Capítulo Onze

Esqueci de postar o 11 na data certa? Esqueci sim hahahaha mas não me julguem, eu tenho razões! Tive que levar minha bisavó no oftalmo e só quem é do RJ sabe como o transito da zona oeste p zona sul e vice versa é um satanás, OU SEJE, cheguei em casa super tarde, com a cabeça nas ventas, ainda mais porque descobri umas paradas sobre um outro projeto meu que me deixou avoadissima. Mas eu tô aqui agora e a espera acabou ♥

Boa leitura ♥



Tudo que eu tinha agora eram os olhares julgadores de Jason e Frederick, que ao acenderem a luz do quarto, no interruptor perto da porta, tiveram a oportunidade de analisar ainda melhor a cena. Não era um bom prospecto: sim, eu estava nua; sim, eu estava com Lucien, mas tinha que admitir que de certo modo me senti um pouco vitoriosa quando o sentimento neles se transmutou para algo que soava como... Despeito. Eu não quis que aquele momento acabasse, porém também não pude me controlar e evitar sorrir um pouco, coisa que fez os dois voltarem a se portar como deviam.

― Baixamos o nível ― Jason sorriu, sarcástico, e arremessou o vestido que estava aos seus pés, para mim. ― Vista-se e mande o seu amigo colocar uma roupa também.

Eu obedeci, ainda me sentindo a vencedora daquela rodada, por mais que soubesse que meu destino era voltar a Academia: eu agora tinha uma razão, um passatempo. E seria muito divertido torturá-los, quaisquer fossem seus desejos em relação a mim. Obviamente, Freddie sabia o que estava por vir ― a tensão e a preocupação nele se elevaram ao máximo, e eu não ajudei a baixá-las; quis meu olhar fixo nele, enquanto colocava cada peça de roupa em meu corpo. Era a minha melhor forma de provocação e a eu usaria sem dó.

Naquele momento, nem me importei com Lucien sendo levado embora pelo outro guerreiro que estava do lado de fora do quarto. Só existia, eu, Jason e Freddie e as mil e uma maneiras que eu poderia atormentá-los.

A volta para a Academia foi feita no mais profundo silêncio e quando chegamos, o efeito da estamina da vitória já havia passado um bocado, e eu já estava impaciente, mal-humorada e um pouco fora de mim. Depois de passar um dia sem pensar nele direito, estar ali já me lembrava de tudo que eu perdera de Peter: o sorriso doce, as palavras gentis, o toque... E só isso já fazia a ideia de voltar, ser um suplício. Minha ferocidade então, tornou-se a mais simples passividade ― eu estava cansada de me mexer e obedecer; só queria ficar parada em meu canto.

Continuei igual a uma criança fazendo birra no banco de trás, enquanto Jason segurava a porta aberta ― como se o fato dele a abrir para mim fosse fazer com que eu saísse... ― com um sorriso irônico no rosto. Se eu lesse mentes, a dele certamente diria "Você já está aqui, então não adianta todo esse drama".

― Na verdade, ele está pensando que se você não sair por vontade própria, será tirada a força ― Freddie interveio, lendo ambas as nossas mentes.

― Eu não preciso de um tradutor. E se ele tentar me tirar... vai virar churrasquinho ― balancei minha mão, agora em chamas, no ar, de uma forma infantil e vi Jason revirar seus lindos olhinhos azuis. Quis furá-los com uma agulha. ― Eu não estou brincando. Não tenho a menor intenção de colocar meus pés na Academia.

Jason olhou de mim para Freddie, de Freddie para mim, antes de falar; sua expressão estava entre o tédio e a irritação quando bateu a porta com força e se afastou do veículo. Isso não me impedia de ouvir abafado o que ele dizia para o outro na escuridão da madrugada ambrosi.

― Eu não tenho paciência para aguentar isso. Dá um jeito nessa garota, Freddie.

Enquanto ele seguia para o prédio principal da Academia, sem nem ao menos olhar para trás, seu companheiro soltava uma risada e abria a porta. Só que não para que eu saísse; Frederick sentou o meu lado suspirando, ainda com um sorrisinho amigável no rosto. Com sua aproximação em paz, eu fiz o mesmo e extingui o fogo para dentro de mim mais uma vez, pousando as mãos sobre o colo.

