A Mulher Alfa

Psiu!

Acalmem-se, por favor. Sei que estão todas rindo demais e achando que me dei mal. Ledo engano, senhoritas. O maior problema das mulheres é estarem sempre se apressando em quase tudo.

Eu já conheci mulheres piores que Candice Cotton, acreditem e enfatizem quando digo piores. Bastante atrevidas, dissimuladas, perigosas e gostosas; não posso deixar de salientar. O que me espantou nela é que o meu informante me deu um currículo impecável, até a ficha do terapeuta não foi maculada sequer com um fio de cabelo fora do lugar. A descrição dela era a imagem de uma santa muito virgem!

Então?

Ou está jogando – boa jogada devo dizer de passagem, ou é muito fingida. Não que isso me preocupe, estou preparado para o que vier e confesso que também estou um pouco curioso. Podem ter a certeza que vou descobrir tudo isso em três tempos, não estava brincando quando disse que era um Sacana Profissional e agora que já tive contacto com o alvo, é hora de agir.

Eu não presto. Não prestarei. Nem pretendo prestar. — É com até uma certa nostalgia que profiro as palavras antes de abrir o Manual dos Sacanas. É difícil lembrar que tenho pouco tempo para deixar o negócio secreto da família, deixar de ensinar os clientes a conquistar qualquer uma, de enganar por prazer e agora teria de aprender sobre o amor.

Gargalhei.

Já vi o que o amor é capaz de fazer com as pessoas. Não, obrigado. Vou passar.

Abro a décima quinta página já amarelada pelo tempo, o título do capítulo que foi escrito à mão pelo meu avô é MULHER ALFA. Esses tipos de mulheres normalmente costumam ser um pouco mal incompreendidas por não serem o molde de bela, recatada e do lar. Longe disso!

Vou dar aqui cinco características e digam se algumas de vocês se identificam, sim, apenas cinco. Não sou vossa comadre para ficar aqui dando detalhes extensos sobre isso.

Bom, vamos lá: Elas são destemidas, obstinadas, independentes, não têm medo de ficar sozinhas e sabem quando mudar ou recomeçar.

A maioria dos homens são covardes, acreditem. Por isso o machismo impera, pois muitos deles não suportam estar com uma mulher que tenha o queixo em pé ou que esteja numa posição superior. É exatamente a razão de muitas destas maravilhosas figuras femininas serem solteiras, pois elas não hesitam em dar um pé na bunda dos rapazes.

Para uma Mulher Alfa, um Macho Alfa.

Por que estou sentindo uma luz iluminar minha cabeça agora?

Mas olhem, não confundam um troglodita boçal com ser um Macho Alfa. São coisas muito, mas muito diferentes. É que para conquistar essas mulheres é preciso estar à altura, elas gostam de competir com o parceiro de maneira intelectual e emocional, precisam ser constantemente estimuladas ou então vão embora.

Mas, acima de qualquer coisa, todas as mulheres têm algo em comum. Sejam Alfas ou Betas, todas necessitam de se sentir protegidas. E protecção não falo apenas de sair correndo atrás de um bandido no meio da avenida no melhor estilo de James Bond, e sim de confiança. Você não precisa ser um bobo da corte para que a mulher ache que é inofensivo e então não irá fazer mal ao seu coração, não nesse caso. Aqui, deve demonstrar seu atrevimento sem ser esnobe, atitude, ser confiante e, acima de tudo tratá-la bem. Muito bem. Sempre.

E é naquilo que estou pensando quando estaciono o meu carro em frente ao grande Centro de Conferências onde iria decorrer o evento de Gian Carlo Solidari. Não é alguém com quem eu tenhas relações próximas, mas a nossa empresa Star Party tinha organizado tudo e é por isso que dou de cara com Virgínia, nossa secretária que passou o dia controlando os trabalhadores. Ela me sorri com aquela cara que já vi tantas outras iguais. Coitada, quase me sinto naquele filme Legalmente Loira. É como se tivessem clonado todas loiras siliconadas do mundo e apenas trocassem os nomes.

