Capítulo XXIII - Tempestade

Os preparativos para a realização do plano do Adam foram feitos rapidamente. Em menos de uma semana, os três partiram em cavalos pela floresta, a ideia era chegar no mesmo dia, mas não contaram com a tempestade que poderia cair na estação.

Pensaram em prolongar a viagem, mas chegaram a conclusão que isso era correr o risco de adoecer, assim preferiam parar em uma taberna de beira de estrada, pequena, mas aceitável. Dessa forma os três se encontravam em uma sala de convivência grande, com vários homens molhados bebendo e rindo alto a medida que as mulheres o serviam, além da grande lareira ao fundo que conseguia, mesmo que precariamente, iluminar o local.

O grande consolo dos três eram que já estavam em território inimigo e mesmo que isso significasse manter os disfarces e a descrição mais do que nunca, provaram que já estavam perto.

Ravena usava roupas simples e leves de camponesa, tinha de manter os olhos baixo e falar pouco, Adam ficava do seu lado de braços dados, usava lenços sobre nariz, boca e bochechas e um capuz, cabendo a Edgar o dever de conversa com todas as pessoas que chegasse perto.


A garota achava estranho vê aqueles dois nobres com roupa simples, tinham ganhado um ar de arrogância, o rosto era bonito demais, a expressão séria e a voz calma e educada. Ravena sabia que tentavam, mas não eram um grupo muito fácil de ignorar.

- Cerveja para esquentar. - Edgard disse colocando três copos em cima da masa. - Vá devagar meu irmão...

- Você fala como se eu não soubesse beber. - Adam falou, tirando o lenço da boca e dando um gole.

- E não sabe. - o irmão abaixou o copo quando o gole se prolongou - Coma algo.

- Iremos dormir aqui? - Ravena interveio, os dois sempre brigavam e ela não queria passar por mais uma.

- Sim, consegui um quarto para nos três. - Edgard disse olhando ao redor.

- Tem camas o suficiente no quarto? - Adam levantou a sobrancelha.

- Não... mas acho que não tem importância em dividirmos.

Ravena olhou para os dois que se encaravam, não sabia direito o que se passava na cabeça deles, sentiu um pontada de medo, mas decidiu ignorar. Pegou um pedaço da carne de porco e colocou na boca, salgada, provavelmente estava podre.

- Já que não tem jeito... - Adam disse com um suspiro cansado - Amanhã, acho, já estaremos em nosso destino.

- Assim espero. - Edgard disse - Mas acho que poderíamos mudar...

- Não está na hora disso. - Ravena falou calma, sempre que tocavam no tópico do plano a conversa ficava muito tensa e terminava em briga - Tem gente olhando...

E tinha mesmo, havia dois homens um pouco mais distantes encarando o grupo, Ravena temia que eles tivesse reconhecido eles. Mas isso era impossível, certo?

- Eles estão vindo para cá... - Adam falou dando mais um gole na bebida.

- Senhores... - o homem mais alto falou - Senhorita.

- Boa noite bons homens... - o mais baixo disse com muita alegria, parecia embriagado - Gostaríamos de saber se essa bela acompanhante é irmã de você.

- Desculpe... - Adam falou colocando o braço ao redor de Ravena - Mas não, ela é minha esposa!

Os homens se entre olharam um pouco decepcionados, mas decidiram continuar a conversa.

- Vejo bem... - o mais baixo parecia ser o líder - Porém, creio que talvez se interesse na minha proposta. O nosso maravilhoso rei está procurando uma noiva adequada para o filho, o príncipe Gaspar, e acreditamos que essa garota ao seu lado seria perfeita candidata, o rei pagaria uma alta quantia nela.

Ravena respirou com dificuldade, aquela situação de novo não! Assustada ela apertou as mãos de Adam, manteve o rosto baixo, concentrando-se em não demonstrar o medo que cresceu no peito.

- Não, ela não seria. - Adam falou calmo, apesar de Ravena escutar uma ponta de irritação - Veja bem, meu caro senhor, essa garota fugiu de casa para se juntar a mim em minha cama. Depois disso nos casamos e estou a espera de uma criança. Não acho que o rei deseja isso.

- Não, não deseja. Mas se matamos o bebê e a senhorita fingir bem quando fizer a primeira vez seus deveres de esposa, não vejo por...

