3 - Propaganda na TV (Parte III)


No outro dia, pela manhã, Xandinho tomava café com sua avó na cozinha. Seu avô havia acordado bem cedo e estava na garagem vendo se estava tudo funcionando com o seu Fiat Uno 2008, pois naquele domingo de manhã, eles tinham um compromisso: o campeonato de Motocross. Silas era o único que ainda não havia levantado. Quando Xandinho comentou que iria assistir à competição, Nélio e Carmem, que também eram simpatizantes das corridas, disseram que estariam presentes no evento. Dentre os vinte pilotos que disputariam a corrida, o primeiro colocado ganharia uma vaga de acesso na categoria de Elite Estadual. Esta era a intenção de Cauã e de todos os competidores. Todos queriam vencer a corrida daquele dia e assim ganhar visibilidade dentre os olheiros que estão em busca dos mais talentosos para investir e oferecer patrocínio.

Ainda na mesa da cozinha, Xandinho se divertia rindo das conversas engraçadas que tinha com a avó. Ambos ainda degustavam o café.

— XANDINHO! — seu avô gritou lá do quintal — Visita para você!

— Visita? — estranhou Carmem.

— QUEM É? — gritou Xandinho.

— Entra lá. Eles estão na cozinha — eles ouviram Nélio passando as instruções.

Quando a tal visita atravessou a porta da cozinha pelos fundos, Xandinho nem acreditou no que viu.

— GABRIEL! — Xandinho saltou da cadeira ficando de pé. Tamanha havia sido a surpresa.

— Fala, meu amigo! Oi, dona Carmem!

— Oi Gabriel.

— Caramba, mano. Não acredito que é você mesmo! — disse Xandinho se aproximando do amigo para abraçá-lo — Depois que você virou intelectual, nunca mais apareceu para falar com os pobres.

— Intelectual? Tá doido? Estou sofrendo naquela faculdade, meu filho! Três meses e ainda não me adaptei. Eu me sinto burro lá dentro.

— E como está sendo a vida lá na universidade? Está gostando?

— Sofrendo, mas estou gostando sim.

— Rapaz, senta aí. Muito bom te ver. Hoje tem corrida de motocross.

— Eu sei! Fala pra ele, dona Carmem.

— Gabriel veio aqui ontem de manhã procurar por você. Você tinha ido ao Centro. Seu avô e eu o convidamos para ir conosco assistir a corrida e aqui está ele.

— E por que você não me enviou mensagem para avisar que estava por aqui?

— Porque eu quis fazer surpresa, seu tralha! Cheguei ontem aqui na cidade.

— Que babaca, mano! — disse Xandinho rindo de felicidade — E eu cheio de saudade dessa praga!

Gabriel e Carmem riram.

— Gabriel, fiz bolo de cenoura.

— Eu já tomei café, mas aceito.

Xandinho deu uma golada em seu café olhando para o amigo e rindo por não acreditar que estava mesmo o vendo depois de meses.

Minutos depois, eles estavam no quintal se preparando para sair. Silas apareceu com aquela cara de mal humorado dizendo que iria junto.

— Bem que a gente podia ir de moto, hein Gabriel — sugeriu Xandinho.

— Coitado do moleque — disse Silas rindo — Se não quiser passar vergonha, Gabriel, tem espaço de sobra no carro.

— Claro que eu vou na garupa do meu amigo! — disse Gabriel — A gente tem é história com a Madona.

https://youtu.be/QOy3PyRi_x0

Gabriel montou na garupa da Madona e foi com Xandinho pela estrada. Ele fez questão de abrir os braços para sentir a brisa do vendo quente daquela manhã. Os dois amigos relembravam quando sempre faziam aquele rolê de moto sem preocupações, sem provas de faculdade, sem trabalhos na oficina para entregar.

Em menos de meia hora, estavam já na cidade vizinha, onde seria a corrida. Nélio conduziu o Fiat Uno com Carmem e Silas.

