Capítulo 9
5154 palavras - Arco veteranos
Chegando a sua sala, Edan joga suas coisas sobre sua mesa. Olhou em volta, vendo que ali haviam somente mais dois alunos além dele, mas não tinha costume de falar com nenhum deles. Se sentou e debruçou sobre a mesa e fechou os olhos, tentando cochilar o quanto pudesse. Ouviu que mais alguém chegou na sala, mas ignorou.
- Oi? Alguém em casa? – Edan sentiu alguém mexendo em seu cabelo, isso o fez se levantar de modo completamente preguiçoso. Era Raquel – Bom dia senhor preguiçoso.
Com um bocejo, Edan responde – Não sou preguiçoso, só não dormi direito...
- Eu estava querendo fazer uma cantiga de hora de acordar, mas seria tão ridículo que eu decidi não fazer... – Raquel respondeu, pausando um segundo para olhar algo no seu celular – Além que você ficaria de mau humor comigo o dia todo, e não estou afim disso.
- Muito obrigado por me poupar... – Esfregou os olhos e se espreguiçou o maximo que podia.
Raquel se senta em sua mesa, um pouco a frente de onde Edan e Anne ficam – Muito obrigada por confiar nas minhas habilidades de cantora.
- Você não tem habilidades de cantora... – Respondeu, apoiando o rosto na mão.
Raquel da uma risada – Você é um amigo incrível. Também te amo, você estará pra sempre no meu coração.
Leandro acaba de deixar suas coisas em sua mesa – Qual o assunto?
- O Edan está criticando minhas habilidades como cantora! – Raquel reclama com um sorriso.
Arqueando as sobrancelhas, Edan responde – Não estou criticando.
Leandro olha para seus colegas, e então encara a garota, cerrando seu olhar – Mas... Perai Raquel, você tem habilidade de cantora?
- É claro que eu tenho! – Ela cruza os braços, quase estufando o peito – Sou uma ótima cantora, vocês é que nunca tiveram o privilégio de me ouvir cantando.
- Ah sim, claro... – Leandro balança a cabeça ironicamente, sem olhar para Raquel – Como pode criticar da habilidade de cantora dela?
- Que? – Edan cerrou o olhar – Eu não critiquei, só falei que ela não tem uma habilidade assim.
Raquel faz uma pose, como se estivesse ofendida – Como se atreve a dizer isso de mim? Uma amiga tão boa pra você, e você falando essas coisas de mim...
- Eu já te ouvi cantando Raquel, e acredite... Aquilo não foi agradável...
Leandro ri – Quando foi isso?
- Ela estava de fone, cantando uma música estranha... Como era... – Edan coloca um dedo na testa, se forçando a lembrar. – Era uma coisa com "Aserehe ra de re"... Sei lá o que mais.
Leandro para por um tempo, olha de Edan para Raquel, e rindo ele pergunta – Ele te ouviu cantando Ragatanga?
- Foi sim, quando estávamos no intervalo ouvindo música no meu fone – Raquel responde rindo junto de Leandro. – Deixei as músicas no aleatório, e começou a tocar, e eu cantei.
- E como eu falei, aquilo não foi agradável – Edan balançou a cabeça.
- Você não consegue compreender minhas verdadeiras habilidades – Raquel passa a mão pelo cabelo solto e o lançando ao ar, mantendo uma pose.
- Faça uma pose toda meiga igual a Anne, que ai o Edan muda de ideia. – Leandro diz rindo, se sentando e colocando seu fone em um ouvido. Raquel colocava suas coisas sobre sua mesa e Edan pensava em fingir estar estudando para fugir do assunto.
- Ah é, verdade, você me lembrou de uma coisa Leandro. – Raquel diz, estalando os dedos. Ela então olha para Edan e continua, batendo uma caneta em sua mesa – A Anne me comentou que foi na sua casa ontem.
Pego de surpresa, Edan pensa no que Raquel disse, e em quão rápido Anne espalhou que tinha ido a sua casa. Bufando, ele responde – Sim ela foi. Ficou até de noite por lá.
- Mas o que vocês ficaram fazendo? – Raquel bufa largando a caneta que vai ao chão, e cruzando os braços – Ela reclamou que não teve nenhum avanço.
- Por incrível que pareça, ela quis limpar a casa. – Edan responde, abaixando e alcançando a caneta no chão. – Reclamou que eu vivia em uma bagunça e me ajudaria a arrumar tudo. Não tivemos muito tempo para o tal projeto que ela está me enchendo.
