Bomba Nuclear
— Está me dizendo que o Christian apareceu há semanas e você não me ligou? — Ari está um misto de preocupação e raiva quando aparece para me buscar. — Você prometeu que não ia tentar lidar com tudo sozinha!
— Eu sei! Mas ele descobriu a minha identidade falsa, e disse que podia indiciar nós duas por isso. Fiquei preocupada por você. Sabe que o Chris não blefa... Ele deu um jeito de prender o Kyle só porque não gostou do jeito que ele "olhou pra mim"... e olha só o que ele fez com o Kenny!
— Barbie, se o Colvin tivesse qualquer evidência contra mim, ele já teria me mandado para a cadeia há muito tempo. Nós duas sabemos o quanto ele adoraria fazer isso para me manter longe de você.
Ela não está errada.
Desde que nós nos conhecemos, o Chris sempre implicou com a Ariana, dizendo que ela era uma má influência, e uma má companhia para mim. Eu devia ter percebido os sinais de alerta quando ele tentou me afastar de todas as pessoas que se importavam. Eu estava tão cega de carência. Desesperada para fugir das garras da minha mãe. Teria feito qualquer coisa pelo Chris naquela época, e me odeio por isso agora.
— O único motivo pelo qual não fomos à delegacia da última vez, foi porque ele jurou, e você acreditou que ele nunca mais tocaria em você, mas olha o que ele fez.
Eu encaro o meu próprio reflexo no espelho do banco de trás do táxi. Mal consigo me reconhecer, A boca inchada com um corte, um roxo esverdeado perto do olho. Me encolho um pouco, me sentindo estúpida e ridícula. Meus olhos ficam encharcados.
— Eu sei que você tem medo. Mas ele é um policial, não é deus. Ele também tem que seguir as leis. A gente vai pedir uma ordem de restrição, e ele não vai poder chegar mais perto de você, tá bem?
Assinto, fungando.
Nunca denunciei o Chris porque ele sempre teve armas demais para usar contra mim, e eu nem estou falando pistola no coldre. Aquela desgraçada que serviu para ferir o Kennedy, eu costumava achar sexy demais no começo. Acho que sempre tive uma queda pela adrenalina de flertar com o perigoso.
Mas o armamento de Christian é bem mais pesado que uma calibre 12. Se estamos numa guerra, ele vem para cima de mim com tanque e tudo. Faz uma bomba nuclear para destruir a minha vida inteira só usando os meus próprios podres contra mim.
Antes mesmo que possamos chegar na delegacia, Ari me encara, com um tom preocupado, diz:
— Barbie. Eu sinto muito, mas você devia dar uma olhada no que está acontecendo nas suas redes sociais agora.
Eu apalpo o bolso, caçando o meu celular, então me lembro de que Christian Colvin o confiscou na revista. Ari me mostra o dela, e o sangue foge do meu rosto. O mundo se torna apenas uma visão embaçada que parece ocorrer numa dimensão alternativa.
Estou encarando uma foto minha seminua, postada no meu próprio perfil. Acho que eu tirei para o Kyle várias semanas atrás, mas o Christian provavelmente encontrou nos arquivos antigos do telefone e resolveu usá-la contra mim. Essa nem é a pior parte. A legenda é.
@Barbie.makeup: Eu sou uma putinha safada, desesperada por atenção. Tiro foto pelada no espelho e mando para qualquer macho que pagar bem. A culpa é do papai que me abandonou no berço. Eu não tive amor em casa, então eu sou carente e necessitada. Também sou mentirosa e ladra. Não me chamo "Bittencourt", meu perfil real é @Barbara.Vazquez. Uso uma identidade falsa, e esse colar no meu pescoço é roubado. #BarbieFalsificada #BarbieLadra #BarbieMentirosa.