― Obrigado ― ele piscou e jogou a cabeça para trás, relaxando.

Depois disso, não falou mais nada por um bom tempo. Apenas encarava o teto, pensando em mil e uma coisas ao mesmo tempo, enquanto eu fazia o mesmo com sua pessoa; esperando qualquer coisa. Provavelmente ficamos assim pouco menos de meia hora, pairando pelo silêncio absoluto na quase escuridão da madrugada ― ainda que estivesse começando a amanhecer, a chegada da claridade parecia mais lenta do que nunca.

Jason com certeza já estava dormindo tranquilamente em sua cama, assim como o resto do mundo. Mas não nós dois.

Uma fina camada de neve começava a cobrir o verde em um manto leitoso, contudo, eu não sentia frio. E ao que tudo indicava, nem meu companheiro.

Logo, com o tédio começando a me dominar, imitei sua posição e também tratei de encarar um ponto fixo no teto. Isso, até Freddie erguer sua mão e tocar o tecido bege; a parte onde encostara começava a cristalizar e se expandir, até preencher em gelo todo o carro. Os vidros embaçaram, a atmosfera me fez arrepiar e a cogitar se havia sido mesmo uma boa ideia não colocar fogo nele...

Mas não houve tempo para que eu pudesse contestar sua decisão de congelar tudo... e nem para puxar a maçaneta e sair dali.

Freddie se curvou sobre o meu corpo e tomou meus lábios com os seus; eu provavelmente não teria permitido que me beijasse, mas se aquela era a melhor forma de preencher um pouco do vazio que Peter deixara... Por que não? Se consentir com seus toques subindo por minhas coxas faria com que eu sentisse menos a falta de Pete, então, ele teria toda a minha permissão para que continuar o que estava fazendo. Não era como se eu odiasse a forma com que Frederick apertava seu corpo contra o meu ― na verdade, eu bem gostava...

Assim sendo, eu arfei, no segundo em que ele me gentilmente me empurrou, de modo que eu caísse deitada no estofado do banco de trás. Nem ao menos tomou muito tempo se encaixando entre minhas pernas e voltando a me beijar; ele não era o tipo que enrolava nessas coisas. Seu toque congelante fez com que cada centimetro de minha pele se arrepiasse e quando eu achei que não pudesse ficar melhor...

Bem, definitivamente Freddie não era bom só com a língua.

A única parte ruim foi o fato de quase ter pegado uma hipotermia, graças ao frio violento que fazia ali. Mas também havia sido o suficiente para me fazer subir para o meu quarto e dormir tranquilamente em minha cama quentinha; que cretino esperto, não?


Na manhã seguinte, fui escoltada pelos dois até a sala de Kalanova, onde um belo sermão me esperava. Só de pensar no próximo discurso dele, eu já queria fugir de novo, dessa vez para um lugar impossível de ser encontrada. Pena que não daria para fazê-lo, ainda mais com Jason e Frederick andando praticamente colados em mim. Seus olhares estavam tão atentos e a postura tão séria que por um segundo achei que estivessem trabalhando direito, só eu sabia o quão descuidados eles eram...

Eles ficaram do lado de fora, dessa vez, enquanto eu me sujeitava àquela tortura sozinha, pelo menos. Fechei a porta atrás de mim com delicadeza, ao que o diretor cuidava das plantinhas na janela; a única coisa no mundo que ele gostava de verdade.

― Eu poderia falar durante horas sobre como o seu comportamento tem atingido níveis detestáveis ― ele começou, ainda sem sequer me encarar. ― Poderia encontrar um modo de puni-la, ou até mesmo te expulsar daqui, que por sinal, é uma das coisas que eu adoraria já ter feito há séculos. Mas nós sabemos que quer a gente queira ou não, você precisa completar seus estudos antes de se tornar uma Sacerdotisa de verdade.

― E o que você vai fazer então?

Eu preferia ter ficado calada, porque o modo como ele se afastou da janela e me encarou foi... assustador.