- Ainda não escutou? - Adam disse um pouco mais irritado - Não!

- Certo... - o homem deu uma afastada - Mas se mudar de ideia.

Se afastando os dois homens, Ravena soltou o ar e levantou o rosto.

- Quem venderia a própria esposa? - ela disse com calma.

- Um monte de homens... - Edgard falou um pouco incomodado - Principalmente em tempos de guerra, mulheres são um gasto a mais, principalmente se ela não geraram nenhuma criança.

- Isso é horrível... - Ravena sussurrou olhando para os homens que se sentaram em outra mesa conversando com outro casal - Por que o príncipe Gaspar ia se casar com uma plebeia?

- Não vai... - Adam falou tapando a boca

- Ele só quer muitas amantes bonitas ou esse homens estão dando um golpe. - Edgard deu um último gole na bebida - Vamos para o quarto antes que eles mudem de ideia e voltem a nos perturbar.

🌹

Ravena se sentou na cama, ela era suja e desconfortável. Adam havia tirado o lenço e pegado o mapa, Edgard estava deitado atrás dela murmurando algo que ela não conseguia escutar.

- Tenho de ir ao banheiro... - Adam resmungo - Já volto.

Pegando o lenço ele saiu do quarto. Ravena se levantou e olhou para o mapa que o amante olhava a pouco tempo, realmente eles já estavam próximo agora.

- Você e o Adam... - Edgard disse se sentando na cama, estava vermelho - Esquece...

- Não, eu e ela não dormimos juntos... - Ravena disse rindo, vermelha também.

- Ah! - ele falou surpreso - O que você acha do plano dele?

- Por que a pergunta? - Ravena se virou para ela cruzando os braços.

- Sei lá... - ele parecia cansado e confuso - Adam normalmente faz planos muito bons, mas eles nunca dão muitas chances para que os outros se arrependam.

- Você não gosta muito da ideia de matar o príncipe Gaspar. - Ravena observou - Eu também não sou fã, mas isso pelo menos não dá chances de falha no plano.

- E... - ele encarou a garota na frente dele e depois para as mãos dela - Você não deveria ter feito isso.

- Não me arrependo - Ravena levantou as mãos cobertas de cicatrizes.

- Você sabe o motivo dele está passando por isso? - ele falou desconfiado.

- Ele me disse que não sabia controlar a raiva...

- Não sabia? - o irmão disse rindo

- E... - Ravena continuou, um pouco irritada - Ele fez algo não muito legal.

- Sabe o que foi? - Edgard disse um pouco sombrio

- Não

- Clássico - ele disse rindo - Contar apenas a metade da história.

- O que você quer dizer?

- Ravena, Adam matou o nosso irmão mais velho. - ele disparou fechando a expressão - Ele matou Edmundo para se tornar rei.

Ravena olhou para o rapaz na sua frente, em choque, procurou algum sinal de brincadeira ou de mentira, mas não achou nada. Só conseguiu falar depois de um tempo:

- Por que eu devo confiar em você?

- Por que eu mentiria?

Ravena ficou congelada, aquilo não podia ser verdade, tinha que ser mentira. Mas fazia tanto sentindo, Adam ser punido daquele jeito, preso e distante do castelo, sem contar da população do reino achando que ele estava apenas desaparecido.

A porta abriu, Adam entrou tirando o pano e a capa, estava encharcado, tirou a blusa e colocou ela estendida sobre a cadeira. Ravena viu uma cicatriz no peito dele, seria de uma luta? A luta contra o irmão? Não aquilo era mentira, só podia ser.

- O que foi? - Adam disse se aproximando de Ravena.

Ele tocou no braço dela, as mãos dele estavam geladas, provavelmente por causa da chuva, mas não foi por causa disso que ela quis se afastar.

- Nada... - ela falou tentando não desviar o olhar - Devo está cansada.

Adam a encarou por um tempo, estranhando o comportamento, mas não falou nada, apenas deu um beijo na sua testa e sussurrando que era para ela dormir. Ravena se deitou na cama, Edgard levantou e foi até o irmão falou algo e saiu do cômodo.

- Aonde ele foi? - Ravena disse ainda deitada.

- Foi beber alguma coisa, não consegue dormir. - Adam se encaminhou para a cama e deitou ao lado dela a abraçando - Não se preocupe.

Ravena prendeu a respiração. Quem era Adam?

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