Leandro, que já estava entretido com as músicas e batia um dedo na perna, olha para os colegas e pergunta. – Acho que isso explica o não avanço de vocês dois, mas... – Segura um riso e continua – Mas quero perguntar, por que mesmo você fez torradas para ela?
- Aconteceram algumas coisas antes que me obrigaram a fazer torradas para ela... – Edan deu de ombros, evitando em dar mais detalhes para seus colegas, imaginando que poderiam acarretar em ainda mais perguntas.
- Ela ter ficado brava, e você tentando se desculpar com ela para ficarem de boa um com o outro. Isso nós sabemos. – Raquel ri, mas logo para quando recebe o olhar reprovador do colega. – Só que nem eu ou Leandro entendemos uma coisa.
- E o que é? – pergunta olhando para os colegas.
- A Anne falou que ficou brava com algo que você fez, mas nenhum de nós entendeu bem... – Raquel começa a dizer, ficando pensativa – Ela falou que do nada você mudou, e não soube nos explicar. O que aconteceu ontem?
Levando a mão ao queixo e pensando, Edan relembra o que aconteceu. Durante boa parte da noite ficou acordado, pensando sobre o ocorrido, mas não conseguia ter respostas. Tudo que conseguia eram apenas mais dúvidas. A sua sensação era de que, de alguma forma não sentia apenas sendo observado, nem de que tinha uma estranha imagem na imaginação. Na verdade, parecia haver alguém, dentro de sua cabeça. Ele estranhou, debateu consigo mesmo durante muito tempo na noite, mas não chegou a nenhuma outra conclusão, algo mais crível. Tudo que conseguiu pensar foi apenas uma teoria fantasiosa, totalmente impossível. Porém não conseguia acreditar no que ele mesmo pensava, afinal, Edan sabia o que havia sentido em sua mente, para ele, realmente havia alguém ali. Sob os olhares dos amigos, imaginou que não acreditariam se falasse o que aconteceu, e então diz. – Eu estava com sono... E ainda estou...
- Que resposta em... – Leandro diz, colocando seu fone na mochila. – Agora entendi por que a Anne ficou brava com você.
- Por que? – Raquel pergunta, erguendo a sobrancelha, curvando o corpo para frente.
- Ele mente muito mal! – Leandro responde, estendendo a palma da mão para Edan.
- Achei que você saberia explicar melhor Leandro! – Raquel bufa assim que para de falar. Ela balança a cabeça, tapando os olhos com a mão – Você acha que eu já não sabia disso?
- É do Edan que estamos falando Raquel. – Ele responde, como se não esperasse a reação da amiga – Não tem como sabermos com certeza o que aconteceu. Nunca sabemos.
Raquel para por um segundo, e acaba concordando com Leandro. Ela então se vira para Edan, com um olhar questionador. – Não sei se aceito essa sua resposta tão vaga... – Olha para a porta da sala antes de perguntar mais ao colega. – A Anne acabou de chegar.
Todos olham para recebe-la, porém a garota para de andar ao lado da porta, conversando com alguém. Edan olha melhor semicerrando seu olhar, e percebe que a pessoa com quem Anne conversava era o mesmo aluno do dia anterior. – Olha só... A chata está aqui, e está acompanhada. – Comenta com certa indiferença.
Leandro se debruça um pouco para frente para olhar melhor. Ele analisa por um tempo, se endireitou de volta na cadeira, olhando então para Raquel e apontando para a porta – Esse ai não é o cara do terceiro que tá interessado na Anne?
- Acho que sim... – Raquel olha melhor – Corrigindo, é ele mesmo. E pela cara dele, parece que não quer perder tempo.
Anne continua seguindo para sua mesa, e o aluno veterano a segue. Muitos o olham e cumprimentam como se fosse um herói que acabasse de parar uma guerra sozinho, e o olhar de alguns o clamava como se fosse um rei, outros pareciam invejar a posição de fama e aparente poder absoluto que ele possuía em volta de si. Amigavelmente ele responde a todos com alguns acenos, mantendo grande parte da atenção em Anne. Ela cumprimenta os amigos com um aceno rápido, coloca suas coisas em sua mesa e volta até a mesa de Raquel.
- Desculpem pela pressa... – Anne desculpa-se com um sorriso sem jeito – Passei correndo porque achei estar atrasada.