— Senhor Steel. — A parte boa é que ela é muito boa profissional e vai relatando tudo o que aconteceu até aquele momento, enquanto analiso o salão todo bem decorado com jarros compridos de porcelana cheio de flores brancas no topo. É sabido que Solidari tem uma extrema ligação por tulipas brancas. O salão já está cheio, as pessoas bebem champanhe enquanto se desenrolam numa conversa exibida para mostrar quem está mais por dentro das notícias mundiais. Ivy não para quieto no lugar, o vejo circular de um lado para o outro, sorrindo para mulheres e sempre acompanhado por um homem de meia-idade, percebo que é alguma Requisição que está aprendendo alguma lição sobre como ser um Sacana.

Beau está parado, Virgínia mesmo quando fala comigo sempre vira o pescoço para vê-lo. Minha vontade é dizer que assim não o vai ter em sua cama novamente, não adianta. Ele é do tipo que está acostumado que todas caiam aos seus pés só para as rejeitar com o maior dos sarcasmos. Se ao menos ela fingisse certa indiferença, talvez o meu irmão do meio se inquietasse por não estar sendo o centro das atenções.

Eu até tenho um carinho por minha funcionária, mas o sangue vem em primeiro lugar.

— Na segunda-feira por favor elabore todo um plano dos nossos fundos de doações.

— Sim senhor.

— Obrigado. — Travo no caminho ao avistar Aida Podolski que conversa com Solidari. Ele é um homem alto, cabelo escuro e um pouco grisalho nas têmporas mesmo só com seus trinta e oito anos de idade. Ela por sua vez sempre em seus conjuntos sóbrios e aquele olhar cínico que me encontra muito antes de eu dar meia volta, mas de alguma forma sou abençoado, pois vejo ela movendo o pescoço para o lado e olha por trás de mim, se mostrando até surpreendida.

Eu viro devagar e vejo os flashes que aumentam na entrada do tapete vermelho. Por sorte entrei pela área restrita e não dei a ninguém o gosto de ficar beijando as folhas dessas revistas com meu rosto lá estampado. Estico a minha mão no exato momento que um servente passa a desfilar e tiro de lá uma taça. Caminho em direcção à entrada principal onde jornalistas se empurram para perguntar alguma coisa e Candice sempre com aquele sorriso delicado dá algumas respostas rápidas, seus olhos escuros estão livres dos óculos, e se pensam que está usando algum vestido largo tipo saco para esconder seu corpo... Pasmem! Traz um vestido decotado com duas grandes aberturas nas laterais, azul de veludo e comprido até ao chão.

— Senhorita Cotton? — Lhe entrego a taça e ofereço o meu braço para segurar, o qual ela olha com preguiça antes de o apertar.

— Boa noite, senhor Steel. — Responde e bebe um gole da taça, observando tudo ao seu redor com aquela cara de falsa puritana. São muitos que a cumprimentam, mas posso sentir os olhos azuis de Beau que tenta compreender o que está acontecendo e o olhar analítico de Aida que nos persegue a medida que percorremos o salão de festa.

— Você está bonita. — Elogiar é de praxe, mas minha mãe me ensinou que é boa educação desde que não seja mentira.

— Receio que espere que eu diga o mesmo do senhor.

— Pode apenas agradecer.

Ela para e se vira de frente para mim, soltando meu braço e fitando os olhos escuros e tão rasgados que lhe dão um charme qualquer. Nem vou me concentrar muito porque quem muito repara acaba vendo demais.

Anotem aí: Os olhos são inimigos do coração, pois são eles que emitem informações para o cérebro guardar. Sabe... Aquela famosa saudade?

— Vamos falar sobre negócios. — Ela diz e troca a taça vazia por outra quando um dos serventes passa por nós.

— Ótimo. — Concordo de imediato mostrando que era um assunto de meu maior interesse. — A minha empresa está querendo investir num novo projeto de vacinas junto da ONU, mas a Casa Branca se pronunciou quando soube que estávamos querendo trabalhar com você.

— Aida Podolski. — Os olhos parecem soltar faíscas que em nada combinam com a valsa que toca no evento.

