Capítulo IX

Ravena fechou o livro suspirando, tentou afastar as últimas cenas da cabeça e olhou para Adam. O rapaz estava sentado do outro lado da sala, mantinha a postura perfeita e seus olhos verdes brilhavam enquanto a chama da lareira dança. Ele desviou seus olhos do livro de guerra para a menina, mas percebeu que ela o encarava.

- O que foi? - ele disse ainda sério.

- Não acabou bem... - Ravena sussurrou colocando o livro de lado - Só não deu certo no final.

Ele deu um sorriso torto e foi até ela, se sentando no chão na sua frente tirou o livro de perto e fez um carinho de leve em sua cabeça.

- Uma pena que agora que você pode voltar a sair do castelo essa nevasca começou. - ele disse olhando para a janela.

- Uma pena mesmo... - ela disse abraçando as própria pernas, piscou os olhos algumas vezes tentando afastar as lágrimas.

- A menina das histórias com finais ruins está triste? - ele disse contendo uma risada - O que aconteceu?

- A menina... - Ravena disse olhando com acusação o livro - Ela... ela... matou o cara.

- O que? - Adam franziu a sobrancelha, até onde ele sabia a história era sobre um casal feliz na adolescência. - O que deu tão errado para que a história acabasse assim?

- O homem, ele ficou muito doente e sentia muitas dores... - Ravena deu um soluço entre o choro - Ele pediu para ser morto, e ela fez isso, em uma cena muito descritiva e emocional.

Adam viu ela chorar, parecia uma criança que tinha ralado o joelho e a mãe estava quase acalmando.

- Você já foi a biblioteca? - Adam disse por fim - Quer dizer, depois de você ter pegado todos esses livros?

- Não... - Ravena disse  secando as lágrimas.

- Então vamos mudar isso...

🌹

A biblioteca ficava na ala principal do castelo, a mesma que Ravena tinha se perdido. No caminho ela reconheceu algumas coisas e percebeu detalhes melhor, nos quais no escuro seria impossíveis de ver.

Adam parou na frente de uma porta de carvalho e fez um pequeno suspense para abrir a porta e revelar um enorme salão. As estantes iam do chão até o teto, havia algumas mesas espalhadas por toda sua extensão e a luz do Sol passava calmamente por uma clarabóia gigantesca acima deles.

- Nossa... - ela disse sorrindo - Lindo!

- Quando você sentir vontade pode voltar aqui. - Adam disse ficando ao seu lado - Jordan não poder dizer nada se tiver minha permissão.

Ravena soltou uma risada baixa e encarou o amigo, ele olhava os livros com um sorriso no rosto. Adam parecia assim o tempo todo, impossível de se perturbar, ela se perguntava se ele era assim o tempo todo ou só quando estava com ela.

- Vamos escolher um livro em que a menina não precisa matar ninguém no final. - ele disse pegando um exemplar.

🌹

Tinham feito uma incrível bagunça em um curto espaço de tempo, isso fez Ravena se sentir extremamente culpada e começar arrumar tudo, o que fez Adam acompanhar e ajudar da melhor forma possível.

Sem perceber Ravena começou a cantarolar baixinho, Adam discretamente observava, ela tinha uma voz bastante bonita. Assim que tudo estava em seu lugar, ela sorriu triunfante para ele.

- Você quer ir para a sala de música? - Adam disse sorrindo de leve.

- Tem? - os olhos de Ravena brilharam em vários tons.

Adam apresentou a mão dele para ela, um pouco relutante Ravena aceitou. As mãos dele eram frias, mas muito macias, o rosto dela corou. Eles andaram pelos corredores maltratados até pararem em uma sala com a porta  branca toda esculpida.

- Feche os olhos... - Adam falou segurando a maçaneta.

Ravena obedeceu, ele pegou sua mão e a levou até o centro do salão, onde ele sussurrou pra que ela abrisse os olhos, ela sentiu como se pela primeira vez na vida tivesse aberto eles. A sala era toda decorada com rosas entalhada, as paredes brancas tinham pinturas de rosas vermelhas sem padrão, o chão era um mosaico de rosa e por onde ela olhasse havia instrumentos musicais, materiais para artes e mais rosas.

- Aqui era a sala favorita da minha mãe... - Adam disse sorrindo.

- Eu posso entender o porquê. - Ravena disse em um sussurro andando em frente.

- Gostou? - ele falou inseguro.

- Gostei? - Ravena ainda estava pasma - Eu amei...

Ela se virou para encarar Adam, os olhos dos dois se encontraram e sentiram um choque percorre pelo corpo todo, parecia a primeira vez que eles se olhavam direito. Havia um sorriso leve nos lábios de Ravena, ele sorriu de volta sem tirar os olhos dali.

- Se você estiver interessada em aprender qualquer outro instrumento... - ele disse sem tirar o peso que tinha seus olhos verdes - Pode me pedi. Não posso negar nada a você...

- Eu agradeço... - Ravena ficou muito vermelha, não conseguia entender o motivo.

Os dois ficaram ali, um bom tempo só se olhando e se analisando, Ravena se sentia estranha fazendo isso, mas era incapaz de desviar o olhar e Adam, só desejava gravar mais a imagem da garota em sua mente.

Ele foi o primeiro a se movimentar, deu alguns passos em frente e pegou a mão dela com leveza, Ravena prendeu a respiração quando ele colocou os lábios em suas mãos.

- O que você quer tocar primeiro? - ele disse sussurrando muito próximo dela, o cheiro de rosas preencheu o lugar. Como nunca tinha reparado que ele cheirava assim?

