olheiras fundas indicavam isto.
-Atenção! – o homem chegou acompanhado de três pessoas. Uma menina ruiva de Maria chiquinhas, um rapaz loiro e alto e um baixinho de cabelos pretos e ar arrogante. De braços cruzados, olhando para todos com desdém.
O comandante continuou:
-Estes três são novatos e farão parte do Reconhecimento. Apresentem-se novatos!
O baixinho arrogante disse com o olhar intimidador.
-Levi...
-Levi, você será o primeiro a aprender sobre disciplina. – O comandante disse bravo.
Betina deu um leve riso de canto e manteve o olhar no trio.
-Sou Isabel Magnólia! – a ruiva disse alegremente.
-Furlan Church!
Betina não ouviu muito depois disso. Seus olhos estavam fixos no pequeno homem ao centro. Ele tinha uma presença que Betina não sabia explicar.
Ela viu os três acompanharem Flagon, porque foram designados para o esquadrão dele.
-Esse moleque... – Mike Zacharias disse com desdém.
Betina, era sempre calada, mas era uma boa ouvinte.
-Arrogante, não tem nem tamanho direito.
-Eles vieram de onde? – Hange perguntou curiosa.
-Do subsolo. – Mike respondeu. – Um bando de ladrões delinquentes.
-Nossa, pensei que fosse impossível de sair de lá. – Hange disse espantada.
-Fazer o que, Erwin tem seus próprios conceitos.
Betina ouviu tudo atentamente e ficou pensativa.
Betina seguiu para a base de treinamento. Os novatos precisariam de ajuda para que pudessem se preparar. Betina era excelente em artes marciais. A jovem ruiva corria em um cavalo como se tivesse nascido para aquilo.
Levi treinava com o DMT e as espadas enquanto era observado por um chateado Flogan. A convivência entre os dois era sempre cheia de troca de farpas.
Betina estava perdida em seus pensamentos vendo o pequenino de cabelos pretos se movimentar como se tivesse nascido para fazer aquilo.
-Hey! Drachen! – Mike chamou sua atenção. – Podemos continuar?
-Desculpa.
Mike se preparou para golpear Betina, ela se defendeu e depois deu uma rasteira em Mike. O homem bateu as costas no chão e olhou para Betina com cara de dor.
-Algum dia eu vou ganhar de você? – Ele reclamou.
-Continue tentando. – Ela riu.
Derrotar Betina era quase como uma questão de honra no reconhecimento. Em todo treinamento era desafiada. Quem ganhasse iria ter bebida grátis no bar por um mês. E em todo esse tempo, ela nunca foi derrotada. A fila para enfrentar a morena só aumentava. Curioso Levi se aproximou para ver alvoroço.
-O que está acontecendo? – Ele perguntou a uma desinteressada Hange.
-Desafio da Betina. Eles tentam derrotar ela já faz um tempão.
-Só isso? – Ele perguntou desdenhoso
-Você fala só. – Flogan respondeu. – Ela é imbatível.
-Não existe ninguém imbatível. – Levi deu de ombros.
-Vá lá então novato. Enfrenta a grandona.
-Tsc.
Ele saiu de braços cruzados até a morena que derrubava mais um. Ele encarou a grandona a sua frente e disse com a voz baixa.
-Eu serei seu adversário.
-Pode vir baixinho.
