Capítulo Catorze
Ela entrou com toda pompa em um vestido de um tom rosa claro, simples, embora lindo, e uma joia que puxava toda atenção para si. Ao seu lado, o guardião pessoal de anos a tiracolo; um loiro de quase dois metros e domador do fogo e da água chamado Donovan.
Todos se curvaram respeitosamente para ela, inclusive eu.
Elai foi a cada um dos sacerdotes, sacerdotisas e seus filhos; os modos educados como sempre. Esbanjou elogios, agradeceu por virem, perguntou como estavam, vez ou outra fazia uma pergunta mais pessoal e ria, na intimidade. E eu, parada em silêncio ao lado de Jason ― Helena voltara para o lado de sua mãe ―, torcendo para que demorasse mais do que o necessário.
Dessa vez, nem era porque sua presença me sufocaria ou pelos seus cuidados em demasia, que eu detestava; não era por ela. Era por quem estava ao seu lado.
Vê-lo havia me trazido memórias demais, do tipo que uma pessoa normal não suportaria e acabaria deixando transparecer. Mas eu era forte, só gostava de manter minha distância. Até porque Donovan era amigo de minha mãe antes dela morrer. Eles frequentaram a Academia juntos e uma das minhas memórias mais antigas era dele lendo um livro para mim. Já a mais recente... era a dele me segurando e me levando para longe do que sobrara do corpo de Alafer.
Ele era o guerreiro de Elai e parou de protegê-la para me colocar em segurança. Como eu não poderia acreditar que ele era... o meu pai? Por mais que Alafer tivesse mandado eu calar a boca quando perguntei e Donovan fechado a sua logo que questionei a ele também, uma parte de mim queria acreditar que era ele. Minha mãe sempre teve suas respostas prontas para quando perguntava sobre meu pai "ele foi embora", "ele morreu", "ele não existe", "eu sou seu pai". Somente sabia que essa figura lendária e misteriosa não estava morta porque ela uma vez disse que eu apenas o veria quando ela estivesse morta e enterrada; depois disso, fiquei com medo de perguntar e fui parando aos poucos. Nem quando ela já estava morta e enterrada, eu soube.
Ainda assim, a ideia de que era o Ahnkalov ao lado de Elai nunca partiu.
A última vez que nós conversamos foi quando Donovan me visitou na Academia Real, quase um mês depois da morte dela e do fim da guerra. Eu disse que só falaria de novo com ele assim que me contasse quem era o meu pai; nós não trocamos uma palavra desde aquele dia.
E nem trocaríamos durante o jantar se dependesse de mim.
No instante em que ele e Elai se aproximaram, Jason fez um sinal de respeito ao seu superior e eu me senti enjoada a ponto de querer arrebentar a pulseira e jogar na cara do meu "protetor". Só não o fiz porque a Dona Rainha acharia que minha atitude seria porque eu não queria ficar perto dela e iniciaria o momento comiseração do dia; então, eu respirei fundo e abri um sorriso.
― Kitty ― ela me deu um abraço carinhoso que eu não pude negar e eu revirei os olhos ao ouvir aquele apelido depreciativo. Apesar de ter visto, fingiu que não. ― Você está tão crescida; cada dia se parece mais com ela.
Murmurei um "obrigada", sem vontade alguma.
Se estivéssemos sozinhas, eu provavelmente teria reclamado e ela, como uma tia legal (coisa que nunca tive) me ameaçaria com algum tipo de agressão física ― ameaças que nunca concretizou, por sinal. Mas já que não estávamos, tudo que pude fazer fora ser silenciosa, agradecer gentilmente e concordar com o que falava. Depois de alguns poucos minutos, pareceu que nos afastaríamos e por isso, eu voltei para o lado de Jason.
― Por que não vêm me visitar mais vezes? Sinto falta de você perambulando por aí e colocando fogo nas coisas ― teria sido gentil se Elai não tivesse falado na frente de todos que estavam ali, inclusive Jason e Donovan. Todos riram, só eu não.
Bem, se ela não fosse a Rainha, certeza que eu já teria lhe dado as costas e ido para o meu quarto, como a criatura hormonal e nervosa que era.
