Capítulo 3 || Daniela Muniz

Algumas semanas depois...

Acho que vou enlouquecer, é real, oficial!

Pedro Ferraz se infiltrou nas minhas veias, no meu escritório e em todas as noites antes de dormir, eu lembro de cada segundo do que aconteceu nesse escritório. Não consigo entender o que está acontecendo comigo e porque magicamente, todos os personagens literários que tinham um lugar especial no meu corpo foram empurrados para um espaço quase submerso sem luz.

Porque eu tinha um novo boy favorito na minha imaginação e nenhuma declaração de amor dos meus livros parecia ser tão especial quanto a forma como os olhos azuis e cristalinos dele olhavam para mim, esperando para que eu lhe explicasse alguma coisa importante ou apenas dissesse como eu queria o meu café aquela manhã. Estabelecemos uma rotina que funcionava perfeitamente para os dois, Pedro tinha uma paleta de cores para os seus ternos e eu posso ter começado a me arrumar seguindo uma combinação de cores que funcionava na minha cabeça.

Mesmo que eu soubesse que aquilo não terminaria bem, que sonhar com algumas coisas acontecendo entre nós dois era impossível e que os seus sorrisos seriam gravados na minha memoria para sempre, eu deixei minha imaginação montar as coisas mais bregas que uma garota apaixonada por livros, café e qualquer personagem que não exista na vida real possa querer na vida real.

Mesmo que eu soubesse que nunca poderia sentir seu toque, mesmo assim eu ansiava por ele na escuridão sombria dos meus sonhos, porque ali eu podia imaginar tantas coisas. Era uma forma bonita de dormir sem chorar como eu fazia todas as noites a mais de uma década, pela primeira vez em anos eu tinha uma razão elegante e cheia de vida para levantar da minha cama e vestir a minha melhor armadura. Porque passar minhas tardes conversando com ele sobre os casos que tínhamos para resolver e os casos que eu tinha resolvido a muito tempo atrás se tornou minha parte favorita do meu dia, contando com os mimos que ele sempre trazia: fosse uma flor que ele roubou de uma das arvores do jardim que ficava na área externa do prédio ou um chocolate para adoçar o meu dia.

Então tinha os olhares profundos que sugavam o ar dos meus pulmões como um aviso lento que eu estava caindo em queda livre, a forma como nossa conexão se estendia para resolver as coisas dentro de um ambiente fechado e que em qualquer outro momento podia me sufocar até eu desmaiar, nada disso existia quando ele estava a poucos passos de mim. Podia ser uma atração que nasceu da minha necessidade de sentir algo? Qualquer coisa que mostrasse que eu estava viva? Eu ainda não sabia e uma parte muito egoísta minha queria guardar a pequena chama de esperança que me dizia que ele podia sentir algo por mim, que a razão dos seus olhares profundos, o brilho queimando suas íris e a forma desconcertada como ele as vezes corria da minha sala eram porque ele sentia, o mesmo amontoado de sentimentos que pareceram estacionar na minha vida assim que assinei sua entrada na minha empresa e vida.

Não se apaixone por ele!

Era o que minha razão gritava, mesmo que minha mente esteja nesse exato momento escrevendo diálogos idiotas e formando cenários impulseis onde ele me levaria para jantar, compraria uma rosa para mim e no fim da noite nos dançaríamos em meio a chuva e ele me beijaria como nunca beijou ninguém, como eu nunca fui beijada por ninguém. Loiro, usando óculos de grau e usando meu terno favorito, ele é preto com detalhes em dourado e o contraste que faz com os cabelos soltos de Pedro é a razão do meu colapso.

Eu tenho uma reunião importante para assistir e mesmo assim, pareço uma adolescente cheia de hormônios apaixonada pelo garoto proibido. Porque é exatamente isso que ele é, proibido em todos os níveis para mim!

Jade já criou um apelido esquisito para nós dois, e ela apenas sabe que o acho bonito e perigoso demais em seus ternos de menino grande.

