Uma Tortura Digna da Realeza!

Capítulo 15 – Uma Tortura Digna da Realeza

Jimin desceu no dia seguinte e sorriu ao desejar um bom dia, como se não tivesse dormido de exaustão após chorar por horas, mas todos conseguiam ver pelos olhos verdes sem vida, o quão difícil estava sendo para Jimin.

E tudo piorou quando Mary e Miles Stenfort se juntaram a eles na mesa do café. A rainha cumprimentou a todos e apresentou o filho, que parecia doce e gentil, o que causou uma mistura de sentimentos complicados em Jimin, que se forçou a engolir o choro e sorrir de volta para o ômega.

— É sempre bom ter uma mesa tão cheia. — Mary comentou simpática para Charlote. — Passei tantos anos sozinha, que senti falta de toda a movimentação.

— Aqui é sempre cheio. — Charlote respondeu, escondendo o desconforto, desviando vez ou outra o olhar de Jimin para Miles, que se sentou na cadeira onde normalmente Jungkook se sentava, entre Jimin e Taehyung. — Tem estado menos desde que meu ômega de companhia, Lorde Kim, se mudou para o campo.

— Oh. Eu tentei manter alguns ômegas por perto, mas nenhum que realmente tenha virado um amigo proximo. — Charlote entendia, afinal, depois do ataque, deveria ter sido difícil para Mary confiar novamente.

— O senhor também é um ômega de companhia? — A pergunta veio de Miles e todos ficaram em silêncio ao vê-lo se dirigir para Jimin, que mesmo nervoso, sorriu antes de responder.

— Apenas um amigo próximo. — Murmurou baixo, rapidamente desviando o olhar do ômega para sua xícara.

— Jimin é irmão de Min Yoongi, um dos meus noivos. — Taehyung afirmou, explicando para o outro príncipe, tentando ser simpático, mesmo que frustrado. — E meu melhor amigo.

— Oh. Isso... parece bom. — Respondeu desconfortável, notando a voz fria do príncipe. — Não tinha muitas pessoas da minha idade no campo. — A conversa morreria ali, mas Jimin se sentiu mal pelo menino.

Não era culpa dele. Miles estava apenas tomando o que era seu por direito e se não fosse por Jimin, provavelmente todos ali estariam o acolhendo e não o tratando com frieza vazia e indiferença. Devia ser difícil para ele também se acostumar com aquela mudança tão brusca.

Jimin se lembrava de quando foi abandonado e de como todos foram simpáticos e fizeram o melhor para que se sentisse confortável. Havia roubado aquele afeto que pertencia aquele garoto constrangido e desconfortável, que nem ao menos deveria saber o porque de estar sendo tratado daquela forma.

— Você cresceu no campo? — Perguntou, tentando continuar a conversa e tornar aquele momento mais suportável.

— A vida toda. As pessoas que me criaram eram fazendeiros. — Jimin estranho o fato do príncipe não chamar as pessoas que o criaram de pais, afinal, Mirla havia o criado desde os dez e ela era sua mãe, mas entendia que talvez o choque de não ser filho de quem acreditava ser, ainda estava confundindo a mente do garoto. — Você também é do campo?

— Não. Fui criado no castelo. — Respondeu com um gosto amargo na boca. Com a sensação vazia de que aquilo também era um direito de Miles e não seu.

— Deve ter sido divertido. Digo, se eu tivesse um lugar como esse quando era mais novo, com certeza não teria sido tão monótono. — Jimin fingiu um sorriso e desviou o olhar, notando que todos os observavam.

— Foi divertido. — Iria tentar manter o assunto, mas se calou ao ouvir a porta grande ser aberta e logo Jungkook aparecer, sendo seguido de perto por seu valete.

Seu olhar era preocupado e angustiado, e assim como Jimin, não havia conseguido esconder os sinais de uma noite de choro frenético e tristeza aguda. O alfa parou no lugar ao ver Jimin e seu maxilar travou ao ver que Miles estava sentado em seu lugar de costume, mas preferiu não dizer nada e apenas se sentar ao lado de sua mãe.