― Ela está certa, Kate ― Donovan falou e eu senti o mesmo bolor de antes. ― Você deveria vir mais vezes. Todos aqui sentem sua falta. ― Tudo que eu queria era correr para o mais longe possível, ou então... ver Alafer. Mal notei quando a tontura veio e eu precisei me agarrar em algo; nem prestei atenção no que.
Eu não iria falar com ele. Eu não pretendia. Eu não queria.
Ele negara o único pedido de uma garota que acabara de perder a mãe. Eu nunca o perguntara nada sobre isso antes. Mas não importava, porque talvez Donovan jamais dissesse. Provavelmente não havia esperança alguma e muito menos respostas.
A família de sangue quem me restava era a Irina e eu teria de me contentar com isso: a única pessoa a quem eu podia recorrer era a mulher que me encarava com um tom de irritação. Era obvio que ela podia perceber que eu mal prestava atenção no que Elai falava e me julgava de seu modo cruel.
Eu queria vomitar...
― Kate, você está bem? ― Jason perguntou como se fosse ele quem pudesse me ler logo que os outros dois se distanciaram. Quando virei o rosto e o encarei de modo interrogativo ― talvez ainda com a expressão de leve enjoo ―, ele continuou: ― É que você agarrou na manga do meu smoking desde que a Rainha fez aquela brincadeira e não soltou desde então.
Com um salto, quase, me afastei dele.
Eu não queria mesmo que notassem que havia algo de errado, principalmente se essa pessoa fosse Jason. Ele já via fraqueza demais em mim, não havia necessidade de expor mais uma para a coleção; respirei fundo.
Seu olhar de confusão se refletiu no meu e se tornou complacente sem eu saber por que; ele esclareceu logo depois, sussurrando: ― Você vai chorar?
Ainda que eu quisesse rir e negar veemente, ele estava certo: eu ia chorar.
Como eu queria estar descalça para poder fugir dali...
― É só pedir. Você sabe disso ― Jason buscou minhas mãos com as suas, eu sentia o calor elétrico vibrante que ele emanava sob mim.
Apesar de querer aceitar sua sugestão, sabia que não era certo ir embora assim. Isso magoaria Elai e faria as pessoas se questionarem ― eu não queria que as coisas ficassem assim. Ninguém precisava saber o quanto a presença daquele que poderia ser meu pai me afetara, inclusive ele mesmo.
Não sei porque o fiz, mas entrelacei nossas mãos com uma intimidade que nós não tínhamos desde a noite em que nos beijamos. Talvez algo tivesse mudado para Jason, talvez a linha entre protetor-protegida tivesse se enuviado, ainda que antes fosse tão clara para ele. Senti a firmeza nos nós dos meus dedos e a certeza de que o que Freddie dissera naquela noite era verdade: pontos de ruptura existiam e um erro a mais, um a menos, não fariam tanta diferença assim. Afinal, ele entrou no quarto naquela noite, tocou na minha pele ― com certeza tentado ― pela manhã e então, segurava a minha mão. Para Frederick, que já me conhecia, provavelmente a linha que nos separava nunca foi tão clara assim, mas Jason? Ele havia cruzado e, dessa vez, parecia que não ia dar para trás.
Apenas me surpreendi quando não pensei em me aproveitar de tal fato, como gostava de fazer com tudo. Muito pelo contrário, eu fiquei genuinamente feliz em sentir que de certa forma eu não era um dever, e sim uma escolha.
A imagem de sua pele percorrendo a minha e sua língua em meu pescoço me pareceu o suficiente para aceitar que trazê-lo havia sido uma boa decisão. E não só por isso, uma parte em mim dizia que ele merecia um voto de confiança ao levar mais em conta como eu me sentia, ao invés do que precisava fazer.
― Ar. Eu preciso de ar ― falei.
Como reação, recebi um sorriso. Logo após a demonstração de amabilidade, ele me puxou e guiou até a pequena sacada que havia ali.
O ar bateu frio contra o meu rosto e naqueles longos minutos ali, eu senti a paz voltando a mim; eu poderia me controlar, certo? Sem desmaios, sem vômitos, sem fugas. Eu poderia passar aquela noite sem problema algum e ao me dar conta disso, permiti que os cantos de minha boca se curvassem.