E para melhor o meu humor que já é péssimo, faz quando um mês que não consigo me concentrar completamente, porque como eu disse: é impossível ignorar a forma como seu corpo se curva e sua boca fica perfeitamente bonita ao gargalhar dessa forma para Olga, ele nunca faz isso na minha frente. Mesmo que tenhamos passados um tempo considerável na mesma sala, ele sempre tem aquele sorriso de canto de boca que é capaz de causar um desastre em algumas partes do meu corpo. Mas gargalhar dessa forma? Olga está corando para ele, e o que me resta é viver esse momento da minha sala, usando o monitoramento das câmeras para acompanhar seus passos e ter a minha dose diária de Pedro Ferraz e a parte que ele esconde de mim, afinal somos apenas colegas de trabalho. Por que ele ficaria confortável e leve dessa forma na frente da sua chefe cheia de exigências e mal humor?

Continue firme, Daniela! Essa coisa que você sente não vai te levar a nada! Vou pulverizar todas as borboletas no meu estomago e depois disso... não vai restar nada de Pedro Ferraz para arrancar de mim!

O sinônimo de um sorriso curva meus lábios, e uma pequena lagrima ameaça derrubar minha barreira invisível de indiferença. Eu devia ser livre para sentir coisas como essa, não? Por que logo eu fui amaldiçoada com essa fobia? Por que fui jogada naquela família para sofrer? Por que não posso amar como as outras pessoas?

Porque dói, porque você é imperfeita e assim que ele soubesse disso, ele vai ir embora! Eles sempre vão!

Ignoro cada sentimento meu quando o amontoado de cabelos loiros e seus passos rápidos fica a alguns metros da minha porta, tenho tempo de desligar a tela do computador e tê-lo em toda sua gloria na minha sala. Alto, musculoso e malditamente bonito com seu sorriso contido de bom dia e o meu café preto e sem açúcar na mão direita, enquanto seu tablet está preso entre seus dedos e a mão que ele usa para fechar a porta.

— Bom dia! Querida chefa! Como a senhorita está hoje? — a algo sobre Pedro Ferraz entrando na minha sala com todo esse brilho ao redor de si que ilumina cada pequeno espaço escuro da sala, sou levada a fixar meu olhar no seu enquanto admiro o contorno da blusa social abraçando um abdômen que eu adoraria ver, digo, o magnetismo de todas as manhãs começa. É estranho me sentir quase nua sobre seus olhos? Passei uma quantidade razoável de tempo me arrumando para ter esses segundos que predominam meus pensamentos e queimam meus ossos e juízo na mesma proporção. Pedro Ferraz consegue me fazer sentir deseja e... — Se me permite dizer, está belíssima está manhã, senhorita Muniz! — tem esse pequeno trecho que é repetido desde o segundo dia dele aqui, toda mulher devia ser elogiada por um homem como Pedro Ferraz pelo menos uma vez na vida. É uma experiência sem igual, avassaladora.

Pedro também achou de bom tom me chamar de chefa, não somente de senhorita Muniz ou Dama de Gelo como sou carinhosamente chamada pelos meus funcionários. O que causa um efeito absurdo no meu corpo, é como se sua voz atravessasse a minha pele inteira cavando seu lugar para dentro de mim. Quando chamo isso de tortura, Jade começa a rir igual uma maluca quando narrei a primeira vez que ele me elogiou.

Foi memorável, ele me elogiou, eu cuspi meu café no meu laptop, ele correu para me ajudar e eu precisei fugir dele para não ser tocada e algo pior acontecer. Memorável demais, não é?

— Estou bem e o senhor? — minha voz saiu firme?

— Estou bem!

Pedro leva seu tempo colocando minha caneca de café que ele me deu escrito: Poderosa chefa! E os meus olhos são atraídos para suas mãos, dedos longos e...

