Amá-lo é vermelho.
LOS ANGELES ESTÁ EM FESTA. As pessoas andam pelas ruas apressadas, sorriem o tempo todo e carregam cartazes com dizeres escritos que eu prefiro não ler. O trânsito é caótico, garotas e garotos correm contra o tempo para chegar a tempo de vê-lo. Ele está aqui. Sei disso desde o momento que abri meus olhos essa manhã, mesmo antes de receber sua mensagem avisando que havia pousado em solo americano, eu soube que ele estava aqui. Pelos gritos eufóricos das garotas na agência, pelo corre-corre de repórteres, e pelas inúmeras manchetes que pipocaram com suposições a nosso respeito. Todos sabem o que acontece quando nos encontramos, todos sabem que eu nunca perco um show seu e adoram supor o que acontece quando as luzes se apagam no final. Quando tanto eu quanto ele desaparecem sem deixar vestígios.
É fogo em brasa.
O estádio está lotado, há pessoas por todos os lados, bandeiras de muitos países, gente que veio de longe apenas para vê-lo. Não os culpo, faria o mesmo. Eu já fiz o mesmo. Muitas vezes. Seu rosto está estampado por todos os lados, nas camisetas das pessoas, em cartazes, e seu nome corre nos lábios de todos. Encaro aquela multidão me sentindo compadecida pelo sentimento que une todos juntos assim, em uma alegria contagiante. Eu conheço bem esse sentimento, minhas mãos já traçaram cada linha delicada dele, já senti a textura de seus lábios inúmeras vezes. Esse sentimento de euforia, de paixão, esse doce sentimento que faz transbordar os olhos. Ele tem nome sim.
Jimin Park.
O astro pop, mundialmente famoso, que arrasta multidões por onde passa e, consequentemente, a mim também. Seu nome soa tão doce em meus lábios quanto o sabor do seu beijo. Por falar nisso, que saudade daquela boca, que saudade de prová-lo. De escutar sua respiração pesada, seu olhar quente, de sentir sua pele macia na ponta dos dedos. Que saudade de...
- Srta. Jones? - uma voz soou, me trazendo para dentro do carro novamente. Encaro o motorista que olha para trás com um olhar preocupado. - Chegamos. Quer que eu a acompanhe?
Suspiro, desviando os olhos para as poucas pessoas que perambulam calmamente do lado de fora. Estamos na área VIP, aqui não há garotas histéricas e nem cartazes com seu rosto impresso. Há somente carros de luxo, limusines e pessoas esnobes dentro de roupas caras.
- Não há necessidade, Tony. Eu posso ir sozinha.
Coloco os óculos escuros, mesmo que lá fora o dia já esteja quase noite, e salto para fora do carro, mas não antes de avisar que ele não precisaria voltar para me buscar. Afinal, eu não irei voltar para casa hoje. Talvez nem amanhã. Quem sabe quantos dias ele ficará na Califórnia, ou quanto tempo durará até que eu perceba que na verdade eu quero ficar sempre ao seu lado. Tudo dependerá do meu corpo, e o quanto ele necessita pelo dele.
Por onde passo, os sussurros me perseguem. Eles olham na minha direção, apontam com olhos e dedos, sorrindo, até me xingando. Enxugo minhas mãos suadas na saia vermelha do meu vestido, ergo o queixo e continuo andando como se nada daquilo me afetasse. Porque realmente não me afeta. Tudo o que me importa está no estádio à minha frente, a qual caminho com a mesma elegância que uso nas passarelas. Afinal, estou indo até ele. E céus, como eu esperei por esse momento. Contei dias e milhas de distância todos os dias, fantasiei sua imagem no meio da noite, sonhei acordada entre flashes de câmeras, procurei seu rosto em muitas multidões e rabisquei meu calendário frustrada. Eu senti tanta saudade que pensei que morreria, que minha sanidade seria levada para longe, para qualquer lugar do mundo a qual ele estivesse.
- Aquela não é a Emma Jones? - ouvi uma voz sussurrar quando entrei no camarote.
- A modelo? - outra voz soou. Me sento em uma cadeira próxima à grade, terei uma ampla visão do palco daqui. Conseguirei vê-lo perfeitamente. - O que ela faz aqui? Eles não tinham terminado?
Ouço uma risada debochada e ajeito meu cabelo. Ele deve estar no camarim, sendo paparicado por vários profissionais de beleza, tendo muitas mãos tocando seu rosto, seus fios. Ele deve estar ansioso.
