Num estalar de dedos
Quando chego ao Harvey's, Kennedy já está no palco, bem no meio de um de seus truques baratos, tirando coisas que não deveriam caber na cartola. A plateia está intrigada, e ele sorri satisfeito ao me ver parada bem na entrada. Eu cruzo os braços e ergo uma sobrancelha, desafiando.
— Pessoal, eu tenho certeza que eu tinha uma boneca aqui dentro para o próximo truque — diz, enquanto fuça a cartola, sem encontrar nada. Vira do avesso, dá algumas batidinhas no fundo, tentando fazer cair alguma coisa. Parece estar vazia. — Ah! Ali está ela. — Ele aponta, e dezenas de cabeças se viram em minha direção instantaneamente, me fazendo corar. — A Barbie humana, pessoal. Uma sala de palmas para a minha assistente de palco honorária, Barbara.
Ele gesticula com as mãos e a plateia começa a aplaudir. Reviro os olhos, mas sigo para o palco sendo ovacionada com aplausos e assovios.
— Você é ridículo — murmuro com um riso. — Eu não acredito que eles gostaram desse 'truque'.
Kennedy sorri, travesso.
— Acho que não é para o meu truque que esses marmanjos estão assoviando, Barbie.
Sinto o meu rosto corar. Não me arrumei como uma réplica da minha boneca favorita só para ganhar um elogio do Ken. Não preciso de um elogio dele, mas confesso que meu ego se sente acariciado ao recebê-lo.
Aliás, isso foi um elogio. Não foi?
Sei lá. Vindo do Kennedy, é sempre um mistério. Deve ser por isso que seu nome de palco é "Misterioso".
— Hoje eu resolvi fazer um truque com cartas — o mágico anuncia depois que a plateia cessa o barulho.
Ele pega o baralho vermelho e esparrama, me pedindo para escolher somente uma. Eu puxo uma carta qualquer do meio do bolo, em seguida me pede para mostrar ao público. É o quatro de copas.
— Tudo bem. Agora eu quero que você assine essa carta. Você tem uma caneta?
Eu nego. Ele tira a cartola, e estende em minha direção. "Pega". Eu enfio a mão, mas não encontro nada do lado de dentro.
— Está vazia.
— Como assim vazia? — Ele se surpreende. — Tenho certeza que eu...
Dá algumas batidas no fundo, então, do nada, a caneta azul cai do lado de dentro. A plateia dá risada, e eu arregalo os olhos. Tenho certeza que não tinha nada dentro quando enfiei a mão. Tanto faz, pego a caneta para assinar.
Com cuidado, escrevo meu nome em letras cursivas "Barbie", pontuando o "i" com um coração pequeno.
— Então, Barbie. Eu esqueci de te contar uma coisa. — Ele se faz soar sério, mas é tudo fingimento. — Esse não é um baralho comum. É um baralho mágico. E uma vez que você escreve o seu nome, essa carta fica atraída a você.
— Atraída?
— Deixa eu fazer uma demonstração.
Kennedy pega a carta de volta, e meus olhos atentos acompanham seus dedos ágeis enquanto ele a enfia de volta bem no meio do bolo. Começa a embaralhar.
— Olhando assim pelo verso, é impossível saber qual é a sua carta, não? — Ele me mostra o embaralhado de cartas vermelhas. Todas idênticas. Concordo. Ele desvira a primeira. É um três de paus. — Não é a primeira — anuncia. Puxa a carta de baixo e vira. É um 9 de ouros. — Não é a última também. — Coloca ambas as cartas de volta no bolo. — Então a sua carta pode estar em qualquer lugar do baralho.
Concordo.
— Mas se eu estalar o dedo. — E ele faz o truque. — A sua carta encontra você.
Puxa a primeira carta de cima e vira de novo. É o quatro de copas com a minha caligrafia assinada. Como ele fez isso?
— Você contou as cartas na hora de embaralhar — decido.
— Não está convencida? Eu mostro de novo.
Ele embaralha. Pega o meu quatro de copas. Coloca bem no meio do bolo. Estou prestando atenção redobrada.
— Eu acabei de colocar sua carta no meio, então é impossível ser a primeira, certo? — Para provar, ele vira a carta de cima. É um 6 de paus. Assinto. Ele desvira. — Mas se eu estalar o dedo. — E ele faz o truque. — A carta encontra você.
Vira a carta de cima outra vez é lá está o meu quatro assinado. Droga! Como ele está fazendo isso?
— Não está convencida? — Nego. — Então vamos fazer assim: Essa é sua carta, certo? — Ele exibe o quatro assinado para mim, e depois para toda a plateia. Assinto. — Eu vou guardar ela aqui no bolso — narra enquanto faz o truque. — E você segura esse baralho para mim um pouco.
Eu obedeço, e suas duas mãos de mágico envolvem as minhas, fazendo um casulo sobre o baralho.
— Presta bastante atenção — ele pede. Seus olhos castanhos profundamente focados nos meus. Eu estou prestando. — Esse truque vai acontecer bem na palma da sua mão.
Isso é impossível, penso.
— É uma mágica dificil. Eu preciso de energia da plateia. — Ele sinaliza, e o público começa a sacodir as mãos estendidas no ar, enviando vibrações. — A sua carta assinada está aqui no meu bolso. Certo? — Concordo. — Mas quando eu estalo o dedo. — Ele faz o truque. — Olha o que você tem nas mãos.
Eu abro as palmas. Sem que ele tenha voltado a tocar no baralho, eu desviro a primeira carta e lá está o meu quatro de copas muito bem autografado. Agora a minha boca está aberta de surpresa, e eu levo as duas mãos até o rosto. Como isso aconteceu num estalar de dedos?
Não faço ideia, mas mostro a carta para o público e uma sala de palmas preenche o ambiente.
Kennedy faz uma reverência, agradecendo.
— Obrigado, obrigado — fala convencido. — Vocês podem acompanhar meu trabalho nas redes sociais, arroba misterioso ponto quem. E se quiserem saber mais sobre a loira bonita aqui, onde eles podem te encontrar Barbie?
— É arroba Barbie ponto makeup no Instagram— falo, um pouco embaraçada com o elogio inesperado.
— Arroba Barbie ponto makeup pessoal! Anotem aí! — Ele anuncia mais alto. — Vocês não vão querer perder as fotos dela, vão?
O público aplaude.
Eu murmuro:
— Não pensa que elogios vão te livrar de pagar aquele drink que me prometeu.
***
Votem!!!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top