Vamos ser francos
Foi inesperado. O susto fez com que Carmen levantasse os olhos e se deparasse com um par de olhos muito azuis atrás de óculos de armação redonda. James sorri e Carmen encolhe as pernas contra o peito.
Estava sentada no chão do jardim em um tempo livre, sozinha, lendo um livro por lazer. James Potter chegou de fininho, estava esperando pelo momento certo, mas este pareceu demorar uma eternidade para chegar. E lá estava ele, tentando outra vez.
Carmen desce os olhos para o buque de lírios que ele está estendendo para ela. Sente uma vontade de rir, mas consegue se segurar.
— Bom dia, lírio.— ele cumprimenta com um sorriso charmoso. Carmen volta a ler como se não tivesse visto nada.
— Bom dia. Só para deixar gravado: Lírios são dados aos mortos, Potter.— ela diz com indiferença— Eu prefiro margaridas.
— Não seja por isso.— ele puxa a varinha e com um movimento as flores se transformam.
Eles se veem quase todos os dias, compartilham não só a comunal como boa parte das aulas. Se viram esta manhã mesmo durante o treino de quadribol. Terão sua primeira partida juntos amanhã, então James achou que esse era um bom contexto para se aproximar. É certo dizer que ele a deu uma folga por uns dias, mas era por receio e este foi superado. Agora os Marotos todos confiavam nela. James se sente seguro para voltar a flertar com o melhor de si. Não, ela não saiu de sua cabeça mesmo com sua breve separação.
Ele estende o buque de margaridas e Carmen voltou a erguer os olhos. Ela fica tentada, mais uma vez, a sorrir, mas não se permite a cair de amores pelo garoto que pode ser mais doce do que pensava.
Para a surpresa de James Potter, Carmen Zabinni aceitou seu buque. Bem, ele ficou sem saber o que fazer, não sabia que chegaria nessa fase sem receber um outro corte seco.
— Obrigada, senhor Potter.— ela agradece com seu amável sotaque.
Ele pisca rapidamente, ela não está o desprezando? Isso é um grande passo.
— Hã... uau— ele não disfarça sua surpresa— É... esse lugar está ocupado?— ele aponta para o gramado ao lado dela e se senta antes que a garota convide.
— Bem, não estava.— ela fecha o livro e o olha— Posso ajudá-lo em alguma coisa, Potter?— ela pergunta, colocando as margaridas sobre o livro.
— Eu queria saber como está se sentindo— ele começa, se recompondo da surpresa— já que teremos a nossa primeira partida amanhã.
— Ah, está temendo pela novata?— ela pergunta, levantando a sobrancelha— Acha que eu vou tremer de medo quando pisarmos no campo?
James a encarou com certo abismo, está chocado por ela não estar sendo absolutamente arisca. Ela sabe que o está deixando chocado.
— Parece abismado.— ela comenta, olhando-o de perto. É o mais perto que já estiveram, mesmo que não se encostem.— Me pergunto porquê.
— Está sendo gentil comigo. Quero dizer, eu sei que você não é mal educada— ele se apressa para emendar quando ela franze a testa para ele— mas até então só meus amigos receberam esse tratamento.
— Bem, talvez porque eles não tentaram dar em cima de mim.— ela dá de ombros o lançando um olhar sugestivo.
— Então esse é o problema?— James cerra os olhos— Eu estar tentando conquistá-la?
— É. A coisa é que eu não quero ser conquistada, senhor Potter.— ela sorri com humor. James se desconcentra quando encara o sorriso que nunca antes lhe foi dirigido.
— É um desafio muito difícil de se fazer para qualquer um que a olhe, senhorita Zabinni.
Ela vira o rosto e balança a cabeça. Seus cabelos negros estão presos em uma coroa de trança. Ela parece cada dia menos assustadora. Parece até angelical agora.
— Eu acredito que já tivemos essa conversa.
— Não foi bem uma conversa, mas sim uma surra que eu levei.— ele arregala os olhos e Carmen se engasga com a própria risada. Ele inclina a cabeça para o lado, intrigado. Ela está diferente, o que a fez mudar com ele? Mesmo perguntando, é de se duvidar que Carmen lhe dará qualquer resposta, por isso, ele decide deixar essa no arsenal para mais tarde.
