Uma flor para outra flor

Carmen Zabinni está sentada no sofá da sua comunal de frente a lareira com sua amiga e colega de quarto, Jules Quinn, quando a monitora delas, Marlene Mckinnon, aparece na sua frente junto de uma garota negra de pele clara, sobrancelhas grossas e cabelos cacheados presos em um coque bagunçado, chamada Dorcas Meadowes.

As colegas de quarto sentadas param de conversar no momento que se dão conta de que as outras duas querem falar com elas. Elas estavam rindo de uma história embaraçosa de Jules, estavam ali há tanto tempo que nem viram as horas passando. O jantar já havia acabado, será que estavam encrencadas? Carmen pensava; já está na hora de irmos para o dormitório?

Mas aí, Marlene sorriu e acenou para as duas, sentando-se na mesinha de centro.

— Senhorita Zabinni, temos novas.— ela diz. Carmen olha para a loira e depois para sua colega.

Dorcas Meadowes é a artilheira do time, a única outra garota jogando pela Grifinória. Carmen nunca havia trocado nenhuma palavra com a mesma, mas sabia quem ela era. Dorcas vestia um macacão jeans com flores bordadas de diversas cores, tinha um ar despojado e mascava um chiclete formando bolhas com o mesmo. Ela é uma daquelas garotas que era só bater o olho e você já acha que ela não gosta de você e está te julgando muito internamente, mas tudo o que ela faz quando olha para Carmen é sorrir, parece orgulhosa de algo.

Carmen ajeita a postura colocando os pés no chão e se aproxima de Marlene, curiosa.

— Boas ou más?— ela pergunta mesmo que duvidasse que vinham más notícias por aí.

— Excelentes, porém elas dependem de você.— Dorcas fala. Tem uma voz agradável, quase que sensual.

— Temos um lugar para você no time.— Marlene sorri e Carmen apanha a mão de Jules, animando-se com a ideia.

Jogar quadribol antes nunca lhe passara pela cabeça, ainda mais em um time de escola. Carmen sempre gostou de voar, é claro, mas jogar? Ah, que preguiça.

Não se sabe exatamente que chavezinha virou em sua cabeça para que de repente ela achasse o jogo tão divertido, mas no fim, ela acabou criando afinidade. Tivera treinos incessantes durante uma longa semana, sentia-se detonada, mas satisfeita porque jogar a distrai de um jeito bom — mesmo que ela não esteja enfrentando nenhum problema sério por agora, tem ficado estressada com a falta de resposta dos seus pais.

Mas...— Marlene continua, fazendo uma breve pausa porque os Grifinórios adoram pausas dramáticas. Carmen apertou a mão da amiga em expectativa, aperto este que Jules retribuía, ansiosamente— A posição é de titular é como batedora. Estou para dispensar o Longbottom, e acho que você é forte o suficiente para assumir o cargo, só que se não quiser, vai ficar de reserva para a Dorcas aqui e, acredite, ela nunca perde nenhum jogo.

Carmen e Jules olham para Dorcas.

— Nunquinha.— ela confirma. As garotas voltam a olhar para a capitã.

— Você aceita a vaga, senhorita Zabinni?— a loira levanta as sobrancelhas. Carmen se levantou em um pulo e Marlene a imitou, a Zabinni agarrou as mãos da capitã e ficou as sacudindo.

— Eu ficaria honrada!— ela diz, animada— Honestamente foi a posição com a qual eu mais me identifiquei.— ela admite, soltando as mãos da monitora que ri, contente com o acréscimo em seu time.

— Então eu tenho um bom olho.— Marlene balança a cabeça, satisfeita com a própria esperteza. Carmen em nenhum momento deixara claro para qual posição ela queria jogar, era boa em disfarçar suas emoções, mas a capitã viu a energia que ela gastou no dia que treinou para ser batedora e sabia que o potencial estava se destacando principalmente ali.

Dorcas se aproxima de Marlene, apoiando-se no seu ombro esquerdo tranquilamente.

— Somos oficialmente o time com mais garotas do castelo.— ela diz, levantando as sobrancelhas— Talvez de mais alguns lugares por aí também.

— Isso é maravilhoso, Carmen, está fazendo parte de um movimento.— Jules elogia, ainda sentada no sofá, atraindo a atenção das garotas.

— É sobre o poder feminino, gata. Isso não é jogo só de homens para homens, a gente aguenta muito mais merda do que eles todos os dias, e passou da hora de mostrarmos isso— Dorcas concorda, inspirada. Era uma questão que ela estava levando em conta, é claro.

De fato, as garotas não participavam de nada nos jogos de quadribol, fazendo pouco ao torcer pelos seus times favoritos. A Lufa Lufa e a Corvinal tem apenas uma garota no time cada, enquanto a Sonserina mantém a mesma tradição de milhares de anos de só admitir garotos para o time pois o jogo é violento demais para as garotas, eles disseram.

Suas ideias ultrapassadas e machistas faziam com que todas as garotas na sala quisessem revirar os olhos.

— E você, não tem nenhuma coisa para me mostrar no ar?— Marlene pergunta para Jules que sorri e sacode as mãos e a cabeça negativamente.

— Ah, não, não! Eu morro de medo de altura, mas podem ter certeza que ninguém torcerá mais para vocês do que eu.— ela aperta o braço de Carmen, olhando-a nos olhos— Estou orgulhosa, amiga.