- Violino... - Ravena piscou os olhos, vermelha, tentando raciocinar o que fazer.

- Eu acompanho com o piano... - ele se aproximou colocando os lábios na bochecha dela.

Ele se afastou, mas manteve as mãos na dela, quando ele soltou para se sentar na frente do piano, Ravena fechou as mãos bem forte tentando parar de tremer para poder começar a tocar o instrumento.

- Qual música? - ela perguntou posicionado o instrumento.

Adam tocou algumas notas e Ravena reconheceu era uma canção de ninar que sua mãe cantava para ela antes de dormir. Imediatamente sentou saudades, ninguém mais na família fazia isso.

A melodia vinha de uma lenda, mas qual não importava, a música era calma, porém dava para sentir toda a emoção que saia dela, era uma música de amor, isso ela tinha certeza. E quando eles chegaram na última nota alguém entrou na sala atrapalhando o gosto das últimas notas.

- Adam! - era Tailin, ele estava pálido - Minha mãe está no castelo!

- Quanto tempo? - Adam se levantou, uma voz feminina reclamando no fim do corredor apareceu.

- Nenhum... - Tailin gemeu.

- Ravena se esconda, agora! - Adam disse colocando a garota atrás do piano branco, o vestido da mesma cor, poderia ajudar - Não faça nada, não importa o que aconteça!

- Aí está o senhor! - uma voz estridente veio da porta - Seu pai manda comprimentos... e como o senhor está desleixado! Passou o tempo de cortar o cabelo!

Adam se obrigou a dar um sorriso gentil para mãe de Tailin. Ravena tentou ver melhor a imagem da mulher, pode ver o vestido de cor vermelho escuro e a silhueta esquelética, mas não consegui ver o rosto cheio de marcas da senhora.

- Dona Carlota. - Adam disse tentando manter a calma - Como a senhora está?

- Mãe? - uma garota ruiva entrou na sala, magra igual a mãe, mas bem mais bonita - Senhor...

Ravena franziu a sobrancelha quando o outro vestido azul entrou na sala, a voz a irritou. Adam perdeu o sorriso, a garota era terrivelmente irritante para ele, ainda assim tentou manter a educação.

- Estaria melhor se o senhor estivesse considerando se casar com minha filha Katy e... - a mulher disse se aproximando - Mandasse meu filho se livrar da criada.

- Eu disse que não vou fazer isso... - Adam falou calmo, suspirando.

- Senhor, por que? - Katy disse tentando de sua melhor maneira ser sexy, sem resultado - O que tem de errado comigo?

Katy era fútil, sempre foi esse o problema da menina, nunca falava nada de inteligente ou relevante, apesar de Adam ter certeza que era uma menina esperta. Se tivesse outra mãe e outro comportamento talvez seria alguém que ele se apaixonaria, mas do jeito que ela agia, só conseguia irritar mais Adam.

- Já disse senhorita Katy... - Adam disse se afastando mais das duas - Não tenho interesse!

- Por que? - Cartola disse levantando uma das suas grossas sobrancelhas - Tem mais alguém em mente?

- Não é por isso que vieram aqui... - Adam grunhiu - E Tailin e a criada irão casar e ter aquele filho, serei padrinho tanto da união quanto da criança.

- Isso não está correto! - a mulher deu um grito - A posição social não trará vantagem nem uma a família. Não percebe isso?

Adam deu um suspiro, não podia se irritar, manter a calma, ser uma pessoa melhor, por Ravena.

- Eu percebo que seu filho e a jovem em questão estão apaixonados! - Adam disse sério - Já dei meu veredito, creio que nem meu pai ou meu irmão vão se opor. Principalmente por ser um problema muito mais de vocês. Agora se puderem ir embora, ficaria grato.

- E o que o seu pai vai falar de uma qualquer em seu castelo? - Katy disse com um sorriso no rosto - Papai me disse dela. Também quer se envolver com uma garota sem nome nobre?

Adam fechou o punho suas juntas ficaram brancas, ele queria muito bater alguma coisa.

- Também escutei algumas fofocas... - Carlota disse maliciosa - Ouvi que era uma garota bonita, mas homens não tem noção do que é uma menina bonita e o que é uma puta.

- Senhoras! - Ravena falou mais alto do que queria saindo do seu esconderijo - As únicas putas que eu vejo aqui são as duas!

As mulheres se encaram durante um tempo, Ravena tinha o rosto vermelho de raiva, Tailin mordia o dedo pálido e Adam nem se virou para olhar, mas apertou mais o punho.

- Então é você! - Carlota disse rindo - Realmente bonita, mas selvagem.

- Pena que eu só posso te chamar de selvagem! - Ravena disse dando passos em direção das duas - Vão embora!

- Só o senhor pode fazer isso... - Katy disse não tão confiante.

- Ele já fez isso! - Ravena deu mais um passo, a postura estava perfeita, algo que suas irmãs ensinaram para parecer mais forte - Se vieram aqui só para ofender Amélia e a mim o seu papel foi cumprido, vão embora!

- Como eu disse, selvagem. - Carlota disse rindo - Acha que o seu pai vai aceitar isso?

- Ou seu irmão? - Katy disse ainda encarando os olhos de Ravena

- Isso é um problema dele! - Ravena falou quase gritando.

As mulheres continuaram a discutir, cada vez que Adam escutava a voz de Carlota e Katy a vontade de bater em algo aumentava.

- Você, garotinha, deveria se por no seu lugar! - Carlota disse apontando o dedo para a cara de Ravena.

Foi aí que elas ouviram algo quebrando.

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