As minhas mãos tremem. Faço login na minha conta e apago a postagem imediatamente, mas já é tarde. As capturas se espalharam por toda parte como um maldito vírus de computador. A essa altura, todas as pessoas que eu conheço e que não conheço estão abrindo a boca para falar meu nome, e a tag não para de subir, com longos fios de "Entenda a história por trás da Barbie Falsificada". Dói muito mais do que os chutes que ele me deu.
Chego à delegacia chorando como um bebê, e odeio ter que dar um depoimento nesse estado.
Todo o processo de corpo de delito é exaustivo e um pouco traumatizante, mas a delegada que me escuta é uma mulher, e isso é de algum jeito reconfortante. Ao menos eu não preciso mostrar a minha nude para um delegado de pau duro qualquer.
Já é noite quando saímos de lá, e a Ari me pergunta se eu quero dormir na casa dela. Não quero. Só quero a minha casa, o meu colchão, a minha vida de volta.
— Você vai ficar bem? — Ela se certifica me deixando na Kitnet cor-de-rosa.
Eu assinto, fungando. Não sei se "bem" é a palavra, mas vou sobreviver.
— Se quiser eu posso passar a noite com você.
— Não precisa. Sei que você tem que trabalhar. Eu me viro, Ari.
— Tudo bem. Eu volto pra te ver amanhã. — Concordo. — Boa noite!
Noto que Christian levou as merdas dele todas embora. Eu não acho que ele vai voltar, pelo menos não tão cedo, mesmo assim travo bem a porta por segurança. Não tenho energia nem para tomar um banho, apenas deito e pego no sono em um travesseiro úmido de lágrimas.
Sonho com apocalipses nucleares, e bombas que explodem com a forma do rosto de Colvin. Acordo sentindo que meu corpo pesa uma tonelada. A escuridão do lado de fora denuncia que ainda é madrugada. Não dormi por mais que poucas horas, e agora não consigo pegar no sono.
Viro de um lado. Viro de outro. Quando a insônia se torna ansiedade, o meu coração fica apertado, e eu penso em Kennedy. Poderia usar um abraço dele agora. Onde quer que esteja, eu espero que esteja bem, espero que não me odeie por ter causado todo esse transtorno.
Ouço barulho de passos no corredor e meu coração acelera. Pode ser qualquer pessoa, mas me pego pensando que é o Christian.
Salto da cama. Espio o corredor escuro pelo visor, então eu vejo um careca gigantesco de traje social ali fora. Lembro das duas vezes em que ele apareceu no Harvey's atrás do mágico. Primeiro penso que está indo para o apartamento do meu vizinho atrás dele, mas levo um enorme susto quando o homem vem até a minha porta e dá três socos.
Meu coração bate rápido. Fico em silêncio, e daí a fechadura começa a mexer. Merda, merda, merda. Fuço a gaveta da cozinha e pego a maior faca que consigo encontrar. A porta abre, avanço na direção dele sem medo. Enfio a faca em seu peito, mas tem uma barreira dura entre a roupa e a pele. A faca simplesmente quebra. MERDA! Encaro a faca, encaro ele, daí começo a gritar o mais alto que consigo. Um grito estridente que rasga a garganta.
— Aaaaah! Socorro! Aaaah!
A reação dele é me segurar para tentar conter os meus gritos. Me debato em seus braços enormes, gritando ainda mais.
— Socorro! Socorro!
A porta do outro lado do corredor abre. Tabitha surge rápido e bate nas costas do homem com aquele taco de beisebol, usando o máximo de sua força. Ele nem parece sentir.
— Solta ela!
Coloca o taco no seu pescoço, e eu vejo a pele clara sangrar onde o arame farpado se enrosca. Ele me solta e ergue as duas mãos em rendição.
— Kardashian, a arma! — Tabitha ordena.
Meu coração está acelerado, mas eu obedeço. Pego a arma enroscada ao quadril do homem e aponto direto para o peito dele. Quero me sentir corajosa, mas estou apavorada. Christian diria "Para de graça boneca, você nem sabe usar isso, vai acabar se machucando". Nunca odiei tanto alguém quanto eu o odeio.