― Fazer algo que notei nunca ter feito antes ― suspirou e eu engoli a seco. ― Conversar propriamente com você. Só que apesar de você ter esquecido, essa é aquela semana em que vocês vão para o palácio da Rainha comemorar a virada do ciclo. E logo depois você faz vinte, não é mesmo? Então, vamos ter que adiar essa conversa até o seu retorno. Quem sabe ficar mais velha te deixe menos impulsiva e mais consciente, não é? ― Kalanova puxou uma das gavetas de sua mesa e, dali, retirou uma plaqueta de vidro: a minha identidade. Eu achei que seria o dia em que ele a devolveria para mim, depois de me privá-la dela logo que fui trazida de volta da minha primeira fuga; foi seu modo de me impedir de repetir o feito, o que não funcionou muito. ― Abra a porta para os Ahnkalov. ― Assim que o fiz, no entanto, ele a ergueu para aqueles dois imbecis, claro... Pelo menos eu poderia aproveitar aquela semana na companhia de um dos meus consortes e eles não iriam me impedir disso. ― As meninas já fizeram o sorteio e quem vai com você é Valerie, mas... ― Aquele "mas" me fez apertar os olhos; era um sinal ruim, muito ruim. ― Eu decidi que seria melhor para os rapazes passarem essa data com suas respectivas famílias. Você sempre levava Peter para esse evento de qualquer forma, não é?

― E quem você espera que eu leve, então?! ― esbravejei, com uma súbita vontade de jogá-lo pela janela.

Eu já não tinha Peter, agora também teria de ir sozinha? Maldito Kalanova!

― Um dos Ahnlakov pode muito bem te acompanhar. ― sua calma só me irritou mais ainda. ― Ao evento. ― Ele completou, com um cinismo que quase me fez rir. Mal sabia o quanto eu já havia desfrutado da companhia daqueles dois...

― Eu prefiro ir com Emile.

Pelo menos um dos consortes "reservas" era melhor do que tê-los em minha cola em momentos assim. Emile era legal, com seu jeito caladão e não me perturbaria como os dois certamente fariam...

― Você acha que tem esse direito de escolha? ― seu franzir de sobrancelhas me fez sentir queimar, mas eu segurei o fogo dentro de mim, num jogo de autocontrole imenso. ― Um dos dois vai contigo, quer você queira ou não. Pirraça não vai mudar a situação, não importa o que você faça.

Encarei os dois: Jason parecia levemente entediado e Frederick retribuía meu olhar... como se lesse minha mente; seu estado de alerta me fez notar que ele saberia tudo o que eu pretendia. E me impediria, é claro. Não parecia a melhor escolha, definitivamente. Afinal, levá-lo seria expor todos os meus segredos e sentimentos em relação àquele palácio e eu não precisava de alguém que pudesse me ler tão fácil assim.

― Jason ― falei, sem nem pestanejar. Freddie pareceu segurar algumas palavras quando respirou fundo, e os outros dois me analisaram numa compreensível confusão. ― Se um dos dois vai comigo, que seja Jason.

Kalanova foi de mim para ele e, depois, de volta para mim, tentando imaginar porque eu havia o escolhido. Mas se ligara os pontos, não demonstrou.

― Bem, Jason, arrume suas coisas para acompanhar Katherine e, Frederick, leva-a de volta para o quarto ― os dois assentiram. ― Vocês saem amanhã.

E com isso, fui quase empurrada para fora da sala dele; Jason nem ao menos disse nada, só partiu para longe de nós, enquanto Freddie começava a me arrastar de volta para meu dormitório. Algo me dizia que ele não estava nem um pouco feliz por não ter sido escolhido para esse evento entediante.

― Isso é desleal, Kate ― grunhiu e sem um pingo de educação, segurou minha camiseta, impedindo que eu continuasse a andar. ― Depois de tudo que passamos?

― Você se refere ao oral e uma rapidinha no carro como tudo? ― esquivei-me e voltei a caminhar, tentando pensar em nada.

― Do que você tem medo? ― ele continuou andando; havia uma seriedade bizarra em sua voz, do tipo ruim. Uma memória tentou escorregar para dentro dos meus pensamentos, mas a impedi antes que fizesse um estrago.