Quando lá chegou, Xandinho parou a moto no enorme estacionamento montado para o evento. Parecia que havia mais veículos ali que toda a quantidade de moradores da cidade em que ele morava.

Eles avistaram uma multidão de pessoas espalhadas pelo espaço do evento. As barracas coloridas vendiam caldo de cana, sanduíches, bolos, refrigerantes, água, café e bandeirinhas com os logotipos das marcas que disputavam naquele campeonato. As corridas eram, sem dúvida, o principal evento daquelas cidades vizinhas. Quando calhava de acontecer na localidade, os moradores se sentiam orgulhosos e animados.

Gabriel sugeriu para que ele e o amigo fossem logo se sentar em uma das arquibancadas, mas Xandinho não quis dar uma volta para olhar o movimento, observar a pista, passar nos boxes, onde os pilotos se concentravam e faziam os últimos ajustes antes da corrida. Gabriel o acompanhou. Eles costumavam percorrer a área quando chegavam mais cedo e aproveitavam para escolher um dos pilotos para torcer.

Poucos minutos depois, Xandinho vê o avô e o resto da família chegando ao local. Ele acena de longe e dá um largo sorriso.

Ainda estavam passando pelos boxes quando Xandinho encontrou o piloto por quem já sabia que iria torcer.

— Alexandre!

— Fala, Cauã!

Eles apertaram a mão. Gabriel ficou surpreso do amigo conhecer um piloto de motocross.

— Alexandre? — Gabriel estranhou alguém o chamar pelo nome verdadeiro — Eu, hein! Nem lembrava que seu nome é Alexandre. Nunca ouvi ninguém te chamar assim.

— Este é meu amigo Gabriel — disse Xandinho para Cauã.

— Fala aí, mano! — Cauã apertou a mão de Gabriel — E só para constar: eu chamo o Xandinho de Alexandre porque eu ainda não tenho as prerrogativas pra ser amigo dele.

— Para de palhaçada, Cauã! — disse Xandinho rindo para o piloto.

— Ih, rapaz. Te entendo! — disse Gabriel entrando na brincadeira — A lista pra poder ser amigo dele é grande. Número um: gostar de moto. Pronto, acabou a lista.

Os dois riram do mecânico.

— Ei, Xandinho e por que você não me contou que conhecia um piloto de motocross?

— Porque eu quis fazer surpresa, seu tralha!

Xandinho e Gabriel riram porque essa frase era a reprodução do que Gabriel dissera mais cedo em sua casa. Cauã ficou sem entender o motivo das risadas.

— Então a gente já sabe para quem torcer, né Xandinho? — perguntou Gabriel observando a anuência do amigo, depois virou-se para Cauã — A gente estava procurando algum piloto para torcer.

Gabriel se aproximou da moto de Cauã, que estava no canto do box, para observá-la mais de perto. Ele estava boquiaberto ao contemplar uma KLX 450R e deixou os dois conversando sozinhos.

— Vai torcer mesmo por mim? — perguntou Cauã olhando Xandinho nos olhos, o que fez Xandinho perder as estribeiras e sorrir.

— Claro, poxa! Tá doido!

— Que moto foda, mano! — disse Gabriel do outro lado do Box. Ele vinha se aproximando dos dois — Xandinho, melhor a gente ir logo se quiser arrumar vaga na arquibancada.

— Verdade.

Eles se despediram de Cauã e desejaram-lhe boa sorte.

— Torçam por mim! — gritou Cauã quando eles já estavam longe.

O grito de Cauã chamou atenção de Silas, que voltava de uma das barracas com cachorro-quente e refrigerante. Quando se aproximou do sobrinho e do amigo ele soltou seu veneno:

— Ei, acorda, Xandinho. Aquele playboyzinho não quer sua amizade. Ele só está interessado em um mecânico que cobra barato ou de graça.

— Para de viajar, Silas! Eu consertei a moto dele e ele me pagou bem.

