Capítulo XXXVIII
Quando acordo depois de nossa noite agitada já é sol alto.
Quase hora do almoço eu diria.
Levanto-me preguiçosamente e vejo um vestido limpo na poltrona. Jamie deve tê-lo trazido para que eu possa me vestir para o café aqui mesmo.
Então, faço rapidamente minha higiene matinal, visto-me e sigo até a sala de jantar.
E a encontro vazia.
Sem nem um farelo de pão na mesa.
Isso me entristece absurdamente.
Sigo até a cozinha, e antes que eu chegue ao meu destino encontro Nita.
- Nita! Estou com fome!
- Eu imagino que esteja! Já é quase hora do almoço, menina!
- Dê-me algo de comer agora, por favor! - peço fazendo biquinho. Preciso amaciá-la depois de ontem.
- Suas atividades noturnas a deixaram faminta? - ela pergunta, me provocando.
- Sim, você não se cansa em suas atividades noturnas com Klan? - devolvo a pergunta, e ela cora.
- Ah, eu me canso, sim! - ela solta uma gargalhada - Sente-se na mesa, irei lhe levar algo para comer, Lizy.
Dou um beijo estalado em sua bochecha.
- Obrigada, Nita!
Sigo saltitante até a mesa, onde aguardo minha refeição.
Logo Nita chega com uma cumbuca fumegante nas mãos, ela a coloca na minha frente e quando vou comer eu simplesmente travo.
- O que é isso? - pergunto, olhando para o conteúdo no pote.
- Mingau. - ela diz, num tom que sugere ser óbvio.
Olho aquilo mais detalhadamente.
Sim, é branco e viscoso e cheira a leite, e tem algumas bolinhas suspeitas no meio.
Eu gosto de mingau.
Apenas não gosto desse mingau.
Sinto um enjôo tomar conta de mim e empurro a cadeira.
A ânsia é tão forte que sei que não conseguirei chegar até o banheiro, então corro para o grande vaso que há na porta do cômodo de jantar, me abaixo e vomito ali mesmo.
Meu estômago está vazio, há apenas a água que bebi ao acordar.
E, quando termino, sento-me no chão, sentindo-me fraca, fechando os olhos por um momento e respirando profundamente.
Quando me recomponho, abro os olhos e quase me sobressalto ao ver o olhar que Nita está dirigindo a mim, com aqueles olhos azuis penetrantes e afiados.
- Está melhor? - ela pergunta.
Aceno afirmativamente.
- Há quanto tempo você e Jamie estão tendo relações?
- Desde que doutor Cooper se foi.
- Mais de um mês, então. E, nesse tempo, qual a última vez que sua regra veio?
Eu permaneço em silêncio, enquanto as engrenagens do meu cérebro começam a girar e girar furiosamente.
Como eu pude não perceber?
- Oh, céus... - eu murmuro.
Nita fica pálida.
- Quando sua regra veio, Lizy? - ela pergunta novamente.
- Não.. não veio, deveria ter vindo na primeira semana da viagem.
Ficamos em silêncio um momento, enquanto eu absorvo o impacto da descoberta.
O que Jamie pensará ao descobrir que seremos pais?
Isso é, se isso for verdade.
- Levante-se, menina. - Nita me estende a mão.
Eu a aceito e me levanto do chão.
Sento-me novamente à mesa de jantar e torço o nariz para o mingau.
Nita rapidamente o retira dali.
- Pode ser um atraso normal, não é Nita? Pelo estresse e ansiedade. Minha mãe me disse uma vez que é possível!
- Sua regra não veio, está tendo sono excessivo, enjôos e vômitos, alterna fome e falta de apetite, seu humor está terrível, segundo Jamie disse no relato que fez da viagem e anda emotiva. Acha, honestamente, que seja ansiedade? - ela pergunta.
Eu apenas olho para Nita.
Ela vem até mim, e me puxa pela mão, levantando-me novamente.
E, então, aperta minha barriga com um pouco de força.