Eu não podia me revelar assim tão fácil, não podia mesmo...

Quando estávamos quase em frente à porta do meu quarto, ele passou na minha dianteira e me colocou contra a parede ― literalmente. Eu quis mordê-lo como um cachorro irritado, porém, ele antevia qualquer movimento que eu tentasse fazer para me libertar e se afastava. Até mesmo quando eu iniciei uma tentativa de queimá-lo onde me segurava: a única coisa que fez foi usar o gelo em seu favor. No fim das contas, eu quem havia me machucado; esqueci que às vezes o gelo queima mais que o fogo.

Ele se afastou bruscamente. No olhar, uma certa nebulosidade que não pude decifrar de imediato, mas que compreendi alguns dias depois.

― O que é tão importante que você sequer permite passar pela sua cabeça?

― Eu não sou obrigada a falar. Isso não é da sua conta ― rosnei.

A nebulosidade se transformou em decepção.

― Não é bom ficar guardando certas coisas, Kate. E uma hora ou outra, você vai ter que perceber que nós não somos os seus inimigos ― então, ele começou a se afastar; meu olhar estava grudado no dele.

Nem ao menos me dei ao trabalho de formular uma despedida antes de entrar.

Assim que bati a porta atrás de mim com violência, Valerie pareceu sobressaltar: ela estava arrumando minha mala caprichosamente. Seu silêncio conivente se prolongou durante todo o tempo que esteve ali, finalizando a organização de minhas coisas para aquela semana, e eu a agradeci mentalmente por isso. Enquanto ela se ocupava com aquilo, eu troquei o tênis que calçava, por uma bota confortável para andar na neve e coloquei um casaco mais grosso; ainda que não estivesse nevando tanto quanto na noite em que Peter se fora, continuava frio, muito frio.

No instante que ela saiu, eu me deixei desabar sobre a cama, com uma vontade sufocante de dormir até o mundo acabar. Mas no fim das contas, a única coisa que podia me permitir fazer naquele momento era chorar um pouquinho quando a lembrança que tanto guardara me invadisse; e o fiz, durante o tempo que ainda tinha sozinha.

Quando me senti apta para sair do quarto sem me sentir um lixo, eu tinha toda intenção do mundo de me renovar um pouco: a primeira forma de começar isso foi colocando o broche que Peter me mandara. Na porta do quarto, logo que a abri, estava Jason, mantendo guarda ferrenhamente para que não fugisse de novo ― eu sequer pretendia. Ele questionou o que eu ia fazer, desconfiado, e assim que expus minha pretensão real, concordou em me acompanhar numa caminhada silenciosa.

Desde que eu havia chegado, não trocamos uma palavra. Era doloroso admitir, mas em partes, ele estava certo sobre o que disse em relação a mim e a Peter, no fundo eu sabia. Se amava Peter, deveria ficar feliz por ele, orgulhosa até, e, no entanto... parecia mais fácil odiá-lo por tudo aquilo. Ainda assim, eu sentia sua falta e precisava dar um jeito de parar de me sentir triste e irritada o tempo todo; não era saudável para mim, nem combinava com o tanto que o amava.

― Jason... ― comecei. Recebi um olhar desconfiado e suas sobrancelhas se erguendo como se pedissem alguma resposta. ― Se eu te desse algo para entregar a Peter, você conseguiria fazer com que isso chegasse nas mãos dele?

― Sim, consigo. O que você precisa dar a ele? ― a resposta dele fora rápida demais e o minha certeza, de menos; eu ainda não sabia o que faria... Escreveria algo, talvez.

― Eu te dou hoje mais tarde ― terminei o assunto.