— Só trezentos? Eu teria cobrado o dobro porque ele tem grana para pagar!

Xandinho calou-se e se afastou rapidamente com Gabriel em seu encalço. Eles subiram a arquibancada e, por sorte, ainda tinha vaga do lado de Nélio e Carmem.

A corrida seria transmitida ao vivo pela TV Brisa, o canal local. Da arquibancada já dava para ver o início da transmissão através de um telão instalado no local.

Os pilotos se organizaram de modo que ficassem emparelhados em suas motos no local do começo da prova. Os competidores aguardavam a liberação do starting-gate, que é o equipamento instalado na linha de partida, cujas portas se abrem de forma automática e simultânea indicando o início da corrida. Seriam duas baterias com vinte voltas cada. Durante o percurso, os pilotos deveriam mostrar habilidade e concentração para passar por todos os obstáculos, que se resumiam em morros de barros altos, que garantiriam grandes saltos e um verdadeiro show para os espectadores, outros morros menores, vários buracos seguidos, um buraco enorme e algumas curvas em aclive e declive.

Quando o starting-gate se abaixou, os motores mostraram suas potências. O estrondoso barulho das motos dando partida era música para os ouvidos dos amantes da competição. Mal começou a corrida e alguns dos pilotos já se chocaram um com os outros caindo depois de se desequilibrarem, prejudicando alguns dos que vinham logo atrás sem tempo para se desviar. Xandinho roeu as unhas na arquibancada e ficou aliviado ao saber que Cauã estava na frente e não foi atingido pela avalanche da queda das motos.

Durante a sexta volta, Cauã estava em sétimo lugar. Começou a colar com o sexto colocado, o número 2, mas este estava relutante em não deixá-lo ultrapassar tão fácil.

— Mais um caiu! — disse Gabriel.

— É o número 17, que estava em quinto lugar — disse Nélio — Ih... demorou a levantar. Vai ter que suar muito agora para tentar se recuperar.

Cauã era o número 7, que agora estava em sexto devido à queda do 17. Xandinho deu um sorriso ao ver que seu piloto preferido, finalmente, conseguiu ultrapassar o piloto de número 2 alcançando a quinta posição, por onde se manteve durante várias voltas.

No telão, dava para ver uma garota loira com um uniforme vermelho colado ao corpo, que valorizava seus seios. Em sua cabeça, usava uma bandana rosa com caveirinhas estampadas em preto. Ela levantou uma tabuleta com o número 2, informando que só faltavam duas voltas para terminar a primeira bateria. Gabriel olhou para a pista procurando pela garota linda que via no telão marcando as voltas.

— Você viu Xandinho? Que mina gata! — exclamou ele.

Xandinho virou para o amigo e sorriu.

Cauã estava em quarto lugar. Conseguiu ultrapassar mais um piloto na última volta durante a penúltima curva do circuito e terminou a bateria em terceiro lugar fazendo quinze pontos. O primeiro colocado fez vinte pontos e o segundo, dezessete.

— Vou lá embaixo falar com o Cauã.

— Vou contigo, Xandinho. Aproveitar para comprar um lanche porque a fome bateu.

No box, Cauã conversava com seu pai. Já que ainda não tinha patrocinador, era seu pai quem o apoiava na corrida. Xandinho aproveitou que o pai dele foi atender a uma ligação e se aproximou.

— Foi bem, hein, Cauã! — disse Xandinho — Torcer agora para ir melhor ainda na última bateria.

— Mano, os caras são bons demais. Estou é com medo!

— Vai na fé que eu estou torcendo muito. Boa sorte! Você vai vencer.

Cauã sorriu e apertou a mão dele.

Xandinho se despediu e foi atrás de Gabriel. Ele estava próximo da garota que eles viram no telão.

— Ei, gatinha. Eu vim aqui para ver as motos, mas confesso que sua beleza chamou minha atenção quando te vi no telão — disse Gabriel todo confiante.

Xandinho fez uma cara de "Não faça isso, Gabriel".

