Capítulo XXVIII
Jamie
Dormi e acordei com o corpo quente e macio de Lizy em meus braços.
Sua respiração calma e suave tinha um efeito calmante sobre mim.
O sol havia nascido à pouco, então decido deixá-la dormindo mais um tempo e desço para verificar se tudo correu bem no "trabalho" de desovar o corpo do espião.
Meus homens ainda não haviam retornado quando Lizy e eu nos retiramos da festa, pois pedi que eles ficassem ali algumas horas observando a movimentação da cidade.
Visto-me e sigo para fora, onde os criados já estão limpando o local da festa.
Todos com olheiras escuras e bocejando a cada minuto, porém com expressões felizes no rosto.
Encaminho-me aos fundos, e encontro os homens ali, com uma caneca de chá fumegante nas mãos. Eles me vêem e andam até mim.
- Como foi ontem? Tudo correu bem? - pergunto, ansioso.
- Sim, patrão. Mas nós ouvimos alguns rumores…
- Pois então desembuche!
O homem passa a mão pelos cabelos, exasperado.
- Bem, é que… Ouvimos dizer que os ingleses estão considerando a senhorita Lizy morta. Houve até um funeral cheio de pompa.
- Um funeral?
- Sim, e tem mais…
- Diga logo por tudo que há de mais sagrado, Sven! - digo entre dentes, controlando-me para não gritar.
- Coen arrumou um documento que comprova o casamento. É falso, certamente, mas ele está usufruindo de toda a herança do general. Até mudou-se para a residência Blanc. E está ostentando seu luto, anda de roupas pretas há dias.
Aquilo me enfurece e faz com que eu enxergue em vermelho, tamanho ódio que sinto.
Cerro os pulsos e me controlo para não xingar os criados a minha frente, afinal, o mensageiro não tem culpa da mensagem que trás.
- Bom trabalho, homens. Digam aos mercenários e aos nossos que fiquem atentos. Quero patrulhas de horário nos limites da propriedade e se uma folha cair da árvore de maneira suspeita, eu quero saber. Entendido?
- Sim, patrão. - os homens dizem, em conjunto.
Dou meia volta e retorno a casa principal. Antes de chegar as escadas, encontro Nita.
- Senhor Jamie! Eu ia lhe procurar, estou preocupada com Lizy, estou batendo na porta de seu quarto há horas e ela não me atende! A porta está trancada!
Sim, eu me certifiquei de tomar algumas providências para que ninguém descobrisse que Lizy não dormiu em seus aposentos.
- Tenho certeza de que ela está em sono pesado. Afinal, dormimos tarde ontem.
Nita me olha de forma estranha.
- Dormiram é?
- Ora, Nita! - sinto meu rosto aquecer - Todos dormimos, afinal houve a festa e tudo o mais, não é mesmo?!
- Sei.. Muito bem, quando decidirem ir tomar o café peçam que lhes busquem as bebidas ainda quentes na cozinha. Estou indo verificar se tudo foi limpo e já organizar as coisas para a Celebração de hoje. Com licença.
Nita se retira, rumando ao seu dia de trabalho, não sem antes de dar aquele olhar de quem sabe das coisas que ela tem.
Bem, mais um que desconfia de nós.
Subo as escadas e quando estou quase pegando na maçaneta de meu quarto, Ian sai do quarto de hóspedes.
- Jamie!
Oh céus, mais um agora.
Viro-me para ele, que tem a cara amassada e a roupa cheia de terra e folhas.
- O que diabos aconteceu com você?
Ian desce o olhar para a própria roupa e coça a nuca, parecendo acanhado.
- Eu achei que tivesse sido um sonho… - ele murmura tão baixo que tenho dúvidas se ouvi corretamente.
- O que disse?
- Bem, você tem uma camisa para me emprestar? Sabe, Nita me mataria se me sentasse a mesa assim para a refeição.
Cruzo os braços e contenho um sorriso.
- Só empresto se me dizer o que andou aprontando.
- Talvez o mesmo que você e Lizy andam fazendo…
- Ian..
- Tudo bem, tudo bem… Eu dei alguns beijos na filha do treinador de cavalos, Lucine.. Aparentemente nos escondemos atrás de alguma árvore.
- Lucine? Mas ela não tem idade para essas coisas, Ian! Seu pervertido!
- Como não? Ela completou dezoito anos algumas luas atrás.
- Eu não lembro-me disso. - para mim ela ainda era uma menina, afinal eu a vi crescer.
- Claro que não. Seus pensamentos estão dominados por uma certa loura tempestuosa.
- Sim. - dou risada - Estão mesmo. Bem, vou lhe dar algumas roupas.
Abro a porta e Ian dá alguns passos para entrar em meu quarto, e eu a fecho novamente.
- Aguarde em seu quarto, eu as levarei até você.
Ian olha de mim para a porta algumas vezes.
- Lizy está aí, não é?
- O quê? - quase grito - Não, é que está uma grande bagunça.
- Aposto que esteja. - ele não acredita nem um pouco. - Esperarei em meu quarto.
Ian volta ao quarto de hóspedes e eu entro, pegando uma camisa e calças limpas, e levo até ele, apressadamente, que agradece e ruma ao seu banho.
Quando finalmente fico sozinho com Lizy, após trancar a porta, claro, eu deito-me ao seu lado.
