Que o melhor vença
Tudo nesta escola parece ser um desafio interminável, e normalmente isso era excitante, porém, Carmen Zabinni não sente seu coração palpitar com a proposta recebida agora.
Bem, mais uma ordem do que uma proposta.
Marlene McKinnon, a loira monitora da Grifinória, parou de andar quando chegou com os alunos no extenso campo de quadribol. Carmen ergueu os olhos para as quatro arquibancadas altas que pareciam se curvar sobre si e cruzou os braços sob os seios.
Os alunos haviam sido divididos em dois grupos, as garotas e os rapazes, cada um de um lado. Os testes para entrar no time de quadribol começaram e mesmo que alguns não queiram fazer parte disso — como é o caso de Carmen Zabinni — é obrigatório tentar.
De algum jeito, Jules Quinn conseguiu driblar sua vez, alegando ter muitíssimo medo de altura e assim os professores tiveram piedade. Carmen está sozinha, mas não é ao todo desconfortável. É só... irracionalmente irritante.
— Bom dia, minhas bonecas!— cumprimentou Marlene virando-se para eles quase numa pose de general.— Espero que estejam prontos, porque hoje será um dia puxado. Daqui poucas semanas começará a temporada de jogos, por isso precisamos fazer algumas substituições, isso caso qualquer um de vocês seja minimamente capaz de alcançar o nível dos nossos titulares.
Aquilo atraiu a atenção de Carmen. Ah, ela adora ser desafiada e por isso a casa para qual fora selecionada era perfeita para ela. E como assim só porque alguns deles estão no time, isso os faz melhor do que os outros? Mas de jeito nenhum, ela tem que estar entre os melhores.
— Começando as apresentações sem nós, Lene?— perguntou uma voz familiar e todas as cabeças se voltaram para trás. Carmen quis enfiar a sua na terra, eles tem que ser tão cheios de si o tempo todo?
Atravessando os grupos e sorrindo amplamente como se fossem celebridades, James Potter e Sirius Black cumprimentavam aqueles que estendiam as mãos em sua direção e iam para a frente ficar ao lado da monitora. Marlene revirou os olhos azuis colocando a mão na cintura.
— Atrasados porque tinham que fazer a entrada triunfal?— caçoou a cacheada. Sirius se aproximou dela como se fosse beijar seu rosto, porém, Marlene colocou a mão na frente e afastou o rosto do colega abruptamente. Carmen sorriu de canto, e ela, estando entre as garotas da linha de frente, não demorou a ser vista por James Potter.
O Potter sorriu, triunfante, esperava que ela estivesse aqui. Seus olhos azuis e brilhantes se cruzaram com os castanhos e opacos da Zabinni e ela fez a maior cara de bunda que era capaz. Mal sabe a coitadinha que nada disso o afugentaria. James adora ser desafiado tanto quanto ela. A diferença é que Carmen sabe reconhecer limites, e tal palavra nem existe no vocabulário de James.
— E aqui estão os palhaços mais prestigiados de nosso time, pessoal— Marlene teve de dar uma cotovelada na costela de Sirius para que ele parasse de entrar na sua frente. Ela é a capitã, afinal.
— Au.— Sirius dramatizou, levando a mão ao peito.
— James Potter em sua velocidade máxima é o melhor apanhador da história de Hogwarts. Quando não está de detenção, é o meu melhor soldado em campo.— Marlene colocou a mão sobre os cabelos escuros e selvagens do rapaz que sorriu e se inclinou para ela como um cachorrinho grato pelo afago.— E Sirius Black... bem, ele tem um rostinho agradável e fica muito bem de uniforme.— seu comentário arrancou uma risada da maioria presente. Carmen dentre estes.— Eu sou a goleira e pretendo manter minha posição então se vocês não quiserem se mostrar excepcionais na defesa, eu ficaria grata.