A garota virou-se para ele com toda a sua prepotência e disse:

— Garoto, se enxerga!

— Nossa, mas não pode ser menos rude? Estou te elogiando...

— E eu estou falando pra você vazar — disse ela ajeitando sua bandana rosa na cabeça.

— Credo, moça! — disse Gabriel com uma cara que fez Xandinho se segurar para não rir na frente do amigo.

— Biel, vamos comprar nosso bolinho de aipim, vamos! — disse Xandinho envolvendo o com seu braço e impedindo que ele passe mais vergolha.

— Mano ela é muito gata e gostosa — disse ele.

—  E simpática, né?

— Tu sabe que eu gosto de mina difícil, né?

— Ai, mano, não começa. Sai dessa!

— Sei lá mano, parece que eu gosto de mulher que me maltrata. Meio que gamei, sei lá.

Xandinho tirou o braço do ombro do amigo, ficou de frente para ele, segurou em seus braços e disse:

— Para, Gabriel! Sério. 

Pior que Gabriel parecia estar mesmo interessado na garota. Ele não parava de olhar na direção em que ela estava.

— É sério, Xandinho! A garota é muito gata.

Xandinho respirou fundo e foi atrás do bolinho de aipim.

Na largada da segunda bateria, Cauã se saiu melhor. Conseguiu estar entre os cinco primeiros logo no começo. Ele se manteve estável, preocupando-se apenas em manter esta posição por enquanto para depois arriscar. Como ainda havia muita aglomeração perto de si, achou melhor aguardar o melhor momento de fazer manobras mais arriscadas e, assim, evitar quedas. Na quarta volta, em um dos declives conseguiu fazer a primeira ultrapassagem se posicionando em quarto lugar. Cauã começou a se sentir mais seguro do que na primeira bateria. Uma das motos à sua frente derrapou feio e caiu. Ele desviou dela e tomou todo cuidado, mas na curva seguinte foi ele quem caiu.

— Caramba! — Xandinho estalou os dedos de nervoso.

— O playboyzinho beijou o chão! — disse Silas rindo.

— Para de agourar, Silas! — disse Gabriel — Ele já está de pé e correndo de novo. O cara não vai se deixar levar por nada!

Xandinho estava nervoso, roendo as unhas, esfregando a cabeça.

Cauã emparelhou com uma moto e, ao passar por um morro alto e saltar, a ultrapassou. Desviou-se de outra moto, que parecia estar descontrolada ou com algum problema. Na sétima volta ultrapassou duas motos, ambas durante saltos que ele deu com muita agilidade. Conseguiu ouvir os gritos de urra da plateia. O público já o notara, os olheiros também confabulavam entre os membros de suas equipes. Durante a décima quinta volta, na arquibancada se comentava muito sobre o número 7, que estava se recuperando muito bem depois de ter caído e já havia alçado a posição de quinto lugar. Mas ele precisava melhorar sua posição se quisesse subir no pódio ou se quisesse garantir uma vaga no grupo de elite de seu estado. Já havia feito quinze pontos, e a soma da primeira e da segunda bateria que garantiria sua pontuação final. Em um dos aclives conseguiu ultrapassar o quarto colocado. Na décima-sexta volta, Cauã conseguiu impressionar mais ainda o público com um espetacular king-kong.

— Que belo salto do número 7, que agora está em terceiro lugar — disse o locutor em êxtase com a manobra.

Cauã ouvia seu número pelos auto-falantes seguido dos aplausos do público. Nas voltas seguintes foi mais difícil garantir alguma ultrapassagem. Os pilotos que ele ultrapassava eram retardatários que haviam perdido alguma volta e naquela hora só serviam de obstáculos para ele. Quando a garota da bandana rosa levantou a tabuleta informando que só faltava uma volta, Cauã levantou a guarda para não cair, pois estava perto do final da corrida. Ele decidiu aumentar a velocidade com toda a cautela. Percebeu uma moto se aproximando dele querendo ultrapassá-lo, mas ele a fechou numa curva fechando o caminho. Olhou à sua frente mais uma moto e, em um aclive, conseguiu deixá-la para trás. Após outra curva, pegou uma longa reta e, enfim, cruzou a linha de chegada em segundo lugar.