- Relaxa. – Leandro comenta olhando o relógio em seu celular – Está bem cedo ainda. E quem é seu amigo?
- Ah sim... Desculpem, Leandro, Raquel, este aqui é o Fabiano – vendo como Anne estava se comportando, Raquel e Leandro trocam um olhar rápido, quase que em cumplicidade e se entendendo de imediato. – E Fabiano, esses são meus amigos.
- Prazer em conhece-los de fato. – diz, mantendo o sorriso amigável, cumprimentando a ambos com um aperto de mão. – A Anne sempre fala bastante de vocês dois.
- Igualmente. – Raquel se adianta para falar com um sorriso – Anne também falou bastante de você, só imaginávamos quando iriamos te conhecer.
- Terceiro ano certo? – Leandro pergunta. Recebe uma confirmação com a cabeça – Nossa, legal poder falar com um pré universitário.
- Legal, mas é um saco. – Fabiano diz rindo, fazendo parecer não ser nada em especial – Tanta coisa pra estudar que da um nó violento na cabeça. As vezes não tenho tempo para quase nada na minha vida além de ficar com a cara nos livros.
- Acho que temos uma boa ideia do que quer dizer – Anne responde rindo.
Raquel suspira pesadamente. – Tem razão, cada matéria que passam... Nem sei como consigo aprender todas essas coisas.
- Acho que todos nós passamos por isso. – Anne ri, começando a olhar em volta – Alias... Onde está o Edan? Ele não veio hoje?
Inicialmente Raquel e Leandro estranham a pergunta. Passam os olhos em volta e não o veem em nenhum lugar da sala. Agora, totalmente surpresos, só conseguem dar de ombros sem saber como responder a colega. – Ué, ele estava aqui até agora. – Raquel diz, se encostando melhor na cadeira e mexendo nas pontas do cabelo.
- Edan? – erguendo as sobrancelhas, Fabiano pergunta – O garoto do nome diferente é dessa turma também?
- Sim, ele é daqui mesmo. – Anne responde, passando a mão na testa, olhando para os colegas, tentando em vão ter uma resposta. – Ele estava aqui?
- Falando com nós igual você está fazendo agora. – Leandro responde olhando em volta.
Começando a ficar um pouco inquieta, Anne se encosta na mesa de Raquel – Onde será que ele está? Ele não pode ter sumido...
Fabiano olha em volta, pigarreia de leve, chamando a atenção de Anne e dos demais – Bem, gostaria de poder ajudar, mas tenho que voltar para minha sala.
- Entendi... Não quero te atrasar, melhor ir. – responde, ainda pensativa.
- Vamos nos falar mais tarde? – pergunta, tocando o cabelo ruivo de Anne.
Dando um pequeno sorriso, Anne confirma – Claro que sim, com certeza. Hora do intervalo?
- Por mim tudo bem. Na saída também, se tiver livre com seu amigo. – Raquel e Leandro trocam um rápido e discreto olhar entre si, encarando o veterano em seguida.
- Se eu estiver livre... Então sim. – Anne deu de ombros. O mais velho se vira e deixa a sala.
- Cara legal em amiga... – Raquel comenta dando um sorriso de canto – E muito bonito também.
- Concordo e muito. – Anne diz rindo, enquanto Leandro pega seu caderno e começa a ler, se ajeitando em sua cadeira, deixando de prestar atenção na conversa.
- Como conheceu ele? – Raquel pergunta animada.
Anne pensa, pensa e pensa. – Se me lembro bem... Ele puxou assunto comigo quando eu estava comprando alguma coisa na hora do intervalo de aulas, isso foi ano passado. Desde então vive conversando comigo quando me vê.
Raquel ergue uma das sobrancelhas – E se olhar para a cara dele, o Fabiano parece gostar muito de você. – Anne fica sem graça com o comentário da colega.
- Quem sabe né...? – Desconversa, tentando forçar uma risada – É só um aluno mais velho que puxou conversa comigo, isso não é nada demais.
- Fingirei que acredito Anne... Mas qualquer coisa, me conte todas as fofocas depois. – Raquel ri, junto com um aceno positivo de Anne.