O alfa tentou segurar o olhar do ômega, mas Jimin desviou, e por acidente, viu Miles encarando Jungkook, com expectativa e ansiedade no olhar. A tensão era palpável e Jimin mal conseguia respirar e agradeceu quando Noah Baker chegou.

— Majestade. — Cumprimentou a rainha. — Fiquei surpreso ao saber que estava no castelo.

— Oh, Noah. Que surpresa agradável. Não sabia que estava em Thule. — Mary disse com os olhos brilhando, feliz em ver o rei de Katar, um de seus aliados em tempos difíceis.

— Tenho ajudado Jungkook durante a temporada. — Explicou com cuidado e não precisou procurar muito para encontrar o tema principal da fofoca da criadagem naquela manhã. — Imagino que esse seja Miles. — Analisou o menino e franziu o cenho.

— É um prazer, majestade. — O menino respondeu, se levantando brevemente para reverenciar o rei de Katar, que ainda o analisava.

— Como vai o pequeno Harry? — Mary o interrompeu, tentando chamar sua atenção e Noah sorriu.

— Insuportável, como todo adolescente. — Brincou. — Para ser sincero, estou com saudades e reclamo apenas para disfarçar, não quero dar o braço a torcer de que gosto de toda a rebeldia dele.

— Ele me lembra você. — Noah sorriu com a fala da rainha e teve que se segurar para não murmurar um "Que bom, porque Miles não lembra você em nada"

— Ele é totalmente o Harrison e a Della, mas a convivência fez com que ele tivesse um comportamento tão ruim quanto o meu. — Brincou com um sorriso, antes de encarar Jimin. — Tome seu café rápido, querido, temos que conversar. — Avisou com um tom simpático, mas a ideia de conversar com Noah embrulhava seu estômago.

— Eu... eu ia ajudar Taehyung com... — Noah o interrompeu, consciente de que era apenas uma desculpa.

— Tenho certeza de que Miles pode ajudar Taehyung com o que ele precisar. — Reforçou.

— Na verdade, pensei que talvez, o príncipe Jeon e eu pudéssemos passear hoje, para nos conhecermos melhor. — Miles disse timidamente, sorrindo esperançoso para Jungkook, que negou.

— Estarei ocupado.

Sua frase fria assustou Jimin, que o encarou com repreensão, mas o alfa encarava o próprio prato, paralisado, como se estivesse surpreso com sua própria reação.

— Ah, tudo bem então. — Murmurou constrangido.

— Pode ficar comigo. Vou apenas ver algumas amostras de toalhas de mesa. — Taehyung murmurou baixo, também constrangido e todos agradeceram quando Noah e Charlote envolveram Mary em outra conversa agradável.

No final do café, Noah e Charlote conduziram Jimin para fora do salão, até uma sala particular, com estantes repletas de livros e dois enormes sofás estofados de tecido.

Jimin permanecia quieto, trêmulo e se esforçando ao máximo para continuar respirando. Se sentou em um canto do sofá, tentando se preparar para a conversa que teriam.

— Jimin... — Charlote nem ao menos conseguiu dizer algo antes do ômega voltar a chorar, tudo o que havia segurado até ali e foi acolhido pelos braços da rainha, que o apertou, tentando o manter seguro, enquanto encarava Noah com pesar no peito. — Sentimos muito.

— Jamais teriamos te feito passar por isso se soubéssemos que existia essa possibilidade. — Noah afirmou, esfregando as costas do ômega.

— A culpa não é de vocês. — Jimin negou. O único culpado era ele. — Tá tudo bem. Quer dizer, ele é o príncipe e o Jun é o futuro rei, faz sentido. Vai ficar tudo bem.

— Não vai. — Noah murmurou. — Não precisa mentir pra gente. É horrível e cruel com vocês. Com todos vocês. Com você e com o Jungkook que se amam e com aquele menino que veio aqui esperando encontrar amor e não vai. É doloroso e cruel, e você tem direito de estar triste. Não precisa fingir que está tudo bem.