Carmen quase não conseguia se concentrar, os olhos azuis cravados em seu rosto a deixavam levemente nervosa. Ela olhou torto para Potter, o que tinha, na verdade, o mesmo efeito que atirar gasolina no fogo. O moreno umedeceu os lábios e ajeitou a postura como que para demonstrar mais prontidão. Até então essa brincadeira entre eles tem sido muito silenciosa, como se estivessem jogando uma partida de xadrez. Ele está ansiando para ouvir mais um pouco do sexy sotaque dela.
— Nós iremos coordená-los pelas próximas horas, senhoras e senhores. Tentem não se envergonhar nem cair de suas vassouras no primeiro dia, ou serão vaiados até o resto de suas vidas medíocres.— Marlene avisou batendo palmas. Poderia ter sido levado como um alívio cômico novamente, mas era de se duvidar que ela está brincando.— Agora formem filas, garotas comigo, garotos, acompanhem James! Vocês colocarão seus uniformes e nos encontraremos aqui fora novamente em dez minutos! Vamos, vamos!
❁
Carmen prendeu os cabelos escuros em um rabo de cavalo e bufou. O uniforme era pesado, protetores para os ombros, cotovelos, mãos, joelhos e para todo o tronco como se de repente ela fosse se envolver em uma luta de espadas e esta fosse sua armadura, feita de couro ao invés de ferro.
Fora uma das últimas a sair do vestiário, mas querendo demonstrar toda sua determinação, passou na frente das colegas para ser chamada primeiro. A capitã estava de olho nela, muito interessada na prontidão a qual Carmen se mostrava. Se Marlene fosse a única de olho, talvez essa aula se passasse tranquila para Carmen.
Mas não é assim que funciona. Não para aqueles que estão no radar de James Potter.
Marlene manda todos pegarem uma vassoura e entrarem em formação.
Lentamente, os grupos se dividiram mais uma vez, cinco alunos para cada instrutor. Ao ver o grupo no qual Carmen estava, James, sorrateira e lentamente, trocou de lugar com a amiga, Marlene, e fingiu plenitude ao ver a cara de irritação pouco discreta de Carmen Zabinni. Ela também não deixa passar uma, nossa!
Como soldados, os grupos foram para partes diferentes do campo, começando com o básico: montar nas vassouras. A atenção que James espalha entre os seus pode ser considerada precária, mas não a que ele voltava para ela.
— Precisa de alguma ajuda, senhorita?— ele pergunta se aproximando dela com as mãos para trás, um olhar cintilando malícia e um sorriso charmoso. Carmen monta na sua vassoura e começa a planar com ela antes de todo mundo. Ela apenas encara seu suposto tutor e levanta a sobrancelha, o desafiando.
— Fácil como tirar doce de boca de criança.— ela diz em um tom ácido. Ele fica empolgado.
— Então você sabe.— ele conclui dando a volta por ela, examinando sua postura e a julgando com um pouco mais de profissionalismo. Se tem algo que James Potter leva a sério, é quadribol. Ele pega a vassoura por trás e a balança um pouco, Carmen é pega desprevenida porém não perde o equilíbrio. Ela o lança um olhar raivoso por cima.— O básico.— ele completa em um resmungo alto o suficiente para que só ela escute.
Carmen sopra uma risada nasalada e passa a língua na bochecha, engolindo o cacto que sua raiva representa.
— Há mais pessoas para serem socorridas aqui, senhor Potter.— ela diz, acompanhando cada movimento dele com o olhar frio. James olha os outros por quem é responsável por cima do ombro. Três deles montando em suas vassouras chacoalhando até os ossos, uma garota sequer estava tentando, parecia com raiva por não estar sendo guiada por alguém mais experiente. E com razão, francamente— Acredito que eu sou a última de suas preocupações agora.
James queria, mas não podia ignorar suas obrigações com os outros. Ele umedece os lábios e passa a mão nos cabelos escuros.
— Não saia daqui.— ele pede, se afastando dela. Carmen revira os olhos com um sorrisinho debochado nos lábios e levanta voo assim que ele lhe dá as costas. Embora a vassoura não seja das melhores, era o que a escola tinha a lhe oferecer já que ela nunca pensou que seria obrigada a participar desse tipo de coisa e não fez questão de comprar a sua.