Todos os alunos que estavam fora da sala começam a entrar de uma vez. Uma professora entra na sala, e logo após Edan entra com os vários livros debaixo de um braço e uma barra de chocolate na mão livre. Ele deixa tudo na mesa da professora que o agradece, e então retorna a seu lugar. Assim que se senta, Anne questiona com o olhar onde ele foi, e como resposta ele balança a barra de chocolate, e em um sussurro explica a garota que saiu e foi ao primeiro andar para comprar o chocolate na cantina e apenas encontrou a professora no caminho que pediu sua ajuda com os livros. Ele se endireitou na cadeira, começando a comer assim que a professora começou a aula, de forma discreta, acabou passando uma metade para Anne, que não parava de olhar em sua direção, ou então na direção do chocolate.
Durante a primeira aula, foi explicação atrás de explicação. Listas de exercícios do livro e pesquisa para entrega já na próxima aula. Assim que a professora se sentou, a sala relaxou e todos começaram a conversar. Leandro puxou uma cadeira e sentou no espaço entre Edan e Anne, puxando conversa com ambos. Anne respondia, mas Edan nem balançava a cabeça, estava concentrado no que a professora havia passado, lendo algo no livro e confirmando em seu caderno, de forma frenética e logo em seguida preguiçosa. Raquel veio logo em seguida, e mais alguns outros colegas se reuniam próximo do grupo. Para Edan, o espaço se tornou tão apertado e barulhento por causa de tantos alunos, que ele imaginava jeitos para conseguir se afastar de tanta bagunça.
Apesar da barulheira ter continuado durante todo o tempo, as horas passam rápido até o intervalo. Bagunça e conversas se tornavam ainda mais altas, broncas e um pouco de ordem surgiam na classe a todo momento, no decorrer de todo esse ciclo Edan estava tentando se manter concentrado em seu caderno, anotando coisas e mais coisas que tinham haver com as aulas, semelhante a um robô. Quando o sinal tocou, todos se levantavam e saiam as pressas. O barulho ficou forte por dois minutos, e então a calma se instalou na sala. Acompanhado do silêncio ao seu redor, silêncio esse que conhecia bem, Edan ficou em sua mesa. Soltou a caneta e resmungou. Sentia dores agudas em seu pulso toda vez que escrevia ou desenhava algo, algo que conseguia incomoda-lo com facilidade, mas tentava ao máximo aguentar as várias pontadas de dor que sentia no dia. Somente ele sabia o esforço que fazia para não reclamar da dor que sentia, sabia que isso com certeza chamaria a atenção de Anne, e queria a todo custo evitar alguma preocupação vindo dela. Em sua mente, ela não precisava se preocupar com algo tão pequeno como ele, por isso manteria a dor em segredo até melhorar, por mais que a dor persista já a algum tempo. Olhou pela janela, imaginando quanto tempo teria de silêncio. Debruçou na mesa, planejando tentar descansar como podia antes da bagunça voltar. Em pouco tempo, Edan consegue adormecer.
*****
Seguindo com seus comuns passos curtos, Edan bocejava enquanto esfregava os olhos. Ter cochilado durante o intervalo de aulas não o ajudou em nada a falta de sono que teve até o meio da madrugada. Logo atrás dele estava seu grupo de colegas, que faziam todo o barulho que ele deixava de fazer. Leandro sugeriu de todos irem comer em uma lanchonete perto da escola, algo para descontraírem do melhor jeito. Antes que pudesse pensar em uma resposta para tentar fugir, Anne e Raquel seguraram Edan pelos braços, como garantia que ele fosse junto.
A lanchonete que foram tinha um tamanho interno bem grande e com pintura bem feita. O balcão dispunha de vários bancos, mesas brancas e bem limpas se espalhavam pelo lugar sem comprometer o espaço. Leandro se propõe a fazer os pedidos, Anne diz que vai junto, deixam suas mochilas com os colegas e foram fazer os pedidos. Enquanto isso Raquel e Edan pegaram uma mesa disponível. Apontando para uma mesa não muito distante, o rapaz sinaliza para Raquel, que logo concorda. Assim que se sentam, o rapaz cruza os braços e olha em direção a parede, já a garota prende o cabelo escuro em um rabo de cavalo e mexe em seu celular até Anne e Leandro chegarem minutos depois com as bandejas. Tinham quatro pratos cada um com um lanche, uma porção de batatas fritas em cada bandeja, latas de refrigerante, copos, canudos e guardanapos.
Entre risos, aproveitam o lanche e o tempo juntos, com a única clara exceção de sempre.
