O nascimento de uma amizade?

James se encostou no pilar e colocou a cigarrilha entre os lábios mais uma vez. Observou o movimento no jardim da frente com os olhos cerrados — ou melhor, a falta dele. A cabana do guarda-caça soltava fumaça na atmosfera e na noite escura assim como James ao soprar para cima.

— Estou com vontade de uns feijões de todos os sabores.— ele comenta, olhando para baixo.

— Então vai buscar.— Sirius Black responde, sentado aos pés do Potter e bebendo do seu cantil algo forte demais para quem ainda terá aula no dia seguinte.

— Vem comigo, idiota.— James cutuca o amigo com a ponta do pé. São só os dois aqui, Remus os expulsou, porque por mais que ele também fume, detesta que o cheiro se impregne no dormitório.

— Não estou afim.— Sirius se levanta, espreguiçando-se.— Vou voltar para o dormitório, estou morrendo de sono.

— Tá.— James revira os olhos como se o sono do amigo fosse a coisa mais entediante do mundo— Não me espere acordado, xuxu.

E então ele pega a sua capa da invisibilidade do chão e some enquanto Sirius lança um último olhar na direção da floresta proibida cujas copas das arvores eram banhadas pela luz do luar. Queria poder dizer que a noite está linda, mas as noites em Hogwarts sempre são mágicas. Ele ergueu seu cantil como se fizesse um brinde à lua antes de recuar de volta para dentro do castelo, bebendo. Sirius cambaleou de volta para sua comunal sem se importar com os monitores por quem passou porque estes eram seus amigos e cumplices de longa data. Ele os cumprimenta e sobe as escadas na direção da torre da Grifinória, depois de gritar a senha para a Mulher Gorda e acabar a deixando muito mau humorada por atrapalhar seu sono, Sirius passa pelo buraco e olha ao redor da comunal vazia. Ou que deveria estar vazia.

Seus olhos se encontram com os de Carmen Zabinni e ele para de andar. Ela tem que estar em todo lugar?

Carmen se encontra em uma das poltronas próximas à lareira com um livro grosso aberto no colo, ela usa uma longa camisola branca que se destaca em contraste da sua pele negra. Seus cabelos estão soltos e desarrumados.

Ela pisca inocentemente e Sirius comprime os lábios, queria dizer que não gosta dela, mas depois do que ela disse na aula mais cedo, ele não tem tanta certeza assim se a odeia. E Sirius Black nunca fica em dúvida se odeia ou não alguém. É muito fácil para ele, na verdade, odiar. É a única coisa que ele quer sentir por Carmen, mas ela não está facilitando.

— Boa noite.— ela cumprimenta. Ainda por cima educada, colabore, mulher!, ele pensa.

— Boa noite.— ele resmunga, ranzinza. Ambos viram o rosto e Sirius se aproxima em passadas largas das escadas que o levariam para o dormitório masculino, mas ao pisar no primeiro degrau, ele hesita.

Carmen não o nota até que ele retorne e pare na sua frente. Ela levanta os olhos do livro, surpresa e confusa.

— Por que nos seguiu aquela noite?— Sirius quer saber, sendo totalmente direto.

Carmen solta um suspiro e fecha o livro, colocando um marca página para não perder onde parou.

— Ou melhor, estava seguindo a gente ou o James? Foi só por causa dele, né? Porque faz muito mais sentido.

Carmen ficou boquiaberta. Não imaginava que as coisas pudessem se contorcer desse jeito, mas também não era inimaginável. Curioso é o próprio James não ter chegado a tal conclusão primeiro para poder se gabar.

— Ah, não, não, eu não...— ela balança a cabeça, mas Sirius parece se convencer cada vez mais da sua própria acusação.

— Eu não me importo que você esteja tão obcecada por ele quanto ele está por você.— ele a interrompe.

— Não, eu não sou obcecada pelo seu amigo.— ela se levanta, sem querer aceitar o que o Black fala. Quando os seguiu noite a fora nenhum momento se perguntou apenas o que James Potter estaria fazendo. Ela ficou curiosa com o que eles todos estavam tramando, sem exceções nem preferências.

— Como eu disse, eu não me importo.— Sirius balança a cabeça— Só te peço um favor, embora tenha sido uma boa atitude a que você tomou em sala, eu tenho que saber de você com todas as palavras, preciso que me diga que não fará nada contra meu amigo. Preciso que me garanta que nosso segredo está seguro com você.

Carmen comprime os lábios e une as sobrancelhas. Sentia-se idiota por querer tanto provar para Sirius que não sentia absolutamente nada pelo seu amigo então se conteve e assentiu.

— Prometo que não farei mal algum contra o senhor Lupin. Espero que entenda que em nenhum momento foi minha intenção deixá-los com tamanho receio. Tem o direito de não acreditar em mim agora, mas eu não posso fazer nada se não deixar o tempo te mostrar que quando dou minha palavra, eu a mantenho.— ela fala com convicção, de um jeito que qualquer um acreditaria em sua pessoa e no que ela promete. Seu semblante é sério e seguro, e apesar de Sirius a mirar com os olhos cerrados de desconfiança, em si cresceu algum respeito para com a senhorita Zabinni. Ele ponderou e assentiu sem querer falar nada. Carmen soltou um suspiro— Ainda não tive a chance de falar nada com ele, mas pode me transmitir?

O Black umedeceu os lábios e deu de ombros, dando a brecha que Carmen precisava.

— Sinto muito por ter invadido seu espaço, não foi proposital e não acontecerá novamente. Se quiser falar comigo mais uma vez, estarei mais do que disposta e interessada em uma conversa, mas se preferir manter uma distância, que assim seja. Respeitarei qualquer que seja sua decisão.— ela olha para a lareira seus olhos refletem as labaredas do fogo.

Sirius Black entendeu, em parte, o encanto que ofuscou James e atingiu até um pouco de Remus. Ele encarou o perfil da Zabinni e não soube o que dizer, mas ela não é do tipo de pessoa que precisa de uma explicação. Ela faz com que os que estão ao redor possam confiar nela mesmo sem que ela tenha que falar nada. Sirius Black não está acostumado com esse tipo de pessoa, e mesmo sem perceber, sabia que não seria mais tão arisco com ela.

Ele não é do tipo educado. Ele é um Black, criado para se considerar superior aos outros, Sirius não é do tipo que pede desculpas, com licença, obrigado ou sequer deseja que os outros tenham bom dia sem nenhuma pitada de sarcasmo, mas ele está depositando uma confiança grande nessa estranha e algo lhe diz que ele não vai se arrepender.

— Certo.— ele quebra o gelo que havia se alastrado e ela o olha de rabo de olho— Obrigado.— ele balança a cabeça depois do resmungo quase inaudível e vai embora sem olhar para trás, subindo as escadas encaracoladas de dois em dois degraus. Carmen suspirou e pegou o livro que havia deixado na poltrona. Ela olhou para o buraco do quadro e pensou por um milésimo de segundo que James viria logo em seguida.

Sem saber porque diabos esperaria por tal coisa, ela balança a cabeça e se encaminha para o dormitório feminino mesmo sem estar com um pingo de sono. Assim que ela termina de subir as escadas, James chega na comunal.

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