Uma Conversa Digna da Realeza
Capítulo 16 – Uma Conversa Digna da Realeza
— É doloroso de ver. — Taehyung comentou enquanto observava Miles do outro lado do salão, sozinho, com o olhar de uma gazela na frente de um caçador.
— O que esperava? Ele disse que foi criado em uma fazenda. É normal que esteja deslocado. — Hoseok completou, analisando o outro.
— Deveria ter ficado na fazenda então. — Yoongi resmungou mau humorado, mas Jimin o repreendeu com o olhar. — Desculpa. — Murmurou baixo. — Mas é difícil ser simpático com o homem que está te fazendo infeliz.
— Ele tem tanta culpa quanto eu. — respondeu baixo, desviando o olhar do irmão, rezando para que ele não entrasse naquele assunto e tirasse de Jimin os pensamentos que rondavam sua mente nos últimos dias.
— O que quer dizer com isso? — Questionou encarando Jimin de perto, tentando ler as entrelinhas.
— Que vocês não deveriam culpá-lo, se o único erro dele foi sobreviver. — Suspirou e antes de dar tempo para mais alguém dizer qualquer coisa completou. — Se ele está infeliz e assustado, tenho tanta culpa nisso quanto ele tem.
— Ji... — Taehyung iria rebater, dizer que aquilo era bobagem e que Jimin não deveria se torturar daquela forma, mas o ômega já andava para na direção do outro ômega. — Droga. Será que em algum momento ele vai se colocar em primeiro lugar?
— E quando foi que ele se colocou? — Yoongi respondeu, com a voz tão triste quanto se era possível.
— Se divertindo? — Questionou se aproximando do príncipe, que desanimado, negou com a cabeça.
— Me sinto como um pavão albino. Todos estão curiosos e me olhando como se fosse uma espécie exótica, mas ninguém tem coragem de se aproximar. — Murmurou desanimado.
— Sinto muito. — Respondeu com o tom baixo, culpado.
— Não sinta, pelo menos tenho você. É mais do que já tive. — Seu olhar era animado, mas não conseguia esconder a tristeza enraizada. — Não estou reclamando, digo, cresci com amor e carinho, em um lugar seguro e com pessoas boas. Não tinha muitas pessoas da minha idade, mas nunca me faltou nada. Poderia ter sido pior.
— É, poderia. — Jimin concordou abaixando a cabeça. Ver que Miles estava contente com o pouco que estava recebendo lhe apertava o coração e o deixava com a sensação de vazio no peito. — Mas também poderia ter sido melhor.
— Desde que fui apresentado como príncipe, me peguei em várias situações em que tento pensar no que poderia ser pior do que isso. Eu poderia ter morrido ou parado nas mãos de pessoas cruéis ou... bom, você poderia não estar aqui agora para me ajudar. — Jimin suspirou e logo encontrou Jeon do outro lado, conversando com Gustave e Namjoon, em uma sala reservada para cavalheiros.
— Tem razão. Eu deveria te ajudar. — E sem dar chance para Miles contestar, Jimin caminhou até o alfa. — Alteza, senhores. — Cumprimentou, ganhando a atenção de todos. — Posso falar por um segundo com vossa alteza? — Namjoon encarou Jimin, e depois Jungkook, logo chamando Gustave para ir a procura de Noah e Lorde Kim.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Jungkook questionou alarmado ao ver Jimin lhe procurar após alguns dias o evitando a todo custo, e Jimin o encarou com firmeza, tentando ser racional.
— Aconteceu. Aconteceu que estamos em um baile, o primeiro baile dele e você deveria tirá-lo para dançar ou quem sabe o apresentar para alguns convidados. — Jungkook bufou.
— Farei isso em algum momento. — Resmungou e Jimin suspirou.
— Jun, escute. — Jungkook se desarmou ao ver Jimin abaixar as guardas depois de tudo. — Isso tudo é uma merda, mas... É assim que quer viver o resto da sua vida? — O tom de desistência apertou o peito do alfa, que não sabia o que fazer naquele momento. — Irei embora depois do casamento e ele irá ficar. Vocês irão se casar e ele será seu futuro rei. Tem certeza de que quer manter esse tratamento frio para sempre? — O alfa o encarou com os olhos carregados de dor e Jimin mordeu o lábio antes de dizer a última parte. — Ele só quer uma chance.
— O que quer que eu faça, Ji? Que eu minta? Que finja que tá tudo bem, quando não tá?
— Quero que tire ele para dançar. Que devolva a ele todas as oportunidades que me deu. — Desviou o olhar um segundo, respirando fundo. — Ele está se sentindo perdido e sozinho e você é a única certeza na vida dele. Sei que tá o afastando porque me ama e não quer me machucar, mas pense nele e em como está o magoando sem querer. Ele só quer ser amado.
— N...