— Trouxe os relatórios que a senhorita solicitou do caso Fernandez — ele mexe em alguns ícones no seu aparelho e em poucos segundo um novo e-mail brilha na tela do meu laptop aberto. O que me desvia do que passou pela minha cabeça em conjunto com aquelas mãos dele.

— E o do próximo julgamento? — enquanto faço download do arquivo, ele explica algumas coisas sobre a minha agenda do dia e como sempre, não me arrependo de ter enfiado ele nesse cargo que nunca antes foi ocupado. Ele é brilhante e absorve cada informação que lhe dou como uma criança curiosa para desvendar os mistérios do universo. E posso estar muito orgulhosa dele por se dedicar, porque assim como eu, ele quer ser o melhor.

— Não consigo baixar o arquivo — tento duas vezes antes de seu perfume ficar muito perto do meu rosto e sua presença abraçar cada centímetro da minha pele. Primeiro os sinais são ligados em sua velocidade já conhecida por mim, minha respiração incendeia meus pulmões e os meus dedos coçam para sentir sua pele, mesmo que seja proibido tocar.

Estava no seu contrato de trabalho, foi marcado em neon na minha cabeça e antes que eu me esqueça: a crise de pânico correndo pelo meu corpo é o maior indicativo de que eu preciso fugir dele e agora.

— Assim... — Pedro não toca minha pele, mas a minha mente já está se fragmentando daquela forma que vai me fazer esquecer todos os sentidos do meu corpo e a dor vai começar a gritar para sair e o som dos meus passos vão ser ouvidos dentro da minha alma e o terror estagnado nas minhas veias. Porque essa é a parte quebrada de mim, a menina quebrada que não pode ser tocada por ninguém e aprendeu a odiar o contato masculino muito nova. Cheia de traumas para absorver e já fazia tanto tempo desde a última vez que senti o enjoo característico que sempre acompanhada daquele grito que nunca sai completamente da minha garganta, quebra e cheia de lembranças.

Uma boneca controlada pelas mãos dele, a grande Daniela Muniz é um personagem que esconde os meus olhos arregalados e o jeito doloroso como finco minhas unhas na mesa de vidro, querendo controlar minha respiração e as lagrimas que outrora consegui esconder.

Você não pode gritar, garotinha...

O titio vai cuidar de você...

Faço os exercícios que Anna recomendou, Pedro se distrai com alguma coisa no seu tablet e passa os próximos minutos falando com alguém ao telefone, ele não olha para mim o que me ajuda a respirar e a mandar embora esse coisa ruim que sempre fragmenta meu autocontrole.

Ele viu o momento exato que me descontrolei, mas não disse nada e eu o agradeço por isso. Passo a manhã com ele sentado no sofá da minha sala tomando nota, o barulho do seu celular interrompe pela sala e suas próximas palavras são piores do que sentir sua presença tão perto de mim.

Es uma das pessoas que me ajudou a cair do penhasco com um sorriso no rosto, porque eu fugi e nunca olhei para trás...

— Há uma senhora querendo falar com a senhorita, ela se diz chamar: Eleanor Muniz...

— Peça para Javier colocá-la para fora das dependências da Muniz — a um pedido de socorro sedento entre minhas palavras, então tenho seus olhos em mim e algo como compreensão parece ganhar no final, ele digita alguma coisa para o chefe de segurança do prédio e pergunta: — Devo restringir o acesso da senhorita Muniz apenas hoje ou para sempre?

— Para sempre é uma boa, na verdade eu quero que tire o acesso de qualquer pessoa que tenha o sobrenome: Muniz! — eu vejo a curiosidade ganhando força no fundo dos seus olhos, levo meu tempo bebendo o café que já está gelado e que mesmo assim me ajuda a desviar os meus próprios olhos dele. Por que sinto essa vontade de contar para ele o porquê de nenhum Muniz poder entrar nas dependências do que eu construí sozinha? Normalmente os familiares têm acesso livre nas empresas de seus parentes, mas os meus progenitores? Eles não são quaisquer pessoas, eles nem merecem esse título.