— Esse cara fez isso com você? — Tabitha nota os meus ferimentos.
Faço que não com a cabeça.
— O Christian fez.
— Aquele policial fez isso? — Ela solta o mafioso que leva a mão até o pescoço ferido. Assinto tensa, sem desviar os olhos dele. — Que desgraçado! — Dá uma tacada na parede que faz um estrondo. Eu pulo. — Você fez uma denúncia? — Assinto de novo. — Se ele aparecer aqui outra vez, vai conhecer toda a fúria da Lucille.
Pelo jeito que suas mãos deslizam pelo objeto, entendo que esteja falando do bastão farpado. O mafioso faz um movimento brusco, e eu grito:
— NEM MAIS UM PASSO!
Minhas mãos tremem segurando a arma.
— Eu não estou aqui para ferir ninguém. — Ainda está mostrando as mãos. Sua voz é rouca e baixa. — Meu nome é Frank Boyanov, e eu tenho ordens do senhor Biscotti para garantir a sua segurança.
— Garantir a minha... — Estou tão chocada que me interrompo. — Espera! Você disse "Biscotti"?
— Kennedy Biscotti.
— Está de brincadeira!
Eu abaixo a arma. Viro de costas, esfregando a cabeça. Demoro quase um minuto inteiro para assimilar e voltar a encará-lo.
— Kennedy Biscotti? — Me asseguro. Ele assente. — Tipo... Parente da Jessica Biscotti? — Assente de novo.
— Irmão dela.
— Isso deve ser uma pegadinha. Me fala que é uma pegadinha. Quem mandou você?
Estou apontando a arma novamente.
— Eu trabalho para a família Biscotti há treze anos — explica rendido.
Eu chacoalho a cabeça. Isso explica tanta coisa, tipo a origem do dinheiro que o mágico costumava ter, mas também abre um leque de perguntas para as quais eu não tenho respostas. Tipo, Kenny sabia sobre mim o tempo todo? Por que não falou nada?
— Como Kenny está?
— Bem — garante. — O tiro só pegou de raspão, e ele precisou levar alguns pontos, mas está detido por violar as regras da condicional. Os advogados estão cuidando do caso. Até lá, ele quer que você fique em segurança, então eu vou estar por perto se precisar.
Assinto, ainda confusa. Poderia bater o pé, mas depois do que Christian fez comigo hoje, estou aliviada por saber que vai ter alguém por perto. Mesmo que seja um homem desconhecido que até há poucos minutos eu poderia jurar pertencer à uma máfia perigosa.
— Obrigada.
Frank me passa algumas instruções sobre como acioná-lo em caso de perigo, e diz que vai estar em frente ao prédio, garantindo que o Christian não entre. Agradeço outra vez.
— Isso foi muito estranho — Tabitha comenta depois que estamos a sós.
— Estranho é pouco.
Eu estou tão confusa.
— O cara é enorme! Eu pensei que a gente ia morrer.
— Nem foi a primeira vez que eu pensei isso hoje.
De repente meus olhos estão marejando de novo, e eu fungo, me amaldiçoo por continuar chorando por Christian Colvin. Tabitha pressiona os lábios.
— Vem cá. — Parece desmontar a postura raivosa ao se aproximar e envolver meu corpo em um abraço. — Vai ficar tudo bem, ok? Se esse cara voltar, eu e o Frank vamos acabar com ele.
Rio entre lágrimas.
É um pouco como abraçar um cacto espinhoso. Tabitha não é do tipo afetuosa, então o gesto de carinho não dura muito tempo. Só o necessário para eu ter certeza de que somos amigas agora, e isso basta. Chorosa, tudo que consigo murmurar é um surdo "obrigada".
Tenhocerteza de que as pessoas cruzam nosso caminho por mera causalidade, mas sóentram na nossa vida por opção. Tabitha entra na minha essa noite.
***
A Tabitha é a fav de mais alguéem aí!?
<Vooootem >
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