— Jun. — Jimin o repreendeu, ciente que o alfa iria negar. — Você passou anos triste pela morte dele, o universo está te dando outra chance. Uma chance de verdade.
Jungkook desviou o olhar para o outro lado do salão, onde o menino parecia perdido e deslocado e seu peito se apertou ao perceber que Jimin estava certo, mas nunca esteve mais errado.
Jimin era sua chance. Ele era o presente que o universo havia lhe dado.
— Como pode estar pensando nele, quando tudo isso está te destruindo? — Jimin respirou fundo, ouvindo o tom magoado e preocupado do alfa.
— Quebrar ele não vai me consertar. — Tentou ser firme, segurando a avalanche de sentimentos que tinha. — Preciso ter algo para me consolar no futuro, algo que eu vá olhar e perceber que valeu a pena. Então me deixe ir embora sabendo que está feliz. Ou ao menos que está tentando. E pensarei em mim depois.
Jimin respirou fundo, empurrando toda a dor para trás e vestindo a máscara de felicidade por mais alguns segundos, antes de se afastar e sorrir para um convidado que passava despretensiosamente por ali.
Antes de sair do salão, observou Jeon se aproximando de Miles, lhe estendendo a mão. Sentindo a crise de choro prestes a vir, se refugiou para o jardim, onde ninguém o encontraria.
Não se sentia no direito de chorar. Não depois de tudo, não depois de roubar a vida de Miles, se meter na vida de Jungkook e atrapalhar o que deveria ter sido algo lindo.
Ele era a peça a mais, a que não encaixava e não tinha o direito de chorar, havia vivido dias incríveis, havia sido amado por aquelas pessoas e se apaixonado com todo seu coração, aquilo era muito mais do que o destino havia planejado para o filho burro de ladrões. Deveria estar agradecido e não chorando escondido em um maldito jardim.
— Bailes também me deixam emotiva. — A voz doce soou atrás de sua cabeça e tentou limpar as lágrimas antes de reverenciar a rainha. — Não se incomode, também vim a procura de refúgio de tudo aquilo. — Respondeu com tom doce, indicando que voltasse a se sentar no banco e que não fosse embora por sua presença.
— Sinto muito. Acabei perdendo o controle por um segundo. — A rainha riu, se sentando ao seu lado e segurando sua mão.
— Somos ômegas, meu menino. Somos sentimentos e energia, é normal que as vezes percamos o controle, não tem do que se envergonhar. — Um segundo se passou e Jimin fungou tentando respirar fundo e não pensar naquilo.
Ainda não havia tido tempo ou motivos para conversar com a rainha de Burly, mas a mulher parecia gentil e doce, amorosa e sábia, de uma forma que enchia o coração do ômega de sensações boas, mesmo sem saber o porque.
— Acho que lhe devo um pedido de desculpas. — Jimin se desesperou ao ouvir aquilo e iria negar, mas a rainha continuou. — Charlote me contou sobre vocês. Sinto muito mesmo.
— Está tudo bem. — Mentiu, tentando sorrir. — Eles vão ser felizes e com o tempo nem mesmo vão se lembrar de mim.
A rainha sorriu, um sorriso triste e carregado de compreensão e ternura.
— E quanto a você? O que acontece com você?
A pergunta pegou Jimin desprevenido, porque tinha uma resposta ensaiada e pronta para aquela pergunta, algo que havia respondido para todos até aquele momento, tentando mascarar sua dor e tranquilizar aqueles que amavam, mas naquele momento, parecia impossível mentir novamente.
— Eu não sei. — Foi sincero, sentindo a pressão no peito e uma dor atingir sua cabeça, com o sentimento que tanto estava escondendo. — Eu não sei. — Repetiu caindo em lágrimas. — Eu deveria ir para Kisley, mas só de pensar em... — Não conseguiu concluir a resposta, afundando o rosto nas mãos e sentiu quando a rainha passou a mão pelas suas costas tentando o acalmar em um carinho materno. — As vezes, eu só queria nunca ter saído daquela floresta. Ter ficado parado e sido comido pelos coiotes como tinha que ter sido.
— Não fale isso, meu bem. — A rainha murmurou com o peito apertado, agoniada mesmo sem saber sobre o que o menino falava. — Pense em tudo o que viveu, em todo mundo que te ama e sentiria sua falta. — Jimin negou.
— Ninguém sentiria minha falta. — Chorou compulsivamente. — Se eu não tivesse saído daquela floresta, tudo seria melhor, para todo mundo.
— E quanto a Mirla? Ela sentiria sua falta. — Protestou, chamando a atenção do ômega, e Jimin pensou em se justificar de que nunca teria conhecido Mirla nessa situação, mas a rainha não lhe deu espaço. — Uma mãe sempre sente.
Jimin engoliu a resposta chorosa de que "a sua não havia sentido", e se focou no olhar melancólico da rainha ao seu lado.