Além de tudo, eu não estava sozinha. Ainda que não fosse Peter ao meu lado, Jason estava fazendo um trabalho tão bom que não pude me conter.
― Obrigada ― era de coração.
Ele não soltou minha mão até a hora de comermos. E sinceramente? Não foi nem um pouco ruim...
O jantar fora... silencioso.
Elai mantivera a maior parte da conversa ao redor dos Sacerdotes, embora tenham apenas conversado sobre assuntos amenos. Os mais jovens não conversaram entre si, prestaram atenção no que os outros falavam à mesa, sem nem ao menos opinar, inclusive eu. Ninguém falou nada sobre a visão de Pietro e Filia parecia bem confiante enquanto sentada conosco. Até dava uma certa impressão de normalidade, que não era verdadeira.
Visões eram coisas sérias e desde pequenos fomos ensinados a não subestimar nenhuma delas; eu tive a impressão de que era exatamente isso que eles estavam fazendo e fiquei com medo.
Depois daquele jantar um tanto quanto entediante, nós, os jovens, fomos convidados a ir dormir e os "adultos" a tomar uma taça de fahknaer. Se tratava de uma bebida amarga que eu jamais entendi como eles gostavam; há muito tempo Lucien fizera uma receita caseira e tomamos com Helena, foi uma péssima experiência.
Eu não toquei mais em Jason e nem ele em mim; nem ao menos demos os braços para sair. O momento de intimidade havia acabado tão rápido como viera e eu tive medo de retomá-lo, numa ideia estranha de que ele houvesse voltado atrás e reparado na divisoria. Nosso retorno fora tal como o jantar: numa quietude mórbida e a tensão no ar. Quando nós paramos na porta e ele fez menção em ir embora, eu me senti murchar...
― Jason ― sussurrei como uma prece, tão baixo que mal ouvi.
De alguma forma, ele se virou e segurou meu olhar por alguns segundos antes de se pronunciar. Será que o idiota sabe que era delicioso quando faz isso?, pensei, não pretendendo ser a pessoa que contaria isso a Jason.
― O que você disse?
― O seu nome ― pigarreei. Meu estomago se embrulhada, mas eu não hesitaria mais. Se a linha não existia mais, não havia porque obedecê-la. ― Você.
― O que houve? Precisa de algo a mais? ― as sobrancelhas se juntaram e a expressão que ostentava no rosto beirava a preocupação; talvez ele achasse que eu era frágil... Quase ri com a ideia.
Naquele momento, eu não era frágil, eu era forte e certeira. Alguém que sabia o que queria e que teria o objeto de seu desejo, não importavam os poréns, apenas a vontade. E essa, crescia em uma velocidade assustadora.
― Sim ― fora minha única resposta. Eu quis gargalhar, mas não pretendia fazer parecer que estava zombando dele.
― Como?
A confusão dele foi adorável e eu suspirei, certa de que aquela seria a última coisa meiga que veria dele. Antes de o responder, passei meus olhos por cada detalhe de seu rosto: as sobrancelhas grossas e negras, tal como seu cabelo ― que agora já estava bonito ―, os olhos claros como o céu em um dia quente (que me encaravam, doces de uma forma que pude apreciar), o nariz pronunciado e um pouco grande para seu rosto. Seu maxilar, forte e bem definido, e os lábios, que me puxavam com uma força de atração assustadora. Tudo nele me atraia e eu sabia que já havia resistido por uma vida inteira; não me negaria mais isso.
― Você na minha cama ― e não pude negar que amei o assombro maior ainda do seu olhar antes de se aproximar e me prensar contra a porta do quarto.
O sorriso que o guerreiro me ofereceu só não foi tão sufocante quanto o momento em que a mão quente encontrou minha perna e subiu minha coxa de modo a enlaçá-la em sua cintura; tive um dejavu na mesma hora. Eu arfei ao sentir que o desejo estava cada vez mais mútuo e agarrei sua nuca, deixando nossas respirações rentes uma a outra ― não era nada fácil não ceder à tentação.
― Nós deveríamos entrar antes que alguém apareça ― gemi as palavras e Jason concordou ao me prender de vez junto a ele, para então, abrir a porta dos meus aposentos.