- E alguma vez eles terminam de verdade? Ela sempre volta se rastejando para ele. Coitado, deve sofrer por tanta pressão. - uma voz feminina sussurrou dessa vez. Consigo sentir o azedo sabor da inveja em seus lábios, e não a culpo. Todas querem o que eu tenho. Até tento não sorrir, mas é inevitável.
E, ah... se eles soubessem a verdade. Que na verdade quem sempre volta se rastejando com os olhos brilhando, frases bregas mascarando desculpas esfarrapadas, e flores murchas que sempre são esquecidas em algum canto da casa; não sou eu. Nunca sou eu que volto atrás em minhas decisões, que liga pedindo para voltar, que aparece no meio da madrugada com os faróis apagados e uma cara de quem não sabe o que quer da vida.
É sempre ele, sempre Jimin quem vem.
- Mas e a outra garota? - um homem aparentemente mais velho que os outros pergunta. Franzo o cenho. Outra... garota? - O que? Não ficaram sabendo? Jimin andou saindo com outra garota na turnê, acho que é do país dele.
- E quem é ela? - a garota pergunta o que eu queria perguntar. Agarro a alça da minha bolsa com força, como se isso fosse me ajudar em alguma coisa. Outra garota. Houve uma outra garota.
- Ninguém sabe, dessa vez ele foi discreto. - um sorriso amargo desponta dos meus lábios carmim ao ouvir a frase proferida de forma maldosa. Como se soubesse que eu estava ouvindo, como se me ferir fosse o seu objetivo.
Mas ele não consegue. Suas palavras têm o mesmo efeito em mim do que uma chuva de algodão. Jimin terá uma ótima desculpa para isso com certeza, será mais uma mentira sua para eu colecionar, mas sinceramente... eu não dou a mínima. Ele vale a pena. Tudo que me importa é poder lhe tocar, lhe beijar. Se eu posso fazer isso, nada mais importa.
As luzes do palco se acendem, um equipamento sopra uma lufada de fumaça. Todos ficam em silêncio, ansiosos. Junto às minhas mãos, aperto meus dedos em nervosismo. É agora. Uma guitarra soa, é um toque estridente. Vago os olhos pelo palco, ele não está em lugar nenhum, mas de alguma forma sinto sua presença com antecedência.
Ele está vindo, sei que está.
E então, as luzes se apagam novamente. Dura cinco segundos, até que uma surge no centro do palco, revelando a criatura angelical segurando o microfone. Ele tem a cabeça abaixada, fazendo seu cabelo longo cobrir todo o rosto. Meu coração acelera, de longe vejo-o suspirar. Ele levanta a cabeça, vaga os olhos pela multidão com uma expressão que não combina com ele. Está sério, como se estivesse muito bravo, mas sei que isso é apenas uma máscara para esconder seu nervosismo de estar em um palco, tendo tantos pares de olhos sobre si. A música começa, ele continua vagando os olhos pela multidão, enquanto meu coração pula lentamente até ele. Sinto que cada batida desse frágil e estupido coração é para ele, que seu nome está tatuado em cada artéria e meu sangue só corre pelo meu corpo por causa dele. Suas mãos delicadas passeiam pela haste do suporte do microfone, ele fecha os olhos, aproxima os lábios e solta a voz.
Gostaria de poder descrever com precisão toda a magia que acontece no mundo quando Jimin nos presenteia com a graça de ouvir sua voz de anjo soando por todos aqueles alto falantes altíssimos. Mas jamais conseguiria, nem mesmo se tentasse. Por isso me atento aos detalhes. Sua mão continua subindo e descendo lentamente pela haste do suporte. Ele parece beijar o microfone, a cena toda é hipnotizante aos olhos. Foco meus olhos no quanto ele está perigosamente bonito essa noite, enquanto meus ouvidos são agraciados pelo doce tom da sua voz. Usa um casaco branco por cima de uma camisa telada tão vermelha quanto meu vestido. Umedeço os lábios que de repente ficaram tão secos. Aquilo pode ser considerado uma camisa? Consigo ver seu tronco perfeitamente, mesmo que de longe. Ou talvez eu apenas consiga fazer isso por já ter a imagem perfeita de seu corpo nu na minha cabeça. Imagem essa que me persegue por todo canto que vou, e se intensificou ainda mais depois de vê-lo com essa camisa que nada esconde.