— Sentimos muito, Jimin. Não era para ser assim. — Charlote afirmou, o abraçando mais. — Queríamos que vocês fossem felizes. Que tivesse uma solução mas...

— Mas não tem. Eu sei. — Jimin afirmou. — Vou voltar para Reynes depois do casamento do Taehy.

— Isso também não é justo. — Noah rebateu. — Não é justo que volte para Kisley e fique recluso do mundo pelo resto da vida. Você merece ser feliz também, Jimin. — Suspirou frustrado. — Irei manter seu dote.

— O que? — Jimin fungou, se afastando de Charlote para encarar Noah.

— A temporada ainda não acabou. Você ainda pode encontrar um bom alfa e se casar. Vou manter seu dote.

— Não sei se consigo me casar com outro. — Jimin fungou.

— Não vou mentir e dizer que será fácil, porque não vai, mas ficar sozinho será pior. — Avisou com o peito apertado. — Não precisa decidir agora, mas pense nisso, tudo bem? — Jimin concordou, enxugando uma lágrima.

— Não chore, meu filho. — Charlote pediu com o peito apertado. — Sei que acha que isso é como as coisas deveriam ser, mas não é. O destino colocou você no nosso caminho por um motivo e eu sei disso desde o momento em que te vi pela primeira vez. Me dói ver você desse jeito, porque você merece o mundo, Jimin. — O ômega se desmanchou no colo da rainha.

— Acha mesmo isso?

— Eu não tenho dúvidas.

— Espero que esteja certo, Majestade. — Fungou se afastando. — Porque eu não sei se sou forte para aguentar mais disso.


//~//


— Jimin, que bom te encontrar. — Jimin se surpreendeu ao ver o príncipe na sua frente. — Eu não conheço mais ninguém aqui e um dos noivos de Taehyung apareceu e eu achei melhor deixá-los sozinhos.

— Ah. Bom, fez bem. Eles costumam entrar no próprio mundo quando estão juntos. — Brincou, tentando esconder o desconforto enquanto voltava a encarar os papéis em sua mão.

— O que está lendo?

— Apenas alguns contratos de arrendatários. O Visconde achou melhor trazer a papelada para o caso da nossa viagem se estender.

— Ele deixa você ler os documentos dele? Que incrivel. — Exclamou animado e Jimin sentiu uma pontada de ternura.

— Eu o ajudo com as negociações. — Explicou, vendo surpresa no olhar dele.

— Isso é incrivel. — Seu olhar de admiração era empolgante e por um segundo Jimin sorriu verdadeiramente. — Será que o príncipe Jeon me deixará ajudar em algo? Ele não parece feliz em me ver aqui. — Segredou murchando.

— Porque acha isso? — Questionou com pena e Miles suspirou.

— Ele parece distante. Tentei me aproximar, mas ele sempre se recusa a falar mais do que poucas palavras. Até mesmo Taehyung parece não gostar muito de mim e o noivo dele não fez questão nenhuma de esconder o desgosto. Eu pensei que seria legal ser príncipe, que todos iriam estar feliz e ansiosos para me conhecer, que estivessem me procurando, mas acho que ninguém realmente queria que eu voltasse. — Jimin sentiu seu peito apertar. Deixou os papeis de lado e segurou a mão do ômega.

— Eu... entendo, eu acho. — Murmurou baixo, sem o encarar nos olhos. — Sempre fantasiei com como seria se meus pais voltassem um dia, se eles se arrependiam de ter me abandonado ou se estavam me procurando, mas no final, acho que eles nem mesmo se lembram de mim. — Sorriu triste. — Toda vez que penso nisso me sinto patético, porque eles não se importam, e estou sendo ridículo de esperar qualquer coisa deles, mas não consigo evitar.

— Pensei que sua mãe estivesse no castelo. — Sussurrou abatido.