Ela ainda dorme a sono solto, enrolada nas cobertas.
Acaricio seus cabelos, que estão mais claros graças a luz do sol que entra através da janela e os ilumina.
- Bom dia, preguiçosa. - digo, tentando acorda-la.
Lizy abre o olho imediatamente, com um sorriso já em seus lábios.
- Bom dia, meu querido!
- Estava me enganando, sua travessa!
- Apenas quis me aproveitar das carícias suaves que usa para me despertar.
- Ora, sua..
Avanço sobre Lizy, lhe fazendo cócegas na barriga, e ela se contorse, rindo.
- Jamie não… isso faz cócegas. - ela diz as gargalhadas.
- Essa é a intenção! - digo rindo, mas paro meu ataque e a abraço.
Ficamos ali alguns segundos.
- Creio que eu esteja atrasada para retornar ao meu quarto e fingir que não dormi aqui.
- Creio que sim. Ian e Nita suspeitam de nós.
- Não seria melhor dizer logo a eles?
- Eu deixo a decisão com você, meu amor.
Lizy se aproxima e me deixa nos lábios, eu aprofundo o beijo mas logo nos separamos.
- Contaremos após o final da festividade, que tal?
- Que assim seja. Agora vista-se, eu vou na frente destrancar sua porta e verificar o corredor.
Felizmente Lizy conseguiu chegar aos seus aposentos sem incidentes.
Desço e peço que preparem o que faltava para a refeição da manhã, o que é feito rapidamente, e aguardo que ela e Ian desçam.
Não tarda e logo Lizy chega, num vestido amarelo claro, suave e lindo como ela.
Claro, suave quando ela o quer ser.
Pois Lizy tem a personalidade de uma tempestade e uma brisa de verão, e as usa conforme seus desejos.
Logo ouvimos os passos de Ian descendo as escadas, e Lizy e eu trocamos olhares conspiratórios, nos divertindo com nosso segredo.
Eu gostaria de mantê-lo um pouco mais, tê-la só para mim, sem que ninguém soubesse.
Mas, se Lizy quer que sejamos honestos com nossos amigos mais íntimos, nós o faremos.
Afinal, sei que é o correto, minha recusa é apenas em razão de meu egoísmo estar falando mais alto.
- Bom dia a todos! - Ian diz, sentando-se em sua cadeira.
- Ian! Está com uma cara horrível! - Lizy diz.
- Ora, quanta gentileza! Obrigada, senhorita. Está explêndida esta manhã, imagino que tenha tido uma ótima noite. - Ian diz a Lizy, e me olha de soslaio.
- Sim, mas você não ficou atrás não é. O vi dançando com uma bela morena ontem.
- Morena? Mas Lucine é ruiva! - pergunto, curioso.
- Bem, é que muitas damas quiseram minha atenção ontem.
- E você não hesitou em oferecer isso a elas, não é mesmo?
- E o que mais eu poderia fazer? - ele pergunta, com cara de inocente.
- Parar de ser um galinha?
Ian joga a cabeça para trás numa sonora gargalhada que dura alguns segundos.
- Mas não sou tal coisa, apenas um pouco paquerador. - ele diz, quando se acalma.
- Cuidado, Ian, um dia o feitiço pode virar contra o feiticeiro. - Lizy diz.
- Bem, vamos mudar de assunto, sim? Irei lhes contar a fofoca da noite!
- Fofoca? - diz Lizy com os olhos brilhando de animação, inclinando-se sobre a mesa.
Ian faz o mesmo movimento e eu, inconscientemente o faço também.
- Nita foi pega aos beijos com Klan. - Ian sussurra, olhando para a porta, atento caso o tema da conversa apareça.
- O quê?? - Lizy e eu exclamamos ao mesmo tempo, quase gritando.
- Shiiiu.. silêncio, vocês dois. Nita está distribuindo cascudos em qualquer um que se atreva a tocar no assunto, não quero ser o próximo.
- Conte-nos essa história direito, Ian, queremos detalhes! - digo, sem conseguir conter minha curiosidade.
- Não há muito mais, Jamie. Eles estavam dançando, e depois, sumiram. Então, um dos cavalariços foi urinar próximo aos estábulos, em um arbusto, e quase urinou aos pés deles!
- Afinal, você não foi o único que se embrenhou em meio aos arbustos. - digo, rindo.
- Não mesmo! Mas fico feliz por Nita, ela merece ser feliz, não é mesmo? - Ian diz, ainda sussurrando.
- Sim, mas eu pensei que… - Lizy começa a dizer e silencia-se em seguida.
- O que, Lizy? - pergunto.
Ela balança a cabeça negativamente.
- Deixe para lá. Bem, vou ver se nossa querida Nita precisa de minha ajuda em alguma tarefa. - Lizy diz, após terminar sua refeição, levantando-se - Até mais tarde, rapazes.
- Não diga a ela que eu toquei nesse assunto!
- Que assunto? - Lizy diz com um sorriso inocente.
- Boa garota. Até mais Lizy. - Ian se despede.
Troco um olhar com Lizy, cheio de sentimentos, e ela se vai.
- Bem, você vem comigo? - pergunto, levantando-me.
- Aonde vamos?
- Como aonde? Trabalhar, Ian!
Não se esqueçam que teremos mais
uma noite de festa hahaha
Votem e comentem ⭐😘
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top