Na minha garganta, coçava para falar com ele sobre a discussão que resultou em choro e nele me chamando de insegura... Sorte a minha que a de Jason também estava

― Olha, sobre o que eu disse no outro dia... Me desculpe ― ele parou e fiz o mesmo, quando senti sua mão se enroscar no meu braço. Nos encaramos pelo que pareceu um tempo infinito. ― Eu fui rude e me deixei levar pelo estresse. Ele provavelmente é o seu primeiro amor e tudo bem ficar magoada por ele ter ido embora, é só que... ― Por um instante, uma faísca correu de seus olhos para a extensão do braço, até chegar em minha pele, onde ele tocava. A mesma sensação que tive em Murdoch retornara, embora dessa vez, eu não estivesse no clima para me aproveitar dela. Não queria ser provocativa, cruel ou nada do tipo, pelo contrário, agarrei-lhe o bíceps, como se pedisse para que prosseguisse. Uma parte minha desejava ouvir as palavras que tinha a dizer. ― Você age por impulso quando está sendo tomara pelos seus sentimentos e acaba fazendo coisas que podem te prejudicar mais tarde; e eu... ― Limpou a garganta, fazendo com que eu ficasse mais apreensiva ainda. ― Eu não quero você acabe machucada, de alguma forma.

No momento, não mais me encarava ― seu olhar fixava em um ponto distante ―, era como se a ficha caísse do que ele acabara de falar e o arrependimento o preenchesse. Por um milésimo, apenas, eu batuquei na cabeça a ideia de que aquilo era o trabalho dele, fazer com que eu ficasse segura, mas aquilo logo se dissipou. Afinal, era inegável que não estávamos falando de responsabilidade e sim, de preocupação genuína: em algum lugar na estada tortuosa que percorríamos, Jason havia começado a se importar comigo. E por mais estranho que parecesse, aquilo me deixara feliz.

Contive a vontade de passar a mão na massa escura (e cada vez mais comprida) que eram seus fios negros, embora não pudesse segurar o pequeno sorriso que se formou nos lábios. Ele não me devolveu o gesto abertamente: a delicadeza na qual utilizou para baixar a mão de meu braço, resvalando a ponta dos dedos em minha pele falou tudo que precisava.

Numa rapidez estranha, o instante passara e logo havíamos voltado para o silêncio usual que nos habitava. Ao chegarmos a nosso destino, Jason me esperou na porta do quarto de Eliss, enquanto eu pedia a ela um favor rápido ― talvez nem tanto. E só quase uma hora depois, sai de lá.

As mechas castanhas que estavam perto de bater nos joelhos, agora desciam em camadas de cachos que só chegavam até o meio das costas, no máximo. Era libertador me livrar um pouco do tanto de cabelo que eu tinha, diziam que mudar algo em você no fim de um ciclo era um bom pressagio para um novo; não custava tentar. Agradeci a Eliss, enfim, por mais um corte, satisfeita com o resultado final daquilo ― não fui só eu quem fiquei de tal modo. Não pude negar que fui preenchida por um sentimento bom quando vi Jason erguer as sobrancelhas e dar um leve sorrisinho, antes de dizer que tinha ficado bonito.

Depois disso, tudo pareceu ir ladeira abaixo. Meu destino seguinte ao quarto de Eliss fora o de Helena, que parecia um tanto animada e apreensiva em ver a mãe. Por alguns minutos, senti um bocado de culpa por não ter dado a ela a atenção necessária quando teve aquele susto; isso passou quando notei que ela estava tão imersa na viagem, que não se importava com o ocorrido. Na verdade, quem estava ficando um tanto irritada com o assunto, era eu, cuja animação não chegava nem perto do esperado para uma ocasião como aquela.

A real era que o palácio me trazia sentimentos muito polares e essa era uma mistura extremamente conflituosa quando se tratava de alguém como eu. Se por um lado, existiam as memórias boas de minha mãe, do outro, haviam os segredos e as mentiras e tudo que ninguém ousava me falar. Todas as verdades não ditas, discussões que eram tratadas como inexistentes ― eu amava minha mãe, mas ela sabia como calar minha boca: só não minhas vontades e pensamentos.

Portanto, ao voltar para o meu canto, naquela noite, eu não estava me sentindo bem. Primeiro, porque logo que Frederick veio com Jason para me buscar, notei que sua mão estava enfaixada e a culpa com certeza era minha. Sequer pensei que fora bruto, só me senti mal por ter reagido daquela e forma e encarei o lugar onde o rapaz havia tocado: não havia em mim nenhum rastro do que acontecera... Apenas nele. Pensei em pedir desculpas, sem nem cogitar a ideia de que ele podia me ouvir; estava tão aérea que me sentia como se estivesse só.