— Deve ter sido difícil. — Murmurou fungando, tentando se conter. — Digo, todos esses anos longe dele.
— Foram um inferno na terra. — Respondeu apertando o ômega em seus braços. — Não teve um dia que passei sem pensar nele, se estava bem, vivo, com frio, fome, dor, se precisava de alguém ou se tinha um colo para quem chorar. — A Rainha fungou. — Eu senti tanto medo por ele. Me culpei tanto. Pensei que morreria de tristeza. — Admitiu e foi a vez de Jimin procurar pelas mãos frias da rainha, tentando lhe dar conforto. — Talvez se eu não tivesse proposto o acordo com Thule, ele não tivesse ficado tão exposto. Se eu ao menos tivesse esperado ou tido mais fé nele...
— Porque propôs o acordo? — Perguntou baixo, genuinamente curioso. Não era comum prometer a mão de um bebe em casamento, mas ela havia feito por algum motivo e Jimin ainda não havia pensado no porquê daquilo. Mas antes que pudesse se desculpar por sua insensibilidade, a rainha já respondia.
— Miles não falava.
— O que? — Questionou confuso e perdido.
— Quando ele completou dois anos, começamos a nos preocupar porque ele não indicava nenhum sinal de que falaria, nem ao menos tentava ou balbuciava como as outras crianças. — Contou com o peito apertado. — Quando completou três, já havíamos o levado em todos os médicos e alquimistas do reino, e nenhum sabia qual era o problema. Fiquei com medo do que seria dele no futuro, quando fosse impossível esconder aquilo ou se algo acontecesse comigo ou Jaimes. — Jimin apertou a mão da rainha, que lhe devolveu o carinho. — Fiquei com medo de que ele ficasse à própria sorte e por isso propus o acordo.
— Fez bem. — Jimin sussurrou, tentando a confortar. — Estava pensando no melhor para ele. O mundo não seria tão gentil.
— Todos alegavam que ele não pensava, mas Miles era inteligente da sua forma. Ele se comunicava bem, mesmo sem falar e era uma criança tão ativa. — Ela suspirou com um olhar feliz e distante. — Eu passava o dia todo conversando com ele. Ele era meu confidente mais querido. Ouvia tudo o que eu tinha para dizer e parecia estar sempre ao meu lado. — Jimin sentia as lágrimas quentes escorrendo de seu rosto ao ouvir a história, porque Deus, aquela mulher quis tanto encontrar seu filho, e lhe destruía saber que a mulher que lhe pôs no mundo nunca sentiu nada parecido com aquilo.
— Mas se Miles não falava...
— Ele falou. — Ela sorriu, uma risada triste e molhada pelas lagrimas. — Alguns dias antes do atentado, Jaimes foi pegá-lo no berço e ele o chamou. Me senti traída na época por sua primeira palavra em cinco anos ser o nome do pai, enquanto era eu quem passava o dia todo com ele, mas depois de me ouvir falar sobre Jaimes repetidamente durante tanto tempo, era normal que tivesse ficado gravado em sua mente. — Ela sorriu para Jimin, mas seu sorriso morreu aos poucos.
Um olhar melancólico atingiu seu rosto e Jimin quis poder fazer algo para tirar aquela dor da mulher, mesmo sem saber ao certo o porquê de sua tristeza.
— Passei anos procurando por ele, desejando que estivesse aqui, e agora que está, me sinto terrível porque não o reconheço. — Negou com a cabeça, com um olhar triste e sentido. — Meu lobo o rejeita e eu tento procurar por aquele menininho fofo, com enormes olhos, pra qual eu sentia que poderia passar horas falando sobre qualquer coisa, mas não consigo achar. — Seu olhar encarou Jimin e um sorriso fraco voltou a nascer. — Sei que é difícil para ele, assim como é para mim e para você, Senhor Park, mas não podemos desistir, certo?
Jimin fungou, desviando o olhar para as mãos juntas e respirou fundo sentindo o calor da ômega ao seu lado.
— E se eu não conseguir? — Perguntou com a voz baixa. — E se eu for fraco demais e não conseguir passar por isso de novo?
— Jaimes sempre disse que não existem pessoas fracas, apenas pessoas que tem sido fortes por muito tempo. — Sorriu com ternura, limpando uma lágrima do rosto do ômega. — Alguma coisa no senhor me lembra ele, Senhor Park.
Jimin se assustou ao ouvir a rainha, mas sorriu, se recompondo. Acreditou que talvez Mary tivesse falado da boca para fora, apenas para o consolar naquele momento, mas agradecia de coração pela rainha estar ali ao seu lado, quando parecia que mais ninguém estava.
— Se não encontrar o seu caminho em Kisley, saiba que Burly sempre estará aberta para você.
| ROYALS |
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