— Temos uma reunião em 10 minutos, certo? — puxo uma nova sequência de respirações profundas na frente do meu assistente pessoal que engole suas perguntas e continua atualizando minha agenda do dia, uma em que ele vai passar o dia ao meu lado. Inspiro seu cheiro e como algo magico, volto a me acalmar como se a tempestade fosse empurrada pelo sol para um lugar distante.

Minha terapeuta vai adorar saber dos detalhes que aconteceram essa semana, por que um perfume tem o poder de acalmar uma pessoa? É a pergunta de milhões e eu vou adorar descobrir o significado disso.

— A senhorita está bem?

— Claro, por que eu não estaria? — a tantas mentiras sendo mostradas na minha linguagem corporal e como o bom advogado que ele é ganho um arquear de sobrancelhas e ele repete alguns movimentos meus.

— Deve ser porque a senhorita puxou oito respirações profundas desde o momento em que o nome da senhorita Eleanor foi citado, ou foi algo que eu fiz senhorita Muniz? — porque ele não me chamou de: chefa? Sei que esse não é o foco da conversa, mas poxa.

— Não sabia que precisava dar detalhes da minha vida para um funcionário, senhor Ferraz — as palavras saem e o arrependimento fica. Porque sua postura muda e a expressão de curiosidade desaparece em um piscar de olhos.

— Sinto muito por me preocupar com a senhorita — ele baixa seus olhos caminhando até a porta — vou preparar a sala de reuniões — e sai, levando sua calmaria. Droga! Por que falei dessa forma com ele? Não é como se ele tivesse sido mal-educado ou qualquer coisa parecida, qualquer pessoa no seu lugar estaria curiosa para saber os detalhes por trás de uma boa fofoca familiar.

Há exatamente um mês parei de sustentar os caprichos da minha família e neguei acesso a qualquer lugar onde eles poderiam me encontrar. Não posso negar que isso me ajudou a relaxar e a aproveitar pequenas coisas que fiz por mim mesma. Como assistir uma maratona de filmes sem precisar ser interrompida pelo aplicativo do banco me avisando sobre o dinheiro que estava saindo sem controle da minha conta. Nunca foi por amor, eles nunca se importaram em perguntar como eu estava depois de anos solta no mundo.

Nenhum deles se dignou a perguntar como eu sobrevivi sozinha nas ruas frias de São Paulo! Mesmo que a condição que eu estabeleci assim que Eleanor me contatou estivesse sendo cumprida, eu não daria um único centavo do meu dinheiro a Carlos Muniz e essa era uma promessa que eu cumpriria até o meu ultimo suspiro.

Houve alguns momentos em que pensei em ligar para Eleanor e voltar a enviar algum dinheiro para a sobrevivência deles nessa cidade. Mas então eu lembrava da negligência, a fome e aquele maldito quarto escuro e tudo sumia.

Qualquer pena ou sentimento bom que eu nutria por qualquer membro da família Muniz desapareceu junto com Adam. Foram muitas garrafas de vinho e noites em claro lendo para não cometer nenhuma loucura, eu não podia beneficiar ainda mais pessoas como eles.

O que vou fazer para me livrar da minha mãe e do meu pai sanguessugas? Eleanor Muniz deu uma declaração à imprensa a quatro dias dizendo que eu os deixei passando fome, que não tenho coração. Uma das advogadas mais renomadas do meio jurídico negligência os pais entre outras coisas espetaculares para os abutres da imprensa, mas isso é mais do mesmo, sempre me depreciando. Sempre sugando minhas energias com suas aparições surpresas.

Nada era bom o suficiente e então eu cansei e fugi como da primeira vez. Só que agora eu tinha um motivo para lutar todos os dias e não dependia deles para comer ou vestir, eu era dona do meu próprio nariz e nesse exato momento eu preciso arrumar um jeito de pedir desculpas para o meu assistente pessoal que parecia se infiltrar no meu corpo como uma droga viciante e muito boa para me livrar dela.