A multidão está eufórica, todos gritam e clamam pelo seu nome como se ele fosse um deus. Olhando assim, pondero se na verdade ele realmente não seja. Uma criatura divina, ser sobrenatural. Um feiticeiro, talvez? Outra música começa, o tom mais suave interrompe meus pensamentos. Jimin retira o microfone do suporte e lança um sorriso malicioso ao dar início aos primeiros versos da canção. Ele desliza pelo palco como uma borboleta prestes a alçar voo, sorri e pisca para a câmera diversas vezes, levando a multidão à loucura. Seu cabelo negro desce como uma cascata suave em seu rosto, movimentando-se conforme ele dança, me deixando ainda mais tonta. O que aconteceu com o oxigênio? Quando foi que o clima se tornou tão quente? Talvez Jimin seja mesmo um feiticeiro, e eu fui pega em sua armadilha, estou enfeitiçada, estou fora de mim.
Me levanto da cadeira, os dedos trêmulos agarram a grade com força. Maldita distância, daria tudo para agarrá-lo agora, ouvi-lo cantar baixinho no pé do meu ouvido como sempre faz. Daria tudo para fugir desse show idiota, mandá-lo desistir de tudo e viver em prol de mim e esse sentimento quente que vive em mim. É muito mais que apenas desejos carnais. Tê-lo em meus braços é a melhor sensação do mundo, mas é muito mais que isso. Gosto de nos comparar com as cores do arco-íris. Eu sou azul, solitária e triste. Jimin é dourado, com toda sua glória e esplendor de superstar. Juntos somos como uma confusão de cores e sentidos, mas que não foram feitos para ficar separados. Viver meus dias monótonos sem ele é cinza; sem graça e vazio. Quando nós brigamos é preto; uma tempestade com raios e trovoadas. Fazer as pazes é um doce cor-de-rosa; inocente e bonito. Esperá-lo é verde; sobre ter esperança mesmo em momentos difíceis. E amá-lo...
Amá-lo é vermelho.
Como a camisa que ele usa, o meu vestido e meus lábios. Amá-lo é intenso, é quente, é bonito, espetacular. Jimin me fez ter uma cor favorita quando sorriu para mim pela primeira vez em uma conferência em que ambos não queríamos estar. Me lembro de seus olhos de meia-lua invertida, de achá-lo adorável, ao mesmo tempo que sentia meu interior fervendo pela duplicidade que seus olhos tinham. Hora me olhava inocentemente, hora parecia me despir com os olhos. Amá-lo é todos os tons de vermelho, do mais claro - quase rosa -, do ponto doce e romântico, assim como tons escuros - quase preto -, pois poderíamos ser o oposto de fofura e romantismo.
E céus, como eu amo amá-lo. Como eu amo vermelho...
♥️
As luzes fluorescentes de Los Angeles brilham mais que as estrelas do céu quando finalmente consigo sair do estádio após o show. As pessoas ainda estão saindo, com olhos vermelhos e sorrisos largos. Observo-os entre suspiros enquanto aguardo. Onde ele está? Já tem um tempo que estou aqui parada desde que recebi sua mensagem simplista me pedindo para esperá-lo nos fundos. Mesmo com a distância, consigo ver as pessoas saindo de dentro do estádio. Todas conversando alto e com o nome de Jimin na ponta da língua a cada instante. Como essas garotas reagiriam ao saber que em breve ele estará em meus braços? Um sorriso desponta dos meus lábios. Iriam querer minha cabeça em uma bandeja de prata. Pois ninguém aparentemente é bom o suficiente para o incrível Jimin Park. E eu de certa forma concordo, mas ele me escolheu. Ele quem quis ficar. E não sou eu que vou impedi-lo de fazer isso.
Ouço pneus cantando e olho na direção do carro que sai do estacionamento como se estivesse fugindo da polícia. Sorrio ao reconhecer o Masserati tão vermelho quanto tudo essa noite. Tão dramático. Ele derrapa ao frear ao meu lado. Não penso nem duas vezes ao entrar, antes que alguém nos veja em fuga. Ouço sua risada doce e até infantil quando bato a porta e ele pisa no acelerador de forma tão dramática quanto antes.
- Posso saber para que todo esse drama? - o encaro, e céus, como ele é bonito. Talvez eu tenha me esquecido disso no tempo em que passamos separados, Jimin é tão deslumbrante que me faltam palavras e oxigênio para descrevê-lo.
- Você não gostou? Sempre quis fazer isso, soa como se estivessemos fazendo algo ilegal. - ele ainda está sorrindo quando termina de falar, os olhos transformados em duas pequenas meia-luas e seus dentes branquinhos enfileirados perfeitamente para que eu possa ver. Jimin tira uma mão do volante, penteia seu cabelo ainda úmido com os dedos e apoia o cotovelo na porta.