— Estou muito animada para começar.— Carmen diz, segurando-se bastante para que seu ânimo não extrapole.

— Nós também, mas descanse esse final de semana.— Dorcas diz— Segunda o sacode começa.— ela sorri maliciosamente e se afasta sem se despedir.

— Bem vinda ao time, senhorita Zabinni.— Marlene diz sinceramente e sorri para a mais nova titular batedora da Grifinória.

— Muito obrigada, senhorita Mckinnon.

— Quer saber de uma coisa? Me chame só de Lene.— a loira faz bico e balança a cabeça— Pode me chamar só de Lene.— e ela sai antes que Carmen diga que ela também pode chamá-la só pelo primeiro nome.

Carmen se volta para sua colega de quarto exibindo um sorriso animado e contido, pois ela não parava de morder o lábio.

— Vai, Carmen! Vai, Carmen!— Jules comemorava por ela fazendo uma dancinha cômica. Aquele não era seu talento, felizmente. Carmen riu e se jogou de volta no sofá, olhando para a lareira. Percebera só então, encarando aquelas labaredas a poucos metros de distância, como gosta de Hogwarts e das pessoas com quem convive nele.

Nunca tendo ficado em um lugar só por muito tempo, Carmen criara um escudo em volta de si para não se apegar a nada nem a ninguém que fosse lhe fazer falta quando seus pais a arrastassem para o outro lado do mundo de novo, mas cá está ela, apaixonada pela escola, pelos professores, pelas amizades e cada pequena conquista que anda fazendo. É como se tivesse encontrado seu lugar no mundo.

Por apenas um segundo, ela se permitiu se deleitar com a sensação, aí ela sorriu. A sensação era muito, muito boa.

Hogwarts é seu lar.

[...]

— ... E você está terminantemente proibido de perturbar essa garota até o final do ano, Potter!— Marlene ladra contra a cara de James Potter antes que qualquer comentário saia de sua boca sobre sua nova colega de time.

Ele pisca inocentemente, enquanto seus amigos mal contém as risadinhas às suas costas.

— Eu? Por que logo eu estou recebendo essa bronca?— ele pergunta. Está bem, ele até que se comportou essa semana, tendo acompanhado Carmen em uma ou outra aula e conversado com ela calmamente apenas o essencial. Ele agia como um bom samaritano e isso deixava Marlene alerta.

— Porque eu te conheço e sei que você não vai desistir tão facilmente dela mesmo que a garota tenha deixado claro que não quer nada contigo!

— Por que todo mundo tem que falar desse jeito?— James resmunga, revirando os olhos. Os Marotos e Marlene se encontraram no jardim na mesma tarde seguinte e então a capitã aproveitou a chance para contar a novidade. Ela está muito contente por ter outra garota no time e de fato James Potter também ficou muito contente de ver que a garota é Carmen Zabinni. Ele sabia que ela era boa o suficiente para entrar no time e, francamente, o Longbottom é bom, mas é muito preguiçoso. O time precisava de alguém com mais garra. Carmen é perfeita para o papél.

— Ela tem um grande potencial pela frente, James, se você atrapalhar isso, eu juro que o mato!— Marlene sibila duramente e vai embora sem olhar para trás, acabando com a conversa. James mostrou a língua para as costas da sua capitã, ligeiramente ofendido por ela ter uma imagem tão crua dele e por ser verdade. Ele chuta a grama verdinha e volta para perto de seus amigos, sentados ao pé de uma árvore velha, entre suas raízes.

— Eu tomaria cuidado no seu lugar.— Remus Lupin diz com um sorriso calmo nos lábios.

— Sim, sim, sabe que a Lene zangada é sinal de perigo.— Peter Pettigrew concorda, soa levemente irônico.

— Como se ela fosse pior do que a gente em nossos dias mais calmos.— James ri, sem se sentir ameaçado. Ele olha ao redor, estava prestes a se sentar, mas sua visão capitara um movimento no corredor e ele parou de se mover em uma posição engraçada.

— E lá vai ele correndo e deixando tudo para trás.— Remus diz quando James já está em movimento em direção da garota que estava apenas passando por perto.

— Ele não toma jeito.— Peter ri balançando a cabeça e os Marotos seguem Pontas com o olhar, indo de encontro a Carmen Zabinni que estava se encaminhando calmamente de volta para o dormitório depois de dar uma passada na biblioteca atrás de um livro de Runas Antigas.

Ela o viu chegando, por isso não se assustou quando o garoto dos cabelos bagunçados pulou na sua frente.

— Senhor Potter.— ela cumprimenta, educada.

— Senhorita Zabinni.— o Potter sorri de canto— Acabei de ouvir que você é a mais nova batedora.— ele começa, encostando-se em uma das pilastras que separam o corredor do jardim— Então... bem vinda.

— Obrigada, senhor Potter.— ela diz, a sombra de um sorriso brota no canto de seus lábios.

— Então... como um pequeno presente do seu colega de time— ele começa, e aí, com um gesto brusco, ele saca uma rosa vermelha e a estende para a Zabinni, invocando-a do nada com magia— uma rosa. Uma flor para outra flor.— ele a estende para a garota. Muitas cairiam com o sorriso que ele a oferece, mas Carmen ri e revira os olhos.

— Eu passo, senhor Potter.— ela balança a cabeça e mais uma vez o garoto dos olhos azuis é ignorado.

Essa missão parece cada vez mais impossível, ele pensa, talvez esteja certo.

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