Respirou fundo enquanto desacelerava a moto e logo seguiu para seu box onde estava seu pai.

— Quase que eu ganhei, hein, pai. Foi por pouco!

— Tá doido, Cauã? — perguntou Olavo, seu pai, animado — Você venceu!

— Como assim?

— O piloto que venceu a primeira bateria, o número 17 caiu nesta bateria e se atrasou muito. Acabou chegando em sétimo lugar. O que chegou em primeiro lugar agora, havia chegado em sexto lugar na primeira bateria. Somando as duas baterias, nenhum deles pontuaram mais que você.

Cauã não havia ouvido, mas o locutor já havia anunciado seu nome e número nos alto-falantes.

Xandinho e Gabriel vibravam abraçados na arquibancada. Passado o momento de êxtase, desceram para se aproximar de Cauã.

Os organizadores do campeonato conduziram o vencedor até o pódio. Ele subiu no degrau mais alto. O segundo e terceiro colocados nos degraus, consecutivamente, mais baixos. Cauã recebeu seu troféu com a aclamação acalorada do locutor, depois levantou o prêmio para o alto e posou para as fotos, tanto de amadores quanto de fotógrafos profissionais. Foi-lhe entregue também um champanhe o qual ele chacoalhou e espirrou para o alto tomando um pouco do que sobejou.

Lá do alto, de seu plano elevado de glória, Cauã procurou por pessoas dentre as que se amontoavam ao redor do pódio. Acenou para algumas. Quando avistou Xandinho, seu olhar estacionou ali. Eles se olhavam sorridentes e com uma tensão muito elevada. Era como se estivessem se comunicando sem precisar falar. Como se um quisesse comer o outro com os olhos.

Cauã foi despertado de seu transe quando Sandra, a conhecida repórter da TV Brisa o chamou.

— Cauã Rodrigues, parabéns pela vitória! Nós estamos aqui ao vivo na TV Brisa. Como é saber que você acabou de ganhar acesso para a categoria de Elite?

— Sandra, eu fico muito feliz de estar alcançando meus objetivos aos poucos. Eu não sei nem expressar em palavras o que estou sentindo. Agora é continuar os treinos para me preparar para o Campeonato Estadual.

Enquanto Cauã dava entrevista. Xandinho observava o quanto ele estava radiante de felicidade e o quanto ele ficava mais bonito ainda quando estava feliz.

— Mano, deve ser muito bom estar na pele do Cauã agora — disse Gabriel hipnotizado com a cena da entrevista.

Xandinho não respondeu nada, continuava compenetrado na entrevista ou melhor, em Cauã. Deduziu que poderia estar apaixonado.

— O que te garantiu essa vitória, Cauã? — continuou a repórter — Teve alguma inspiração. Alguém de sua família que possibilitou que você pudesse estar aqui hoje subindo no lugar mais alto deste pódio?

— É óbvio que meus pais foram responsáveis por tudo isso. Foram eles que me incentivaram desde o começo e, mesmo sem patrocínio, competindo de forma particular, consegui alcançar a vitória graças a eles. Pai, mãe, muito obrigado!

— Sem patrocínio... ainda porque depois dessa corrida perfeita, alguém deve estar de olho em você — enfatizou a repórter.

Cauã procurava algo em um de seus bolsos internos. Quando achou um papel o desdobrou e se inclinou pedindo vez no microfone. Sandra o estendeu para que ele falasse.