Quando sua respiração resvalou em meu pescoço, um arrepio domou toda a minha essência e explodiu em uma bomba de energia que me fez respirar fundo. Eu nunca o quis como queria naquele momento; ele era a melhor válvula de escape que eu poderia encontrar... E mais do que isso.
Jason me empurrou contra a parede ― só ouvi a porta parte e deixar o mundo lá fora ― e colou seus lábios sobre os meus: a faísca veio na hora, eletrizando a boca e descendo até áreas menos expostas. Eu me vi sufocando um rugido animalesco diante de tão boa prévia do que estava por vir; o que eu queria fazer com ele era mais do que visceral. Sua língua contra a minha, seu corpo colado ao meu... Eu quase gargalhei em regozijo assim que nós saímos da parede e seguimos na direção da cama ― eu não mentira quando disse que era ali que o queria.
Sobre mim, Jason ainda permanecia preso entre minhas pernas; eu só não queria que ele ficasse assim para sempre porque tinha outras pretensões... Eu o queria dentro de mim, queria senti-lo sem roupa alguma nos atrapalhando; queria me conectar com ele.
Eu queria praticar uma outra modalidade da inatia.
― Jason... ― grunhi, cortando beijo.
Não precisei de muito esforço para dominá-lo e ficar no topo, tal como fizemos da primeira vez que nos vimos ― só que agora eu não pretendia sufocá-lo. Seus dedos se arrastaram pelas minhas pernas em uma corrente, tornando tudo torpor e trazendo um êxtase que chegava a assustar. Com os olhos fixos nos dele, arranquei e joguei para bem longe o xale em meus ombros, então, estiquei o braço para trás, soltando o laço que Valerie havia feito no corpete mais cedo.
Eu me senti mais poderosa do que nunca diante o olhar vidrado que Jason tinha segurando o meu. Foi a sensação que tomou as rédeas de mim e o que me fez apressar em tirar aquele maldito vestido de uma vez por todas.
Não posso negar que arfei com o sorriso que ele dera ao me ver tão exposta ― afinal, apenas coberta pelas minhas handark e uma única peça íntima... ― e depois ao me puxar pela cintura para que nos beijássemos novamente. Sobre ele, experimentei as mãos que percorriam cada centímetro de minha pele até alcançar a barra da minha calcinha; ele a tirou sem muita dificuldade. Logo, eu estava praticamente nua, enquanto nele, nem a gravata havia saído do lugar... quase.
Mas eu não deixaria que as coisas ficassem assim... Muito menos ele.
Quando percebi, havíamos trocado de lugar mais uma vez e, como se Jason lesse minha mente, começou a se desfazer de cada uma de suas peças de roupa, sob o meu olhar atento. Caiu sua gravata, caiu o paletó, caiu a blusa, o cinto, as calças e por fim, éramos apenas eu, ele e as handark entre nós; eu queria me conectar em um nível maior do que o sexo. E assim o faria.
Ele se encaixou de vez entre as minhas pernas e deitou sobre mim, enquanto eu arquejava sem pressa. A eletricidade que vinha de Jason atiçou minhas handark, a ponto de fazê-las saírem em busca das dele; não era só eu que queria aquilo... Senti-as se movimentando, assim como ele fazia comigo e me agarrei à sua pele com um desespero tão tátil que chegava a queimar.
O fogo que se escondia foi atiçado como um braseiro e as chamas se ergueram numa explosão impactante; a primeira de duas: a inatia estava feita.
Eu pude reconhecer nossas emoções espelhadas como se visse o reflexo em um lago. Basicamente, para tudo que eu sentia, Jason tinha um equivalente dentro dele, mas dessa vez eu não me conectara com ele para pegar suas sensações; era para intensificar tudo. Afinal, nascer como futura sacerdotisa tinha suas vantagens...
E eu aproveitei a melhor delas naquela noite.
Jason liberou uma corrente devastadora que me fez vibrar, enquanto dançava dele para mim e de mim para ele. Quando ela desceu sobre meu corpo, naquela onda de energia, eu quis gritar muito alto; ativar o modo histérico e me fazer ouvir por todo o palácio. Mas a única ação que consegui executar no instante foi prensar meu rosto contra ele, próximo à clavícula, e sentir a maravilhosa fragrância que eram os nossos cheiros combinados. Bem, isso enquanto gemia sem pudor algum ― fora um momento intenso e extenuante, antes de eu sentir um vazio me atingir e então, começar a chorar.