— Mirla me adotou quando eu tinha 10 anos. Ela me achou quando meus pais me deixaram para morrer. — Seu olhar ficou opaco. — Sei que é difícil se adaptar e aceitar que sua realidade é outra, e é difícil para eles também, mas você vai conseguir. — Sorriu respirando fundo. — E acredite, eles são incríveis. Quando te conhecerem melhor...

— Espero que esteja certo. É um pouco frustrante. — Murmurou. — Pelo menos tenho um novo amigo, certo? — Murmurou apertando a mão do ômega e Jimin engoliu o nó na garganta, porque havia vivido a vida que pertencia aquele garoto durante anos e se não fosse por ele, seria muito mais fácil para Miles ser aceito agora. Devia aquilo ao outro ômega.

— Claro. Somos amigos.


//~//


A porta se abriu e antes que Jimin pudesse gritar, viu o alfa entrando, com um olhar preocupado e angustiado no rosto.

— Não pode entrar no meu quarto. — Exclamou em pânico e Jungkook negou.

— Estou tentando falar com você o dia todo. Você não me deu escolha. — Jimin suspirou.

— Certo. — Admitiu em desistência, se sentando. — Vamos conversar. — Fechou os olhos com força, tentando juntar força para falar o que queria falar, e só abriu quando sentiu Jungkook se sentando ao seu lado, com olhos tristes e feridos. — Jun...

Eu te amo. — Reforçou, dando de ombros, segurando o choro. — Eu sei que sempre digo isso seguido de algo que vai te machucar e eu me sinto um monstro por fazer isso de novo, mas eu não sei o que fazer. — A cabeça dele caiu sobre o ombro do ômega e Jimin olhou para cima, evitando deixar as lágrimas saírem ao sentir o alfa chorar tão desesperadamente em seu ombro. — Passei a vida me culpando por estar vivo quando Miles não estava, e agora que ele tá aqui, me sinto o pior ser humano do mundo, porque queria que ele não tivesse. Estou o culpando por estar estragando minha vida, mas a culpa não é dele.

Não é. — Jimin concordou, com a voz frágil.

— Eu não deveria me ressentir, mas não consigo olhar para ele sem pensar que por ele, vou ter que te deixar ir novamente. — O choro era doido e Jimin sabia que o alfa também estava sofrendo, mas não esperava por aquilo. — Não posso quebrar o acordo e não quero machucar você, Ji, mas é o que vai acontecer. Eu odeio tudo isso. Odeio como a vida tá brincando com a gente, como toda essa merda ta destruindo a gente, mas...

— Não tem uma solução, Jun. Não tem uma versão onde todo mundo sai feliz. — Jimin reforçou, puxando sua cabeça para cima, querendo ver os olhos dele. — Eu amo você, vou guardar tudo o que vivemos juntos para sempre e... essas últimas semanas...

— Ji... — Murmurou chorando, com o lábio tremendo, sem fôlego.

— Foram incríveis, Jun. — Confessou. — Ter você por mais alguns dias, foi... como um suspiro de paz e eu precisava disso. Precisava dançar com você mais uma vez, segurar a sua mão, olhar nos seus olhos e dizer que te amo pela última vez. Então não se culpe, porque eu também precisava disso, tudo bem?

— Eu preciso de você aqui, Ji. Não pode ir embora. Fica. Por favor. — Jimin conseguia ver o desespero, a tristeza e o quanto aquilo estava machucando Jungkook, e aquilo apenas o deixava pior. — Eu sei que é egoísmo, mas não posso te perder de novo. Não de novo.

— Você nunca vai me perder. — Jimin afirmou, acariciando o rosto do alfa. — Seremos sempre um do outro. Você sempre será o amor da minha vida.

— Até o fim? — Perguntou sentindo o ar faltar e as lágrimas escorrerem em abundância pelo seu rosto e seu choro só aumentou ao sentir Jimin encostar sua testa na sua antes de responder.

— Até o último suspiro. 

| ROYALS |

As vezes eu me pergunto se sou masoquista, pq não tem outra explicação do porque eu me faço sofrer assim. juro.

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