— Exatamente. — Observo como Candice volta a esvaziar a taça com a mesma facilidade. — Seria um projeto impessoal, de terreno, e por isso gostamos de avaliar os possíveis parceiros para ver como lidam com situações de pressão. Queremos patrocinar suas vacinas patenteadas, mas a senhora Podolski está nos redireccionando para a concorrência.

Sou um belo mentiroso.

— Eu não gosto de mentir. — Digo sem pestanejar. — E por isso também devo confessar que fiquei curioso em conhecer a pessoa que fez a Procuradora da República tentar impedir com que fechássemos um contrato desse porte. Detesto que me digam o que fazer.

Ver a expressão de Candice era como estar no meio de Las Vegas e ganhar um JackPot. Posso ouvir as máquinas soando na cabeça dela, mostrando que iria fazer de tudo para contrariar a sua maior inimiga, e me admirando também. Lembram quando falei sobre Mulheres Alfas se importarem com homens que não hesitam em desafiar? Pois.

Sem contar que a máxima de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, parece estar funcionando direito. Eu estava matando dois coelhos com uma só cajadada, pois Aida ao me ver com a cientista saberia que estava seguindo com o combinado e podia continuar guardando o meu maior segredo do passado que até agora ainda não descobri como foi parar em suas mãos.

— Me parece interessante... — Balbucia só para não mostrar que está louca para mostrar para Aida que não lhe dará o gostinho de a vencer. — Penso que podemos trabalhar juntos.

— Mas tem um porém... — Continuo colocando o plano em prática e uso a máscara da preocupação que modéstia à parte deve ficar muito bem. Minha expressão preocupada tem um je ne sais quoi charmoso. — Como lhe disse, vou estar de viagem. Essas vacinas vão ser doadas para as comunidades pobres no norte do país e apesar de não nos conhecermos, gostaria que me acompanhasse para ver. Não me julgue pelos ternos caros, eu sou um homem que gosta de ver pessoalmente e interagir com as necessidades das pessoas.

Da última vez eu vos falei sobre estudar o adversário. Candice é altruísta demais, a Messias dos menos afortunados e, como sempre, estou lhe dando aquilo que exatamente quer, mas nada do que já não tenha. Os olhos dela me olham de esguelha, desconfiados por uns segundos, mas lá no fundo se culpam por me terem julgado.

Anotem aí: Confiem muito nos vossos instintos, mulheres. Na maioria das vezes eles estão certos!

— Senhor Steel... — Ela vai beijar meus pés agora. — Você andou me investigando?

Porra!

— Ainda agora comecei. — Respondo e puxo outra taça que Candice aceita sem hesitar. — A senhorita não gosta de saber com quem está trabalhando?

Invocando a décima quinta página do Manual dos Sacanas: Mulheres Alfas são frontais e não aceitam nada menos em troca.

— Pois bem. Preciso ver se a minha agenda permite, e acredite, não estou dificultando. Apenas sou uma pessoa muito ocupada.

— Compreendo.

Agora imagem esse cenário: Nós dois, sozinhos e com bastante tempo para interagir. Duas semanas são tudo o que eu preciso.

— SEU CANALHA! — Um grito histérico irrompe o evento e todos agora estão olhando para Ivy que levou uma bofetada de uma mulher mais velha que ele e toda bem vestida, mas muito furiosa. O cliente que o acompanha também parece surpreso e a reconhece imediatamente, causando outra confusão quando começa a exigir justificações.

Eu estou ardendo em chamas, meu irmão está afogando o nome do nosso negócio com sucesso, pois agora todos estão indignados com o barulho que se propaga por todos os lados. E o evento da Solidari está a abarrotar de pessoas importantes. Vejo Beau e Virgínia que correm até lá, mas eu não posso dar a oportunidade de Candice ficar a par do que poderia estar a acontecer ali.

— Por favor, por aqui...

— Mas...