- E isso te excita, Jimin? - provoco, tentando disfarçar o meu embaraço ao assisti-lo fazendo coisas tão banais assim. Foco meus olhos em sua jaqueta de couro preto, e em como isso aumenta esse clima de ilegalidade dessa noite. Jimin soa ilegal essa noite. Ele solta um risinho divertido, sua gargalhada é tão gostosa e contagiante que nem percebo que estou sorrindo também.
- Talvez. - responde para minha surpresa. Rio alto notando o rubor em suas bochechas e ele acaba rindo também. - Senti sua falta, jagi.
Ele me encara e eu prendo a respiração. As luzes coloridas da cidade refletem no azul turquesa do seu olhar e formam um espetáculo de cores. Ele sorri docemente, pisca e volta os olhos para a estrada. Noto que a camisa que usa por baixo da jaqueta também é vermelha, mas ao contrário dos bancos e do painel do carro, é um tom fechado, escuro. Algo cintila em seu pescoço, é uma corrente, mas o pingente está escondido entre a jaqueta.
- Eu também senti a sua, Jimin. Todos os dias. - respiro fundo, tentando recuperar minha postura e forço um sorriso em meio a tempestade de emoções do meu coração. - Quando vai me contar o significado dessa palavra?
Ele ri. Céus, eu acho que poderia ouvir seu riso o dia todo.
- Ah, isso... - ele apoia os dedos no queixo casualmente, ainda com os olhos vidrados na estrada. Céus, como isso o deixa atraente. - É só uma forma de se referir a... é só um apelido carinhoso, amor.
Meu peito se aperta e meu coração se torna um grãozinho de feijão. É a primeira vez que ele me chama de amor, e a forma como isso escapou tão casualmente dos seus lábios me deixa zonza.
- Para onde vamos? - disconverso, pois sou incapaz de fazer qualquer comentário a respeito de sua nova forma a se referir a mim. Ele me lança um rápido olhar que dura alguns segundos até voltar os olhos para a estrada, e sorrir de lado.
- Por aí, Emma.
♥️
Jimin me trouxe para a minha casa, fugindo totalmente da rotina de ir a motéis ou uma cabana no meio do nada. Ele estacionou seu carro na garagem junto com o meu, e agiu como se sempre fizesse isso. Agiu como se não fosse a primeira vez que visitava minha casa, e isso me deixa ainda mais desnorteada. O que está acontecendo com ele? O que ele pensa que está fazendo? Jimin tirou os sapatos na entrada, costume de seu país que ele se recusa a abandonar, e seguiu até a cozinha. Fico plantada no meio da sala, as luzes ainda apagadas e encaro a porta pela qual ele passou como se ela fosse me dar todas as respostas que procuro. Escuto as portas dos armários se abrindo e fechando, assim como o baque surdo da geladeira abrindo e fechando e um som de um líquido sendo despejado. Suspiro. Enquanto meu coração pula feito um doido, enquanto minha mente trabalha rapidamente buscando respostas, ele está bebendo água na minha cozinha tranquilamente.
Abandono todas as minhas preocupações na sala e caminho pelo corredor até a porta do meu quarto. Jogo a bolsa na cama, e começo a luta para tirar os meus brincos quando paro em frente a penteadeira. Gostaria de entender o que se passa pela cabeça dele, o que faz com que ele diga e faça coisas que não entendo. Por que me disse que não podia me prometer um romance, mas agora me chama de amor? Por que ergueu paredes sobre nós, impedindo de entrarmos na vida pessoal um do outro, e agora atropela tudo como se não fosse nada? Por que me confunde tanto?
Ouço seus passos suaves atrás de mim e me viro, prestes a cuspir tudo o que me ronda os pensamentos, mas me impeço ao assisti-lo tirar a jaqueta de couro que lhe dá um ar de garoto mau de filmes dos anos noventa. Não posso dizer tudo que me incomoda assim, não posso me abrir completamente quando nem sei qual é a dele. O que pretende, afinal? Então decido ir pelo caminho mais fácil, mascarar problemas com outros. Fingir que não me importo que ele esteja invadindo meu espaço pessoal e agindo como se pertencesse a ele também.
- Ah, eu ouvi... - começo, fazendo um ar de suspense para ganhar sua atenção. E funciona, pois ele me encara. - ouvi dizer que anda saindo com outra garota.
Faço questão de enfatizar a palavra que tanto me incomoda. Outra. Não bastou a Taylor, Charlotte, Mia, Lisa e nem a Juliet. Agora há outra. Outro boato, mais uma mentira, outra garota. Os olhos azuis dele cintilam no escuro, quase consigo ver um pequeno sorriso surgir na ponta dos seus lábios, mas talvez seja apenas minha imaginação.