Os alunos que sabiam voar de vassoura sem bambear claramente entravam em destaque, e vendo a atitude de Carmen, alguns a seguiram para cima, querendo sair de perto daqueles que não tinham a menor noção de equilíbrio. Dos quinze alunos em treinamento, nove claramente não precisavam dele. Os rapazes começaram a se exibir para as garotas, brincando e rodopiando no ar, arrancando risadinhas de uns e outros. Carmen Zabinni ficou planando bem acima de suas cabeças, deixando mais do que claro que não queria se misturar.
Como ela sabe que Potter nunca perde um movimento seu, olhou na direção do moreno tantos pés abaixo e sorriu para ele, pensando como ele lhe parecia pequeno, ainda mais longe do que quando perto.
Ele não conseguia prestar atenção em mais nada.
— Deixe que eu lhe mostro como faz.— ele pediu à sua aluna por meio de gestos para que ela lhe passasse a vassoura. Olhava tanto para cima que nem reparou a garota balançando a cabeça e comprimindo os lábios de desgosto. Ela nem tentou discutir, as intenções dele eram bem óbvias, e ensinar não estava entre elas. Ele montou na vassoura e olhou para a loira de braços cruzados ao seu lado— Viu como é simples?— ele parecia até mais leve quando voava. De fato, James é muito bom nisso. Ele voou ao redor da loira— É mais questão de confiança do que qualquer coisa, uma vez que você entende a vassoura como uma extensão de si, fica mais fácil. Esta não é nem de longe a melhor vassoura que temos, mas me permita mostrar até onde ela pode ir.
— Faz seu show, mano.— a garota murmurou sentando-se no chão, mas James não ouviu pois já estava cortando o vento indo confrontar a garota que queria.
Ele se aproximou tão rápido que Carmen ficou alerta, tendo que desviar de último segundo quando o moreno passou raspando por ela e ainda riu da sua cara de susto, continuando a subir.
— Ora, seu...!— ela fez uma carranca inflando as narinas e voou atrás do garoto a toda. Os dois eram muito rápidos, mas Potter que estava na mais clara liderança.
Só que... Carmen é bem persistente quando quer.
Enquanto eles apostavam corrida, os olhos de todos se voltaram para os dois. No chão, Marlene os observava com curiosidade e com os braços cruzados. Sirius Black se aproximou da amiga e jogou o braço por cima de seu ombro, no entanto, a garota o empurrou para o lado sem desviar o olhar de seu apanhador.
— O que está havendo com James?— ela pergunta.
— Só criando uma nova obsessão.— Sirius dá de ombros puxando uma carteira de cigarrilhas do bolso e pegando uma para colocar entre os lábios. Marlene o olhou torto.
— Fume na minha frente e estará me obrigando a tirar pontos da nossa casa.— ela ameaça, podia ter um punho bem firme e mesmo que quebrar as regras seja bem divertido para os leões, Marlene as segue corretamente. Sirius revira os olhos e devolve a cigarrilha à carteira. Marlene estende a mão na sua direção e ele bate em sua palma colocando a carteira de volta no bolso como se não tivesse entendido o recado.
— Não força a barra, gatinha.— ele balança a cabeça e Marlene se preserva para não insistir. Ela volta a encarar o casal lá em cima.
— Ela é muito boa.— elogia Carmen, colada em James com o olhar mercenário cravado nas suas costas.
— Ele está só brincando.— Sirius sorri confiante com a capacidade do melhor amigo— Já está amarradão nela.
— Dá pra ver, o idiota é péssimo em disfarçar. Mas essa aí não parece tão boazinha quanto Lilian Evans. Ela vai esmagar ele.— ela dá de ombros e os dois se olham com um ar de cumplicidade.
— Aposto que ela deixa ele traumatizado em menos de dois meses.— ele estende a mão para ela. Marlene sorri de canto.
— Eu apostaria que ela se apaixona por ele primeiro, mas se vamos pelo lado da perda, qualquer dia depois de novembro, eu ganho.— a cacheada aperta a mão do Black e eles entram em um acordo. Agora que esse jogo vai ficar divertido.
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