Ela não tem muito tempo para reclamar, pois a agarro pelo braço e a puxo, passando entre as pessoas que murmuram e se dirigem para o lado oposto ao nosso. Entro pela porta da área restrita, passamos pela cozinha onde preparam as comidas que ainda iam ser servidas na outra sala de jantar, e entro pelo corredor mais silencioso.

— Pode me explicar do que está fugindo? — Exige e puxa o braço, um pouco furiosa.

— Já não basta dois estarem ligados àquela confusão, um terceiro Steel e ficaria difícil de dizer aos jornalistas que estava por fora disso. — Expliquei com a maior das calmas, mas meus pensamentos estavam junto de Ivy.

Eu queria matá-lo. Literalmente.

— E agora? — Me indagou naquele tom cheio de acusação.

Olhei para os lados e a porta que indicava a saída.

— Eu trouxe camisinhas. — Respondi e dei um passo em frente. Ela tinha tentado me intimidar, não tinha? Queria ver agora que estávamos sozinhos e não no meio do centro comercial se iria ter a mesma lábia de sempre.

Vamos, Candice... Se mostre agora, quero ver! Minha sobrancelha subiu bem devagar quando a vi engolir em seco, e então esbocei um sorriso zombador que foi facilmente interrompido quando ela se jogou nos meus braços e me encostou na parede, me roubando um beijo que nem em mil anos previ chegar.

Por todos os Sacanas, que mulher é esta?

Os lábios se juntaram aos meus sem medo ou vergonha, e ela sabia bem o que estava fazendo quando enroscou a língua na minha e exigiu por mais sem nem dizer nada. Todos os pelos da minha nuca se eriçaram, e não só. Crianças menores de dezoito anos saltem esta parte, mas eu estava duro num piscar.

Candice 2 X 1 Knox.

Ela estava ganhando.

Apertei-a pela cintura, sentindo as formas macias de seu corpo. Todo o cheiro era inebriante, principalmente pelo cheiro do perfume que me embalava junto ao beijo atrevido. Seja lá o que essas cientistas andavam experimentando ou aprendendo nos laboratórios, podiam continuar. Estava muito bom.

Sequer me deixava respirar, se apertando contra mim e chupando minha língua para me mostrar o que talvez faria com o meu melhor amigo lá em baixo. Era uma tarada, das autênticas!

Eu nem sou bobo. Levei as minhas mãos para apertar seus seios que eram grandes e tão macios como tudo nela. Virei-a contra a parede e no mesmo instante que ia subir o vestido dela, a porta se abriu.

Nos afastamos mais rápido que o Speedy González. Isso mesmo, pois na minha época ele é que era referência de rapidez e não o Flash que virou modinha.

— Ivy? — Fiquei preocupado quando o vi sangrando na testa. Virgínia pressionava um pano contra o ferimento e Beau primeiro estranhou Candice antes de se voltar para mim.

— Foi feio. — Não entrou em muitos detalhes, mas percebi algum problema nos olhos azuis. — Precisamos levá-lo ao hospital.

Eu teria dito bem-feito ou leve-o você – Juro que disse tudo isso em pensamentos, mas como conhecia o meu irmão, percebi só pelo olhar que era mais grave do que o ferimento na testa de Ivy.

Concordei com a cabeça enquanto os três passavam por nós e soltei um suspiro quando olhei para Candice que ainda tinha a respiração levemente acelerada. Balancei a cabeça.

— Entrarei em contacto em breve. — Ela disse a arrumou os longos cabelos lisos, olhou para mim apenas uma vez, antes de se virar e ir embora com um sorriso preso em seus lábios.

— É claro que vai entrar — afirmei e cruzei os braços. O que era de todo um mau sinal.

Lembram quando falei sobre linguagem corporal?

Pois é.

Eu estava na defensiva.

Uhauheuhauhauahuahuahua. Abra o olho, Knox.

Gente, só para lembrar... Vocês sabem que este livro é um conto, não é? Não se esqueçam, pois significa que não vai demorar para acabar.

Me falem da Candice kkkkkk o que estão achando? Eu super adoro ela.

Uma personagem negra, gorda, inteligente e muito dona de si. Quer mais?

Mil beijos de amor.

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