- O que você ouviu por aí é verdade, eu saí algumas vezes com a Jisoo. - uma pausa, ele suspira. Então esse é o nome dessa vez? Alguém de seu país... - Mas eu não consegui parar de pensar em você, então, isso deve dizer alguma coisa. - me seguro para não rir. Essa é a sua maneira de se declarar? Devo beijá-lo ou mandá-lo embora? - Eu quero fazer isso dar certo, Emma.
Eu deveria perguntar como, deveria gritar e agir como a louca que os repórteres descrevem que sou. Mas eu apenas suspiro, encarando-o no breu do quarto. Eu deveria mandá-lo embora, pois sei bem onde isso vai dar e não pode ser bom. Nós não tem como dar certo, essa é a verdade. Então por que me sinto incapacitada de dizer isso? Por que estou me aproximando dele ao invés de mandá-lo ir?
- Eu entendo, eu também. - digo quando paro a um palmo de distância dele. Eu também? Eu também o que? Já nem sei mais do que estou falando. Seus olhos são como duas geleiras, o que é controverso já que tudo nele me remete às cores e sabores quentes. Ele me encara tentando entender do que é que eu estou falando, como se eu soubesse!
- Isso significa que... - não deixo que ele diga mais nada, agarro sua nuca e o puxo para perto. Colo meus lábios nos seus, provo-os como se essa fosse a última coisa que farei na vida. Jimin parece surpreso, mas não demora para retribuir o ato, me agarrando como se quisesse se fundir a mim.
Seu cabelo sedoso se embrenha entre meus dedos e ele faz o mesmo com o meu, me levando a loucura. Sua boca tem gosto de cerveja, sua língua quente explora cada canto da minha boca fazendo minha temperatura subir gradativamente. Passos trôpegos nos levam até a cama, mas permanecemos em pé encostados na borda, incapazes de nos desvencilharmos. Havia me esquecido da sensação de ter seus lábios macios nos meus, havia me esquecido dessa sensação de visitar o céu e o inferno ao mesmo tempo. Se antes me sentia incapaz de mandá-lo embora, agora aqui com a boca grudada na dele, muito menos. Quando nossos pulmões pedem por oxigênio, Jimin se afasta dos meus lábios, mas me mantém presa em seus braços. Seus olhos de um azul-turquesa inspecionam meu rosto como se quisesse decifrar todos os segredos do universo apenas com isso. Seus lábios fartos estão levemente inchados e avermelhados. Me demoro neles, tão vermelhos e chamativos quanto tudo nessa noite. Ele enrola uma madeixa loira do meu cabelo no indicador e suspira, seu olhar se perdendo nos fios. Sei o que está pensando, que estou prestes a mandá-lo ir embora, que esse beijo é uma despedida.
Bobo.
Seguro seu rosto entre minhas mãos e faço-o me encarar. Ele tem um brilho triste no olhar, que o faz parecer um garotinho que quer um brinquedo de uma loja na qual a mãe se recusa a comprar. Deposito um selinho em seus lábios, ele faz um biquinho manhoso quando me afasto.
- Isso significa que eu quero que fique aqui, Jimin. - exclamo, fazendo seus olhos brilharem e um sorriso brotar. E então, a dualidade de Jimin Park se revela novamente. De um garotinho fofo ele passa a ser um anjo sensual que veio até a Terra para sugar minha alma para si. Seus olhos se tornam diferentes, mais escuros. Nem parece a mesma pessoa de segundos atrás.
Ele avança sobre mim, me jogando na cama, fazendo-me sua. Despindo-me de corpo e alma. Seus lábios percorrem cada extremidade do meu corpo com zelo, seus olhos afiados fincam nos meus me cegando. Ele sorri, como um anjo caído perfeitamente bonito e eu me entrego a ele, de corpo e alma. E tudo se torna vermelho; os lençóis de seda, a sua camisa no chão e o meu vestido que voa para o lado oposto do quarto. Até mesmo seus olhos, de um azul sem igual, se tornam brasas, que queimam cada extremidade da minha pele. Eu vejo tudo vermelho quando sinto-o em mim, em chamas. O som da sua voz é vermelho marsala, veludo, me arrepia e me tira de órbita. O que ele está dizendo? Eu não consigo entender. Oh, é porque ele não está mesmo falando nada coerente. Nossos cabelos se tornam uma confusão, ele não tira o sorriso do rosto e eu me sinto cada vez mais caindo em um precipício a qual ninguém pode me salvar.
E sinceramente, eu não quero ser salva.
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