Isso estava ficando frequente e um tanto irritante.
― Nossa... Me desculpa ― ele saiu de cima de mim e acariciou meu rosto com suavidade. Um toque que eu agradeci mentalmente. Só não o que veio depois. ― Eu não achei que você era do tipo que fica emotiva depois do sexo. Da outra vez você ficou bem.
Se eu não estivesse tão ocupada tentando parar de chorar, provavelmente teria lhe dado um empurrão brusco para fora da cama, no entanto... Minha mente estava tão... impossível que tudo que eu pude fazer foi me arrastar para o canto, afastada de seus toques cheios de vida.
O fio que suportava minha sanidade poderia ter arrebentado naquele exato segundo, entre eu desistir de segurar as lágrimas e as três batidas na porta.
Por mim, elas teriam sido ignoradas sem pestanejar; eu queria mesmo era entender a razão na qual as barragens daquelas emoções haviam se rompido logo naquela noite. E talvez porque elas tivessem demorado tanto à fazê-lo. Eu não podia correr para lugar algum, ir para bem longe dali com a intenção de ponderar e de buscar qualquer subterfúgio que me fizesse esquecer a realidade. Eu só tinha o agora e teria que lidar um pouco com ele, ao menos por um tempo.
Nada poderia ser pior do que estar presa àquela enxurrada de coisas guardadas; morte, sangue, fogo: coisas que eu não entenderia nunca. Eu queria entender, mais do que tudo, porque faltou egoísmo da parte dela e provavelmente da de Peter também. Todas as razões que a levaram à batalha, e a ele, para uma outra vida, ambos para bem longe de mim.
Como eu sentia falta da minha família...
O som da porta se abrindo foi o suficiente para eu prender o choro novamente dentro de meu peito. Jason estava lá, falando com alguém na soleira, alguém cuja voz eu conhecia bem.
― Eu quero falar com ela ― Lucien empurrou a porta com violência; vira meu corpo mal coberto e possivelmente meu rosto lacrimoso e vermelho. ― O que...?
― Vá embora ― meu guardião usou sua pequena vantagem da altura para criar uma barreira entre nós dois, colocando-o para fora dali. Não o vi novamente. ― Eu não quero me repetir. Isso não é da sua conta e se você disser para alguém o que viu hoje, eu farei questão de te matar eu mesmo.
Assim que bateu a porta na cara do futuro sacerdote, trancou-a, talvez esperando que assim ninguém mais viesse incomodar.
― Hoje eu não abro mais a porta para ninguém. Você está bem?
Assenti, finalmente readquirindo a capacidade de refrear minhas emoções. Uma brisa bateu em meu rosto e eu me senti mais viva do que nunca.
― O que houve? ― ele me deu uma encarada que pareceu me despir; como se eu pudesse ficar mais nua do que já estava... Meu silêncio não pareceu impedi-lo de nada. ― Eu não sou o Freddie, não posso ler sua mente. Já disse ― e soltou um sorrisinho debochado.
― Eu... ― suspirei. ― Sinto falta deles. Da minha família. Eu não tinha percebido antes porque nunca estive tempo o bastante longe dele para ter esse tipo de reação passional, mas... Peter Solomon me faz falta. Alafer mais ainda. Sempre fez. Sempre vai fazer. ― Meu coração palpitou. ― Eu nunca disse isso para ninguém. Nunca falei em voz alta. ― Sorri. ― Eu o amo. Mais do que isso, ele é meu sangue, minha alma. Seu modo de me olhar, me tocar, me beijar. Eu amo como ele consegue pacificar a chama que mora em mim. E tudo que eu queria agora é estar com ele, dormir enquanto ele faz carinho no meu cabelo e acordar com seu sorriso que é meu.
Soltei as palavras, sem me importar com o que Jason iria pensar ou se machucaria seu ego ao revelar que na verdade, gostaria de estar com outro naquele momento. Mas ao contrário do que poderia imaginar, sua resposta foi um "dar de ombros", seguida das palavras: ― Ain sehaik, sehaik. Conhece?
Claro que eu conhecia...
"Quando se ama, se ama."
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