Ele franziu o cenho ao ouvir o adjetivo nada agradável para ele e se posicionou. Ele deu um passo a frente e a tentou golpear, ela se defendeu e retribuiu com um jab de direita, baixinho, ele desviou com facilidade e tentou lhe dar uma rasteira, ela saltou para a esquerda, ele tentou acertar com um chute e ela segurou a perna dele e depois tentou pega-lo pela jaqueta a fim de derrubar o moreno com um ippon, mas ele se solta de sua pegada antes mesmo dela firmar o pulso e lhe devolveu com uma cotovelada de costas, ela tenta segurar o mais baixo com uma gravata, mas ele impede que ela feche o golpe com um dos braços. Ela tenta então fechar os braços em volta de seu tronco e o derrubar com um suple, mas ele parecia escorregadio e mais uma vez ela é desarmada. Eles trocam socos, a luta parecia não ter fim, Betina nunca tinha enfrentado um adversário tão difícil. Num movimento rápido ele se coloca atrás dela e por ser bem mais baixo que ela, se pendura em seu pescoço, na tentativa de dar uma guilhotina, com braço direito ele apertou seu pescoço e a mão esquerda acidentalmente acaba pousando no seio de Betina. A maciez do peito da morena o fez corar de leve ao perceber em que estava acertando e ele acaba afrouxando o golpe, Betina então, com a perna direita ela entrelaça entre as pernas dele, ainda de costas para o mesmo e se coloca o peso de seu corpo contra o adversário e o cai os dois no chão.
-Já chega! – Eles são interrompidos por Erwin que chegava acompanhado do comandante Keith.
-Mas, capitão, agora que a luta estava ficando interessante! – Um dos soldados reclamou.
-Chega, vocês tem tarefas a fazerem.
Betina se levantou rapidamente e depois estendeu a mão para Levi.
-Podemos considerar um empate. – ela disse calmamente.
Ele deu um tapa em sua mão e fez cara de poucos amigos.
-Não existe empate num combate real. Da próxima vez, eu sairei o vencedor.
-Mano Levi! – Isabel e Furlan vieram correndo na direção do amigo.
Betina não respondeu e viu o baixinho se afastar pisando firme acompanhado de seus dois amigos. Ela ficou triste ao perceber que ele não era uma pessoa que estava a fim de fazer amigos.
As refeições eram feitas na cantina, que ficava entre os pavilhões onde ficavam os dormitórios feminino e masculino. A comida muitas vezes chegava a ser escassa dentro das muralhas para a grande maioria da população, por isso existia um tipo de barrinha proteica que chamavam de ração, que se alimentavam e dava força e energia até ter uma refeição decente por assim dizer. Mas, as vezes eles se alimentavam de algo diferente das habituais rações. O cardápio do dia era um tipo de sopa de batata e um pedaço pão. Betina pegou o saboroso cardápio e sentou-se numa das mesas afastadas, sozinha só para variar. Ela observou o trio de novatos se afastar discretamente dos demais e adentrar para os pavilhões dos dormitórios.
Por ser já a noite a maioria estava jantando para depois irem aos seus aposentos. Betina, resolveu segui-los. Sempre teve boa intuição e ela sabia desde o início que havia algo errado com eles.
Ela viu Furlan entrar nos aposentos de Erwin, enquanto os outros dois ficavam de vigia, ela observou tudo discretamente. Levi ainda olhou na direção que ela estava, mas não viu nada. Mesmo assim ficou desconfiado. Quando Erwin se aproximou eles fugiram imediatamente.
Betina seguiu de volta ao refeitório e ficou pensativa na situação, se Levi e cia estivesse tramando algo contra Erwin ela iria descobrir.
Paciência era uma coisa que Betina havia aprendido ao longo dos anos. Aguardar a hora certa para se atacar uma presa era o fator principal para o sucesso. Ela ficou parada atrás do pavilhão dos dormitórios masculinos até que viu Levi se dirigir ao seu quarto. Já era tarde da noite, ele provavelmente estava no refeitório e pelas olheiras indicava uma pessoa que dormia pouco. Os amigos já haviam se retirado para seus respectivos aposentos, o "lider" por assim dizer, estava sozinho. Betina caminhou lentamente e ficou na penumbra o observando com os olhos verdes pálidos, que ficava quase um cinza claro dependendo da luminosidade. Alguns diziam que o olho dela mudava de cor de acordo com seu humor.
Levi olhou para ela com desdém e se aproximou dela mantendo contato visual.
-Posso saber o que faz aqui? – Ele perguntou com a voz monótona.
-Eu ia fazer a mesma pergunta. – Betina respondeu sem tirar os olhos dele.