Estou sem o espartilho, o que facilita o exame que ela me faz.
- Há um bebezinho aqui, Lizy. - ela me diz, suavemente.
Imediatamente, levo minhas mãos a barriga, e como se as palavras de Nita fossem mágicas, sinto ali uma leve protuberância que não havia notado, tão suave que era quase imperceptível, mas estava ali.
Meu filho.
- Esse não é o momento, Nita, ainda não. - eu sussurro.
- Se não fosse, ele não estaria aqui. - ela põe a mão novamente em minha barriga, agora a acariciando - Parabéns, você será mãe!
- E você será vovó! - digo, secando uma lágrima que me escapou.
- Vovó! - ela repete - Eu gosto de como soa.
- Onde está Jamie? - pergunto, já saindo dali, ansiosa para contar a ele.
- Nos estábulos. Saiu cedo junto de Ian.
Ao chegar no hall de entrada da casa, ouço um som estranho vindo dos fundos.
Gritos e cavalos relinchando agitados.
E, quando estou a meio caminho de abrir a porta da frente, a mesma é violentamente escancarada, e minhas pernas quase cedem sob meu peso ao ver quem ali adentrou, sorrindo ferozmente como um lobo.
Ethan Coen.
- Olá, Annelizy! Não está feliz em me ver? - ele pergunta, abrindo os braços, com uma expressão divertida no rosto.
Sinto o sangue ser drenado de mim, minha respiração falha, e ao longe, ouço a confusão que se instalou no fundo da propriedade.
O que diabos esse maluco fez?
Ele caminha até mim, calmamente, saboreando cada segundo daquilo.
E eu penso em pegar a adaga que está em minha perna e cumprir a promessa que fiz há tanto tempo, de tirar minha vida antes que ele ponha as mãos em mim novamente.
Chego a esticar a minha mão direita e fazê-lo, mas.. eu me lembro.
"Você nunca mais estará sozinha, Lizy" , Ian me disse há alguns dias atrás.
E aquilo era tão, mas tão verdade, e não sabíamos.
Até agora.
Eu não estou sozinha.
Se eu me matar, matarei meu bebê.
Fecho as mãos em punhos, expulsando completamente a possibilidade da minha cabeça.
- O que quer, seu maluco? - pergunto, forçando minha voz para não tremer.
- Quero minha esposa de volta. - ele sorri.
- Eu nunca fui tal coisa!
- Tenho um documento que diz o contrário.
- Saia daqui, seu monstro, deixe-nos em paz! - Nita sai do torpor que estava e grita para Ethan.
A expressão de divertimento rapidamente desaparece e ali, agora, há apenas o rosto do Cachorro Louco.
Mais rápido do que deveria ser possível, Ethan levanta sua arma de pólvora e dispara contra Nita.
- NÃO!! - eu grito junto ao barulho ensurdecedor do disparo, olhando para trás, e a vejo ali, já estendida no chão, sangrando, olhos abertos fitando o teto.
Sinto o tremor pelo meu corpo, minha mente implorando para que seja um pesadelo.
Não pode ser real.
Não é real.
Mas um aperto em meu braço, tão forte quanto um ferrete, me mostra que sim, é real.
- Me solte. ME SOLTE! - começo a gritar e me debater.
Ethan me dá um tapa estrondoso no rosto e me puxa, colando seu corpo ao meu e fala em meu ouvido.
- Quanto mais resistir, mais vou me divertir com isso, sua vadia miserável!! - ele sussurra e morde minha orelha, suavemente.
Sinto um arrepio de pavor com a maneira íntima que ela faz aquilo, as lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto dolorido.
- Muito bem, agora vamos. Temos assuntos pendentes, você e eu.
Ethan me puxa porta afora, onde há um grande garanhão marrom esperando, me ergue sobre o lombo do cavalo e sobe em seguida, atiçando o animal e saímos dali a galopes rápidos e furiosos.
Aiaiaia ele chegou! 😢
O que acham que irá acontecer?
Votem e comentem
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