Morgana observava o espelho de sua penteadeira. Seu pai, Remy, estava atrás de si arrumando seu cabelo. Ele levantou um pequeno objetos e pelo reflexo do espelho, Morgana consegui ver um kanzashi.

-Sua mãe não entende como a sociedade é corrompida, pequena loba. -Remy começou a dizer, ele usou o apelido carinhoso que apenas ele costumava dizer. -Naomi pode ser tudo, menos alguém que aceite um não. Então, não posso passar por cima de suas ordens e deixar que você tenha um canivete ainda.

-Eu realmente preciso andar com canivete, pai? -Perguntou a garota. -Eu sei lutar, faço aulas com o vovô Sano!

-Óbvio que sim, Morgana. As vezes, não há como lutar corpo a corpo. Não vê o tanto de garotas que são mortas ou abusadas aqui em Tokyo? Aqui na cidade? Eu não quero que nada disso aconteça com você. -Remy respondeu de modo sério. Morgana prestava atenção em cada palavra, ele estendeu o palito feito de metal em direção a ela, a Nishikori pegou o objeto para analisar melhor. -Pessoas não gostam de mim, não gostam do seu avô. E consequentemente, por conta do sangue que corre em suas veias, eles não gostam de você.

-Por isso, você precisa se defender, Morgana. O mundo é cruel, minha filha. Cruel demais para os homens e pior ainda para uma mulher, cruel demais para pessoas que possuem a nossa inteligência. -Remy voltou a dizer. -Morgana, mesmo sendo tão nova, você já vê como o mundo funciona, a justiça é falha. Os humanos são gananciosos e maldosos.

-Então, o senhor esta querendo me dizer que...eu devo matar quem tentar me machucar se qualquer forma? -Morgana perguntou enquanto apertava a ponto do dedo no kanzashi, ela não havia notado o quão afiado aquilo era. Um pequeno furo se formou e ela sentiu uma dor, sangue começou a sair.

Remy retirou o objeto da mão de Morgana e ela, levou o dedo machucado até a boca.

-Exatamente, quem tem misericórdia são os deuses. Por isso, fiz esse Kanzashi especialmente para você. Sua mãe vai achar que é somente um utensílio de cabelo, porém, como você mesmo viu, a porta é extremamente afiada. Prática para usar em qualquer ocasião, se alguém tentar de sequestrar ou...te abusar, você irá atacar com esse objeto em direção da...

-Garganta. -Morgana terminou de falar por ele.

-Sim, e se te trancarem em algum lugar, é útil para quebrar a janela ou abrir a porta. -Ele falou enquanto começava a fazer um penteado na cabeça da filha, um coque com metade do cabelo e o resto solto. Ele passou o objeto e firmou o coque. -Veja, você fica tão lindinha com esse penteado, parece uma princesinha!

-Eu gostei, obrigado papai! -Morgana falou de forma calma ao se olhar no espelho, sua mente está a mil.

Um pai normal jamais teria falado ou dado algo daquele tipo para sua filha que ainda era considerada uma criança. Porém, Remy sempre foi um homem diferente dos demais. Um grande cientista renomado que achará diversas curas para varia doenças diferentes. Remy era um Nishikori, e essa família não desista por nada, dotados de uma inteligência rara que foi passado de geração a geração. Remy não ligava se Morgana machucasse alguém que tentou ferir ela ou se fosse para realizar algum tipo de experimento científico. Oras, ele não era normal! Ninguém da família Nishikori era normal.

-Pai, só trarei honra a nossa família. Não irei te decepcionar por nada. -Morgana respondeu ainda observando seu reflexo. -Não sinta medo sempre que eu sair de casa, voltarei inteira sempre. Não deixarei ninguém me machucar.

Remy sorriu de forma feliz ao escutar aquilo, ele não podia prender Morgana em casa pois sabia que a alma dela era como um pássaro que sempre iria voar e deixar ela presa, seria como machucar-lá. Ele não se achava um bom pai, ele não teve um exemplo paterno bom então nunca soube como lidar com Morgana. As vezes ele até sentia medo da pequena pois não sabia o que fazer.

-Toujours Luth, Morgana. -Remy falou em sua língua materna, o francês. O significado era sempre lute. -Não deixe nunca que alguém tente de jogar ao chão, na nossa família existe a empatia...porém, o perdão não.