(...)

23 anos atrás...

Há um vendedor de algodão doce do outro lado do parque, eu corri para cá quando a mamãe continuou bebendo o liquido laranja daquela garrafa fedida, Nana tinha ido ao mercado e eu não sabia quando ela voltaria e o Adam sumiu, não sei onde está ele e isso faz meu coração arder.

As arvores balançam com o vento e continuo enterrando um novo tesouro para mim e Adam brincarmos mais tarde, a noite começa a aparecer e por isso começo a correr até a casa grande. Meu vestido de babados rosa está cheio de terra e a tiara de flores que Adam fez para mim balançam junto com os meus dois coraçõezinhos. Meu primo é meu melhor amigo no mundo e eu sinto sua falta, por que ele não está aqui para brincar comigo?

Arrasto minhas sapatilhas pelo terreno cheio de barro e os meus olhos brilham quando vejo o carro do tio Carlos, tanto de medo quando de felicidade. Adam está aqui? Olho para os dois lados e o brilho que vem da garagem onde ele guarda suas coisas de garoto é o que aquece meu pequeno coração, balanço meus cabelos até a porta de entrada para chegar até ele.

Mas assim que entro na sala grande, onde duas escadas guardam o andar de cima eu sinto o frio que faz meu corpo tremer, aperto meus braços um no outro para me aquecer e o cheiro daquela bebida que a mamãe bebe toma todo o lugar, a Nana não vai gostar de ver isso.

Então a risada que assusta minha pele e castiga meus ouvidos me para meus olhos se arregalam e antes de voltar para fora, para algum lugar seguro onde Adam pode ir me buscar mais tarde sou tirada do chão, minha sapatilha fica para trás e eu tento lutar contra seu corpo gordo e o cheiro forte que vem do tio Carlos.

O escuro, ele vai me levar o escuro e então a luz vai começar a gravar e ele vai tocar em mim, eu não quero que ele toque em mim...

— Adam? — sussurro por socorro, e ele parece me ouvir porque quando estamos cruzando o corredor que leva para o lugar escuro o meu primo aparece no fim do correr, suado e com marcas vermelhas nas bochechas. Quem machucou ele? Quero correr para ele e saímos de aqui fugir como ele me prometeu naquele dia, mas os meus pés já não estão mais no chão e meu vestido de babados faz os olhos do monstro brilharem. Sua voz corta o ar, e meu coração se paralisa no peito porque sei o que Adam vai fazer e não posso permitir, ele abre a boca e uma única lagrima desce pelas minhas bochechas antes que eu diga:

— Não, não faça isso.... — Não é só para o monstro. Adam não pode implorar para trocar de lugar comigo, então uma lagrima desce pela sua bochecha e sua boca continua aberta para denunciar que ele está ali por mim, e eu não o deixo fazer isso porque depois que tudo acabar vamos para o nosso lugar seguro. E algum dia, vamos ir embora daqui.

— Ninguém pode salvar você, minha garotinha.... — Ouço o som da porta sendo aberta por uma chave pesada, parei de lutar contra suas mãos nojentas, porque estou implorando para Adam continuar escondido atrás daquela parede. Porque assim o monstro só vai machucar a mim, porque ele é a única coisa boa e que me permite esquecer o toque, as vozes e os pedidos...

— Comece a contar para o titio! — uma ordem, minhas roupas são arrancadas do meu corpo, o grito começa a se formar na minha garganta e é o que ele quer, que eu grite para sua plateia ouvir o socorro de uma menina que só queria fugir, meus dedos encontram o colar de coração no meu pescoço e quando a primeira lagrima escorre pelo meu rosto seu cinto cai no chão e começa tudo de novo, e eu o sinto quebrando meu corpo como uma boneca criada para o seu prazer.