— Não queria deixar de agradecer também, a um amigo especial. Um piloto não pode vencer sem moto. Minha moto tinha dado um problema e sem a manutenção feita pelo meu amigo Xandinho minha moto não estaria preparada para que eu pudesse vir competir hoje. Então, graças a ele também, eu pude estar aqui. E... quem estiver precisando de manutenção ou conserto com profissionais sérios é só passar na Caverna da Moto, que fica no início da subida do Morro do Pôr do Sol. Eu mesmo só conserto minha moto lá — disse ele mostrando o panfleto simples que Xandinho havia feito para a câmera.

Xandinho balançou a cabeça incrédulo. Ele realmente não esperava aquilo!

A repórter olhou sem graça para a produção. O diretor viu que se tratava de um panfleto simples em preto e branco e fez um gesto na mão dizendo que podia deixar passar o merchan gratuito.

— Caramba, Xandinho! Agora é você quem está famoso! — Gabriel sacudiu o amigo.

Cauã olhou para Xandinho assim que fez a propaganda e deu uma piscada para ele, o que Xandinho interpretou com significados múltiplos e superestimados.

Nélio, que ainda da arquibancada assistindo a tudo com Carmem e Silas, comemorou a propaganda na tevê todo empolgado.

— Isso acabou de acontecer mesmo? O rapaz que o Xandinho consertou a moto fez uma propaganda da nossa oficina na tevê sem eu precisar pagar nada? — perguntou ele todo empolgado.

— Sim, amor! — disse Carmem sorrindo.

— Xandinho é um menino de ouro! E este piloto... Até que eu gosto dele!

Silas o olhava com desaprovação.

A repórter fez mais algumas perguntas finais e já estava se preparando para se despedir quando, do meio da multidão, ouviu-se, alguns gritos agudos e femininos.

— CAUÃ! CAUÃ!

Quando Cauã a avistou, soltou-lhe um sorriso.

A garota com a blusa e saia vermelhas que levantava a tabuleta se aproximava de Cauã sorridente. Ela tirou sua bandana rosa da cabeça e a amarrou de forma folgada no pescoço do primeiro colocado.

— Parabéns! — disse ela dando-lhe um beijo selinho demorado, intencionalmente, na frente das câmeras.

Xandinho sentiu todo o calor da emoção que estava sentido ser dissipado em questão de segundos. De repente seu mundo escureceu e se esfriou.

— Opa! Parece que o coração do campeão já foi acorrentado por uma loirinha — disse a repórter.

— Sim, Vanessa Guimarães — disse a garota aproveitando para divulgar seu nome para as câmeras.

A repórter resolveu encerrar a entrevista. Agradeceu a atenção de Cauã e foi falar com o segundo e terceiro colocados.

Xandinho não quis mais ficar ali vendo a cena da loiraça gata abraçada ao cara com quem ele achava que estava tendo algum tipo de troca sentimental. Lembrou-se das palavras de Silas e, embora não gostasse dele, começou a acreditar que o tio tinha razão.

"Ei, acorda, Xandinho. Aquele playboyzinho não quer sua amizade. Ele só está interessado em um mecânico que cobra barato ou de graça.", a voz de Silas tomou seus pensamentos.

— Vamos nos encontrar com meus avós? — perguntou Xandinho a Gabriel.

— Vamos — disse Gabriel já acompanhando seus passos e andando.

Eles começaram a caminhar lado a lado, ambos cabisbaixo.

— Estou chateado, meu amigo — revelou Gabriel.

Xandinho não respondeu-lhe nada. Ainda sentia o gosto amargo de decepção em sua boca. Gabriel insistiu em seu desabafo. Afinal só queria falar:

— Mano, acabei de saber que a loirinha que eu gamei tem namorado e que ele é um campeão do motocross.

Xandinho olhou empático para o amigo.

— Será que eu tenho chance contra um piloto de motocross? Claro que não! Decepcionado estou!

— Eu te entendo, Biel — disse Xandinho cabisbaixo.

Cauã, que tinha acabado de descer do pódio e estava distraído conversando com os pais, olhou para o público e havia perdido Xandinho de vista. Vasculhou os rostos, porém não o encontrou. Ficou sentido. 



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