- Sabe... – Começa Raquel, com algumas batatas fritas não mão – Acho que eu ouvi algo sobre você Leandro.
Dando uma mordida em seu lanche, Leandro pensa um pouco e então pergunta, ainda com a boca cheia – O que ouviu é coisa boa?
- Talvez seja sim... Ou não. – Raquel bate o dedo na mesa. – Isso depende da sua opinião.
Leandro ergue uma sobrancelha, olhando Anne e Edan. Ele termina de comer o pedaço de seu lanche e então questiona com uma cara de quem não espera algo bom. – Aham... Lá vem coisa.
- O que é? – Anne pergunta, segurando uma lata de refrigerante. Sua curiosidade fica clara no tom de sua voz.
Raquel da um sorriso de canto. – Ouvi que ele está se tornando muito "amigo" de uma garota do segundo ano.
- Muito amigo...? – Anne repete, e então lança um olhar curioso para o colega, soltando uma risada – Isso pode ser interessante de ser ver.
- Vocês duas curiosas, ouvindo fofocas assim... – Respondeu se ajeitando na cadeira.
- Hmmm – Raquel responde imediatamente, com um olhar e sorriso que uniam maldade e curiosidade – Então é verdade?
- Não disse que nada é verdade... – Diz, olhando para os lados procurando uma saída. Ele então volta a falar, ficando sem graça – Escutem bem uma coisa... Eu e a Iris não temos nada.
- Iris... É um nome bonito. – Raquel diz rindo, Anne não se segura.
- Quando vai apresentar ela para nós? – Anne comenta rindo junto.
Leandro pensa, e enfim responde, devolvendo o comentário da garota – Assim que você e o cara do terceiro começarem algo! Aí então, eu apresento a Iris a vocês fofoqueiras!
Anne fica sem graça e começa a ficar vermelha, sem saber como responder a provocação de Leandro. Raquel diz logo em seguida – Demorou então! Pode apresentar a sua futura namorada. Afinal a Anne e o Fabiano já começaram algo há muito tempo, só não oficializaram!
- Ah sim, você está certa. Só falta alguém pedir em namoro. – Leandro confirma, torcendo para terem esquecido sobre Iris.
Nesse momento é Anne quem olha para todos os lados em busca de alguma saída para sua situação, quando percebe que alguém parou e começou a falar bem atrás de si – Acho que ouvi meu nome bem aqui nessa mesa.
- Olha quem está aqui, o cara da vez! – Raquel diz rindo. Anne se vira e vê Fabiano parado, acompanhado de um rapaz e duas garotas, todos claramente colegas de sua classe.
- Isso mesmo... Até agora falamos de você. – Leandro comenta, enquanto o outro grupo se senta na mesa bem ao lado, o outro rapaz foi fazer os pedidos.
- É mesmo? – a garota de cabelo curto comenta caçoando. – Está fazendo fama nas turmas mais novas Fabiano? Isso não é uma coisa que se faça.
- De certa forma, estou sim, mas não faço por querer. – Ele responde rindo, de forma bem amigável. – Alias, agora que pensei, nenhum de vocês falou por que estavam falando de mim.
- Nada demais! – Anne responde, causando riso nos amigos.
- Nãos apresentei ninguém aqui – Fabiano diz, aprontando para a primeira garota, de cabelos castanho claro mal amarrados, pele clara, sardas no rosto e óculos, que olhava o celular – essa é a Tamires – aponta segunda, uma um pouco mais baixa de pele morena, de cabelo Chanel preto e com roupas um pouco mais provocantes – e essa é a Carol. Meu amigo ali é o Diego. E bem, vocês já conhecem os calouros.
- Falou muito bem de vocês dois – Carol diz, passando os dedos no cabelo – Você é Raquel, e você o Leandro. – Recebendo um aceno afirmativo como resposta.
Tamires olha para a mesa, e vê Edan logo ao lado de Anne. – Ué Anne... E esse ai do seu lado?
Edan se vira devagar e olha ao grupo do lado. Não diz nada, apenas manter o olhar completamente gélido por debaixo do capuz de sua blusa. – Esse ai é "aquele" do nome estranho e que dá medo. – Fabiano responde, fazendo uma careta.