Mesmo que dessa vez, eu esteja me negando a gritar porque eu sei que Adam vai entrar se eu o fizer, e eu não posso... não posso ver ele passar por isso! Porque desconfio que isso me mataria na primeira oportunidade que ele eu me visse sem ele.

(..)

Sou arrastada das minhas lembranças com o meu assistente pessoal parado na frente da minha mesa, assustado e falando algo que demoro para entender:

— A senhorita está bem?

Tantas coisas se passam na minha cabeça com essa pergunta, um lenço de sedã cai na minha mão estendida sobre a mesa, seu cheiro está empregando no tecido e o uso para diminuir o estrago no meu rosto, tento resgatar a calma que senti a alguns minutos. Quando foi que cai nessa lembrança? Eu já estava frágil pela sequência de acontecimentos desta manhã e lembrar de Adam conseguiu ser pior do que o pavor que saber que Eleanor Muniz estava aqui na minha empresa, causou.

Havia tantas coisas por baixo da mulher que construí, paredes que eu nunca deixei ninguém quebrar e ao olhar para Pedro Ferraz visivelmente abalado pelo meu estado foi o suficiente para drenar o restante das minhas energias.

— Temos uma reunião, não é? — busquei forças para levantar, busquei forças para respirar e busquei forças para não chorar como um bebe abandonado quando os olhos de Adam ficaram gravados no fundo da minha mente. Essa era uma das memorias que minha mente fazia questão de reprisar como uma sessão da tarde macabra.

— Não temos mais!

— Como assim? — meus dedos estavam trêmulos na mesa, e eu não tinha controle nenhum sobre os meus sentidos. Eu só queria deitar-se e dormir para sempre, assim eu não precisaria lembrar das lembranças que acabaram comigo. — Danie-lla Muniz nunca desmarca uma reunião... — ela nunca demonstra fraqueza e olha como eu estou nesse exato momento: frágil!

— O senhor Sanchez tem uma reunião com o prefeito da cidade e se disponibilizou para jantar com a senhorita amanhã a noite, por isso não temos uma reunião e olha — ele monstra suas mãos vazias para mim — perdi o meu tablet por aí, o que indica que não vamos poder trabalhar hoje.

— Eu nunca tiro folga — minha voz é um suspiro cheio de incertezas, meu coração dói quando entendo o que ele está fazendo. Mas não posso mostrar fraqueza, eu tenho que engolir minhas emoções e seguir em frente.

— E eu nunca perco nada e olhe só, a senhorita ganhou uma carona do seu assistente pessoal que vai cuidar de tudo até a senhorita voltar — Pedro tinha os olhos brilhantes e ele parecia entender que eu estava sendo esmagada por dentro, que tudo em mim estava sendo drenado pelas lembranças e mesmo assim ele sustentou seu sorriso no rosto e a conversa de que perdeu seu objeto de trabalho. Depois disso ele chamou Javier e providenciou coisas que eu não conseguia ver o que eram, mas assim que consegui levantar da minha cadeira e entrar no elevador, eu soube que ele tinha se certificado de que nenhum funcionário meu me visse frágil daquela maneira. Ele estava cuidando de mim, mesmo que eu tenha sigo grosseira e hostil nas últimas semanas com ele.

Fui deixada na porta da minha casa, com um sorriso preso no canto dos olhos e um pedido que nublou minha alma:

— Fique bem, Daniela! E se precisar de mim? É só ligar que venho correndo para cá.

Tinha uma caixa de bombons e vinho na minha mesa da sala de estar, Pedro ia ser tão difícil de esquecer. E assim como Adam fez durante todo o tempo que passei na mansão Muniz! Pedro estava cuidando de mim, como ninguém se importou em fazer durante os anos que passei levantando sozinha e escalando as paredes escorregadias do fundo do poço.

Uma parte minha gostou de ser salva por Pedro Ferraz!

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