Salém - A Santa Inquisição

1


Observei aquela mulher sendo arrastada para a fogueira.

Seu crime: bruxaria.

Os cabelos laranjas e olhos pretos eram a prova principal. O vilarejo estava lotado com aldeões que afirmaram que a mulher que morava mais escondida, nunca mostrara os cabelos, e sempre ia à floresta em horários em que nenhuma mulher iria. Além disso, não era casada e se mantinha sozinha. Sua companhia era apenas um gato selvagem. Não frequentava a Igreja, tampouco socializava nas festas e comemorações da vila.

A mulher gritou quando o sacerdote a amarrou ao tronco onde ela seria queimada. Eu fazia parte da Santa Inquisição, responsável pelo interrogatório, e assim que o careca termina de prender a moça, eu me dirijo para o pequeno púlpito, os aldeões em silêncio.

— Saúdem os Homens Da Casa de Deus — Um dos sacerdotes gritou, e logo os aldeões falaram algumas palavras religiosas. Somos responsáveis por avaliar a situação e as acusações e levar ao papa. Mas hoje, esta mulher não sairá viva, já que há mais de um crime contra ela.

— Diga seu nome. — A questiono. Seus olhos pretos me olham com ódio.

— Kathryn. — Disse após respirar fundo. Me olhou no fundo dos olhos, com raiva.

É uma bruxa.

— Seu nome completo, vagabunda! — Um dos aldeões ricos ergueu o chicote e bateu nas pernas dela, que o encarou sem expressar nada, depois cuspiu. — SUA HEREGE! — Gritou e avançou, mas eu o impedi.

— Acalme-se! Eu faço as perguntas! — Empurrei ele e me virei para a mulher.

— Seu sobrenome?

— Bishop. — Uma onda de exclamações soou de algumas pessoas, incluindo o padre e o bispo. Esse sobrenome é relacionado a uma outra bruxa queimada aqui anos antes.

— Bruxa! Ela enfeitiçou meus filhos, um menino e uma menina de quinze anos! — Uma lavradora gritou e atirou uma pedra, que por sorte não acertou a mulher amarrada. Gritos e protestos soaram de todos.

— SILÊNCIO! — O padre gritou e exigiu que eu continuasse.

— Diga-nos sua idade e quem é sua família.

— Tenho vinte e sete e minha família está viajando.

— Mentira!

— Queimem-na! — Os aldeões sussurravam e gritavam à Santa Inquisição.

— Kathryn Bishop, você está sendo acusada de bruxaria e feitiçaria sobrenatural, você nega as acusações e se declara uma mulher da casa de Deus? — Meu colega pergunta e tira um crucifixo do bolso e coloca na testa dela. Todos ficam tensos e em silêncio.

— O que você esperava, idiota? — Ela perguntou. — Claro que eu nego, e sou uma mulher de Deus! — Protestou com raiva.

— É uma das poderosas! — Uma velha corcunda abraçou o filho.

— Que medo, meu Deus. — A maioria se afastou da linha que nos separava deles.

De repente um raio clareou o céu, assustando a todos. Em seguida, um trovão ensurdecedor provocou pânico e correria.

— FOI A BRUXA! QUEIMEM-NA!

— CADÊ O SOL?

— DEUS NOS ACUDA!

O desespero tomou conta do povo, e o bispo, que já corria para a igreja, gritou para que queimassem a mulher.

— VOCÊ ESTÁ LOUCO? ESTAMOS NO INVERNO! — A mulher gritou quando me deram uma tocha já acesa. — Ontem choveu! Pior que hoje! Eu não sou bruxa!

Os pingos caiam grossos, e me apressei em queimá-la. Os outros corriam para a capela, para assistir, protegidos da chuva de gelo. Cheguei perto dela, que esperneava e gritava.

— Grite como se tivesse sendo triturada. — Sussurrei e ela se assustou com minha nova voz.

— O quê?

— Agora! — Ateei fogo e logo a labareda subiu. Os gritos dela eram altos e desesperadores. Na capela, o povo gritava e os sacerdotes rezam por clemência.

Mais uma mulher, que estava apenas cuidando da própria vida, foi à fogueira.

Assim que fiquei sozinho, fui à floresta, com o pretexto de coletar provas para o Papa. A cabana pequena estava fechada apenas com uma porta com cordinha, assim que abri, encontrei uma cabaninha simples, bem arrumada e perfumada com as diversas flores dali.

Um gatinho selvagem chiou pra mim, me agachei e o peguei no colo.

— Bebezinho! Cadê sua mãe, ein? — O bichinho não parecia querer colo, então o coloquei no chão. Quando me levantei, ali estava Bishop, com um facão na mão.

— O que é você? — Perguntou, sem medo. Ela estava em casa.

— Bruxa, que nem você. — Tirei a máscara e revelei meu rosto. Uma mulher. Meus cabelos brancos caíram até perto dos joelhos, e agora que meus olhos estavam vermelhos, pude ver a casa real dela. Decorada com plantas venenosas do submundo, e o gatinho era um demônio de um dos sete cavaleiros do inferno.

O facão na mão dela era uma foice.

— Uma bruxa ceifadora, que coleciona plantas e roubou um demônio doméstico? — Me sentei na poltrona de ossos da sala dela.

— Uma bruxa da floresta, que anda com um bando de fanático, se passa por homem. Por isso conseguiu entrar aqui? — Ela sentou no chão, perto de onde a lareira estava, apagada.

— Sou uma bruxa do mar, e cuido das criaturas da floresta. Quase fui queimada, mas fui mais esperta. Me chamo Agnes Mish. — Estendo minha mão, e ela aperta.

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