- Não liguem para o Edan... – Anne olha para o colega, que mantinha os braços cruzados e o olhar coberto pelo capuz. – Ele é assim, meio quieto, antissocial... Bicho do mato completo
Carol solta um pequeno riso, se levanta e deu à volta na mesa, parando bem ao lado de Edan, se debruçando bem a sua frente. Rapaz a acompanha com o olhar, sem se pronunciar. Porem a garota mais velha, por sua vez, começa a falar. – Meio quieto e antissocial? – comenta dando uma olhada para todos na mesa, e com um sorriso irônico continua – Sem ofensas ao seu amigo, mas parece que ele mal fala.
- Ele está travando assim de uns dias para cá. – Anne bufa balançando a cabeça. – Pior que não está falando direito com ninguém as vezes. Acho que é motivo para se preocupar.
A garota tira o capuz de Edan com a ponta dos dedos lentamente, o que faz o rapaz não melhorar sua expressão, pelo contrário, parece ficar ainda pior. Em volta de Edan até aparentou ficar mais denso. Carol o analisa, erguendo a sobrancelha – Mas até que é bonitinho.
- Tenho que concordar com você – Tamires ri, se debruçando na mesa. – Parece que dá muito para aproveitar.
- Gostaram dele? – Raquel comenta rindo. – Aproveite que por enquanto ele ainda está livre no mercado. Só tá com defeito de fala, e precisam tomar cuidado ao sair no sol com ele. – Os dois grupos se divertem com os comentários.
- Ah, é mesmo? – diz, analisando Edan outra vez.
- Só avisando... – Edan finalmente diz com a voz calma, atraindo mais ainda o olhar de todos. – Para sua informação eu não me esqueci como falar... Apenas não tenho nada importante a dizer a nenhum de vocês.
Leandro o observa, e então comenta – Então Carol, Tamires, aproveitem o Edan, ele está totalmente livre, em promoção, e aparentemente agora ele está com o problema de fala resolvido. Só cuidado ao sair no sol com ele. – Todos riem outra vez.
Edan olha para Carol uma última vez, que ainda está debruçada em sua frente. A garota passa seu olhar castanho claro por todo o rosto de Edan, o analisando quase em todos os detalhes, e de quase que de proposito, deixa livre boa parte de seu decote para o rapaz, que tem seu olhar atraído quase que de imediato. – Você parece interessante de algum jeito... Eu manterei meus olhos em você... – Ela diz em um tom baixo o suficiente para apenas Edan conseguir ouvir, e um último segundo antes de levantar, a garota parece dar um pequeno sorriso de canto para Edan, voltando para seu lugar. Assim que ela se senta, ele veste novamente seu capuz, se encostando na cadeira, torcendo a boca e balançando a cabeça negativamente com isso que havia acabado de acontecer.
- Eu tenho algo a falar, mas só depois de comer – Fabiano comenta, assim que Carol se senta. Ele então questiona – Vocês já vão embora?
- Ainda não. Vamos aproveitar mais um pouco – Raquel diz.
Aproveitando a distração de todos e acertando o cotovelo em Edan com força, Anne resmunga em um cochicho – O que tem de errado com você?
- Do que está falando agora?
- Você está ai todo estranho... Não está conversando com ninguém, nem com os próprios colegas de sala... – A garota suspira – E nem vi se comeu alguma coisa.
O rapaz fica quieto por um tempo. Seu olhar para a garota é da mesma forma como se uma pessoa encarasse um espaço vazio.
- Qual o problema? – Ela insiste, ainda falando em cochichos – É por causa de alguma coisa que alguém falou? Do Fabiano ou os colegas dele? Eu falei ou fiz algo que você não gostou? Me fala... O que aconteceu?
- Quantas perguntas... – Edan bufa com a atitude de Anne, a observando com o canto dos olhos. Ela esperava por uma resposta e ao que o rapaz estava vendo, ela não o deixaria escapar a menos que falasse algo. – Estou com sono e em um lugar não conhecido. Vocês estão pegando no meu pé só porque estou quieto. E não tem chance de eu dormir aqui nessa mesa dura.
A garota observa Edan dando algumas leves batidas na mesa, e então diz – Esse seu problema não parece sono... – Anne cruza os braços bufando. – Tenho certeza que não é isso.
- Então? – Ele questiona. Edan começou a perceber que havia algo errado, algo que ele mesmo não conseguia entender. Uma sensação ruim surgiu em seu peito, algo tão agoniante que quase o fazia prender a respiração. Edan sente como se uma parte dele mesmo estivesse deixando de existir aos poucos naquele momento. A agonia crescia gradualmente, tomando tanto a dor que sentia como também sua mente. Ainda assim, tentando ignorar isso, ele olha para Anne e então pergunta. – O que acha que pode ser?