E talvez eu estivesse... Mas não queria continuar de tal modo. Foi por isso que disse as palavras, quase que em tom automático: ― Vocês querem ficar aqui por hoje?

Realmente fui ingênua, lançando essa pergunta no ar como se esperasse que algo positivo resultasse dela. Um amargor me subiu a garganta logo que eles se entreolharam e então, fixaram a atenção sobre mim ― me doeu quase que fisicamente.

― Não sei se podemos, Kate ― Frederick quem respondera. No seu céu sem estrelas, um pedido de desculpas que instigou a dor.

― Eu não quero... ― tentei começar, incerta; uma parte minha queria companhia, e a outra não pretendia se humilhar mais. Fiquei com a segunda. ― Tudo bem. Boa noite.

― Não é se humilhar ― ouvi a voz no instante que cruzei o batente da porta. Virei para trás e o guerreiro me encarava como se pudesse me ler por inteiro, coisa que quase era capaz. Por um momento, senti-me tentada por algo: não uma chama que nasce da atração, algo mais profundo, mais denso; não quis saber o quê. ― Se você não quer ficar sozinha, se você quer colo, ou algo do tipo, não há vergonha alguma em pedir. Você é uma pessoa e por mais que goste de fingir que não, também tem sentimentos e necessidades. Você não precisa ficar sozinha e não vai.

Aquilo me baqueou, de verdade. Pensei em mil formas de responder, de corrigi-lo: eu não precisava deles, não queria estar com os dois, muito menos precisava de colo. Meus sentimentos e necessidades não diziam respeito nem a Jason, nem a Frederick. E nenhuma delas escapou pelos meus lábios antes que Jason se pronunciasse ― a palavra pertencia a ele, e não a mim.

― O que você está fazendo? ― quase rosnou, parecia tão chocado quanto eu.

Fiquei quieta, observando o clima intenso se instalando sem reservas. Não tinha coragem de me meter no meio, e muito menos de me retirar. Afinal, aquele soava como um terreno perigoso demais para que eu me movesse. E era.

― Um ponto de ruptura. Ela precisa de mim, e eu quero estender minha mão a ela. É tão insensato assim? ― mas tudo o que Frederick dissera soara com uma sinceridade tão absurda que desarmou a tensão antes visível em Jason. Como se aquilo, para ele, fosse algo importante demais para abrir mão.

Quando me olhou de soslaio, tive minha confirmação.

― Não, é só que... O trabalho não permite.

― O trabalho não permitia muitas coisas e nós passamos por cima delas já. Um erro a mais, um erro a menos... Vai mudar muita coisa? ― irresoluto: essa era a palavra que melhor definia Freddie. Poderia também se encaixar com o outro?

A resposta fora um simples "não" quando as únicas coisas que Jason fizera foram analisar seu companheiro e, em seguida, passar por mim para entrar no quarto. Ele resmungou algo sobre torcer para que ninguém visse aquilo enquanto fechava as cortinas da única janela do cômodo.

Por uma fração de segundo, eu senti satisfação e contentamento me inundarem; esperava não me arrepender naquela decisão...

Apenas poucas horas depois, eu me dei conta de que estava andando no bosque da Academia, vestida somente com minhas handark, sobre a tempestade de neve intensa. Não sabia como chegara ali e nem porque, mas quando meu corpo me mandou correr, eu tive apenas uma certeza: algo estava me seguindo.



E aí? Gostando da história? Dia 14 tem mais!

Não esqueça de votar e comentar, caso tenha gostado do capítulo e esteja gostando da história até então! Feedback é bom pra saber o que estão pensando e eu não mordo hahaha

Na verdade, eu estava pensando em mudar as postagens pra 3x por mês, nos dias 8 - 18 - 28 de cada mês. A história não é tão longa e em pouco mais de dois meses, acaba. Mas fico com um pé atrás porque às vezes parece que não estou postando pra ninguém ler hahaha

Bjs de luzzzz

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