-Os dormitórios femininos não ficam lá do outro lado, ou você nem ser humano é? Dorme no estábulo junto com os cavalos?
Ela se aproximou mais um passo e criou os braços.
-Eu tava até simpatizando com você, baixinho, mas, pelo visto você gosta de ser antipático.
-Não quero sua simpatia e nem tampouco sua amizade. E se me chamar de baixinho de novo, nós vamos terminar a nossa luta aqui e agora e prometo que não haverá empate.
-Ah, que gentil. – ela deu mais um passo. Ela era acostumada a intimidar seus adversários, mas o baixinho marrento não deu nem um passo para trás. Na verdade, não moveu um músculo. – pois bem, baixinho, vai me dizer o que você e a sua trupe queriam nos aposentos do Erwin? Ou vou ter que arrancar a informação de você?
-Você é durona, hein, giganta? Não sei do que você está falando.
-Não se faça de sonso. Isso não combina com você.
-Independente do que você acha que viu, isso não lhe diz respeito.
Betina tinha muito apresso por Erwin. Foi graças a ele que ela não virou comida de titã, ou morreu a míngua fora das muralhas e devia muito a ele. Ela o segurou pela gola da camisa de algodão que vestia, impecavelmente limpa e o suspendeu com uma mão só. Ele era baixinho, mas devia ter nada, nada uns 65 kg e ela o levantou sem esforço.
-Escuta aqui, o Erwin é valioso para mim, e eu sei que você está tramando alguma coisa. Não importa o que seja eu vou descobrir e você vai descobrir que eu sou perigosa quando se trata de cuidar de pessoas valiosas. Então, para o seu bem, e dos seus amiguinhos, fica longe dele!
Ele a segurou pelo braço e manteve o contato visual e a expressão mudou furioso, ele apertou seu pulso de tal maneira que podia se ouvir o estralar dos ossos, mas a morena nem pestanejava.
-Me coloca no chão, brutamontes. Não quero que fique amassando minha camisa com essas mãos suadas. Sua nojenta.
Ela o colocou no chão, mas o manteve preso pela gola, enquanto ele apertava seu pulso. Ele a encarou de maneira fria e disse calmamente.
-Eu quero que saiba, eu também sou como você, sou perigoso quando se trata de pessoas valiosas. E se quiser me enfrente aqui e agora e você vai ver.
Ela estava pronta, não corria de uma briga. Nunca.
-Hey! Tá acontecendo alguma coisa aqui? – Mike saiu do quarto em direção à cozinha e viu os dois se estranhando.
-Não é nada. – Betina soltou a gola dele e manteve o olhar no baixinho. – A gente tava só conversando.
-Espero que não estejam se pegando. Seria bem estranho.
Levi fez uma cara de nojo e Betina fez o mesmo. Ela tinha perdido o encanto, para ela, ele era uma grande babaca.
-Não viaja. – Ela respondeu secamente. – o que eu quero com um pouca sombra desses?
Ele franziu o cenho e cerrou os punhos. Ela realmente era uma mulher de muita coragem para dizer uma coisa daquelas.
- Você teria que ser humana primeiro. – ele respondeu rispidamente. – É mais animal, do que gente e com toda certeza cheira como um.
-Nanico.
-Giganta.
-Vai crescer primeiro para discutir comigo!
-E você tome um banho. Imunda.
Mike assistiu aquela situação sem saber o que responder. E depois da troca de farpas, ele resolveu colocar um ponto final.
-Tá bom, eu já entendi. Vocês não estão se pegando! Que coisa! Eu vou dormir que ganho mais.
Ela se afastou rumo ao seu quarto e antes de se virar pronunciou só com os lábios. "estou de olho em você". E depois ela seguiu, no caminho ergueu o braço para sentir o próprio cheiro, preocupada com as ofensas do baixinho. Do outro lado, ele ficou pensativo e terrivelmente incomodado. E disse para si mesmo.
-Qual o problema de ficar com um homem baixinho?
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