A janela da biblioteca era um lugar muito aconchegante.

Ela era para fora, e ali no vão que se formava, fora colocado várias almofadas. Nita não permitiu que eu passasse o dia na cama, então foi ali que passei.

As refeições me foram trazidas aqui, e eu só sai para usar o banheiro.

Vi cada movimento do sol.

Essa letargia me era estranha e nova, provinda do luto, provavelmente. O choro cessou, e a aceitação já está em meus pensamentos.

Mas, preciso de um dia. Apenas um dia e seguirei em frente.

Agora já é noite, deve ter passado da hora de dormir. As velas da sala foram acesas há muito. Ouço passos mas não me mexo. Apenas continuo minha vigília na janela.

- Nita disse que a senhorita passou o dia todo olhando esta janela. - a voz de Jamie enche a sala e aquece meu coração.

Viro e o vejo parado a centímetros de mim. Com um olhar terno e cauteloso.

Me levanto e corro para seus braços.

Jamie me aperta contra seu corpo, e quase me levanta do chão, tamanha força de seu abraço.

Eu realmente fui grata pela atenção e cuidados de Ian e Nita, mas eram desses braços que eu precisava.

O cheiro dele me invade e inalo profundamente, querendo mais. Nos afastamos e nos acomodamos em meu cantinho, mas Mackenzie não solta minha mão.

- É uma bela vista. - respondo, secando uma lágrima que me escapou.

Ele aguarda que eu continue.

- Eu me lembrei.

- De tudo? - ele pergunta.

- Não. Lembro-me de minha vida toda, até daquele maldito noivado, que foi oficializado dias antes do ataque. Eu não queria, Jamie, mas papai insistiu que aquele era o homem mais apropriado para mim, que Coen seguiria com seu legado no exército sendo o próximo general, e que já que ele não havia tido um filho homem, esse casamento era o meu dever pelo bem do nome e legado da família. Me lembro de tudo isso, menos daquela maldita noite. Apenas sei que meus pais foram ao teatro e, então, eu já estava acordando no hospital.

Ele acena, dizendo que entendeu, palavras não se fazem necessárias aqui, e continua com minha mão entre as suas, fazendo um suave carinho.

Ficamos ali, em silêncio, ouvindo o respirar um do outro. Até que digo algo que está me incomodando.

- É errado eu me sentir bem aqui? - Jamie me olha, intrigado.

- O que quer dizer?

- Meus pais morreram. Eu estou terrivelmente triste, com certeza. Minha vida está em frangalhos, mas… eu me sinto bem aqui. Com o senhor. - ele me olha fascinado, e me apresso a acrescentar: - E Nita. E os cavalos.

- Eu fico feliz que se sinta assim. E, não, não é errado. Seus pais iriam querer que estivesse segura e bem, e está ambas as coisas aqui conosco.

- Sim. Mas este não é o meu lugar, não é mesmo?

- Novamente, o que quer dizer? - Jamie pergunta, confuso.

- Sou uma forasteira, Jamie. Meu pai invadiu seu país, e eu invadi sua casa. Eu deveria ir embora.

Apenas cogitar a ideia de partir me magoa profundamente, e para que o senhor Mackenzie não perceba, me levanto e tento seguir para meus aposentos, mas é claro que ele não permite.

- Quem andou lhe dizendo essas coisas absurdas? - pergunta, irritado, segurando em meus braços.

- Ninguém. Apenas estive pensando nisso durante o dia. - eu nunca causaria mal ao Sullivan o entregando dessa forma.

- Ouça-me com atenção, por favor. - ele pede e aguarda minha resposta.

- Sim.

- Seu pai foi meu inimigo. Lutamos em lados opostos. Mas a senhorita nunca, em momento algum foi minha inimiga. Percebo isso agora. Eu errei quando hesitei em lhe ajudar depois que soube quem era. Desculpe-me por isso. E, quanto a aqui não ser o seu lugar, eu acredito que poderia ser. Se assim quiser.

As palavras de Jamie saem com emoção, e me tocam profundamente, me acalmando.

Ele solta o aperto em meus braços, e, tomada em sentimentos, ergo minha mão e lhe acaricio o rosto. Um gesto íntimo e ousado, mas que parece certo nesse momento.

Os olhos de Mackenzie são como bronze em chamas me olhando, iluminados pelas velas e por suas próprias emoções.

- Obrigada.

Retiro minha mão de seu rosto, e a magia do momento se rompe.

- Estou cansada, até amanhã, lorde Mackenzie. Tenha uma boa noite.

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