— Não me leve a mal, é que além de eu não querer ser nenhum brinquedo para você, monsieur Potter, eu tenho mais o que fazer.— ela levanta o livro que está segurando— É difícil crescer na vida, mas o senhor não entenderia, já que é homem e branco.
Ah, não. E lá estava ele, no mesmo cenário de antes, onde já esteve com a senhorita Evans. Perdendo uma garota para os estudos, seu velho arqui-inimigo. Parece que James Potter tem um tipo e são as garotas que querem futuros brilhantes acima do amor. Bem, não que ele esteja apaixonado por Carmen.... é que.... bem....
Continuando...
— Avançamos um pouco— ele comenta com a voz baixa e rouca— mas a senhorita ainda acha que eu sou o tipo de garoto que a usaria como brinquedo.
— E não usaria?— ela volta a olhá-lo com as sobrancelhas levantadas.
— Não, eu não sou assim.
— É bom saber.— ela assente. Os dois ficam parados por um momento, se olhando. Ele é tão bonito de perto. Carmen baixa a cabeça e encara o monte de margaridas no seu colo. Ela pega uma e fica a girando entre o polegar e o indicador— Mesmo assim...— ela continua, quebrando o gelo. James fica olhando seu perfil, sem que ela note o quanto ele parece hipnotizado.— Eu não quero nada com o monsieur. Eu vi que estava errada em meus julgamentos sobre sua pessoa, mas isso não muda o fato de que o meu foco de vida é outro.
— Posso ser honesto?— ele pergunta depois de segundos longos absorvendo.
— Clarro.
— A senhorita tem medo de se apaixonar.
— Não é medo...
— Se não é medo, eu não sei o que é.— James a interrompe e a terra encontra o mar quando seus olhos se encontram.— Conheci uma garota como você. Ela me afastou por conta desse mesmo motivo, mas eu sinto que é diferente para a senhorita. Todo mundo sabe que essas coisas podem coexistir, mas a ideia te assusta de verdade. Por que?
Carmen parou, uniu as sobrancelha e desviou o olhar um instante, pensativa. Ele acabou de jogar na cara dela que ela tem medo de se apegar? E, mais importante ainda, como ele poderia saber disso?
Será que ele sabe que ela se muda muito, por isso tenta manter qualquer pessoa que possa se interessar romanticamente, longe? Como diabos ele imaginaria?
Amigos, Carmen pensa, amigos podem ser mantidos mesmo a distância, só que isso não se encaixa em namoros, nem casamentos. Não é a mesma coisa, e como James Potter, esse tremendo paspalhão, conseguia sentir o que ela nunca falou para ninguém?
Mas, como uma boa grifana, ela não vai admitir nem tão cedo.
— Está errado.— ela o dá um peteleco na testa e recolhe as suas coisas para se levantar.— Eu não temo nada.— ela diz e ele se levanta em um pulo para segui-la para fora do jardim.
— Ok.— ele diz— Vamos fingir que não é verdade o que eu disse. Mas se eu não posso cortejá-la, o que eu poderia fazer?
Ela parou no meio do caminho, abraçando seus livros e suas flores.
— Pode ser meu amigo. Mas nada além disso.— ela avisa e ele sorri.
— Soa bem, por mim.— ele a estende a mão e Carmen cerra os olhos, desconfiada. Tudo está parecendo fácil demais. Querendo não parecer muito cismada, a Zabinni aperta a mão de Potter.
— Amigos, então?
— Amigos!— ele assente com um sorriso travesso nos lábios e, ainda com a testa franzida de confusão, Carmen se afasta, pensando no que acabou de acontecer. James ergue o queixo e, com bastante confiança, volta para o corredor onde deixara Sirius Black esperando. Este último parece tão confuso quando a Zabinni.
— O que foi aquilo?
— O início de uma grande estratégia, meu amigo.— Potter fala com um sorriso pequeno e aquela cara de quem vai aprontar que ninguém conhece melhor do que Sirius. James enterra as mãos nos bolsos— Eu vou precisar do máximo de pessoas possível nessa.
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