A garota fuzila o amigo com o olhar, coisa que Edan talvez esperava, mas não gostaria de receber. Ele esperava que Anne pudesse enxergar o motivo de se sentir assim ou pelo menos dar uma desculpa mais decente, afinal, nem ele mesmo tinha ideia do que era. – Eu não sei o que é, por isso estou perguntando!
- Por que está tão preocupada comigo? – Ele questiona, isso faz Anne parar por um segundo.
Olhando de um lado ao outro, se certificando que ninguém estava olhando para eles, ela então diz, tentando manter a firmeza na voz – Só porque você está estranho!
- Você não precisa e nem deve se preocupar comigo, não tenho nada de errado... – Responde.
- Não é o que parece. – Anne pensa, quando de repente Edan agarra sua mochila e se levanta. A garota, espantada com a reação do colega, não consegue reagir de imediato. Sem pensar, ela o segura pelo braço. – Aonde você vai!? – disse alto.
Ambos olham em volta. percebem que atraíram a atenção de todos ao redor. Todos das duas mesas já o encaravam, os confrontando com vários pares de olhares curiosos.
- Ué Edan, já está indo embora? – Leandro pergunta.
- É, eu... – Tenta pensar em uma desculpa plausível em um único segundo – Ahn... Lembrei de algo importante, e que eu preciso fazer com certa urgência. É relacionado à minha família.
- Ah cara, fique mais um pouco – Diego, na ponta da outra mesa diz – Aproveite mais um pouco aqui com todos.
- Só mais uns 10 minutos. Não vai te atrasar, seja lá o que você for fazer. – Raquel diz, segurando uma lata de refrigerante.
Tentando parecer o mais convincente possível com sua atuação, torcendo de leve a boca para tentar demonstrar alguma frustração por não permanecer com todos, onde tem a nítida certeza que falhou miseravelmente, Edan diz simplesmente – Não posso, preciso mesmo ir.
- Deixem ele ir! – Anne diz, com cara de poucos amigos, sem olhar para Edan. A garota cruzou seus braços, e estava na cara que ela julgava a péssima mentira do colega, e principalmente por ele estar agindo daquela forma. Ela continua a falar, como não sendo nada demais – Deve ser mesmo algo muito importante!
Raquel faz um sinal para Leandro, perguntando se entendeu o que estava acontecendo, mas só recebeu como resposta o colega levantando os ombros em igual dúvida. Perceberam de imediato que algo não estava nada certo.
- Se é tão importante assim... – Fabiano começa – Então é melhor mesmo ir logo.
- Concordo com ele, sendo assim é melhor ir para esse tal compromisso. – Carol completa.
- Depois me diz quando eu preciso pagar pelo lanche. – Edan diz a Leandro.
- Pode deixar, falamos sobre isso uma outra hora.
Sem nem se despedir, Edan deixa o local. Já imaginava que alguma hora Anne estaria por perto, querendo algumas explicações. Um outro pensamento surgia em sua mente, criando um conflito. Edan pensou que talvez não, provavelmente Anne não iria perder seu tempo, nem iria se preocupar com algo tão insignificante como ele, ela tinha outras coisas, todas mais importantes para pensar e se preocupar, e ele mesmo não estava incluso nessas coisas, sua mente gritava isso. Sentiu como ele deveria ser esquecido, isso seria o melhor. Teve a certeza de que não precisaria inventar nenhuma desculpa para Anne, afinal ela não iria atrás dele. Ela não tem nenhum motivo para isso.
Sentiu um vazio crescendo em seu peito, abafando o conflito em sua mente, abafando parte da dor e agonia que sentia. Esse mesmo vazio parecia engolir parte de sua própria alma. Nesse momento, Edan estava apenas com vontade que esse vazio o engolisse, e o fizesse desaparecer por completo.
Considerações Finais:
E aqui ficamos com mais um capítulo, com novos personagens aparecendo, e com mais acontecimentos envolvendo Edan...
Bem, espero que tenham gostado deste capítulo de hoje. Estão gostando do andamento da história, dos personagens e tudo mais? Imaginam o que irá acontecer? Tem teorias? Sintam-se livres a comentar. Fico por aqui, e até o próximo capítulo.
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